Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Cambridge. Foto A.A.Bispo 2012©

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Fotos A.A.Bispo. Cambridge (2012),

©Arquivo A.B.E

 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 140/10 (2012:6)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização de estudos de processos culturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência -

e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2012 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N°2948




Da recepção de Bertrand Russell (1872-1970) no Brasil
Perspectiva científica no esclarecimento de riscos nucleares para a Humanidade
versus obscurantismo religioso em nome de concepção espiritual do Homem




Cambridge 65 anos de morte de Alfred Whitehead (1861-1947)

 
Cambridge. Foto A.A.Bispo 2012©
Liberdade foi o principal conceito condutor de reflexões encetadas em ciclos de estudos euro-brasileiros desenvolvidos em diferentes cidades da Europa em 2012. (Veja http://revista.brasil-europa.eu/140/Liberdade-em-debate.html)


Essa atenção particular dirigida à Liberdade nas concepções de diferentes autores, épocas e contextos foi uma decorrência dos complexos temáticos tratados e, estes, motivados por acontecimentos atuais.


No ano de 2012 comemorou-se a passagem dos 300 anos de Friedrich "O Grande" da Prússia (1712-1786) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), o que trouxe à discussão questões relacionadas com o Iluminismo, o Esclarecimento e a Liberdade.


A atualidade dessas preocupações torna-se evidente considerando-se a intensificação de correntes obscurantistas de natureza religiosa e de radicalismo político constatadas em diferentes regiões do globo no presente e que põem em perigo valores, conhecimentos e direitos conquistados com grandes dificuldades no decorrer da história.


Um dos vultos da história da ciência, da Filosofia e dos estudos histórico-culturais e sociais do século XX que mais se destacaram internacionalmente no empenho por uma perspectiva científica de visões e posições em superação de tendências obscurantistas de fundamentação religiosa e de coibição de liberdade foi Bertrand Russell (1872-1970).


Para além de sua obra matemática e filosófica, assim como a de suas atividades de professor em várias instituições (London, Harvard, Peking, New York, Cambridge), Bertrand Russell foi homem político de tendências anti-militaristas, defensor de direitos femininos, atuante em questões sociais e combatido por círculos fundamentalistas pelas suas concepções relativas à moral sexual.


Bertrand Russell desempenhou particular papel no desenvolvimento das reflexões que lançaram as bases, no Brasil, à sociedade constituída em 1968 e que hoje é representada pela Organização de Estudos de Processos Culturais em relações internacionais/A.B.E.. A obra "The Scientific Outlook" de Bertrand Russell (London: George Allen & Unwin, 1931), na sua versão em português sob o título de "A Perspectiva Científica", constituiu texto básico que marcou o desenvolvimento posterior.


Cambridge. Foto A.A.Bispo 2012©

Revendo Bertrand Russell no Trinity College, Cambridge


Para uma releitura dessa e de outras obras de Bertrand Russell à luz da recepção do seu pensamento e de suas ações no Brasil realizou-se uma visita ao Trinity College da Universidade de Cambridge, o maior e mais rico da universidade.


O College foi criado por Henrique VIII (1491-1547) em 1546, o fundador da Igreja Anglicana, que para isso reuniu os colégios mais antigos Michaelhouse e King's Hall. A sua imagem encontra-se significativamente sobre o portal do King's Hall e que leva à Great Court.


Para o financiamento do Trinity College, foram utilizados em parte meios provenientes de bens de conventos confiscados. Esse fato assime um significado emblemático quanto à tensão entre religião - ou moral católica - e ciência na tradição do Trinity College sob o aspecto do pensamento de Bertrand Russell. 


O complexo de edifícios do Trinity College marca a fisionomia da universidade, representando monumentos histórico-arquitetônicos de alto significado, em particular a citada grande corte e os edifícios que remontam a Thomas Nevile (+1615), entre êles a Nevile's Court e a posterior biblioteca construída por Christopher Wren (1632-1723).


Arquivo A.B.E.

Com o Trinity College esteve Bertrand Russell vinculado desde 1890. Tendo recebido excelente formação com professores particulares, dominando o francês e o alemão, distinguiu-se nesse tradicional colégio sobretudo em Filosofia; em 1895 foi nomeado fellow.


Após estadias em Paris como adido junto à Embaixada da Grã-Bretanha, esteve em 1894 em Berlim, onde procurou conhecer as bases da Democracia Social alemã. Realizou a respeito um estudo que marcou as suas concepções políticas, desde então quase tão importantes quanto as suas preocupações filosóficas.


Antes de ser nomeado a professor (lecturer) no Trinity College, em 1910, passou por uma fase em que alcançou renome pela sua obra The Principles of Mathematics (1903) e pelo trabalho em lógica matemática em conjunto com o seu mentor e amigo Alfred Whitehead (1861-1947).


O empenho político de Bertrand Russell à época da Primeira Guerra levou-o a atividades pacifistas. Em 1916, foi afastado de suas atividades de docência do Trinity College.


Apenas em 1944 foi re-nomeado a fellow no Trinity College.


A advertência de cientistas contra guerra atômica (1955) no Brasil


A imagem de Bertrand Russell foi marcada no Brasil sobretudo pelo seu empenho em trazer à consciência do mundo os perigos representados pelo emprêgo de armas nucleares.


Uma de suas intervenções que mereceram particular atenção da imprensa e deram motivo a discussões no círculo liderado por Martin Braunwieser (1901-1991) - mentor da A.B.E. -, foi uma declaração de advertência de Albert Einstein (1879-1955) e outros cientistas contra a guerra atômica, publicada em 1955.


Albert Einstein havia dado a sua aprovação ao documento em carta escrita pouco antes da sua morte e que foi enviada por Russell aos chefes de govêrno da Grã-Bretanha, Estados Unidos, Canadá, Rússia, França e China.


Uma coleção de recortes de jornais da época, conservada nos acervos da A.B.E., indica o significado dessa discussão nos círculos
paulistas.


Um dos artigos discutidos na época, foi "Fim do Mundo?" de Flavio (Augusto) Pereira (*1926). (sem identificação de fonte no acervo)


"Jamais, em tempo algum, a humanidade aproximou-se tanto do abismo como neste seculo. O inexorável fio da Historia veio de produzir engenhos belicos com que os evangelhistas nunca tenham sonhado, mas que permitiriam de fato a realização de seus deteroscopicos pressagios. O homem, vitima da propria contingencia biologica e psicologica de sua personalidade, descobriu e construi meios de auto-imolação! Essas palavras não constituem figuras literarias. Há, realmente, por cima de nossas cabeças - e das cabeças dos nossos descendentes - tremenda espada de Damocles cuja presença oito eminentes sabios mais uma vez vêm de denunciar com documento de envergadura universal". (...)


"Foi, por isso, alviçareira, a noticia de que cientistas de todos os quadrantes e credos irão reunir-se a fim de, solenemente, admoestar politicos e militares a respeito das realidades das modernissimas armas termo-nucleares."




"Uma guerra a esta altura (....) arrasaria literalmente unidades politicas, por exemplo um Estado da Federação Brasileira. Se explodisse aqui em São Paulo uma bomba-H do tipo que os norte-americanos fizeram detonar em Bikini, há pouco mais de um ano, a radioatividade letal então produzida estender-se-ia por area avaliada em seis mil milhas quadradas, o que equivale à metade do territorio da Belgica ou a 70% da superficie total do Estado de Sergipe. Não somente nossa quadrincentenária capital ver-se-ia pulverizada em poucos segundos; a atmosfera em volta guardaria mortal radioatividade por dois ou três dias mais num raio de 121 quilometros, abrangendo, por conseguinte, entre outras, as cidades de Santos, Campinas, Taubaté, Itu, Serra Negra, Pilar e Piedade".


"(....) foi um biologista, habituado ao exame dos efeitos da radiação atomica sobre os seres vivos, quem falou de modo mais claro e incisivo. Trata-se do dr. Sturtevant, do Instituto Tecnologico da California, grande conhecedor dos perigos da contaminação atmosferica em raios e nucleos energizados (...)".


"Não endosso o negro pessimismo de H.G. Wells, cujo canto de cisne foi terrivel vaticinio do futuro do genero humano, crente que estava na absoluta ineficacia das advertencias dos cientistas quanto aos maciços efeitos deleterios de uma guerra atomica. Contudo, é bem pouco provavel que os homens de governo atendam ao apelo dos sabios, pois são poucos, pouquissimos os que dentre eles têm olhos para ver e ouvidos para escutar".


"(...) o bom-senso é coisa que brota da consciencia de pertencermos a uma só especie viva." "A moral da história põe a descoberto dolorosa realidade: mais uma vez, o mêdo - monstro contra o qual a Ciencia busca alcançar vitoria tem de ser invocado e cultivado a fim de que não se extinta, neste planeta, a sagrada chama da vida humana!"


Repercussão na imprensa paulista na declaração de cientistas


Em entrevista concedida ao Daily Herald, o líder da oposição trabalhista britânica, Clement Attlee (1883-1967) afirmou que os grandes do mundo deveriam aceitar pontos de vista expressos por Einstein e seus colegas na declaração lida por Bertrand Russell, qualificando-a como um grande serviço prestado à humanidade:


"Confio (...) em que todos os que participarem da conferencia de Genebra se interessarão pelo problema que assoberba a humanidade, e que foi tão claramente exposto por Bertrand Russell e os outros signatarios da declaração" (O Estado de São Paulo, loc.cit.)


O Ministro Canadense das Relações Exteriores, Lester Pearson (1897-1972), associou-se à advertência dos cientistas, prevenindo o mundo quanto às consequências de uma guerra nuclear e qualificando como altamente oportuno a publicação do documento dos cientistas pouco antes da conferência das quatro grandes potências do mundo para o exame dos meios capazes de reduzir as possibilidades de guerra.


Pearson salientou que, na era nuclear, os estadistas deviam esforçar-se em procurar uma base mais estável e duradoura para a manutenção da paz do que aquela de uma destruição mútua. Seria necessário um esforço internacional coordenado, "fazendo-se uma abstração dos obstáculos ideológicos, políticos ou outros, afrim de superar o perigo de uma radioatividade mortal cumlativa, da qual os cientistas nos advertem que ela pode, finalmente, ameaçar a extinção da raça humana" (loc.cit).


Luta de Russell contra a corrida armamentista em nome dos Direitos Humanos


Bertrand Russell foi obrigado a cumprir no hispital da prisão de Brixton pena de sete dias de prisão por ter liderado manifestações populares contra as aramas nucleares, tendo sido multado pelo uso indevido e ilegal de alto-falante.


Nessa prisão já havia cumprido pena por ocasião da primeira guerra mundial. Interrogado pelo presidente do tribunal de Bow Street, fêz uma declaração antes do pronunciamento da sentença:


"Fui silenciado por algum tempo, talvez para sempre, pois não se pode saber quando começará a grande matança que está sendo planejada pelos lideres das grandes potencias. As populações do Ocidente e do Oriente, engandas por lideres obstinados e sequiosos de prestigio, e por politicos e peritos corruptos, dispostos a conservar seus postos de qualquer maneira, aceitam mansamente todas as imposições que lhes são feitas, inclusive as da corrida aramamentista, que mais cedo ou mais tarde levará à guerra nuclear e à hecatombe final.


Certas pessoas pretendem que há diferença entre as causas ocidental e oriental (...) Mas wquem pensa que há uma diferença entre os dois lados está enganado. Kennedy e Kruchev, Adenauer e de Gaulle, Macmillan e Gaitskell visam um mesmo objetivo: suprimir pura e simplesmente todos os direitos do homem." (loc.cit.)


Crítica do Vaticano ao "materialismo" da advertência aos riscos atômicos


Nessa situação altamente crítica de risco, na qual cientistas esforçavam-se em advertir o mundo e os responsáveis políticos sobre as consequências de uma guerra nuclear, casou indignação a posição do Vaticano em qualificar de materialista o apelo de Einstein e outros cientistas publicada por Einstein, divulgada pelo "L'Osservatore Romano" de 11 de dezembro de 1955.


Em editorial de primeira página, esse jornal dizia que a declaração dos cientistas falava das espécies biológicas da mesma forma como o faria um diretor de jardim zoológico que "está preocupado pelo efeito do calor sobre os ursos polares ou muito pouca agua para as plantas exóticas". O órgão dizia que as advertências do então Papa Pio XII partiam de outros critérios, morais, alegando que essas seriam mais poderosas do que argumentos "materialistas".


O Papa falava de Humanidade, enquanto Einstein falava de raça humana. As palavras de Einstein e dos cientistas correspondia a uma linguagem apropriada a uma concepção do homem como parte da vida animal: "e excitar seu instinto de conservação por esse meio na ausencia de toda outra consideração de caráter espiritual."


Segundo o responsável pelo jornal, seria sobre razões espirituais e não sobre o instinto animal que se deveria fundar a reprovação da humanidade à guerra; um receio puramente animal, o receio da destruição total, acabaria beneficiando os violentos.A prosperidade preconizada por Einstein seria para o Vaticano uma "prosperidade de laboratório científico" (O Estado de São Paulo, 12 de julho de 1955).


Adesão da Associação Italiana pela Liberdade de Cultura: Ignazio Silone (1900-1978)


Essa mensagem póstuma de Albert Einstein, transmitida ao mundo por Bertrand Russel, teve uma recepção positiva em círculos intelectuais romanos, apesar da advertência do Vaticano.


Ignazio Silone (1900-1978), presidente da Associação Italiana pela Liberdade de Cultura, enviou a Russell uma entusiástica mensagem de adesão ao apelo.


Esse cientista já havia promovido uma resolução no Congresso Internacional dos Escritores realizado em Viena no qual se reafirmava o dever dos cientistas e dos escritores de informar a opinião pública sobre o alcance real das armas nucleares. ( ("A condenação da guerra", A Gazeta, 12 de dezembro de 1955)



Atualidade de Bertrand Russell no presente marcado pelo recrudescimento do fanatismo


Na sua "Filosofia do Ocidente em contexto com o desenvolvimento político e social", Russell termina a sua exposição com as palavras:


„No caos das convicções fanáticas contraditórias, uma das poucas forças que unem é o amor científico pela verdade. Entendo aqui o procedimento de apoiar o que cremos em observações e deduções, que devem ser na medida do possível independentes da influência das nossas tendências e do meio. (...) O costume de estrita veracidade ganho do emprego desse método filosófico extende-se a todas as esferas da ação humana; ela atua por todo o lado de forma a fazer diminuir o fanatismo e crescer a disposição de ver o outro com simpatia e compreensão“. (Bertrand Russell, A History of Western Philosophy, Londres: George Alle & Unwin 1945; Philosophie des Abendlandes: Ihr Zusammenhang mit der politischen und der sozialen Entwicklung, Zürich: Europaverlag 1950, ed. especial Colonia 1999, 843)


Essas palavras manifestam aspectos centrais do pensamento de Russell, em particular a convicção de que apenas uma perspectiva científica pode fundamentar uma base comum ao entendimento e, em consequência, levar à concórdia e à paz.


Na superação da situação confusa determinada por correntes religiosas contraditórias, somente essa perspectiva surge para Russell como capaz de propiciar esclarecimentos, e ela seria resultado de um empenho íntimo, de um anelo à procura da verdade.


Essa procura exige, na medida do possível, uma superação dos próprios condicionamentos culturais do próprio contexto em que o homem se insere como o de suas próprias tendências.


Essa procura de independência quanto ao meio e a tendências pessoais na procura de conhecimentos corresponde assim a um distanciamento relativamente ao contexto no qual o observador se insere. Corresponde também à procura de tomada de um ponto de observação mais afastado relativamente àquilo que observa e que lhe permite perspectivas mais amplas.


Nesse sentido, compreende-se que Russel veja implicações da adoção de uma perspectiva científica para todas as esferas da ação humana. A tomada de uma perspectiva distanciada leva não apenas a esclarecimentos relativos ao objeto de observações, ao alcance de conhecimentos e, assim, ao progresso das ciências e do saber.


O costume do emprêgo desse método leva, segundo Russell, a uma atitude de abertura, de tolerância e de compreensão mútua. O cultivo de uma atitude de adoção de um ponto de vista distanciado quanto aos próprios condicionamentos culturais surge, nesse modo de ver, como o principal meio para a superação de correntes do fanatismo religioso.


Russell une, assim, a procura de conhecimentos com a superação do obscurantismo na prática do relacionamento entre os homens. O Esclarecimento adquire assim, para além de seu significado intelectual uma dimensão social a favor da Liberdade, pois leva à libertação de jugos impostos pelo meio e pelos condicionamentos culturais.


"Três paixões, simples mas muito poderosas determinaram a minha vida: o desejo de amor, o impulso ao Conhecimento e uma compaixão insuportável pelo sofrimento da Humanidade. Como uma forte ventania, essas paixões me levaram para aqui e para ali em decurso em reviravoltas sobre um mar mundial de dores até a margem última do desespero.


Procurei o amor, uma vez, porque produz êxtase, uma tão grande êxtase que muitas vezes teria dado toda a vida à minha frente por algumas horas desse êxtase. Por outro lado, procurei o amor por que representa uma redenção da solidão, essa terrível solidão na qual um consciente individual olha para além da beira do mundo num vazio frio, sem vida, sem fundo. Por fim, procurei o amor por que vejo na união amorosa uma imagemem diminuida misticamente do céu, como vive na imaginação dos santos e dos poetas. Isso eu procurei e ainda que seja muito bonito para uma vida humana: eu o encontrei por fim.


Com a mesma paixão procurei o Conhecimento. Eu quis pesquisar o coração dos homens. Eu quis entender, porque as estrelas brilham. Eu procurei compreender a força segundo a qual os pitagoreístas o número comina a corrente do ser.Um pouco, ainda que não muito, consegui compreender.


Amor e Conhecimento, tanto quanto foram alcançávies, elevaram-me a alturas celestais. Mas sempre a compaixão trouxe-me de novo à terra. Ecos de gritos de dor encheram o meu coração: crianças com fome, vítimas martirizadas de oprimidos, idosos sem ajuda, transformados em pêso indesejável para os seus filhos - o mundo todo do abandono, da pobreza, do sofrimento, tudo fez uma caricatura daquile que a vida do Homem devia ser na verdade. Exigiu de mim ir de encontro ao mal, mas não posso fazê-lo só, e assim sofro também eu. Assim foi a minha vida. A achei digna de viver, e viveria mais uma vez com prazer se a mim se desse tal possibilidade." (de What I have Lived for).

Russell expressa assim pensamentos que hoje continuam presentes nos trabalhos euro-brasileiros que vem sendo desenvolvidos. Também nos esforços atuais procura-se desenvolver os estudos culturais em estreito relacionamento com os estudos da própria ciência (science studies), o que equivale, em expressão mais ampla, ao pensamento de Russell.


Trata-se do reconhecimento da necessidade da condução de estudos considerando sempre interações entre o objeto de estudos e o próprio observador nos seus condicionamentos, ou de grupos de pesquisadores, de rêdes e suas características internas que co-determinam a produção de conhecimentos.


O pensamento de Russell é, porém, também ampliando relativamente à sua concepção de método científico. Como se manifesta nas suas próprias palavras, a sua compreensão da perspectiva a ser alcançada baseia-se em observações e deduções, sugerindo antes o seu ponto de partida científico-natural e, portanto, expressando a sua própria inserção numa corrente histórica do pensamento e o seu condicionamento.


Uma aplicação mais ampliada do método filosófico que preconiza tem como consequência que não apenas a observação científico-natural do observável no mundo perceptível pelos sentidos. Também o próprio edifício cultural deve ser considerado a partir de um ponto de perspectiva mais distanciado.


Na verdade, tratando de uma História da Filosofia Ocidental, também Russell assim procede, pois relativa os conhecimentos filosóficos através de sua contextualização no tempo. Não apenas, porém, os conhecimentos baseados em fontes históricas necessitam manifestar um esforço de tomada de um ponto de perspectiva distanciado, permitindo uma visão mais ampla das decorrências, mas sim também aqueles derivados da pesquisa cultural empírica e que levam a construções ou reconstruções de edifícios de concepções e imagens.


Nesse sentido, uma orientação culturológica dos estudos não implica em superação, mas sim em ampliação do método defendido por Russell.



Aspectos de reflexões sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo



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Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A."Da recepção de Bertrand Russell (1872-1970) no Brasil. Perspectiva científica no esclarecimento de riscos nucleares para a Humanidade versus obscurantismo religioso em nome de concepção espiritual do Homem". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 140/10 (2012:6). http://revista.brasil-europa.eu/140/Russell-no-Brasil.html



  1. Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização Brasil-Europa, visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens relativos à Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência (culturologia e sociologia da ciência), a seus institutos integrados de pesquisa e aos Centros de Estudos Culturais Brasil-Europa: http://www.brasil-europa.eu


  2. Brasil-Europa é organização exclusivamente de natureza científica, dedicada a estudos teóricos de processos interculturais e a estudos culturais nas relações internacionais. Não tem, expressamente, finalidades jornalísticas ou literárias e não considera nos seus textos dados divulgados por agências de notícias e emissoras. É, na sua orientação culturológica, a primeira do gênero, pioneira no seu escopo, independente, não-governamental, sem elos políticos ou religiosos, não vinculada a nenhuma fundação de partido político europeu ou brasileiro e originada de iniciativa brasileira. Foi registrada em 1968, sendo continuamente atualizada. A A.B.E. insere-se em antiga tradição que remonta ao século XIX.


  3. Não deve ser confundida com outras instituições, publicações, iniciativas de fundações, academias de letras ou outras páginas da Internet que passaram a empregar designações similares.