Doc. N° 2208
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
107 - 2007/3
Tópicos Multilaterais Alemanha-Brasil
Cultura memorial e comemorativa na história das relações Brasil-Alemanha Reflexões com base na programação do Ano Goethe 1932 em São Paulo
Wernigerode. Trabalhos da A.B.E. pelo Ano Goethe 2007
A.A.Bispo
O falecimento, há 175 anos, de um dos maiores maior vultos da história cultural da Alemanha - e do Ocidente - é lembrado, em 2007, em diversos eventos, dando motivos a releituras de suas obras e de reconscientizações do significado de sua personalidade e influência.
As datas de Goethe são festejadas também no Brasil há décadas, dando ensejo a conferências, homenagens, concertos, exposições e eventos diversos. Esses eventos fazem parte, assim como aqueles relacionados com outros vultos, de uma história memorial que oferece indícios para estudos histórico-culturais de comunidades, não apenas sob aspectos da recepção, difusão e presença de obras na vida do país ou de grupos populacionais. Não a comemoração em si, mas a sociedade que comemora, as razões, a forma e o conteúdo dos eventos, a sua contextualização em determinadas correntes intelectuais e político-culturais da época surge como de particular interesse. Por essa razão, a A.B.E. procura aproveitar o ensejo da passagem de datas de relevância da história-cultural para estudos dessa cultura memorial em contextos euro-brasileiros. Esses estudos e/ou os eventos promovidos inserem-se nessa história, na medida em que representam esforços de procedimento refletido com relação ao sentido de ações comemorativas.
No caso do Ano Goethe 2007, os trabalhos partiram de reflexões relativas ao programa comemorativo de 1932 no Brasil. Aqui oferecem-se alguns dados que foram estudados sobretudo nos seus vínculos com a situação política e político-cultural da época na Alemanha, no Brasil e, em especial, na comunidade de língua alemã de São Paulo.
75 anos das solenidades pelo centenário de falecimento de Goethe em São Paulo (1932)
Em 1932, pelo centenário de seu falecimento, realizou-se, em São Paulo, uma solenidade organizada pela união das associações alemãs de São Paulo. O evento efetuou-se no dia 22 de março de 1932, uma terça-feira, na sala de festas da Sociedade Germânia.
O programa foi aberto por uma saudação dos convidados de honra pelo Cônsul Geral de São Paulo, Dr. H. Speiser. Seguiu-se a conferência de título O Deus e os Bajaderes, pelo Dr. Georg Hund-Anschütz. O discurso solene ficou a cargo de Paul Hatheyer.
Seguiu-se a apresentação, pelo coro mixto do Deutscher Sängerbund Brasilien, de Heiderröslein, composição de Heinrich Werner, de 1829, reelaborada por Engelbert Humperdinck. Como quinto ponto do programa, e único a cargo de um intelectual brasileiro, o Dr. Genesio de Almeida Moura proferiu um discurso.
A seguir, o Dr. Georg Hund-Anschütz declamou Totentanz, Nachtgesang, An den Mond e Prometheus. Terminando a solenidade, o coro masculino do Deutscher Sängerbund Brasiliens apresentou o Bundeslied, poesia de Johann Wolfgang von Goethe e composição de Hermann Theobald Petschke.
Opção teórica para os atos memoriais de 2007
A partir das reflexões críticas encetadas sobretudo com base nessa programação, a A.B.E. decidiu, pela passagem dos 175 anos, desenvolver um programa sui-generis: estudos e trabalhos de cunho teórico a serem efetuados sob a perspectiva dos estudos em contextos interculturais nas suas relações com a filosofia. Assim, tornou-se claro que os trabalhos não deveriam estar restritos à simples constatação da recepção histórica de obras de Goethe e de seu significado no Brasil. Dá-se aqui continuidade ap procedimento que a A.B.E. vem seguindo na consideração de outros vultos da história cultural do Ocidente, tais como Mozart e Winckelmann. A atualidade da consideração dessas personalidades e de suas obras tem sido vista sobretudo na medida em que oferecem impulsos e motivações para análises culturais no âmbito de relações internacionais.
Harz - Wernigerode
Goethe realizou três longas viagens pelo Harz e a sua memória é conservada até hoje como o mais destacado de todos os visitantes da região. É lembrado em placas comemorativas e em denominações de caminhos e instituições. Por três vezes subiu ao mais alto cume do Harz, o Brocken, pela primeira vez no dia 10 de dezembro de 1777. Realizou as suas viagens como pesquisador, fazendo estudos de geologia e mineralogia.As suas observações foram de considerável influência para a sua obra.
Wernigerode é uma das cidades que conserva e cultiva a memória de Goethe. É uma bela cidade, de rico patrimônio arquitetônico medieval. O burgo de Wernigerode remonta nas suas origens ao século XII, a localidade, porém, é muito mais antiga. O seu nome indica ter sido resultado de queimadas realizadas na região no século IX e X. Primeiras fontes documentais datam do ano de 1121, em 1229 a localidade foi elevada à categoria de cidade segundo o modêlo de Goslar. Após a extinção da linha masculina da família dos condes de Wernigerode, em 1429, a cidade passou a ser residência do conde de Stolberg. A cidade sofreu vários saques e destruições, sobretudo durante a Guerra dos 30 anos, a fisionomia da cidade, porém, manteve-se inalterada nas suas linhas principais. No período napoleônico, a cidade pertenceu ao reino da Vestfália. Posteriormente, passou à Prússia, como parte da circunscrição de Osterwieck, recuperando mais tarde a autonomia municipal.
Um dos aspectos considerados da estadia de Goethe in Wernigerode foi a sua relação com o filósofo e pesquisador de religiões Friedrich Victor Leberecht Plessing (1749 Belleben - 1806 Duisburg), que visitara incognito em 1777 nessa cidade, após ter dele recebido missivas. Filho de um pregador, de temperamento melancólico, tinha sido profundamente impressionado pela leitura do Werther. Um dos fatores que influenciaram a criação da "Viagem de inverno ao Harz", manteve correspondência com Goethe, procurou-o em Weimar (1783) e o próprio Goethe visitou-o em Duisburg, em 1792. Dados a respeito do encontro em Wernigerode encontram-se na Campagne in Frankreich 1792.
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).