Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

_________________________________________________________________________________________________________________________________


Índice da edição     Índice geral     Portal Brasil-Europa     Academia     Contato     Convite     Impressum     Editor     Estatística     Atualidades

_________________________________________________________________________________________________________________________________

Cambridge. Foto A.A.Bispo 2012©

Cambridge. Foto A.A.Bispo 2012©

Cambridge. Foto A.A.Bispo 2012©

Cambridge. Foto A.A.Bispo 2012©

Cambridge. Foto A.A.Bispo 2012©

Cambridge. Foto A.A.Bispo 2012©

Cambridge. Foto A.A.Bispo 2012©

Cambridge. Foto A.A.Bispo 2012©

Cambridge. Foto A.A.Bispo 2012©

Cambridge. Foto A.A.Bispo 2012©

Fotos A.A.Bispo. Cambridge (2012),

©Arquivo A.B.E

 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 140/13 (2012:6)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização de estudos de processos culturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência -

e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2012 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N°2951



Universidades em visita


Excelência e Liberdade
"Deixar que o mundo participe de Cambridge"

Cursos internacionais de verão da Universidade de Cambridge

Estudos em homenagem a Robert Burns (1759-1796), poeta do amor e da liberdade

 
Cambridge. Foto A.A.Bispo 2012©
Os estudos culturais euro-brasileiros que vêm sendo desenvolvidos em diferentes cidades da Europa consideram de forma privilegiada universidades e institutos de pesquisas. Estes são observados nos seus respectivos contextos e nas suas interações com instituições de outras regiões e países, em particular também com a vida cultural de cidades e comunidades. (Veja e.o.http://www.revista.brasil-europa.eu/139/Trondheim-Universidade.html)


Essa atenção deriva do interesse e da necessidade de contatos pessoais e institucionais a serviço do intercâmbio, o que pressupõe a consideração sensível de situações e de culturas mentais, facilitada com visitas e convivências.


Ela corresponde sobretudo à orientação teórica que vem sendo dada aos trabalhos euro-brasileiros no âmbito da A.B.E., na qual salienta-se a necessidade de condução de estudos culturais em estreito relacionamento com a pesquisa da própria ciência, de suas instituições na história e no presente, de suas rêdes intelectuais e correntes de pensamento. Trata-se, assim, da consideração de uma cultura da produção do saber como sendo ela própria objeto de estudos culturais refletidos. (studies of science, science of science)


Entre as universidades visitadas em 2012 destaca-se a inglêsa de Cambridge. É uma das principais universidades da Grã-Bretanha ao lado daquela de Oxford, da qual procederam os professores e estudantes que fundaram Cambridge, em 1209, e com a qual coexiste em situação de amigável competição em excelência e renome.


Cambridge. Foto A.A.Bispo 2012©

A Universidade de Cambridge e o seu renome mundial de excelência


Cambridge. Foto A.A.Bispo 2012©
Cambridge é uma das universidades de maior prestígio no mundo, apresentando nos seus quadros maior número de cientistas e pensadores agraciados com o prêmio Nobel do que qualquer outra universidade do globo.


Cambridge não pode ser considerada apenas sob a perspectiva de sua secular história e de seus grandes vultos e respectivas contribuições ao conhecimento. A universidade mantém-se presente em outros centros europeus e de países extra-europeus através de professores, pesquisadores e instituições que, com o prestígio proporcionado pelo seu nome, desenvolvem as suas próprias linhas de pesquisa e de pensamento, e que nem sempre podem ser consideradas como tradicionais.


A ação de professores e pesquisadores convidados e visitantes, assim como o teor de cooperações acadêmicas surgem como surpreendentes sob muitos aspectos.


A imagem que se obtém de Cambridge nos diferentes centros é marcada por diversidade e por contrastes, em parte antagônicos relativamente à aura tradicional que envolve o seu nome, em todo o caso indicador de dinâmico e vital empreendorismo.


Essa impressão de surpreendente coexistência do tradicional e do atual, de consciência histórica e de orientação ao presente e futuro, de conservadorismo de formas e de correntes de pensamento e modos de vida marcados por informalidade e tendências avançadas, acentua-se em visita a Cambridge com a observação da vida acadêmica e das atividades sociais, esportivas e culturais.


Visitada por diversas vezes desde 1974, quando as atenções foram dedicadas sobretudo à secular história, às tradições, às diferenças quanto à organização das universidades britânicas relativamente às do continente e de outros países e, em particular, brasileiras, as observações na estadia de 2012 foram voltadas antes a uma cultura universitária peculiar que surge sob diferentes ângulos como paradoxal mas fascinante.


Um dos objetivos foi o de procurar compreender situações e processos institucionais que permitem tal coexistência singular de expressões e formas de vida que manifestam espírito aristocrático e elitário - também de elite ou excelência intelectual - com tendências de pensamento e modos de vida que surgem como abertos, inovativos e progressistas.


Nesse sentido, um conceito surgiu como particularmente merecedor de maior atenção: o de liberdade.


Cambridge. Foto A.A.Bispo 2012©


Autonomia de Colleges e a University - Diversidade e Unidade


Um dos fatores que podem explicar a diversidade, o dinamismo e o desenvolvimento mais livre de possibilidades pessoais e institucionais parece residir no sistema britânico representado pelos Colleges.


Esse sistema permite que o todo universitário adquira uma feição confederativa, marcada por considerável autonomia administrativa e pelas características individuais das instituições integrantes, possuidoras de própria história, tradições, propriedades e finanças, alguns com mais, outros com menos recursos, cada uma, porém, com a sua história e mesmo feição cultural particular.


Grande parte dos 31 colégios apresenta um vir-a-ser inserido em contextos históricos que determina a auto-consciência de seus membros e estudantes.


O mais antigo desses Colleges, Peterhouse, remonta a
1284, quando foi fundado por Hugh von Balsham, Bispo de Ely. O Trinity College relembra continuamente Heinrich VIII (1491-1547), soberano que determinou o surgimento da Igreja Anglicana, e que o fundou a partir da uniou do antigo King's Hall, fundado em 1317 e do Michaelhouse, em 1546.


Os estudantes são selecionados por essas instituições, nelas são abrigados e por elas supervisionados nos seus trabalhos em grupos. Essa situação contribui à criação de laços de identidade institucional e colegialidade que se manteem durante os estudos e na vida profissional, muitas vezes para além de fronteiras.


Se essa estrutura de convívio humano e de aprendizado é marcada pela diversidade dos Colleges, o ensino universitário e a pesquisa caracteriza-se antes pela unidade universitária no seu todo. As várias áreas disciplinares são cultivadas também em Cambridge no âmbito de faculdades e institutos, e também estes
vdispõem de considerável liberdade quanto à escolha de docentes, os Fellows.


Os estudantes e os absolventes da universidade possuem assim múltiplas possibilidades de identificação com instituições marcadas por história própria, imagens individuais e rêdes nas quais se inserem, não apenas com a universidade no seu todo.


Identificação com os Colleges, com a universidade no seu todo e seu renome


A essa auto-consciência de pertencimento por um lado à respectiva instituição que garante colegialidade e que marca os anos de estudos e, por outro, às faculdades com as suas próprias feições científicas e intelectuais soma-se a consciência de pertencimento a uma elite acadêmica em termos britânicos e mesmo internacionais.


Se os vínculos com a tradição histórica dos Colleges e com a orientação da pesquisa e do pensamento nos respectivos institutos podem explicar o apêgo à tradição e a determinadas culturas de saber, a consciência de pertencimento a uma elite intelectual explica um sentido positivo dado à excelência nos estudos e nas ambições profissionais.


Esse sentido positivo dado à excelência nem sempre pode ser observado em universidades de outros países, onde a diligência e intentos de projeção surgem conotados negativamente como expressões de ambição. 


Essa situação pode explicar as singulares coexistências de tradição e inovação, de conservadorismo e progressismo na vida acadêmica.


Transformações quanto à consciência de pertencimento a uma elite intelectual


Quanto à consciência de pertencimento a uma elite intelectual, constata-se uma significativa transformação nas últimas décadas.


Até meados da década de sessenta, a admissão de estudantes era condicionada pelo domínio de línguas antigas, latim e grego, o que pressupunha um estudo secundário de natureza humanística em escolas de grau mais elevado de exigência.


Tratando-se aqui sobretudo de escolas particulares, acessíveis primordialmente a círculos de maiores possibilidades econômicas da sociedade, a consciência de pertencimento a uma elite intelectual dos absolventes relacionava-se também com o de classe social, favorecendo neste sentido aristocratismos de relações, expressões e atitudes.


A modificação dos critérios de admissão trouxe consigo também uma mudança quanto aos pressupostos escolares, superando-se em parte a hegemonia de formação em escolas particulares, mantendo-se, porém, a exigência quanto a notas elevadas.


Essa transformação mereceria ser considerada sob a perspectiva de processos culturais, uma vez que estudantes provenientes de camadas sociais não tão privilegiadas mas com excelentes notas inseriram-se em complexos mecanismos de ascensão social, marcados ao mesmo tempo por instabilidade social de origens e de ímpetos de auto-afirmação, o que pode explicar tendências a exageros tanto no sentido integrativo a modos de vida e atitudes aristocráticos como naquele de diferenciação cultural.


Talvez possa assim ser explicada uma coeexistência de atitudes antes aristocráticas de reserva e discreção como sinais de distinção com tendências ao extravagante ou mesmo ao cultivo de atitudes vistas como conotadoras de classes menos favorecidas socialmente ou sinais de "decadência" moral.


Essas tendências parecem ser favorecidas pelo significado concedido à individualidade pessoal e à auto-convicção de qualidades e potencialidades de candidatos e estudantes, ao pêso dado a aptidões retóricas e de auto-representação de indivíduos.


Essa atenção à capacidade do auto-apresentar-se como personalidade individual convincente e que pode surgir à primeira vista como manifestação de excessiva auto-confiança e mesmo arrogância, necessitaria ser considerada nos seus pressupostos filosóficos e histórico-culturais e que se relacionam estreitamente com concepções de liberdade. 


A liberdade surge aqui relacionada com um dever de auto-desenvolvimento e auto-nobilitação, associada porém a uma acepção de liberdade e de direito de exercer os próprios interesses e alcançar posição de realizá-los no mundo. Essa acepção de liberdade favorece o empreendorismo mas não deixa de levantar questões quanto a um inerente egocentrismo.




"Deixar que o mundo participe de Cambridge". Internacional Summer Schools


Na visita à Universidade de Cambridge no âmbito dos estudos euro-brasileiros de 2012 deu-se particular atenção à instituição das International Summer Schools devido à abertura internacional manifestada no seu escopo de deixar „que o mundo participe de Cambridge“.


Correspondentemente a esse intento, grande é o número de estudantes estrangeiros que participam dos cursos. Assim, no ano anterior de 2011, 59 nações estiveram representadas, várias do continente americano.


A estrutura dos cursos considera o exíguo espaço de tempo disponível e caracteriza-se por considerar complexos temáticos específicos em unidades que duram duas, quatro ou seis semanas.


Os cursos oferecidos evidenciam um surpreendente interesse atual de jovens estudantes de todas as partes do mundo pelos Estudos Clássicos, História Antiga ou Arqueologia e que têm o seu fascínio intensificado pela
projeção humanística e pela imagem marcada pela tradição histórica de Cambridge.


Os programas das Escolas de Verão não demonstram porém uma ordenação abstrata, coerente de disciplinas, mas sim cursos derivados das esferas de interesse ou de especialização de docentes.


Não são os professores escolhidos para um sistema rígido de disciplinas determinado antecipadamente, mas sim a oferta de cursos deriva das áreas de pesquisa mais desenvolvidas por determinadas personalidades.


O sistema, assim, é marcado por liberdade e pela individualidade. Consequentemente, as Escolas de Verão oferecem, ao lado de Ciência, História e Literatura, temas especiais como Impérios Antigos, Estudos Medievais e Shakespeare.


De Julho a Setembro de 2012, a América Latina esteve
representada pelo curso de título „Revolution and dictatorship in Latin America, 1956-1978“.


Na Interdisciplinary Summer School, o estudante tem a oportunidade de tomar contato com diferentes áreas de conhecimento. Na Specialist Summer Schools, a atenção é dirigida mais aprofundadamente a um tema especial.


Para estrangeiros que desejam aperfeiçoar os seus conhecimentos de inglês, a Universidade oferece o curso English for Academic Purposes (EAP) e o English Legal Methods and Coaching Summer School (IELTS) para aqueles que desejam dedicar-se mais intensivamente ao idioma.


O papel da cultura no intento de "deixar que o mundo participe de Cambridge"


De acordo com o sugerido pelo escopo de "deixar que o mundo participe em Cambridge", o objetivo desses cursos internacionais de verão vai além daquele de proporcionar conhecimentos específicos ou contatos com correntes de
pensamento e áreas de estudos atualmente em desenvolvimento na universidade.


Talvez o seu principal escopo seja o cultural, ou seja, o de permitir que o estudante estrangeiro experimente o ambiente de Cambridge, tenha a possibilidade de visitar as suas bibliotecas e instituições, de sentir um universo cultural ao mesmo tempo tradicional e dinâmico. Trata-se, assim, de uma possibilidade oferecida ao estrangeiro de aproximar-se da cultura da antiga universidade.


Correspondentemente a esse escopo, visitas a monumentos, edifícios e instituições, eventos e excursões culturais desempenham importante papel nos cursos de verão.


Para jovens de outros países, talvez o mais surpreendente resida no estilo de vida universitária que, diferentemente daquele de universidades de muitos países, manifesta sob muitos aspectos uma consciência de pertencimento a uma elite social e acadêmica,


Ainda que no período de tempo restrito dos cursos de verão, os estudantes, em particular aqui os latinoamericanos, não deixam de surpreender-se por um singular cultivo da formalidade.


Os universitários de Cambridge utilizam trajes de gala em muitas solenidades, entre elas a da matrícula, a do jantar de fim de semestre, a do meio de ano, a de graduação e de término de curso. Entre os muitos bailes, destacam-se os bailes do mês de maio e, em brilho, o tradicional baile do Trinity College e do St. John‘s College. Uma das grandes oportunidades para o uso de trajes formais é o da tradicional ceia em homenagem ao escocês Robert Burns (1751-1796), poeta e escritor da época do Iluminismo, a "Noite de Burns".


Ainda que preparados para encontrar um ambiente universitário privilegiado e de tradição histórica, o estudante estrangeiro não encontra regidez convencional que pode ter associado a aristocratismo. Encontra, pelo contrário, modos de vestir-se e de comportar-se que exprimem ao mesmo tempo descontração e grande liberalidade de costumes.


Em número e diversidade de eventos esportivos e culturais dificilmente outra universidade compete com Cambridge e muitos dos estudantes atuam paralelamente a seus estudos em competições e atividades artísticas, o que confere à universidade uma grande vitalidade. Nessa liberdade, difere de grande parte de universidades no continente.



Estudos sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo



Todos os direitos relativos a texto e imagens reservados. Reproduções apenas com a autorização explícita do editor.

Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A."Excelência e Liberdade. "Deixar que o mundo participe de Cambridge". Cursos internacionais de verão da Universidade de Cambridge". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 140/13 (2012:6). http://revista.brasil-europa.eu/140/Universidade-de-Cambridge.html




  1. Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização Brasil-Europa, visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens relativos à Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência (culturologia e sociologia da ciência), a seus institutos integrados de pesquisa e aos Centros de Estudos Culturais Brasil-Europa: http://www.brasil-europa.eu


  2. Brasil-Europa é organização exclusivamente de natureza científica, dedicada a estudos teóricos de processos interculturais e a estudos culturais nas relações internacionais. Não tem, expressamente, finalidades jornalísticas ou literárias e não considera nos seus textos dados divulgados por agências de notícias e emissoras. É, na sua orientação culturológica, a primeira do gênero, pioneira no seu escopo, independente, não-governamental, sem elos políticos ou religiosos, não vinculada a nenhuma fundação de partido político europeu ou brasileiro e originada de iniciativa brasileira. Foi registrada em 1968, sendo continuamente atualizada. A A.B.E. insere-se em antiga tradição que remonta ao século XIX.


  3. Não deve ser confundida com outras instituições, publicações, iniciativas de fundações, academias de letras ou outras páginas da Internet que passaram a empregar designações similares.