Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 121/2 (2009:5)
Editor: Prof. Dr. A.A.Bispo, Universidade de Colonia
Direção administrativa: Dr. H. Hülskath

Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Academia Brasil-Europa
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2009 by ISMPS e.V. Edição reconfigurada © 2014 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2479


 


Brasileiros em Paris à época de Louis-Philippe de Orléans (1830-1848)

Manuel de Araújo Porto-Alegre, Barão de Santo Ângelo (1806-1879)
à luz de Alexander von Humboldt (1769-1859)

A natureza pela face misteriosa do coração

Ciclo de estudos França-Brasil/Brasil-França em diferentes cidades francesas
Visita a exposição em La Roche Jagu

À memória de Luiz Heitor Corrêa de Azevedo





Porto Alegre, Barao de S. Angelo
Este texto apresenta uma súmula de ciclo de estudos dedicados às relações França-Brasil/Brasil-França realizados em diferentes cidades francesas em 2009. Foram aqui lembradas as preocupações pelos estudos culturais franco-brasileiros na linha de tradição que remonta à época da fundação da sociedade dedicada à renovação dos estudos culturais (Nova Difusão 1968), a atual Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais - Academia Brasil-Europa.


Na Europa, a partir de 1974, esses trabalhos e iniciativas receberam a colaboração de muitos estudiosos franceses no decorrer das décadas, e, entre os brasileiros residentes na França, deve-se salientar Luíz Heitor Correa de Azevedo pelo seu empenho no desenvolvimento institucional e pela sua participação em muitas iniciativas. Ao encontro de Royaumont em 1984 sob sua égide remontam impulsos que marcaram a orientação antropológico-cultural do ISMPS e da ABE. Os  trabalhos seguiram impulsos do Colóquio Filosofia Francesa Contemporânea e Estudos Culturais pela morte de J. Derrida (2005), do Congresso Internacional "Música e Visões" pelos 500 anos do Brasil e triênio subsequente (1999-2004) e eventos precedentes, devendo lembrar-se da Primeira Semana de Música França-Alemanha realizada por iniciativa brasileira em 1983 em Leichlingen/Colonia.


Pareceu ser oportuno, para sumarizar e favorecer o prosseguimento ao trabalhos em seminários europeus, recordar alguns nomes de brasileiros e de franceses que atuaram sobretudo em Paris na contextualização de sua época. Essa aproximação antes pessoal facilita os estudos para estrangeiros e traz à consciência o papel mediador desempenhado por muitos brasileiros que estudaram e viveram na França, trazendo impulsos ao Brasil que devem ser analisados sob o pano de fundo da época em que estudaram e atuaram. Os estudos tiveram como objetivo principal oferecer uma contribuição à formação de uma consciência histórica adequada àqueles residentes na França ou descendentes de brasileiros.






Os estudos culturais relativos à presença brasileira na França à época da "Monarquia de julho", ou seja do sistema implantado pela Revolução de Julho de 1830, sob a égide de Luís Felipe I (1773-1850), não estão desenvolvidos à altura a que fazem jus.


Trata-se de uma época de particular significado histórico-cultural para o Brasil e para as relações culturais franco-brasileiras. Foi a época que, na França, sucedeu ao período da Restauração, terminado com a abdicação de Carlos X (1757-1836) e que duraria até a Revolução de Fevereiro de 1848. Foi a época que, no Brasil, sucedeu à abdicação de Pedro I.


Na França, o conservadorismo do período restaurador de Luís XVIII (1755-1824) e mesmo reacionário de Carlos X, com a supremacia da nobreza e da Igreja, deu lugar ao liberalismo do "rei-cidadão" e ao aumento da influência da alta burguesia.


A imagem deixada à História pela época de Luís Felipe é marcada pelo lema do "enriquecei-vos" (F. Guizot, 1787-1874). Tendo a nobreza da época de Carlos X recusado a prestar juramento de lealdade ao novo soberano, perdeu postos no exército e na administração.

No decorrer do govêrno de Louis-Philippe, o enriquecimento da grande burguesia foi acompanhado pelo empobrecimento das massas e, consequentemente, por tensões sociais.


Nessa situação, cresceu a influência dos republicanos, entre eles Étienne-Vincent Arago (1802-1892), e aquela do sobrinho de Napoleão, Louis-Napoléon Bonaparte (1808-1873). Este desenvolveu uma campanha a favor da justiça social, ganhando simpatias entre pequenos-burgueses, trabalhadores e camponeses. Essas tensões levariam por fim à Revolução de Fevereiro de 1848, à abdicação do rei e à proclamação da Segunda República, que seria de curta duração, dando lugar ao Segundo Império, o de Napoleão III.


Essa situação sócio-política, marcada por diferentes correntes, correspondeu também a uma diversidade de tendências culturais e artísticas. O período, portanto, sob o aspecto histórico-cultural, necessita ser considerado de forma diferenciada. Relativamente aos latinoamericanos, em particular brasileiros em Paris, a atenção deve ser dirigida aos círculos com os quais entraram em contacto, às tendências político-culturais a que se aproximaram ou às quais se afiliaram.


Apesar de todos os laços de simpatia e amizade criados pela origem comum, e que possibilitaram ações conjuntas, dever-se-ia procurar as diferenças que marcaram a orientação cultural e estética, o pensamento e a obra das diferentes personalidades. Seria um êrro supor que apenas por viverem em Paris á época da Monarquia de Julho os latinoamericanos ter-se-iam identificado com o sistema e o espírito da política predominante.


Um ponto de partida para tais tentativas de análise pode ser visto no estudo da personalidade e da obra de Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879). Tendo estudado no Brasil e na Europa, ocupado posteriormente cargos de alto significado no Brasil, sobretudo como diretor da Academia Imperial de Belas Artes, e influenciado novas gerações, e sobretudo tendo passado à vida diplomática, vindo a ser Cônsul do Brasil em Berlim, Manuel de Araújo Porto-Alegre surge como vulto de primeira grandeza para uma história intercultural ou para uma história cultural em contextos internacionais do século XIX.


Manuel de Araújo Porto-Alegre nos estudos culturais


Evento de particular relevância para os estudos de Manuel de Araújo Porto-Alegre da história mais recente foi a exposição realizada, em 1987, pelo Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, com obras pertencentes às coleções do Museu Nacional de Belas Artes e do Museu Júlio de Castilhos, de Porto Alegre.


"Pintor, arquiteto, escultor, poeta, caricaturista, teatrólogo, historiador, crítico de arte, foi, também, o mais notável Diretor da Academia Imperial de Belas Artes, embora curta tenha sido sua permanência no cargo. Um inovador, verdadeiro arte-educador, como hoje poderia ser definido (...). Manuel de Araújo Porto-alegre é o legítimo criador de nosso principal museu artístico, pois a ele coube a organização definitiva da galeria nacional de pintura e escultura (...). Mais ainda: preocupou-se, na Academia e fora dela, em estabelecer estudo sistemático da produção artística no País e medidas para sua conservação, podendo, por esta razão, ser considerado pioneiro entre todos quantos ao longo da História lutaram pela preservação de nosso patrimônio cultural." (Alcídio Mafra de Souza, "Passado, presente e futuro", in: Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. Manuel de Araújo Porto-Alegre: uma coleção de desenhos. Rio de Janeiro, 1987, [catálogo de exposição]).


Pelos seus múltiplos talentos e áreas de ação, Manuel de Araújo Porto-Alegre assume particular significado sob o aspecto da interdisciplinaridade. Trata-se, no caso, das relações entre as ciências naturais e as ciências humanas, e, no estudo da história das artes, do relacionamento entre as diversas disciplinas artísticas e as concepções estéticas.


Evidencia-se aqui um elo importante entre os diferentes tipos de abordagem, ou seja, entre as ciências naturais, as ciências humanas e o debate estético-artístico: aquele criado pela Natureza. Este elo, que apenas pode vir a ser considerado adequadamente através de perspectivas teórico-culturais que atentem às concepções filosóficas e visões do mundo, deveria vir a ser considerado nos estudos que cada vez mais se revelam como necessários.


"É extremamente necessário que se volte a estudar, em profundidade, sua obra visual. Estamos necessitando de uma nova biografia de Manuel de Araújo Porto-Alegre apoiada em documentação factual que precisa ser reunida e analisada. Nos avalemos muito, além da denominada autobiografia, dos trabalhos que sobre ele escreveram há muitos anos, Dioclécio de Paranhos Antunes e Hélio Lobo.

Também seus inúmeros artigos de caráter histórico e crítico em revistas como a Niterói, Minerva Brasiliense, Guanabara, por exemplo, precisariam ser cologidos e editados com aparato crítico." (Pedro Martins Caldas Xexéo, in op.cit.)


Inserção em processos de identidade cultural


Uma das possibilidades de consideração da personalidade e da obra de Manuel de Araújo Porto-Alegre segundo perspectivas mais atuais da reflexão teórico-cultural consiste no direcionamento da atenção à sua inserção em processos de performação cultural, coletivos e individuais.

Do ponto de vista da coletividade, deve-se lembrar que Manuel José de Araújo nasceu e obteve a sua formação em época da história do Brasil marcada pelo desenvolvimento crescente da auto-consciência da ex-colonia que se transformara em sede do Reino Unido e que conquistaria a emancipação política. Insere-se portanto em período histórico que foi acompanhado por preocupações por uma diferenciação de identidade quanto à antiga Metrópole, pela procura de imagens e símbolos próprios.


Do ponto de vista individual, cumpre considerar que Manuel de Araújo nasceu e cresceu no âmbito da imigração portuguesa, sobretudo insular-atlântica do Rio Grande do Sul. Proveniente de Rio Pardo, cuja cultura local fora determinada pelo povoamento açoriano, era filho de Francisco José de Araújo, negociante, e Francisca Antonia Viana.


Comprende-se que um filho de imigrantes, já nascido na terra, marcado pelo desejo de sucesso material e de ascensão social de seus pais, procurasse, diferenciando-se culturalmente da procedência lusa, identificar-se de forma particularmente intensiva com o país de nascimento, atuando no seu desenvolvimento e alcançando reconhecimento social pelas suas aptidões e pela sia dedicação à nação.


O próprio fato de ter adjuntado a seu nome Manuel José de Araújo o da principal cidade de sua província natal, Porto Alegre, indica que fazia questão de identificar-se com a terra de seu nascimento, até mesmo encarnando-a na sua pessoa. Somente em época mais tardia de sua vida é que se faria sentir de forma mais acentuada o substrato português de sua formação, na proximidade com representantes do movimento intelectual português e na preferência que teria por Lisboa como cidade para residir e atuar.


Compreende-se também, a partir das circunstâncias de seu nascimento e formação, que um desenvolvimento pessoal e reconhecimento pelas próprias aptidões tenham sido procurados primeiramente na destreza manual e no domínio de técnicas artísticas, ou seja, em expressões por assim dizer de inteligência prática. Preparou-se, assim, para abraçar o ofício de relojoeiro, passando às artes pela influência de um decorador, João de Deus, e de um retratista, Manoel Gentil. Teria sido na casa deste último que contemplara a gravura de Pradier reproduzindo o Desembarque da Imperatriz Leopoldina no Brasil, de  Jean Baptista Debret (1768-1848).


O significado decisivo que essa representação visual teria no seu vir-a-ser poderia ser interpretado como sinal da relevância especial da construção de imagens históricas do Brasil em processo de emancipação para a auto-inserção de um filho de imigrantes no desenvolvimento histórico do país.


Situações paradoxais sob o aspecto político-cultural


Parece haver assim uma lógica interna no desenvolvimento que levou Manuel José de Araújo ao Rio de Janeiro, onde tornou-se aluno de Debret, como aluno extraordinário da Academia Imperial de Belas Artes, em 1827, e como estudioso de múltiplos interesses, manifestados no fato de ter assistido aulas de Anatomia e realizado estudos de Engenharia e Urbanismo na Escola Militar.


O seu progresso foi tão acentuado que, em 1829, na primeira exposição da Academia, recebeu prêmios em pintura e em escultura. Na exposição de 1830, apresentou o quadro de D. Pedro I entregando o Decreto de Reforma da Academia de Medicina a seu diretor. Manuel José de Araújo dedicava-se assim, na tradição da pintura histórica e histórico-retratística representada pelo seu mentor, a fixar momentos da história contemporânea e que viriam a ser imagens do vir-a-ser histórico da nação.


Não se pode, porém, deixar de considerar uma certa paradoxia na pintura histórica implantada no Brasil pela Missão Artística Francesa de 1816, da qual Debret fêz parte. Este tinha sido aluno de Jacques-Louis-David (1768-1848), vulto exponencial das artes da época napoleônica, principal contribuinte à glorificação de momentos da história bonapartista, à sua valorização histórica através sobretudo de recursos de um classicismo de inspiração na antiga Roma dos Césares, não daquela do mundo helênico antes própria da época anterior à Revolução.


Tratava-se, do ponto de vista político-cultural, de uma nobilitação do Corso, daquele subido na escala social pelos próprios esforços e obstinação, e, com êle, de militares e representantes de outras esferas sociais em ascensão. Debret diferenciou-se de seu mentor, condicionado também pela mudança do sistema, manteve, porém, de forma por assim dizer político-cultural, um direcionamento da atenção ao homem do povo, às esferas menos favorecidas da sociedade, registrando visualmente a sua vida e cultura com olhos de simpatia.

A Missão Francesa, datando da época do Congresso de Viena, já não representava o espírito do tempo e as tendências da Restauração, mas sim um resíduo de uma situação política passada, na qual tomavam parte personalidades que já não correspondiam à nova configuração e que passavam a atuar longe da França.


Como sede do Reino Unido, porém, o Brasil inseria-se no linha de desenvolvimento histórico que não conhecera a Revolução e o Império do Corso, que era dirigido por uma dinastia marcada por histórica legitimidade e que correspondia, assim, em continuidade, à situação ambicionada pela Restauração. Era, quase que como resíduo ou relíquia de um sistema do passado já remoto, agora paradoxalmente atual. A linguagem visual que marcaria as imagens do seu vir-a-ser como nação independente, a sua simbologia e consciência histórica, porém, trazia o cunho da época napoleônica.


Apesar da legitimidade e da antiga estirpe do Príncipe que se tornaria Imperador da nova nação, surgia este e a sua época à luz do culto do Herói, da valorização daquele que se impunha pela ação em continuidade de espírito da época bonapartista. A simbologia criada do Brasil independente sugere assim situações paradoxais de discrepâncias e reinterpretações que necessitariam vir a ser estudadas de forma aprofundada e diferenciada.


Continuidade e transformações na Europa


Em 1831, ano da abdicação de Pedro I, Manuel de Araújo Porto-Alegre partiu para a Europa, juntamente com o seu mentor, Jean Baptista Debret. Pertenceu, assim, à geração dos primeiros brasileiros que, após a Independência, e formados por professores europeus no Brasil, dirigiram-se à Europa para aperfeiçoar-se e alcançar projeção. Em Paris, entrou para o atelier de Antoine-Jean Gros (1771-1835), desde 1824 portador do título Baron de Gros. Sob a orientação desse artista, Manuel de Araújo dava continuidade às tendências estéticas e suas concepções culturais intrínsecas que conhecera com Debret.


De Gros estudara também com Jacques-Louis David e até mesmo o sucedera no seu atelier em Paris quando, em 1814, o pintor do sistema de Bonaparte sentiu-se levado a ausentar-se, partindo para Bélgica. De Gros tinha sido um artista do bonapartismo, retratista de famílias Bonaparte. Diferenciava-se porém devido à particularidade de seus elos mais intensos com a Itália, onde, a serviço de Napoleão, fora incumbido de registrar os tesouros artísticos do país. Tem-se visto nesta época a origem de seu fascínio por Rubens, encarando-o porém sob um prisma determinado pela sua formação classicista.


Estadia na Itália e visão espiritual do mundo


Tem-se salientado, o significado de uma estadia de Manuel de Araújo Porto Alegre na Itália para o seu desenvolvimento cultural e estético. Este, juntamente com o poeta Domingos José Gonçalves de Magalhães (1811-1882) (Veja artigo nesta edição), realizou uma viagem de estudos aos grandes centros italianos. Em Roma. parece ter entrado em contato mais próximo com Tommaso Minardi (1787-1871), professor da Accademia di San Luca, com atelier no Palácio Doria-Panfili na Piazza Venezia, artista de formação neoclássica mas já representante de uma nova geração. É possível que tenha sido através de Minardi, que ocuparia alta posição nos estados pontifícios, que Manuel Araújo Porto-Alegre adquiriu o conhecimento do mundo social e cultural romano que o auxiliaria mais tarde na sua atuação junto à Santa Sé.


Embora tendo residido sobretudo em Roma, visitou outras cidades e regiões, realizando estudos de paisagens, arquitetura e monumentos, sendo sobretudo fascinado por Nápoles. Supõe-se que tenha sido influenciado pelo arqueólogo Antonio Nibby (1792-1839), autor de um Itinerario di Roma (1826). Trabalhos de Manuel de Araújo Porto-Alegre datados dessa época demonstram a sua inserção no desenvolvimento histórico da pintura da natureza e do interesse pelo passado medieval, inserindo-se, assim, nas tendências do Romantismo de sua época.

Esse contexto chama a atenção para a função do pensamento religioso nas concepções de Manuel de Araújo Porto-Alegre, correspondendo àquela desempenhada em Domingos José Gonçalves de Magalhães. Essa fundamentação espiritual não se manifesta necessariamente em obras de explícita temática religiosa, mas na visão da natureza, do mundo perceptível, visto na sua temporalidade e entendido como sinal de uma realidade superior, atemporal ou eterna. A paisagem surge assim como lembrança da transformabilidade do mundo visível, passageiro como as obras do homem que se transformam em ruínas.


Poesia como linguagem. Almeida Garrett (1799-1854) e Lord Byron (1788-1824)


Manuel de Araújo Porto Alegre traçou o itinerário pelo qual se sentiu atraído pela poesia como forma de expressar a sua concepção e visão do mundo. Com relação à língua portuguesa, salientou o significado especial de Almeida Garret (1799-1854) para o despontar de seu interesse pela linguagem poética. Teria aprendido, com o pensador lusitano, a amar a poesia por ter-lhe esta revelado a Natureza através do coração, ou seja, pelo fato de ter com ela aprendido a ler a Natureza, na sua transformabilidade, não através da razão, mas por assim dizer em empatia simpatética.


"Foi Garrett o primeiro poeta português que me fez amar a poesia, porque me mostrou a natureza pela face misteriosa do coração em todas as suas menores modificações: lorde Byron foi o ostensor que o colocou nessa senda" (Elogio de Garrett, Revista de Língua Portuguesa, Porto Alegre XIII/Estante Clássica, Rio de Janeiro, agosto de 1924, pág. 76, in: Péricles Eugênio da Silva Ramos, Do Barroco ao Modernismo: Estudos de poesia brasileira, 68).


Garrett, personalidade de intelectual envolvido com correntes não-absolutistas da política em Portugal, havia estado em Paris já em 1825-1826. Fora ali que criara obras de particular significado para o movimento romântico na literatura portuguesa, tais como Camões (1825) e Dona Branca (1826). Após ter retornado a Portugal, voltou a procurar o Exterior, desta vez a Inglaterra, em 1828.


Manuel de Araújo Porto-Alegre fez remontar a Byron a revelação da poesia, ganha através de Garrett. Dirige a atenção, assim, à sua inserção em movimento romântico que atingira o seu auge de popularidade ao redor de 1820. Situa-se numa corrente da época da Restauração francesa e que marcava, sob a Monarquia de Julho, uma esfera de oposição ao direcionamento materialista pragmático de uma sociedade de novos ricos. Manuel de Araújo Porto-Alegre, embora vivendo sob o período de Louis-Philippe, foi um homem do universo mental do regime anterior, pela formação obtida no Brasil e pelo círculo com que se identificou.


Natureza e ciências naturais. Alexander von Humboldt (1769-1859)


A atenção ao gênero paisagístico por Manuel de Araújo Porto Alegre mereceria ser considerada nas suas relações com as ciências naturais.


Segundo êle, seriam sobretudo os naturalistas aqueles que ensinavam os artistas a pintar. Admirava assim Carl Friedrich P. Von Martius (1794-1868) e, sobretudo, Alexander von Humboldt (1769-1859). Este havia viajado, com Aimé Bonpland (1773-1858), entre 1799-1804, por regiões da Venezuela, de Cuba, Colombia, Equador, Perú e México, retornando por Cuba e pelos USA à Europa. Vivera grande parte de sua vida, até 1827, em Paris, onde elaborou a sua obra Voyage aux régions équinoxiales du Nouveau Continent, entre 1805 e 1834. Entre 1836 e 1839, publicou o seu Examen critique de l'histoire de la géographie du Nouveau Continent, em cinco volumes.


Uma proximidade entre Manuel Araújo Porto-Alegre e Alexander von Humboldt assume extraordinária relevância para a história cultural das relações euro-latinoamericanas e justifica a realização de estudos mais aprofundados, sob diversos aspectos, hoje em já em andamento.


No primeiro volume (1845) do Kosmos, após o prefácio, Alexander von Humboldt oferece de início considerações introdutórias a respeito da diversidade da fruição da Natureza e da pesquisa científica das leis do mundo.


No segundo volume (1847), quando trata dos meios  capazes de fornecer impulsos ao estudo da Natureza, considera o reflexo do mundo exterior no poder da imaginação. Aqui, trata primeiramente da descrição poética da Natureza, considerando o sentimento pela Natureza segundo a diversidade das épocas e dos povos e, a seguir, a pintura de paisagens e a sua influência na vitalização do estudo da Natureza.


Sob este último aspecto, procedendo também aqui historicamente, von Humboldt considera a procura pela Natureza real das formas vegetais, em particular da vegetação dos trópicos.


Para êle, o conceito de um Todo Natural, o sentimento de uma unidade harmônica no Cosmo tornar-se-ia mais viva nos homens à medida que se multiplicassem os meios de configuração da totalidade dos fenômenos naturais em imagens (Alexander von Humboldt, Kosmos: Entwurf einer physischen Welbeschreibung, Frankfurt a. M. 2004).


Ascensão na sociedade européia e no Brasil


Retornando em novembro de 1835 a Paris, a sua vida na capital francesa prometia-lhe uma carreira promissora como artista. Já em 1836 participou na elaboração do Relatório da Exposição Geral do Louvre.


Para ampliar os seus contatos e realizar novos estudos, seguindo também aqui o exemplo de outros pensadores e artistas franceses, dirigiu-se a Londres e visitou Bruxelas. Na Inglaterra, porém, tomou conhecimento da Guerra dos Farrapos, no Rio Grande do Sul. Preocupado com a sua mãe, decidiu-se regressar ao Brasil, interrompendo a sua carreira européia.


Chegou ao Rio de Janeiro a 14 de maio de 1837. Dois meses depois, a 14 de julho, dava início às suas atividades como professor da Academia Imperial de Belas Artes.


No ano seguinte, foi convidado a atuar como professor no então fundado Imperial Colégio Pedro II, instituição modêlo que agregava no seu corpo docente os mais destacados nomes da nação. A sua autoridade foi reconhecida com a nomeação, a 28 de julho de 1840, a pintor da Imperial Câmara.


Erudição, estudos culturais e difusão


Porto-Alegre não era visto apenas como artista, mas como erudito de vastos e múltiplos conhecimentos, como historiador da arte e da estética.


Prova disso foi o fato de ter proferido uma conferência no Instituto Histórico, a 30 de novembro de 1841, de título "Memória sobre a Escola Antiga de Pintura Fluminense" e de ser nomeado, no ano seguinte, a diretor da Seção de Numismática, Artes Liberais, Arqueologia, Usos e Costumes das Nações Antigas e Modernas.


Fundou, com Gonçalves de Magalhães e Torres Homem, a revista Minerva Brasiliense. Em 1844, em retiro na Fazenda de São Pedro, começou a escrever a obra Brasilianas.


Tem-se constatado que a obra de Araújo Porto-Alegre, sobretudo após 1848, destaca-se pelas suas paisagens, de acentuado cunho romântico. Do ponto de vista literário, essa tendência reflete-se nas Brasilianas, tais como em A destruição das florestas (1845) e em O corcovado (1847).


Em 1848, retirando-se da Academia Imperial de Belas Artes, foi transferido para a Escola Militar como professor substituto de Desenho. Foi, nesse ano, retratado por Ferdinand Krunholz (1810-1878). Em 1849, fundou, com Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882) e Antonio Gonçalves Dias (1823-1864), a revista Guanabara.


As atividades prático-artísticas de Manuel de Araújo Porto Alegre testemunham a sua ampla concepção da unidade das artes. A linha condutora era ainda determinada pela tradição da Pintura Histórica, de excepcional - e pouco considerada - importância não apenas na representação do passado para a formação da memória da nação, mas também na representação do presente para a determinação de sua imagem no futuro. Dentre os grandes projetos de Porto-Alegre deve-se mencionar, neste sentido, o painel da Sagração de Pedro II.


A experiência cenográfica de Manuel de Araújo Porto-Alegre, já adquirida na sua juventude no Rio Grande do Sul, teve a possibilidade de expandir-se em trabalhos de representação e ornamentação de acontecimentos oficiais, seja o da Varanda, seja o da decoração do trono por ocasião do casamento de Pedro II° e Teresa Cristina.


Em meados do século, Manuel de Araújo Porto-Alegre desempenhava, ao lado de suas atribuições artísticas e de ensino, um papel relevante na vida pública e político-administrativa do Império. Assim, em 1852, foi vereador suplente da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Em 1854, projetou uma reforma para a Academia Imperial de Belas Artes e, a seguir, tornou-se o seu Diretor. Dentre as suas iniciativas, salienta-se aquela que levou à criação de uma Pinacoteca. Em 1858, tornar-se-ia diretor da Alfândega, e para ela projetaria um edifício.


Música e Pintura: Conservatório de Música e Academia


Um fato que merece ser particularmente salientado é o do relacionamento de Manuel de Araújo Porto-Alegre com a música, ou melhor, a sua inserção no do debate relativo à interação das diferentes artes. A época em que foi diretor da Academia foi marcada pelos esforços de criação de um Conservatório de Música no Brasil. Salientava-se que, apesar do grande passado musical brasileiro do período colonial, o Brasil independente não possuia uma instituição de ensino da música capaz de criar novas gerações de músicos nacionais.


A institucionalização das artes no país, com a Academia, se processara a partir das artes visuais. Foi, assim, sob a direção de Manuel de Araújo Porto--Alegre que, a 14 de maio de 1855, surgiu o Conservatório como Anexo à Academia. Que aqui não se tratava apenas de uma questão de facilidade institucional e de espaço, mas sim de concepções estéticas mais abrangentes  isso o indica um painel de título "Alegoria às Artes", do pintor Leon Palliére, hoje no Museu Nacional de Belas Artes. O próprio Porto-Alegre escreveu o texto de um Hino às Artes que foi então posto em música por Francisco Manuel da Silva (1795-1865) por ocasião do lançamento da pedra fundamental da pinacoteca da Academia de Belas-Artes.


  1. "Aos olhos do artista,

  2. `A luz da harmonia,

  3. A eterna alegria

  4. Raiou neste dia.

  5. (...)

  6. Na tela vazia

  7. Anima-se a História,

  8. Revive o passado,

  9. Duplica de glória.


  10. Na rústica pedra

  11. O duro martelo

  12. Batendo-a, converte-a

  13. Na imagem do belo.


  14. O gênio é reflexo

  15. Da luz divinal,

  16. Como ela divino,

  17. Como ela imortal.


  18. (Cit. Ayres de Andrade, Francisco Manuel da Silva e seu tempo I, Rio de Janeiro 1967, 262)


As relações de Manuel de Araújo Porto-Alegre com a música não deveriam ser examinadas apenas a partir dos elos explícitos com o Conservatório. Deve-se considerar aqui a musicalidade inerente a um sistema de concepções relacionadas com a pintura paisagística.


A afinidade da pintura de paisagens com a música - transitoriedade da natureza e do fenômeno musical, indeterminação da natureza e da música como linguagem dos sentimentos, entre outros aspectos - foi tema de relevância na discussão estética de sua época e tem voltado a ser discutido na atualidade como importante chave para a compreensão de concepções e correntes do século XIX.


Cultura e Relações Exteriores


Em 1859, Manoel de Araújo Porto-Alegre foi nomeado a cônsul do Brasil em Berlim, dando início à sua carreira diplomática. O Brasil passava a ter um representante na Europa que contava com profundos conhecimentos de assuntos europeus e experiência em instituições culturais e artísticas de primeira grandeza no Brasil.


Com os seus contatos com o meio cultural e artístico de várias nações européias, com a sua própria participação ativa nas mais diversas áreas do conhecimento, com a sua formação por assim dizer de homem universal, com a sua proximidade a Alexander von Humboldt solidificaria a imagem do Brasil como país dirigido por homens cultos, preocupados com um desenvolvimento responsável e já participantes no debate cultural e artístico internacional. Foi um dos grandes nomes no contexto da história do Império na Europa.


Apesar de sua formação francesa, de sua admiração pelo pensamento alemão, compartilhando o fascínio romântico dessas duas nações pela Itália, Manoel de Araújo Porto-Alegre não deixou de demonstrar sempre a situação especial que o ligava a Portugal. Esse elo especial advinha das suas origens familiares.


Significativamente, vindo para a Europa como cônsul, não se dirigiu diretamente à Alemanha, mas interrompeu a viagem em Lisboa, permanecendo em Portugal de junho de 1859 a abril de 1860. Essa presença prolongada marcaria a vida européia de Manoel de Araújo Porto-Alegre e as suas ações no âmbito dos elos culturais entre Portugal e o Brasil. Mais tarde seria transferido de Paris a Lisboa, fazendo de Portugal o centro de sua existência na Europa, vindo a falecer em 1879.


A sua estadia em Portugal, em 1859, foi marcada pelo ato simbólico da visita ao túmulo de Pedro Álvares Cabral, em Santarém, na data da Independência do Brasil, a 7 de setembro.


Com essa visita, Porto-Alegre testemunhou, por assim dizer de forma romântica, na sepultura do navegante, o seu interesse pela História dos Descobrimentos, o que marcaria sobretudo a sua imagem como escritor. Poder-se-ia dizer que a antiga formação em Pintura Histórica desse discípulo de Debret determinou a sua visão histórica e, através dela, em singulares interações da história do pensamento estético com a historiografia, o próprio desenvolvimento da história como ciência.


Assim, seria Manoel de Araújo Porto-Alegre que, através de seus contatos em Lisboa, conseguiria mais tarde (1876) uma cópia original da Carta de Pero Vaz de Caminha, guardada na Torre do Tombo, enviando-a à Biblioteca Nacional, então dirigida pelo Barão de Ramiz Galvão, seu amigo, também do Rio Grande do Sul. Seria êle também, que inspiraria o seu protegido, Victor Meirelles de Lima (1832-1903), então em Paris, a criar a monumental obra representando a Primeira Missa no Brasil. (Veja artigo respectivo nesta edição)


Em 20 de julho de 1860, tomou posse do seu cargo no Consulado de Berlim. Alexander von Humbold havia falecido em 1858. A 5 de abril de 1862, foi transferido para Dresden. Aqui publicou, no ano seguinte, o seu livro As Brasilianas, coleção de poemas e cantos, impresso em Viena. Realizou viagens pela Alemanha com outros grandes representantes do Romantismo brasileiro. Um documento de excepcional significado histórico desses elos euro-brasileiros do Romantismo é uma fotografia que mostra Manuel de Araújo Porto-Alegre com Gonçalves Dias e Domingos Gonçalves de Magalhães em Karlsbad.


Porto-Alegre desempenhou importante papel na representação do Brasil na Europa por várias décadas do século XIX. Encarregado pelo Govêrno Imperial, atuou na organização da Seção de Belas Artes do Brasil na Exposição Universal de Paris, em 1867. Nesse ano, transferiu-se para Lisboa onde, em 1871, encontrou-se com Pedro II. Em 1873, viajou a Viena para atuar como secretário da Comissão Organizadora do Mostruário do Brasil na Exposição Universal. Pelos seus serviços, foi agraciado, a 21 de maio de 1874, com o título de Barão de Santo Angelo.


O Colombo sob perspectivas histórico-culturais


A formação em pintura histórica de Porto-Alegre, que determinava o seu fascínio pelos Descobrimentos, uniu-se aos impulsos recebidos pelo debate estético referente ao relacionamento entre as artes e dessas com a Natureza na sua transitoriedade. Esse complexo de interações se manifesta na sua obra Colombo, publicada em 1866.


Mais tarde alvo de observações negativas por parte de críticos literários que não levaram em consideração contextos mais amplos na qual se insere, essa obra de Porto-Alegre exige novas releituras a partir de perspectivas adequadas. Porto-Alegre utilizou-se aqui da forma poética para a expressão de concepções que hoje poderiam ser vistas como de natureza teórico-cultural.


Somente a partir da história da estética nas suas relações com a história cultural é que o Colombo poderia ser justamente apreciado, e isso exige que os estudos culturais se redirecionem da filologia e da história literária a uma ciência da cultura com preocupações e abordagens metodológicas próprias.


Embora vertido em linguagem poética, o texto do Colombo surge quase que como expressão de uma encenação pictórica ou de uma imagem dramática, uma expressão por outros meios da pintura histórica. É digno de nota o aspecto da musicalidade da obra, manifestado na forma com que ruídos e sons são inseridos no texto. Porto-Alegre refere-se expressamente à relação entre a representação da natureza na pintura ("a natureza e a luz fulgem na tela ao empaste das cores") e a própria natureza na hora por assim dizer musical das luzes na aurora.


  1. "Mais um'hora velou. Deu meia noite,
  2. Rendeu-se o quarto no maior silêncio.

  3. Acalmada a emoção, e mais convicto,

  4. Fêz sinal e a esquadra pôs à capa,

  5. Sem que alguém da manobra visse a causa,

  6. Sentado e enfraquecido por vigílias,

  7. Ainda olhava; mas, cedendo ao corpo,

  8. Ali mesmo dormiu, té que de um salto,

  9. Erguido ao trom de festival bombarda

  10. E da grita dos seus, que repetiam

  11. Com Bermejo, na Pinta - Terra! Terra!...

  12. Sem olhar, convencido da verdade,

  13. Por grato impulso, ajoelhou-se orando,

  14. Antes que a terra lhe alegrasse a vista!

  15. Vinha o dia rompendo e descobrindo

  16. Sobre a linha do mar a terra ansiada!

  17. Como ao empaste das fecundas tintas

  18. A natura e a luz na tela fulgem,

  19. Assim fulgia o ondulado aspecto

  20. De frondente floresta, e pouco a pouco,

  21. Ao sorriso das horas fugitivas,

  22. No ar se abiam graciosas palmas,

  23. Como guerreiros de emplumados elmos

  24. Vindos à plaga e festejar as naves.

  25. (ed. do Instituto Histórico, 1892)


O Colombo correspondia ao interesse pelos feitos do descobridor que se constatava no mundo cultural francês. Assim o Magasin Pittoresque, dirigido por Édouard Charton, publicara, em 1851, um artigo referente à infância do Descobridor (pág. 563):


"Si la pluplart des hommes illustres ont laissé tant d'incertitude sur le lieu de leur naissance, leur âge et les premières années de leur vie, il faut en accuser, non pas seulement l'absence de documents authentiques, mais leur célébrité même. C'est à elle que l'on doit attribuer les réclamations des villes rivales, les mille preuves contradictoires apportées par les biographes selon leur intérêt ou leur inclination, et finalement, les doutes qui arrêtent aujourd'hui l'historien désintéressé.

(...)

A la même époque, d'importantes explorations étaient entreprises par le Portugais sur les côtes d'Afrique. Un nouveau souffle commençait à courir sur le monde. On eût dit que les peuples se sentaient appelés à quelque grande mission. La science, les faits accomplis, la tradition populaire, tout se réunissait pour faire croire à l'existence de grandes contrées inconnues. L'Atlantide ressortait lentement des brumes marines et se dessinait de loin à tous les yeux. On parlait de débris de pirogues en bois inconnu, recueillis sur les grèves, de marins revenus à Lisbonne d'une terre éloignée avec de l'or et des épices; on racontait la légende de cette statue découverte aux Açores et dont le bras était étendu vers la mer comme pour indiquer un nouveau monde perdu à l'horizon! Les traditions populaires étaient pleines de récits qui parlaient de ces terres maintenant ignorées, mais où des missionnaires avaient autrefois annoncé le christianisme! Un pressentiment de découverte troublait le monde entier, et tous les navigateurs tournaient les yeux vers ces mers inexplorées où se cachait quelque grand mystère qu'ils n'osaient sonder.

Christophe Colomb partageait l'émotion générale. (...)
Colomb seul avait le sentiment de sa mission et se sentait la force de l'accomplir!
Nous avons raconté alleurs à travers quelles vicissitudes il atteignit son but e comment il prouva à la fois, par son example, ce que peuvent la volonté et l'ingratitude humaines."

(...)


Antonio Alexandre Bispo




  1. Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais - Academia Brasil-Europa (A.B.E.) - e do Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa (Institut für Studien der Musikkultur des portugiesischen Sprachraumes, I.S.M.P.S. e.V.), visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens: http://www.brasil-europa.eu


  2. A A.B.E. é entidade exclusivamente de natureza científica, dedicada a estudos teóricos de processos interculturais e a estudos culturais nas relações internacionais. Não tem, expressamente, finalidades jornalísticas ou literárias. É, na sua orientação teórico-cultural, a primeira do gênero, pioneira no seu escopo, independente, não-governamental, sem elos políticos ou religiosos, não vinculada a nenhuma fundação de partido político europeu ou brasileiro e originada de iniciativa brasileira. A Organização de Estudos de Processos Culturais remonta a entidade fundada e registrada em 1968 (Nova Difusão). A A.B.E. insere-se em tradição derivada de academia fundada em Salzburg pelos seus mentores, em 1919, sobre a qual procura sempre refletir.