Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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reclame de firmas teuto-brasileiras

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reclame de produtos alemaes

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Reclames de "O Brasil e a Allemanha" (1923) e dos arquivos da A.B.E.


 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 141/6 (2013:1)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Universidade de Colonia
Dr. H. Hülskath e Comissão especializada

Organização de estudos de processos culturais em relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa -
e institutos integrados


© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2013 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2958


A.B.E.


A percepção do Brasil como país industrial na Alemanha
Empreendedorismo de teuto-brasileiros
e suas consequências para a economia da Alemanha nos anos vinte
segundo Mark Neven DuMont (1892-1959)

Alemanha-Brasil
Diálogos de Berlin-Charlottenburg pelos 30 anos do simpósio euro-brasileiro de renovação dos estudos da emigração alemã ás Américas
no ano da Cumbre Unión Europea-CELAC 2013

 
reclame de produtos alemaes
O ano de 2013 nos trabalhos euro-brasileiros é dedicado em particular a relações entre a Alemanha e o Brasil. (http://revista.brasil-europa.eu/141/Brasil-Alemanha-2013.html)

Essa atenção da A.B.E. e seus institutos explica-se pela passagem dos 30 anos do simpósio internacional dedicado aos 300 anos da emigração alemã à América.

Aquele simpósio, de iniciativa brasileira, trouxe à consciência a necessidade de atualização dos estudos transatlânticos e interamericanos sob as novas condições criadas pela integração européia.

Os impulsos partidos desse evento determinaram os trabalhos posteriores, levando à realização de seminários e ciclos de estudos. Considerando-se neles questões de imigração e empreendimentos coloniais alemães no Brasil, esses trabalhos tiveram necessariamente que considerar aspectos econômicos, salientando relações entre comércio, agricultura, indústria e processos culturais.

Essas relações tornaram-se especialmente atuais com os ciclos de estudos desenvolvidos em 2012, e nos quais tematizou-se o conceito de liberdade, a formação livre do Homem e de nações no vir-a-ser de sua individualidade e suas implicações político-econômicas no Liberalismo e em concepções de Estado a serem questionadas e relativadas. (http://revista.brasil-europa.eu/140/Liberdade-e-Liberalismo.html)

Essas reflexões podem ter continuidade em 2013, uma vez que as relações entre a Alemanha e o Brasil oferecem condições particularmente favoráveis para o tratamento relacionado de relações entre comércio/indústria, tecnologia e cultura em processos históricos de independência e desenvolvimento livre de potencialidades.

Um contexto que merece particular atenção sob esse aspecto é aquele do reatamento de relações entre os dois países após a Primeira Guerra Mundial. Em O Brasil e a Alemanha 1822-1922 (Berlim: Editora Internacional 1923), as relações entre independência, desenvolvimento comercial, industrial, técnico e cultura tornam-se particularmente evidentes. (http://revista.brasil-europa.eu/141/Brasil-Alemanha-1923.html)

A publicação, motivada pela realização da Exposição Internacional pelo Centenário da Independência do Brasil no Rio de Janeiro, apresenta compreensivelmente a independência e a união das nações após a Guerra a serviço do progresso e da paz no mundo - ou seja, objetivos universais - como motivos condutores de seus textos.

O tema independência foi considerado também no sentido de um processo de independência do Brasil relativamente à importação de produtos industrializados. Esse processo foi intensificado durante a Guerra e os responsáveis pela publicação reconheciam que essa mudança de situações necessitava ser considerado na Alemanha na fase de reatamento de relações.

Esse desenvolvimento no Brasil criava uma situação diversa daquela do passado, quando o país era visto sobretudo pelas seus recursos naturais, fontes de matéria prima e pela sua produção agrícola. A literatura referente ao Brasil necessitava ser atualizada neste sentido, passando também a considerar o país no seu desenvolvimento industrial.

A publicação O Brasil e a Alemanha procurou corresponder a essa nova situação através de uma estudo que hoje representa não apenas significativa fonte de informações como também testemunho de uma transformação na percepção do Brasil na Alemanha no período posterior à Guerra (Dr. Mark Neven du Mont, "A cooperação do trabalho allemão na industria brasileira", O Brasil e a Allemanha 1822-1922, Berlim: Editora Internacional, 149-156)

Mark Neven DuMont (1892-1959) e o Brasil

O autor desse estudo, Mark Neven DuMont (1892-1959) merece particular atenção, pois traz à consciência os elos com o Brasil de uma família de renome e influência na Alemanha, particularmente vinculada à vida cultural de Colonia através dos jornais por ela mantidos. Já em estudos anteriores considerou-se o apoio concedido pelo jornal de Colonia à realização de uma pioneira viagem de observação a regiões de colonização alemã no Sul do Brasil na segunda metade do século XIX. (http://www.revista.akademie-brasil-europa.org/CM15-03.htm)

A família DuMont, proveniente da região de Liège, Bélgica, alcançou prosperidade e amplo lastro econômico inicialmente com a fabricação de produtos de tabaco. August L.M. Neven Du Mont (1866-1909), pai do autor do estudo, era um dos filhos do proprietário do Kölnische Zeitung.

Tendo seguido um caminho de vida de vida distinto do paterno, recusando assumir a direção do jornal para dedicar-se à pintura, Mark Neven DuMont surge como personalidade particularmente dedicada à cultura. Formado pela Kunstakademie de Düsseldorf e fascinado pelo modo de vida britânico, transferiu-se para a Inglaterra, onde foi o primeiro estrangeiro que tornou-se Master of Foxhounds for East Sussex, alcançando em vida também considerável renome como pintor de portraits. A mãe de Mark Neven DuMont também provinha de família de projeção e posses: a de von Guillaume.

Como Mark Neven DuMont expõe no seu texto, esteve no Brasil durante a Primeira Guerra Mundial. Jovem nos seus vinte anos, percorreu as regiões povoadas pelos alemães e círculos alemães das grandes cidades, visitando numerosas empresas.

Obteve, assim, uma visão única do desenvolvimento dos empreendimentos alemães nos diferentes ramos de atividades, de modo que o seu estudo, baseado sobretudo nas suas próprias constatações e observações, adquire um cunho sob muitos aspectos pioneiro.

Mark Neven DuMont considera o desenvolvimento industrializador no Brasil primordialmente sob uma perspectiva alemã, acentuando assim as possibilidades que se abriam para a Alemanha com esse desenvolvimento que se processava sobretudo em empresas alemãs no Brasil.

Manteve sempre no centro de suas atenções os empreendimentos teuto-brasileiros, salientando a necessidade, inclusive legal, de empregarem técnicos e defendendo, por esse motivo e sob a perspectiva dos interesses alemães, a imigração especializada ao Brasil. Mais tarde, Mark Neven DuMont dirigiria os cadernos da revista Deutsche Nation, publicada em Berlim (Charlottenburg: Deutsche Verlagsgesellschaft für Politik und Geschichte).

O progresso do Brasil merece o nosso mais alto interesse econômico. A industrialisação do Brasil é um facto e progressiva. Muitos artigos que eram importados são hoje produzidos no proprio paiz. Em muitos artigos como por ex. no tecido de algodão, calçado etc. a producção nacional esta em condicção de supprir completamente o mercado. Em casos especiaes até o Brasil já exporta artigos manufacturados. O successo financeiro das industrias já existentes em especial nos Estados sulistas onde as condicções climatericas e de trabalho são favoraveis concorrem em grande escala para seu augmento e fundação de novas. A industria nacional é protegida pelo Governo por suas tarifas alfandegarias. Industrias desconhecidas no paiz são no entanto protegidas por estas mesmas tarifas alfandegarias. Consolidam-se em especial as industrias que são dirigidas por technicos e as industrias teuto-brasileiras pódem se gabar de o serem exclusivamente.

A independencia do Brasil dos mercados estrangeiros se fará sentir e se incrementara nos proximos annos. Os trabalhos teuto-brasileiros contribuirão para isto e quanto mais forte for a imigração de profissionaes da nossa querida Patria tanto mais forte será a nossa participação.

O elemento allemão residente no Brasil teve um papel importante na industrialisação do paiz. Até hoje no entanto ainda é quasi que completamente desconhecida em Allemanha a industria brasileira bem como a teuta brasileira. Os informadores e guias estatisticos faltam completamente e em virtude disto preciso me prender a observações e informações pessoaes e desde já pedir perdão para qualquer erro ou omissão que aqui descrever.

O elemento germanico ou teuto-germanico ou melhor ainda todos que fallam o idioma allemão representa segundo uma cuidadosa e minuciosa estatistica cerca de 1,8 a a2% da população total do paiz. A percentage com que todo elemento teutonico concorre para a industria brasileira é difficil de calcular. O vulgar no entanto é de 5 a 10%. O que no entanto é indiscutivel é que a percentagem no progresso industrial é superior a percentagem da população. São considerados allemães todosas industrias que se encontram sob direcção directamente allemães ou mesmo teuto-brasileiras. Por Lei todas as emprezas teuto-brasileiras durante a guerra foram consideradas emprezas puramente nacionaes.  Considerando unicamente as grandes emprezas e as medias com installações de machinas e com mais de dez operarios, existem então no Brasil em emprezas teuto-brasileiras pelo menos 22 no Rio de Janeiro e arrabaldes, 60 em São Paulo e Hinterland; 12 em Curytiba; 100 no Estado de Santa Catharina; 60 em Porto Alegre e arabaldes; e mais outro tanto no Hinterland do Estado do Rio Grande do Sul. O trabalho allemão participa quasi que em todas as industrias brasileiras com excepção da de carne congelada que representa um monopoloio americano. Isoladamente foram fundadas por teuto-brasileiros novas industrias. (loc. cit.)

A Primeira Guerra Mundial e o processo industrializador do Brasil

O texto de Mark Neven DuMont traz à consciência um aspecto pouco considerado das consequências da Guerra aos alemães e seus descendentes no Brasil.

Nos estudos de imigração e culturais referentes aos círculos alemães no Brasil, considera-se quase que exclusivamente as repercussões negativas do estremecimento das relações entre os dois países, do corte de elos e dos obstáculos colocados ao uso do idioma alemão, com todas as suas consequências para o ensino, para a publicística e a literatura, para o canto e representações teatrais.

Mark Neven DuMont salienta, porém, que as dificuldades de importação obrigou a que se procurassem novos caminhos para o suprimento de necessidades, contribuindo à produção no próprio país. Como exemplo da expansão de empresas que passaram a produzir máquinas, aparelhos técnicos e veículos cita aquelas de Hilpert, Wille, Kaehler e Griesbach.

Entre as dezenas de fabricas que tive occasião de visitar no Brasil durante a guerra não vi uma só que não tivesse augmentado suas officinas ou que não estivesse com seus projectos promptos para execução. A deficiencia das mercadorias e os altos preços das importadas forçam diariamente a uma independencia da industria brasileira. A guerra servio de grande mestre. Muito se aprendeu durante ella. A necessidade foi um professor amargo mas tanto mais forte e para isto basta citar uma fabrica como a de Hilpert no Rio de Janeiro que hoje esta em condicções de supprir as necessidades do paiz com as turbinas de sua fabricação. Eu em pessoa tive opportunidade de visitar fabricas onde se construiam teares e que ha annos prestam reaes serviços. Eggart Kaehler não é certamente a unica fabrica de waggons em geral e as já existentes seguir-se-hão outras. Wille fundou uma fabrica recentemente na qual serão feitos de ferro e metal instrumentos de precisão. Griebach augmentou consideravelmente a sua fabrica para se dedicar a fabricação de pentes e outros artigos de borracha. (...) (loc. cit.)

Significado de empresas de fundição e de máquinas de alemães

Dessas empresas, Mark Neven DuMont salienta aquelas de fundição e de de máquinas em mãos de alemães e seus descendentes, entre elas sobretudo a mencionada de M. Hilpert no Rio de Janeiro, que qualifica de nova e sumamente interessante.

"Essa fabrica produz turbinas hydraulicas com e sem regulação Freistahl e do systema Francis. Tambem machinas agrarias, moinhos etc. são produzidos nesta fabrica que occupa mais de 200 operarios."

Várias outras fábricas e fiundições alemãs no Brasil são mencionadas por Neven DuMont, entre elas Kobler & Co. e Kronenberg de turbinas e elevadores de carga no Rio de Janeiro, em São Paulo as de Frauendorfer, Hugo Heise e Carlos Urban e, em Curitiba, a de Mueller & Irmãos, lembrando haver ainda muitas outras fundições e fábricas de máquinas menores nos sul do Brasil.

Quanto ao mencionado nome de Wille, DuMont menciona que a importante Casa Theodor Wille, em São Paulo, financiava a Companhia Brasileira de Metalurgia, produtora de canos de ferro fundido segundo uma nova patente sem costura e em processo de rotação.

Theodor Wille fundara também a fábrica de balanças do já mencionado Eggert Kehler, também em São Paulo, que fabricava balanças de todos os tamanhos. Só a fábrica paulista de Schiefferdecker consumia para a sua produção de artigos de zinco e vasilhas, 30 000 quilos de folhas de zinco e 25 000 quilos de chumbo por mês.

Firmas do Rio Grande do Sul que já podiam ser comparadas a fábricas européias eram a Fábrica Berta, de propriedade de Alberto Bins, e que produzia cofres de ferro, fogões, baldes e camas de ferro, e a de Wallig, também em Porto Alegre.

A maior fábrica de pregos era a de Pontas Rita Maria dos Irmãos Hoepcke em Florianópolis.  Unicamente com a produção de cravos era a de Mattheis em Petropolis. Outra de pregos era a de Gerdau em Porto Alegre.

Desenvolvimento na área de construções e de estaleiros

Uma cada vez mais intensa atividade exerciam alemães na área das construções, em particular de cimento armado. Destas distinguia-se a Companhia Construtora de Cimento Armado no Rio de Janeiro, propriedade do engenheiro L. Riedlinger, proveniente de Württenberg. No Sul do Brasil, destacava-se no ramo das construções a firma Th. Widerspahn, de Porto Alegre.

Menção mereceria também o início de uma indústria de estaleiros para reparações de navios nos portos do Rio Grande do Sul com a participação de alemães e seus descendentes.

Desenvolvimento da indústria do vidro

Intensa era já na época a ação dos alemães e seus descendentes na indústria do vidro no Brasil. Das muitas firmas da área, o autor cita, para o Rio de Janeiro, Bellingrodt & Meyer e Spinner, e, para o Rio Grande do Sul, a Companhia de Vidros Sul Brasileira de Jorge Franke e Ad. Luce.

Participação alemã em cortumes e na produção de artigos de couro, ossos e chifres

Segundo DuMont, grande era a participação alemã na área de cortumes e produção de artigos decorrentes, sobretudo de couros e produtos de ossos e chifres. O Cortume Dick, em São Paulo, o maior do Brasil, trabalhava a indústria de couro no Rio Grande do Sul, esta totalmente em mãos de alemães e seus descendentes. Entre estas, salienta a Primeira Fabrica Nacional de Correias para Máquinas, e o cortume de Pedro Adams Filho, em Nova Hamburgo, com 300 trabalhadores. Esta última empresa levara ao desenvolvimento da indústria de calçados, tornando-se a maior do gênero no Brasil.

Também resultante de produtos animais era a fábrica Orion, em São Paulo, de propriedade do mencionado L. Griesbach, e que produzia botões e pentes de chifre.

Acompanhando o desenvolvimento da indústria de couro, desenvolveu-se no interior dos Estados sul-brasileiros, em geral em zonas limítrofes, a fabricação de conservas.

Nessas regiões desenvolviam-se a procura e a produção de máquinas para essas atividades, assim como para o desbulhar de arroz e o tratamento de outros cereais, assim como de moinhos de mate.

Os alemães e a fabricação de cerveja no Brasil

Nesse contexto amplo do empreendedorismo alemão e teuto-brasileiro é que DuMont considera a produção de cerveja no Brasil. Considera não apenas as grandes firmas Brahma e Antarctica, respectivamente no Rio de Janeiro e em São Paulo, como também cervejarias menores nos outros estados.

A fabricação de cerveja é quasi que exclusivamente alemã ou então de origem alemã. À grande fabrica de cerveja, licores e aguas mineraes Brahma no Rio de Janeiro concorre a Companhia Antartica Paulista em São Paulo com a mesma industria. O capital dos accionistas desta colossal empreza perfaz um total de 12,750 contos de réis, dos quaes 3/4 partes pertencem a Empreza e aos proprietarios da casa Zerrenner Buelow. A direccão technica e commercial é puramente allemã. A producção annual da fabrica é de 250,000 hectolitros e occupa 1300 operarios,

As acções das fabricas de cerveja Atlantica, Brasileira e Cruzeiro em Curytiba estão na maioria em poder dos allemães. Todas as fabricas de cerveja dos Estados de Santa Catharina e Paraná são emprezas teuto-brasileiras. O mesmo acontece com as grandes fabricas Bopp, Ritter e Sassen de Porto Alegre bem como com as demais do Hinterland do Estado do Rio Grande do Sul.

Os alemães e a fabricação de charutos na Bahia

O papel desempenhado pelos alemães na produção de fumo e na fabricação de charutos no Brasil, em particular na Bahia, não podia deixar de ser considerado com especial atenção por Mark Neven DuMont. Esse ramo de atividades já era bem conhecido na Alemanha, pois relatos de viagem e publicações anteriores à Guerra já o tinham considerado. (http://www.revista.akademie-brasil-europa.org/CM16-05.htm)

Neven DuMont salienta os antigos vínculos entre Hamburgo e os produtores de fumo e fabricantes de charutos na Bahia. De propriedade alemã eram as fábricas então já conhecidas em todo o mundo Poock, Dannemann, Suerdick e Stender. Este última passara a pertencer à casa Hermann Stolz no Rio de Janeiro.

Mark Neven DuMont menciona como novidade a crescente fabricação de artigos de fumo e charutos nos Estados do sul do Brasil, em especial em Santa Catarina. A maior dessas fábricas era de propriedade alemã, mencionando aqui a da família Feddersen, em Blumenau.

Também devia-se considerar a fabricação de caixas de charutos nos Estados do Paraná e de Santa Catarina, explorada da mesma forma sobretudo por teuto-brasileiros.

Os alemães e a indústria textil no Brasil

Quanto ao desenvolvimento industrial na área da tecelagem, o autor tinha que registrar que o papel dos alemães era antes secundário. Sendo o Estado de São Paulo o principal centro da indústria textil, e sendo a colonia alemã relativamente pequena, a maior parte das oficinas encontravam-se em mãos de brasileiros, italianos e sírios. Mesmo assim, a participação alemã vinha provavelmente em segundo lugar.

Pela sua história, porém, imigrantes de língua alemã tinham desempenhado papel importante na tecelagem e na fabricação de tecidos no Brasil. Assim, a primeira fábricas de chitas fora fundada em 1870 pelo austríaco Kowarik, cujo filho era co-proprietário da fábrica de fiação Companhia Paulista de Lanifício, em São Bernardo do Campo, então com 400 operários.

Em Carioba, na Vila Americana, havia a fábrica de tecidos de algodão estampado de Rawlinson Mueller, sob a direção técnica dos irmãos Mueller, com 800 operários. A fábrica de tecidos de algodão fundada por Hermann Hering em 1879, em Blumenau, dirigida pelos filhos do fundador, ocupava 350 operários que trabalhavam mensalmente 18000 kilos de algodão de Pernambuco.

Importante fábrica de tecidos alemã era a empresa Industrial Garcia de Blumenau, uma fábrica de tecidos e tecelagem de algodão com 200 operários. De Brusque, o autor cita a fábrica de tecidos e tecelagem de Renaux, com 200 operários, assim como oficinas de cortinas de Tietzmann e Buettner. Recentemente havia sido aberta a fábrica de meias de Otto Gruber. Uma tradicional fábrica de meias havia em Joinville, a Achim & Co., fundada pelo comerciante Julius Arp, com 300 operários.

Também em Joinville havia a fábrica de tecidos de algodão dos irmãos Lepper e de Henry Meyer e Henrique Marquart. No Rio Grande havia a fábrica de tcidos de Reingantz & Co, que, juntamente com uma fábrica de chapeus em Pelotas, proporcionava trabalho a 800 operários. Em Porto Alegre, Kessler, Teichmann & Sommer faziam concorrência aos italianos na indústria de chapeús.

Dois terços do capital da Companhia de Tecidos Guahyba, succ. de F.G.Bier, em Porto Alegre, estavam nas mãos de F.G.Bier, com 200 operários, fabricando casimiras e riscados, tecidos para alfaiates e linhas de algodão. Outra fábrica de tecidos e tecelagem era a de A.J. Renner, em Porto Alegre, com 200 operários.

A tecelagem de seda assumia no panorama das atividades alemãs uma posição tão significativa como aquela dos tecidos. Se também não havia sido introduzida pelos alemães, deles recebera grandes impusos. Entre elas, destacava-se a Bingen em Petrópolis, já tradicional, tendo sido fundada por H. Werner. Para a produção de tecidos de seda e artigos de primeira qualidade dispunha essa fábrica de 200 teares, com 300 operários. Mais especializada e também em expansão era a de Leyen & Co., em Americana, São Paulo, produtora de fitas de seda.  Artigos de armarinho eram produzidos pela firma Ypú, em Nova Friburgo, com 400 operários.

Também nessa firma participava o empresário Arp, conhecido pelas suas múltiplas atividades, entre elas, sobretudo, o da fábrica Singen, também em Nova Friburgo, destinada á produção de rendas e cordões para sapatos. Em Florianópolis, a fábrica de rendas e bordados Hoepecke dominava a produção de rendas suíças no Brasil. Nesse ramo também se salientava a fábrica Colin & Co. em Joinville, com a produção de artigos em ponto russo de algodão e seda em 42 teares em grande parte de construção própria.

Alemães em empresas de impressão e litografia

Sob o aspecto de desenvolvimentos no Brasil mais diretamente relacionados com a cultura, cumpre dar particular atenção às menções de Neven DuMont às atividades de alemães e seus descendentes na área da produção de papel, da tipografia, da produção de impressos, livros e litografias.

Nesses ramos de atividades salientava-se uma empresa que não apenas possuia instalações modelares como também realizava impressões de qualidade que era considerada como esplêndida: a dos Irmãos Weißflog, em São Paulo, que possuia uma grande fábrica de papel. Em São Paulo também distinguia-se como modelar a tipografia Ypiranga. No Sul, o autor salientava a de Rotermund & Cia, de São Leopoldo.

Quanto à arte e á técnica litográfica, Neven DuMont menciona uma nova firma, fundada por Hartmann em Juiz de Fora. Além dessas citadas, haveria muitas oficinas tipográficas e litográficas em mãos de alemães e seus descendentes no Centro e no Sul do Brasil.

Fabricação de pianos

Neven DuMont lembra que a única fábrica de pianos e pianolas do Brasil era, na época, a Essenfelder, em Curitiba.

Indústria de chocolate, bonbons, sabão, perfumes e louças

Neven DuMont oferece, no seu texto, um dos primeiros documentos da percepção, na Alemanha, de atividades de alemães no Exterior que se tornariam posteriormente características de regiões por êles colonizadas no Brasil.

Muito mais do que na Alemanha, os alemães passaram a marcar a imagem de certos produtos, entre êles o da produção de chocolate e de bonbons, que assumiram com o tempo singularmente a conotação de produtos tipicamente "coloniais". Neven DuMont lembra igualmente a participação de alemães na produção de sabões, sabonetes e perfumes, comparável nesse sentido com a de chocolates como artigos identificados com as regiões por êles povoadas.

Fabricação de fósforos

A maior parte das fábricas de fósforos do Brasil se encontrava em mãos de teuto-brasileiros, entre elas a Bellingrodt & Meyer no Rio de Janeiro e a Companhia Geral de Industrias, em S. Leopoldo.

Serrarias e fabricação de móveis, olarias e produtos agrícolas

Desenvolvimento compreensível considerando-se o assentamento de alemães em regiões de florestas dos estados sul-brasileiros, é participação de imigrantes e seus descendentes em serrarias, carpintarias e marcenarias. Neven DuMont registra, no seu texto, o desenvolvimento que se constatava sobretudo na produção de móveis.

Também compreensível sob a perspectiva das condições da colonização, acompanhada pela procura de materiais de construção e de agricultura é a constatação de que a produção de tijolos e telhas, assim como de produtos agrículos, sobretudo adubos, se encontrava em considerável parte em mãos alemãs nessas regiões.

Utilização de maquinários alemães e reorientação da estrategia de exportação alemã

Essas indústrias que se expandiram durante a Guerra, substituindo com os seus produtos aqueles até então importados, sendo em grande parte alemãs, utilizavam-se de maquinários alemães. Esse fato criava segundo Mark Neven DuMont uma nova situação a ser considerada na Alemanha, levando a uma reorientação na estrategia de exportação. Ao invés da oferta de produtos e aparelhos agora produzidos no Brasil, dever-se-ia concentrar a exportação no maquinário necessário para essa produção.

Os fabricantes de máquinas na Alemanha deviam assim estudar a situação e as necessidades das empresas alemãs e de descendentes de alemães no Brasil para que pudessem oferecer maquinários de técnica avançada.

É um symptoma que merece especial menção o de estarem a maioria de todas estas industrias movidas por machinismos allemães. Mesmo para o augmento das fabricas depois da guerra foram adquiridas machinas allemães tanto quanto era possivel obtel-las. Aqui temos a equivalencia para a nossa exportacão que hoje será occupada pela de machinas. Offerece-se assim uma opportunidade aos fabricantes de machinas na Allemanha que é estudar o terreno commercial e industrial teuto-brasileiro para poder de futuro supprir o mercado com as suas machinas mais modernas. (....) (loc. cit.)

Desideratum: viagens ao Brasil e comissão de estudos

Essa nova situação podia também favorecer a criação de novas indústrias alemãs no Brasil, o que também exigia, como repetidamente salientado por Mark Neven DuMont, que fossem realizadas viagens de observações e de contatos por parte de técnicos, engenheiros e empresários.

O autor defendia até mesmo a criação de uma comissão de estudos na Alemanha, seguro que esta seria até mesmo apoiada pelo Brasil. Esse seria um desejo manifestado por vários técnicos, engenheiros e industriais no Brasil e a sua realização seria certamente apoiada financeiramente pelos círculos industriais e comerciais alemães e de seus descendentes.

Ao mesmo tempo nós allemães deviamos dar grande valor as possibilidades para a fundação de novas industrias no Brasil. Uma viagem de estudos neste sentido feita por profissionaes, engenheiros e industriaes pelo Brasil encontraria certamente muitas destas opportunidades. Uma commissão de estudos poderia indiscutivelmente contar com a protecção do Governo brasileiro neste sentido (....) Quem isto aconselha são em especial os innumeros technicos, engenheiros e industriaes no Brasil. (....) Nos meios industraiaes e commerciaes teuto-brasileiros encontram-se os homens que concorreriam certamente financeiramente para a conquista de novas industrias ou para tornar maiores as já existentes. Nós possuimos as machinas e os technicos - aquellas representam o material propriamente dito e estes os dirigentes das novas industras. (...:) Uma transferencia, digamos associacão a firmas teuto-brasileiras ou ainda a fundação de filiaes de fabricas allemães em territorio brasileiro é em muitos casos assumptos para serios estudos. (op.cit. 156)

Cíclo de estudos sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo



Todos os direitos reservados. Reproduções apenas com a autorização explícita do editor.

Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A.. "A percepção do Brasil como país industrial na Alemanha.Empreendedorismo de teuto-brasileiros e suas consequências para a economia da Alemanha nos anos vinte segundo Mark Neven DuMont (1892-1959)". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 141/6 (2013:1). http://revista.brasil-europa.eu/141/Teuto-brasileiros-e-economia.html