Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Berlim. Foto A.A.Bispo 2012©

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Fotos A.A.Bispo. Berlim (2012),

©Arquivo A.B.E

 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 140/3 (2012:6)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização de estudos de processos culturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência -

e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2012 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N°2941




"Forme-se a si próprio e atue em outros por aquilo que Você é"
Máxima e  primeiro mandamento da verdadeira moral segundo W. von Humboldt (1767-1835)

 

Wilhelm von Humboldt, o fundador da Universidade de Berlim, foi por diversas razões vulto particularmente considerado nos ciclos de estudos euro-brasileiros de 2012. Uma dessas razões reside no fato de ter sido escolhido o seu nome para lema de Lübeck como Capital da Ciência. (Veja http://revista.brasil-europa.eu/140/Liberdade-em-debate.html)


Berlim. Foto A.A.Bispo 2012©

Berlim. Foto A.A.Bispo 2012©
O papel concedido à Liberdade no edifício das concepções de Wilhelm von Humboldt pode ser analisado sob diversos aspectos.


O seu pensamento adquire particular atualidade internacional com o projeto do Forum Humboldt de Berlim, que surge como um dos principais centros de diálogos e interações culturais internacionais para o futuro.(Veja http://revista.brasil-europa.eu/140/Forum-Humboldt.html


Ainda que podendo ser considerado sob diversas perspectivas, o conceito de Liberdade em W. v. Humboldt faz parte de um edifício de pensamento marcado por coerência. O estudo dos fundamentos teóricos desse edifício surge, assim, como tarefa primordial, uma vez que neles residem também as bases da concepção de Liberdade de W. v. Humboldt.


O caminho mais adequado para a análises desses fundamentos do pensamento de von Humboldt é aquele que parte da sua concepção do processo formativo do Homem, uma vez que revela o significado da recepção de idéias de Forma e Matéria da antiga Filosofia.


A atenção é dirigida aqui à dinâmica de interações de ambos os princípios no mundo temporal, ou seja, ao processo de conformações da Matéria e concomitantemente à materializações do princípio da Forma e que representam individuações.


Considerar essas concepções básicas surge como pressuposto para o entendimento do "Ideal de Formação" (Bildungsideal) de W. von Humboldt e que marcou o sistema universitário alemão até passado recente, tendo sido este caracterizado por grande liberdade. (Veja http://revista.brasil-europa.eu/140/Ideal-formativo.html)


A consideração dessa concepção de processo formativo e da liberdade a êle inerente não pode ser conduzida apenas sob a perspectiva de sua aplicação aos estudos e ao ensino superior. Trata-se de uma concepção muito mais ampla, que diz respeito ao Homem no seu todo, ou seja, é de natureza antropológica.


Os estudos euro-brasileiros desenvolvidos em 2012 partiram da discussão do pensamento de W.von Humboldt sobretudo a partir de um "breviário" recentemente publicado. (Unter freien Menschen: Ein Wilhelm-von-Humboldt-Brevier, ed. Peer-Robin Paulus, Berna: Ott 2008)


Máxima: formar-se tão amplamente quanto possível


Ponto de partida para as reflexões pode ser o da convicção de Wilhelm von Humboldt de que a máxima da vida do Homem deve ser aquela do formar-se tão amplamente quanto possível.


Não se trata de uma formação por agente externo, que atue como modelador, mas sim de um impulso formativo interno, um ímpeto do Homem no sentido de formar-se tão amplamente quanto possível. Este tão amplamente quanto possível pode ser entendido no sentido de que diferentes esferas do conhecimento, da ação e da vida recebam dele forma e, concomitantemente, esta expressa-se, individualizando-se.


Esse impulso a formar-se de forma tão multilateralmente ampla quanto possível de indivíduos é de significado de primeira grandeza para o coletivo, para o mundo. É um impulso assim que deve ser despertado, fomentado e cultivado.


O formar-se no sentido de dar forma a partir de si significa proceder em direção à individualidade um conceito de significado central no pensamento de Wilhelm von Humboldt.


Esse processo formativo e individualizador que parte da própria pessoa representa um desenvolvimento de suas potencialidades. Este seria o objetivo último do Homem: desenvolver os seus talentos e potências.


Este último objetivo não resulta de suas tendências e atrações, que sempre se modificam, mas sim é uma exigência da Razão, esta eternamente imutável. Nessa concepção de W. von Humboldt manifesta-se assim os estreitos elos da Razão e do conceito de Forma no seu pensamento.


Conduzidas pela Razão, as forças do Homem devem ser desenvolvidas ao máximo e da forma mais proporcionada possível, levando assim à configuração de um Todo.


O ideal máximo da coexistência de seres humanos é, para W. von Humboldt, aquele representado por uma situação na qual cada indivíduo se desenvolva de si e para si.


Máxima e moral: atuar sobre outros pelo que se é e agir em veracidade


Da máxima de vida do Homem de formar-se tão amplamente possível resulta uma segunda, a de atuar sobre outros por aquilo que se é.


O formar-se a si próprio surge para W. von Humboldt como primeira lei de uma moral verdadeira, dela resultando o agir em veracidade pelo que se é.


Toda a ação no mundo apenas representa um instrumento a serviço ao enriquecimento ou à correção de idéias do Homem.

A vida é para W. von Humboldt uma luta do espírito com o corpo, que só parcialmente alcança sucesso. Assim, a formação da individualidade é um ápice. No todo, representa o último objetivo do universo. Se o olhar deixa de ser dirigido para esse cume, todo o esforço, por mais nobre que seja, é baixo, mecânico e terreno. Procurando alcançar a Unidade e a Totalidade, para além dos seus limites, o homem precisa elevar a sua individualidade a essas alturas, tal como o gigante da mitologia que apenas recebe a sua força da terra-mãe.

A pesquisa do universo, a medição da terra, as profundezas do conhecimento e da filosofia, as alturas do sentimento surgem apenas como vanidades de forças que se esbanjam se não se manifestarem no próprio homem que pensa, fala e atua, ou seja, nas suas palavras e ações.

Coerência do pensar e do agir na própria vida de W. von Humboldt

Segundo essa convicção, o próprio W. von Humboldt procurou conduzir a sua vida. Por várias vezes abandonou postos seguros e promissores de carreira para seguir os seus ideais de aumento de conhecimentos e desenvolvimento de sua personalidade e aperfeiçoamento interior.


Assim, após terminar os seus estudos em Frankfurt (Oder) e em Göttingen, entrou para o serviço de Estado, em 1790, estudando para ser juiz e, posteriormente, diplomata. Abandonou, porém, logo essa posição. Preferiu retirar-se e contentar-se com um meio mais restrito de ação que, diferentemente de carreira no funcionalismo, permitia-lhe o desenvolvimento livre de suas potencialidades.


  1. 1767-Nascimento em Potsdam (22 de Junho)
    1787-Matrícula dos dois irmãos na Universidade em Frankfurt an der Oder
    1788-Matrícula na Universidade Göttingen. Início da amizade com Georg Forster e do namoro com Caroline von Dacheröden
    1789-Estadia de verão em Paris
    1790-Entrada no serviço público da Prússia. Conselheiro de Legação e Referendário
    1791-Saída do funcionalismo. Casamento com Caroline von Dacheröden.
    1792-Publicacão de partes da Idéias para uma tentativa de determinar os limites da ação do Estado. Início da amizade com Friedrich Scholler
    1799-1800-Viagem à Espanha
    1801-Viagem pelo país basco
    1801-Diplomata prussiano junto à Santa Sé
    1803-Morte do seu filho Wilhelm
    1807-Morte do seu filho Gustav. Início da Reforma prussiana
    1809-Nomeação a chefe de seção para o Culto e Ensino no Ministério do Interior
    1810-Fundação da Universidade de Berlim
    1811-Enviado prussiano em Viena
    1813-Mediador prussiano no Congresso de Praga
    1815-Segundo Plenipotenciário da Prússia nas sessões sôbre a paz em Paris. Nos anos seguintes: plenipotenciário no Parlamento em Frankfurt
    1819-Ministro para assuntos de classes. Tentativa de Constituição para a Prússia
    1819-Suspensão de todos os cargos. Retiro ao palácio de Tegel
    1829-Morte da esposa. Presidente da comissão para a instalação do Museu de Estado
    1830-Renomeação para o Conselho de Estado
    1835-Morte no Palácio de Tegel



Individualidade, liberdade e originalidade. Consequências para a concepção de sociedade

A individualidade e a liberdade se relacionam, levando à originalidade, que é o fundamento de toda a grandeza do Homem. É ela que todo o indivíduo de procurar. Ela não pode deixar de ser procurada por todo aquele que deseja atuar nos homens. Essa característica própria do indivíduo é resultado da liberdade do agir em interação com os agentes na sua diversidade, produzindo-se mutuamente.

Desses pensamentos, W. von Humboldt criou um quadro expressivo e idealizado de uma sociedade marcada pela liberdade.

Entre homens livres, todos os negócios tomam o seu desenvolvimento ideal, as artes florescem, as ciências se desenvolvem. Entre homens livres, os laços familiares são mais estreitos, os pais se dedicam com mais afinco pelos filhos e, com o aumento da prosperidade, tornam-se mais aptos a realizar os seus desejos. Entre homens livres surge a competição, formam-se melhores educadores, onde o seu destino depende do sucesso de seus trabalhos, mais do que em situações, nas quais espera do Estado a sua promoção. Assim, não há falta nem de educação familiar nem instituições de educação útil e necessária da comunidade.

Entre homens livres, todas as profissões desenvolvem-se melhor, todas as artes florescem de forma mais bela, todas as ciências se expandem. Entre homens livres, os laços familiares são mais estreitos, os pais procuram cuidar melhor dos filhos, e com a crescente prosperidade, também possuem mais meios para realizar esses seus desejos. (Ideen I, 108, cit. Unter freien Menschen, op.cit.)


Segundo W. v. Humboldt, entre homens livres origina-se um espírito de superação, formam-se melhores educadores. Onde for que o destino dependa do sucesso do trabalho, tudo decorre melhor do que em situações em que o indivíduo dependa de uma promoção que espere do Estado. Nessa situação, não vai haver falta nem de Educação familiar nem de instituições de Educação comunitária útil. (Ideen I, 108, , cit. Unter freien Menschen, op.cit)


W. v. Humboldt vai ainda mais longe, afirmando que a liberdade leva à prosperidade, à amabilidade e à doçura da fantasia. Apenas onde os cidadãos vivenciem uma grande liberdade as sua almas se tornam mais leves, a sua fantasia mais doce, e a justiça menos rígida, ainda que eficaz. Sem liberdade, não se desenvolve a dignidade. Sem ações que apenas pertencem à própria personalidade, nada surge de digno sem a liberdade e muito menos aquilo no qual a sua própria individualidade, a sua personalidade se baseia.,

A Razão, assim, apenas pode desejar uma situação de liberdade. Ela apenas pode desejar uma situação na qual cada um viva uma liberdade sem grilhões de se desenvolver a partir de si próprio na sua feição individual.

(Veja outros artigos, nesta edição)

Aspectos de discussões sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo



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Indicação bibliográfica para citações e referências:Bispo, A.A. (Ed.). "Forme-se a si próprio e atue em outros por aquilo que Você é": máxima e  primeiro mandamento da verdadeira moral segundo W. von Humboldt (1767-1835)". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 140/3 (2012:6). http://revista.brasil-europa.eu/140/Veracidade-como-maxima.html




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