Maura Moreira: 50 anos na Alemanha. Revista BRASIL-EUROPA 123. ACADEMIA BRASIL-EUROPA. Bispo, A.A. (Ed.) e Conselho Especializado. Organização de estudos culturais em relações internacionais

 
 

Em 1959, Maura Moreira, um dos grandes nomes da arte lírica brasileira, passou o seu primeiro período de residência na República Federal da Alemanha, contratada pela Ópera de Ulm. Foi nesse país que passou posteriormente a desenvolver grande parte de sua carreira, sobretudo depois que se tornou membro do corpo da Ópera de Colonia, em 1961. É nesse país que hoje passa os seus últimos anos, vítima de doença que lhe roubou a memória, por muitos esquecida. Como co-fundadora e membro honorário da entidade que hoje constitui a organização Brasil-Europa, nela atuante de forma intensa desde o início de 1975, cumpre voltar a recordar alguns pontos de sua vida e o significado de sua carreira e de sua atividade humanitária, renovando a homenagem que a ela foi feita na sessão inaugural do Congresso Internacional Música e Visões, da Academia Brasil-Europa, em 1999, por ocasião da abertura do triênio de estudos desenvolvido pelos 500 anos do Descobrimento do Brasil.

Representante da tradição lírica mineira

Maura Moreira nasceu em Belo Horizonte, a 2 de fevereiro de 1933. Essa data foi sempre por ela guardada de forma particularmente cara, não por ser a do seu aniversário, mas sim por ser a da festa de Nossa Senhora da Luz ou das Candeias, uma das principais expressões da tradição católica em que nasceu e à qual permaneceu sempre vinculada. Sempre considerou-se sob especial proteção de Maria, e somente considerando-se a fundamentação religiosa da sua formação cultural é que se pode compreender a dedicação que faria por fim de sua vida a ideais humanitários e sociais. Proveniente de meio modesto, marcado por circunstâncias familiares infelizes, alvo de discriminações no seu próprio meio natal, as quais nunca esqueceria e que singularmente não experimentou na Europa, a vida de Maura Moreira surge, em visão retrospectiva, como um extraordinário exemplo de ascensão e projeção por intermédio da música e das qualidades do coração.

Maura Moreira insere-se na grande tradição da lírica de Minas Gerais. Ela surge como uma das manifestações mais extraordinárias de uma cultura do canto lírico de antiga procedência, remontante no seu vir-a-ser histórico ao século XVIII. Na vida artístico-cultural de várias cidades tradicionais mineiras encontram-se frequentemente cantoras de excepcional talento e qualidades vocais, que no passado assumiam as partes solísticas das grandes missas com acompanhamento orquestral, caracterizadas por passagens de particulares exigências técnicas. Eram também as grandes cantoras de outras solenidades religiosas, de ladainhas, de novenas, dos cantos de Ave Maria. Eram e são também as principais artistas de saraus de liras e outras corporações, cantoras do vasto repertório de modinhas, diversificado quanto a estilos e épocas. Com a mudança da capital para Belo Horizonte, práticas tradicionais de Ouro Prêto e de outras cidades de antiga história para ali foram transferidas.

Somente sob o pano de fundo desse contexto cultural é que se pode compreender muitos dos aspectos da arte de Maura Moreira, do seu conhecimento do repertório popular e tradicional brasileiro, do espírito de brasilidade que sabia imprimir às suas interpretações e que resiste a tentativas de análise. Maura Moreira, que, na sua infância, participou musicalmente das execuções em igrejas de Minas, que cedo teve relações com as cantoras que faziam o papel de Verônica nas procissões de Semana Santa, com algumas delas permanecendo em contato durante toda a sua vida, trouxe essa tradição de cultura líríca à Europa e que sentia como expressão da alma de Minas Gerais. Maura Moreira não é, assim, apenas nome de uma artista que alcançou prestígio internacional, mas sim um vulto da história intercultural mais recente, veículo de uma recepção na Europa de um Brasil lírico segundo tradições de vários séculos, de um Brasil das modinhas, de árias, de cantos de Verônica, da Ave Maria, do "Qui tollis" e do "Stabat mater", e sobretudo de um Brasil de pureza, profundidade de sentimentos e integridade.

Visão da cultura brasileira

Maura Moreira obteve a sua primeira formação em canto com Honorina Prestes Campos e Ada Campos. Ingressando no Conservatório Mineiro de Música, teve aulas com Eugênia Bracher Lobo e João Décimo Bréscia. A sua época de estudos decorreu no período sob a direção de Levindo Furquim Lambert (1934-1952), quando a instituição passou por uma fase de grande dinamismo. Professores e alunos se apresentavam em diversas cidades do Brasil e mesmo do Exterior. O período anterior havia sido marcado pela personalidade de Francisco Nunes (1875-1935), clarinetista, nascido em Diamantina, filho de um renomado compositor de música sacra daquela cidade. Havia sido o mentor e regente da Sociedade de Concertos Sinfônicos de Belo Horizonte, cujo objetivo era o de dar impulsos ao cultivo da arte musical, desenvolvendo aptidões nascentes. Sob Lambert, houve o aumento do corpo docente, contratando-se vários professores, entre êles E. Bracher Lobo, a mestra de Maura Moreira.

A sua formação deu-se também no período do Estado Novo, marcado por tendências nacionais e nacionalistas e por impulsos à prática de canto como veículo de formação de sentido comunitário dentro dos preceitos do Canto Orfeônico de H. Villa-Lobos. O significado do cantar nesse sentido de estreitamento de elos sociais e o de formação de uma identidade nacional não deixou de ter a sua influência nas concepções musicais, nas visões quanto ao sentido da prática musical e mesmo nas tendências culturais de Maura Moreira.

No Conservatório, Maura Moreira teve também formação em disciplinas complementares, tendo assistido aulas de Folclore e História da Música com Flausino Rodrigues do Valle (18194-1954), personalidade que marcou as concepções da artista relativamente à cultura musical brasileira. Nascido em Barbacena, Flausino do Valle, desde 1912 em Belo Horizonte, membro da Sociedade de Concertos Sinfônicos, foi autor, entre outras obras, de Elementos de folclore musical brasileiro (São Paulo, 1936), obra que serviu de orientação de Maura Moreira. Vivenciou uma época marcada por uma conscientização do passado musical de Minas Gerais, incentivada por Carmem Vasconcelos e preocupações pelo desenvolvimento da pesquisa da cultura popular, um movimento que levaria, em 1948, à instalação da Comissão Mineira de Folclore. Dos nomes que mais se salientaram nessas preocupações cumpre mencionar Angelica de Resende Garcia, pesquisadora de tradições musicais mineiras, em particular de práticas musicais domésticas e intimistas, de modinhas e coretos, de quem Maura Moreira guardou sempre terna memória.

Em meados da década de 40, Maura Moreira já era reconhecida como uma das grandes artistas de Belo Horizonte. Em 1947, era mencionada em publicação comemorativa dos 50 anos da cidade como uma das grandes sopranos do ambiente artístico da capital mineira, ao lado de Lia Salgado, Ondina Guimarães, Teresinha Alvim Franco, Maria Francisca Mascarenhas, Jupira Raposo Neto, Terezinha Pedroso, Maria Lira Melo, Neide Boschi, Deodata Gonzaga e Ilda Prates. (Celso Teixeira Brant, "A Vida Musical", in Revista Social Trabalhista, 204-205, cit. S. Loureiro de Freitas Reis, Escola de Música da UFMG: Um Estudo Histórico, Belo Horizonte 1993, 97) Nessa publicação, o seu nome já surgia ao lado daquela que sempre seria citada como outra representante máxima do canto brasileiro, a contralto Maria Lucia Godoi.

Nessa época, o professor de Maura Moreira, João Décimo Bréscia, era considerado como dos mais prestigiados barítonos de Belo Horizonte; a sua professora Eugênia Bracher Lobo possuía também renome como pianista. Os regentes que marcavam a vida musical de Belo Horizonte eram Mario Pastore, Artur Bosmans, Luiz Melgaço, George Marinuzzi e Elviro Nascimento. Compositores de seu meio eram Luiz Melgaço, Onofre Dabul, Hostílio Soares, Elviro Nascimento, Francisco Buzzelin, Pedro de Castro, Carmem Vasconcelos, Lucas Lacerda, Artur Bosmans, Maura Palhares e o já citado Flausino Valle.

Aproximação ao meio de cultura alemã

No Rio de Janeiro, Maura Moreira passou a aperfeiçoar-se com Maximiliano Hellmann. Decisivo para a sua carreira foi a sua participação em concurso realizado pela Pró-Arte, em 1957, no âmbito do Festival Internacional de Teresópolis. Obteve bolsa de estudos para a Áustria, para onde se dirigiu em setembro desse ano. Estudou na Academia de Música e Arte Dramática de Viena. Fêz parte da classe de ópera de Josef Witt. Entre os seus professores mencionam-se, em canto, Wolfgang Steinbrück e, em Lied, Erik Werba. Entre as suas colegas, cumpre mencionar a sul-africana Mimi Coertse. Em 1959, esteve por cerca de seis meses na República Federal da Alemanha, com contrato da Ópera de Ulm. Interpretou aqui, entre outros, o papel de Santuzza da ópera Cavalleria Rusticana, de P. Mascagni (1863-1945). Após terminar o curso de Viena, apresentou-se em óperas. recitais e concertos em vários países da Europa. A partir de 1961, passou a integrar o corpo da Ópera de Colonia.

Washington 1968: Itabira de Heitor Villa-Lobos

Entre as grandes interpretações de Maura Moreira que contribuiram para o seu renome mundial, salienta-se o Poema de Itabira (1943), de Heitor Villa-Lobos, executado em Washington, uma obra que, significativamente diz respeito a seu estado natal, naquilo que possui de precioso - e trágico - nas riquezas da terra.

Vasco Mariz, na sua A Canção Brasileira (Erudita, Folclórica, Popular) (4a. ed., Rio de Janeiro/Brasília 1980), dedica extenso comentário à obra e à sua execução. Para esse especialista e diplomata, Itabira é "a obra mais forte de Villa Lobos". Escrita para canto e orquestra, trata do texto "desesperadamente dramático de Carlos Drummond de Andrade. Só um Villa Lobos poderia enfrentar tarefa de tal envergadura. (...) Além disso, considerando a força e o tamanho do poema, Villa Lobos entremeou diversos comentários orquestrais, que dão margem ao cantor a tomar um pouco de repouso. A obra, em conjunto, é de dificílima realização, tanto na parte orquestral quanto na vocal, a julgar pelos problemas de interpretação, dicção e resistência física que se apresentam. Escrita em pleno universalismo, possui, todavia, intenso grau de brasilidade, tão impregnada está do grande drama provinciano vislumbrado pelo poeta mineiro. Maura Moreira cantou-a admiravelmente no Festival de Washington, de 1968." (pág. 67-68)

Repertório brasileiro de Maura Moreira

Em 1979, no âmbito do Projeto Memória Musical Brasileira - PROMEMUS, vinculado ao Instituto Nacional de Música e integrado ao Centro de Documentação e Pesquisa da FUNARTE, Maura Moreira, acompanhada ao piano por Sonia Maria Vieira, realizou uma gravação que adquire, hoje, valor documental. O disco recebeu o significativo título de O Canto da Terra. O programa apresentado representa exemplarmente o repertório cultivado por Maura Moreira e que reflete a visão da cultura do Brasil que assimilou à época de seus estudos de Folclore no Brasil.

Apresentou Lendas amazônicas, de Waldemar Henrique (Cobra grande, Tamba-tajá, Uirapuru), Cantos indígenas, com harmonizações de Aloysio de Alencar Pinto (Tagnani-tangrê, canto religioso dos índios Nhambiquaras; Canções dos índios Botocudos: Céu grande, Macaco barbado na árvore, Minha mulher é boa de verdade), Três pontos de Santo, com harmonizações de Jayme Ovalle (Chariô, Aruanda, Estrela do mar), e Três cantos afro-brasileiros, com harmonizações de Aloysio de Alencar Pinto (O Fulu-Iorerê ê - Canto de Oxalá -, Yemanjá - Toada à Mãe d'Água, Abá Logum - Louvação a Ogum). 

Na segunda parte da gravação, apresenta modinhas em harmonizações de Baptista Siqueira, Casinha pequenina, harmonizada por Ernani Braga, Morena, morena, harmonizada por Luciano Gallet, a toada caipira Viola quebrada, harmonizada por Villa-Lobos, Sodade, em harmonização de Aloysio de Alencar Pinto, Tayeras, chula em harmonização de Luciano Gallet, Prenda minha, do folclore gaúcho, e Capim di pranta, também do folclore gaúcho, em harmonização de Ernani Braga.

Como membro da Ópera de Colonia, Maura Moreira participou de muitas produções, de diferentes épocas e compositores. Deu continuidade à realização de recitais, em várias cidades européias. Interpretou obras de autores contemporâneos, algumas em primeira audição. Sempre aproveitou as oportunidades, porém, para divulgar obras do repertório brasileiro, em particular aquelas de conotação popular e folclórica. Sobretudo como intérprete de música brasileira foi altamente admirada pelos seus colegas e pelo público.

No dia 19 de maio de 1979, o jornal de Colonia Kölner Stadt-Anzeiger (Nr. 116), publicou uma apreciação do canto do Uirapuru, por Maura Moreira, que revela a sua posição altamente prestigiada na vida musical local:

"Sem maquiagem, sem costumes e sem cortina, os membros da Ópera de Colonia apresentaram, no foyer do teatro,cantos de primavera de seus países natais e ofereceram dessa forma inconvencional uma agradável noite. Do "Querido Maio" de Mozart, passando por expressões de sentimentos primaverís flamengos e holandêses, até o trivial Old Kentucky Home, tudo esteve representado que consegue rimar coração e dor, amor e instinto, sol e prazer.

Os cantores, transplantados do grande palco a um espaço intimista, adaptaram-se à mudança climática de forma desigual. O tom foi exuberante em Camillo Meghor e Susanne Heyng, e também Thomas Thomaschke e Matthias Hölle cantaram com um volume que às vezes alcançou os limites do tolerável.

Muito agradável foi porém a leveza melancólica dos três cantos folclóricos húngaros executados por Edith Kertész-Gabry, em arranjos de Kodaly. Aqui conservou-se muito do sentimento nacional, apesar da técnica vocal treinada.

O coroamento da noite de canções foi a cantora brasileira Maura Moreira: a lenda da planta de amor Tambatajá e do pássaro de amor Uirapuru deram origem a um espetáculo pirotécnico, temperado por um girar de olhos apaixonados e de géstica envolvente."


Fundação do ISMPS e revitalização da Academia Brasil-Europa

A partir de março de 1975, Maura Moreira passou a contribuir decisivamente à institucionalização européia da organização fundada no Brasil, em 1968, à qual remontam a Academia Brasil-Europa e seus institutos. Para a abertura desses trabalhos, realizou naquele ano, no Instituto de Musicologia de Colonia, um recital de música brasileira. Participou, desde então, dos principais eventos realizados.

Foi co-fundadora do Institut für Studien der Musikkultur des portugiesischen Sprachraumes, registrado como entidade européia em 1985, declarado então como Ano Europeu da Música. Nesse ano, realizou um recital para o instituto na Escola de Música da Cidade de Colonia. Em encontros realizados durante visitas de Cleofe Person de Mattos, então presidente da Sociedade Brasileira de Musicologia e da Associação de Canto Coral, contribuiu para o desenvolvimento de projetos que passariam a ser realizados na Alemanha e no Brasil.


                                                   

Humanitas

No decorrer dos anos, com a experiência ganha no mundo artístico, no Brasil e no Exterior, Maura Moreira tornou-se convencida da vaidade que perpassa esse meio e dos problemas éticos, humanos e espirituais que acompanham o desejo de auto-promoção e de projeção de artistas, de intelectuais e jornalistas, em particular no área da música em geral e das expressões culturais relacionadas com o Brasil. Sobretudo após retirar-se da Ópera de Colonia, afastou-se do meio musical, passando a dedicar-se totalmente a obras de caridade. Havia criado em 1979 uma sociedade beneficiente, oficialmente organizada em 1984, Humanitas, e em ingente trabalho diário, dedicou-se a enviar pacotes com roupas usadas e outros objetos a entidades de amparo social de várias regiões do Brasil e também de outros países, entre outros a Polônia. Conseguiu, em pouco tempo, desenvolver consideravelmente a organização, contando com a ajuda de alguns e dedicados amigos, de forma que, aos poucos, as tarefas chegaram até mesmo a ultrapassar as suas forças. Nem sempre, porém, recebeu o devido reconhecimento das instituições e das pessoas individuais que auxiliou.

Uma impressão do seu trabalho oferece um comentário publicado pelo Kölner Stadt-Anzeiger, de 29 de novembro de 1986 (Nr. 278):

"Uma noite de festa no Wolkenburg foi dedicada à ajuda de pessoas no Brasil, Polônia e na DDR. A sociedade Humanitas, fundada em 1979, com 78 membros, convidou ca. de 300 pessoas para a festa. A presidente da sociedade é a cantora lírica brasileira Maura Moreira, que vive já há 25 anos na Alemanha. A sociedade é apoiada, entre outras firmas, pela Companhia Aérea Varig. Nos últimos dois anos foram enviados 364 pacotes com roupas, brinquedos, remédios, aparelhos de audição, óculos e utensílios medicinais e outros objetos"

Em 1989, Maura Moreira organizou mais uma outra ação, dentre as muitas atividades da Humanitas: um mercado de pulgas em auxílio a necessitados no Brasil, no bairro de Weiden da cidade de Colônia. O jornal Kölner Stadt-Anzeiger, de 18 de março de 1989 (N° 114), registrou o evento.

"Há 28 anos vive e trabalha Maura Moreira como cantora de ópera em Colônia, mas sente-se ainda estreitamente ligada com a sua terra de nascimento, o Brasil. Nas suas viagens anuais ao país natal, porém, fêz a terrível constatação de que os pobres no Brasil se tornam mais pobres, os ricos mais ricos.

Por essa razão, a Sra. Moreira começou, há 10 anos, a enviar pacotes a famílias necessitadas e instituições sociais. Em 1984, fundou, com alguns amigos, a sociedade Humanitas, com o objetivo de facilitar a organização das ações caritativas.

Acima de 25 toneladas de doações foram enviadas até hoje pela Humanitas para o outro lado do oceano, principalmente a endereçados que a Sra. Moreira conhece pessoalmente. Especialmente importantes são roupas de verão e para crianças, diz a Sra. Moreira, que conhece as necessidades a partir da sua própria observação.

Os pobres dos pobres no Brasil podem aproveitar quase tudo. De facas, assentos de banheiro a jeans usados, completa Dieter Claus, um dos 73 ajudantes honorários. Médico aposentado, Claus apoia a sociedade também sob o ponto de vista profissional. Examina cuidadosamente os remédios antes de colocá-los nos pacotes.

Também aparelhos de anestesia e de eletrocardiografia usados, aparelhos de ouvido deixados de lado e até mesmo óculos fazem parte dos objetos enviados. Chegamos a enviar uma completa cadeira ginecológica para lá, conta a Sra. Moreira, que verifica no próprio local se os objetos realmente chegam a seu destino.

A sociedade deseja intensificar o seu trabalho. Ambos os depósitos, alugados em Ehrenfeld, estão bem cheios. Apesar de tudo, falta ainda dinheiro.

Desde que o correio aumentou as suas taxas a partir de 1 de abril, os seus ajudantes encontram ainda maiores problemas financeiros. Se um pacote de 20 quilos custava até agora 53 marcos, precisa-se agora pagar 66. As doações em dinheiro são menores do que aquelas de objetos, embora a sociedade envie por ano quase 2000 cartas com pedidos de auxílio em toda a Alemanha.

Com ações de venda em mercados de pulgas, com no estacionamento do centro de compras de Weiden, os ajudantes da Humanitas pretendem encher novamente a caixa da sociedade.

Maura Moreira desenvolveu também novos planos para garantir o financiamento dos pacotes. Com o famoso pianista brasileiro Nelson Freire pretente organizar um concêrto beneficiente. Além do mais, procura uma sociedade de esportes que leiloe uma bola de futebol com a assinatura do mundialmente famoso Pelé. Quem desejar ajudar, pode-se dirigir à Humanitas (...)."

Maura Moreira manifestou nessa sua transformação de vida, a grandeza de seu coração, a força de sua personalidade e seu caráter. Chegou, por fim, a doar todos os bens que adquiriu com a sua carreira na Europa para fins caritativos no Brasil. Àqueles que a ampararam e a amparam anônimamente nos difíceis últimos anos de ensombrecimento de sua consciência vale a gratidão de seus admiradores, colegas e amigos.


A. A. Bispo
com a colaboração de Regina Moreira Westenberger


 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 123/20 (2010:1)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho científico
órgão de
Brasil-Europa: Organização de estudos teóricos de processos interculturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg.1968)
- Academia Brasil-Europa -

e institutos integrados

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Doc. N° 2556


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Homenagem


Maura Moreira: 50 anos de vida na Alemanha - O Canto da Terra

 

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