Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Parque do Palácio Catarina, S.Petersburgo. Foto A.A.Bispo

Parque do Palácio Catarina, S.Petersburgo. Foto A.A.Bispo

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Parque do Palácio Catarina, S.Petersburgo. Foto A.A.Bispo

©Arquivo A.B.E.









 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 143/2 (2013:3)
Professor Dr. A.A.Bispo, Universidade de Colonia e Conselho Científico
Direção administrativa: Dr. H. Hülskath

Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
- Academia Brasil-Europa  -
e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2013 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2992


ABE


"Como o homem é pequeno perante a grandiosidade dessa natureza!"
Reflexões prussianas sobre as relações Natureza/Homem na América do Sul
sob o impacto do tratamento concedido a Pedro II°


O Brasil no diário do oficial Emanuel Karl Heinrich
Schmysingk von Korff (1826-1903),
genro do compositor Giacomo Meyerbeer/Jakob Liebmann Meyer Beer
(1791-1864) I

Ciclos de estudos "O Báltico e as relações Alemanha-Brasil". Após 5 anos de viagens de estudos ao Espírito Santo, Meklenburg-Pomerânia Ocidental e países bálticos. Ano Brasil/Alemanha 2013 da A.B.E. pelos 30 anos do primeiro simpósio de atualização dos estudos da imigração e colonização alemãs nas Américas

 


Von Korff
Em viagem de membros da A.B.E. a regiões de colonização alemã do Espírito Santo em 2007, discutiu-se a necessidade de maior atenção aos contextos de origem da considerável parcela de ascendência pomerana da população de cidades do Estado.


Vindo de encontro a tal exigência, realizaram-se a seguir viagens de estudos a regiões do Norte da Alemanha, da Polonia e de outros países do Leste. Passados cinco anos dessas iniciativas, algumas das questões então levantadas foram retomadas em visitas realizadas em maio de 2013 a várias cidades da esfera do Báltico. (Veja http://revista.brasil-europa.eu/143/Baltico-Brasil.html)


O pouco conhecimento da história cultural de regiões ao norte do Leste da Alemanha e de outros territórios do Mar Báltico pode ser explicada em parte pela unilateralidade de perspectivas determinada pela divisão da Alemanha no período posterior à Segunda Guerra, superada pela queda do muro de Berlim.


Apenas gradativamente superam-se tais delimitações, ampliando-se o quadro histórico e modificando-se referenciais. Trata-se aqui de um complexo processo de resgate de conhecimentos e de transformação de enfoques devido às mudanças que ocorreram nessas regiões quanto às suas inserções político-nacionais e configurações populacionais.


A consideração de contextos desaparecidos ou submersos de cidades e regiões que hoje já não são alemãs e mesmo já não possuem considerável parcela de população alemã da antiga Prússia do Leste mostra-se sob muitos aspectos como de relevância para os estudos de relações Alemanha/Brasil.


Emanuel von Korff
A literatura de significado para o Brasil revela nomes de oficiais prussianos que estiveram no país e que manifestaram o seu interesse por questões com êle relacionadas.


A leitura adequada desses textos exige que se considere os seus pressupostos culturais e que tornam compreensíveis posicionamentos e visões do mundo e do homem.


A história da presença alemã no Báltico e ocorrências históricas na região contribuem ao entendimento de um acentuado interesse por viagens, por regiões e povos distantes, por questões coloniais e, ao mesmo tempo, por afirmações de Alemanidade (Deutschtum) nos textos.


Um exemplo a ser lembrado neste contexto é o do papel do Brasil nos diários de viagens pelo mundo do oficial prussiano Emanuel von Korff, membro de uma das mais antigas famílias da aristocracia alemã, com diferentes ramos em diversas regiões e em cuja história se encontram nomes de personalidades que desempenharam cargos de influência em países como Polonia, Letônia, Estônia e Rússia.


O nome de von Korff, esquecido ou mesmo desconhecido não só no Brasil, foi recordado em época relativamente recente devido à série de seus diários de viagens pelo mundo e que abrangem os anos de 1893 a 1901. (Gisela Ruß, "Emanuel von Korff- ein preußischer Offizier auf Reisen - Weltreisentagebuch 1893-1901", Reisen und Leben 17, Holzminden: Ursula Hinrichsen 1988, 12-15)


O nome da família é particularmente relacionado com Modest Andrejewitsch Barão de Korff (1800-1876), nascido em S. Petersburgo e que foi presidente da Biblioteca Pública Imperial da Rússia. O seu nome foi lembrado na denominação da sala dedicada à literatura estrangeira referente à Rússia.


Emanuel Karl Heinrich Barão de Schmysingk ou Emanuel, Barão von Korff


Emanuel on Korff nasceu em 1826 em Schönbruch, uma localidade na região Bartenstein (Friedland) na Prússia do Leste, território hoje pertencente à Ermland-Masuren na Polonia (Powiat Bartoszycki) e à Rússia (Rajon Prawdinsk, Kaliningrad).


Remontante à Idade Média, fundado em 1349, o povoado pertenceu à família de Tettau por séculos até 1766, depois aos Barões de Eulenburg e, por fim, aos Barões von Korff, que passaram a propriedade, em 1871, à família von Bolschwing.


Emanuel von Korff pertenceu, assim, pela sua origem, à esfera de irradiação de Königsberg da província da Prússia do Leste e a uma família marcada por estreitos elos de séculos com a Rússia e a Polonia.


A sua família, porém, nas suas origens, remontava à Vestfália, tendo a sua sede no castelo Harkotten no Principado Episcopal de Münster. Dali a família estendeu-se pela Vestfália, Kurland, Livland, assim como à Prússia do Leste e Rússia. Desse modo, Emanuel von Korff dirige a atenção a seculares processos de expansão alemã ao Leste e ao papel desempenhado por alemães na colonização e na história política e cultural de suas regiões.


Para além desses elos históricos familiares e de suas origens na Prússia do Leste, Emanuel von Korff necessita ser considerado no contexto de sua íntima participação na vida político-militar alemã do século XIX, justamente em décadas marcadas por movimentos de intensificação de consciência nacional e pela fundação do Império em 1871, com a vitória sôbre a França.


Von Korff foi educado no corpo de cadetes de Culm e Berlin. Desde 1844 no Primeiro Dragoner-Regiment nr. 2 Brandenburguês, foi promovido a oficial em 1847. O Regimento atuou na Rebelião de Posen, em 1848, contra a Áustria em Gitschin e e Königgrätz (1866), assim como, em várias ocasiões, na Guerra Franco-Alemã de 1870/71.


Em 1875, von Korff foi nomeado comandante do Regimento de Ulanos de Schleswig-Holstein Nr. 15 em Straßburg. Essa foi a denominação recebida, em 1867, por um novo regimento que era uma das unidades de cavalaria da armada prussiana, e que foi distribuido entre as cidades Perleberg, Kyritz e Wusterhausen. Na Guerra com a França de 1870/71, havia atuado em várias batalhas (Colombey,Vionville St. Privat, Gravelotte) e em combates contra a armada francesa do Loire na região de Orléans, Le Mans e Tours.


De volta da Guerra Franco-Prussiana, quando a unidade havia sido uma das forças de ocupação, o regimento passou a ser sediado na guarnição de Straßburg, que passava então a pertencer ao Império alemão, chamada de Ulana. Esta sede seria transferida, em 1896, para Saarburg, na Lotríngia.


Em 1880, Emanuel von Korff terminou a sua carreira. Como sinal de reconhecimento pelos serviços prestados foi-lhe permitido continuar a usar o uniforme regimental; em 1894, obteve o título de General-Maior.


As viagens de Emanuel von Korff pela Europa e por outros continentes


Como membro da aristocracia e comandante militar, von Korff pertenceu a círculos influentes da sociedade, o que parece explicar em parte as suas muitas viagens e os contatos com esferas de Govêrno nos vários países. Assim, consta ter passado um tempo na Corte de Montenegro, onde foi condecorado.


É surpreendente o número de viagens realizadas pela Europa e por outros continentes por Emanuel von Korff. Percorreu a Rússia, da Escandinávia, tendo visitado nada menos do que cinco vezes o Cabo Norte (Veja http://www.revista.brasil-europa.eu/139/Cabo_Norte.html). Esteve seis vezes na Espanha e realizou quatorze viagens pelo Oriente. Também esteve quatorze vezes na África. Atravessou a Algéria em caravana e realizou várias viagens de Madaor no Oceano Atlântico até o Mar Vermelho.


Digno de menção é o fato de ter passado duas semanas nas escavações de Heinrich Schliemann (1822-1890).


A sua viagem ao redor do mundo de 1893 foi acompanhada por um projeto de publicações. Durante o trajeto, escreveu os seus diários, que eram enviados à Alemanha, sendo publicados ainda no decorrer da viagem.


A primeira viagem levou-o à América do Norte, ao Japão, à China, India, Egito e Grécia. O primeiro volume relativo à África traz recordações de viagens anteriores.


O segundo volume descreve a viagem de 1895 à África do Sul e, de lá, à Austrália, Nova Zelândia e à América do Sul. Retornando, dirigiu-se ao Norte, estando em 1896 em Spitzbergen.


Em 1899, realizou a sua terceira viagem ao redor do mundo, sendo que o relato termina em Honolulu, dois meses após tê-la iniciada. O seu último relato refere-se a uma viagem à Rússia, iniciada em 1901.


O Brasil no Diário de Viagem de von Korff de 1895/96


O Diário de Viagem do ano de 1895/96, que trata da América do Sul no seu oitavo volume, inclui, após um capítulo dedicado a aspectos gerais, textos sobre a Guiana, Venezuela, Colombia, Equador, Ilhas Galápagos, Peru, Bolivia, Chile, Patagonia, Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil.


O Brasil ocupa uma especial posição de saliência nessa publicação. O autor lembra, no capítulo respectivo, que encerra a obra, que o país era quase tão grande como a China, como a Rússia européia ou os Estados Unidos da América. Era um país que contava então com 14 milhões de habitantes.


Já na sua introdução, porém, von Korff não esconde a sua antipatia pelo regime republicano que havia sido instaurado em 1889 e cuja tocha havia agora passado a Prudente de Morais. Via o país entregue a aventureiros, sem competência e formação para a condução dos negócios de Estado, razão pela imagem extremamente negativa do país no Exterior, onde o Brasil já passara a ser visto como sinônimo de falta de seriedade.


"O mais instrutivo é sobretudo o grande Brasil. Feliz e satisfeito com um Imperador, que era o a incarnação da boa índole, a abolição da escravidão deu motivo à insatisfação dos antigos proprietários de escravos, que expulsaram o Imperador; desde então a economia republicana caiu de tal forma que destruiu justiça e lei, segurança e bem-estar, o leme da nave do Estado passando de mãos em mãos aventureiras e o pêso das dívidas ameaçando esmagar essa nação tão grande e rica. O que servem a um pais todas as riquezas do mundo se já o nome surge como expressão de engôdo." (op.cit. pág. 10)


A crítica de von Korff do Brasil dirigia-se também aos brasileiros em geral, que repetidamente chama sarcasticamente de lindos ou bonitinhos, apenas interessados em conseguir recursos financeiros para podê-los gastar numa vida de luxo em Paris, para onde fluiam os capitais da nação individada.


E. von Korff menciona irônicamente as jovens brasileiras enluvadas e o grande número de fazedoras de luvas do país e o proveito que as brasileiras traziam para as costureiras de Paris. O patriotismo dos brasileiros era para êle fictício, pois dele só falavam quando na própria terra; na verdade, porém, só queriam viver na França.


"A allée des acacias no bois de boulogne mostra aonde se encontram os capitais e certas costureirinhas de luvas também sabem onde se podem encontrar os belos brasileiros. Essas caras de côr de anúncios de procurados da polícia, surgem em cena em todas as peças francesas; eram todos em casa grandes patriotas até que conseguiram juntar os necessários milhões." (ibidem)


Também explicitamente manifesta E. von Korff a sua satisfação pelo fato dos alemães não se integrarem nessa "bela população". Salienta, assim, que no país viviam, na época, ca. de 200.000 alemães que tinham sabido conservar dignamente o seu sentimento nacional alemão, o seu idioma e seus usos, encerrando-se em comunidades fechadas.


As colonias citadas por von Korff, porém, indicam que os seus conhecimentos da situação não eram muito amplos, considerando tanto colonias fundadas por imigrantes como comunidades alemãs nas grandes cidades. Aquela da qual mais se falava era segundo êle a de Porto Alegre. Das demais, cita Desterro (Florianópolis), Vitória, Fortaleza, Maceió e Natal, mencionando também as colonias de Santa Cruz, Germania, São Lourenço e Teutonia.


Significado da consideração de von Korff sob o aspecto histórico-musical


Emanuel von Korff adquire um significado singular para os estudos relacionados com a música devido a seus elos familiares com o compositor Giacomo Meyerbeer, alias Jakob Liebmann Meyer Beer (1791-1864). Tendo-se casado em 1857 com Blanca Meyerbeer (1830-1896), foi pai de Fritz von Korff (Frits), nascido em 1858, neto do internacionalmente renomado compositor.


Esse fato explicaria uma proximidade de von Korff a esferas judaicas de posses financeiras e influência cultural na Alemanha, uma vez que Meyerbeer descendia de família de banqueiros de Berlim. Explicar-se-ia, assim, os grandes recursos que von Korff necessáriamente dispôs para a consecução de suas inúmeras viagens por um militar que, logo após o seu casamento, revelou estar altamente individado, causa de tensões na família Meyerbeer, em particular quanto às relações do compositor com a sua filha (Briefwechsel von Tagebücher 7 von Giacomo Meyerbeer, ed. Sabine Henze-Döhrung, Berlin: De Gruyter 2004, 519).


Concepções de von Korff quanto à natureza e cultura do Brasil


Vários dos textos referentes a países sul-americanos dos diários de E. von Korff sugerem ter sido escritos a partir de informações obtidas da literatura, não da observação direta. Este não é o caso do Brasil, onde o autor não apenas tece considerações a partir de sua própria vivência como também aproveita as profundas impressões que nele ganhou para refletir sôbre a Natureza, a Cultura e o sentido das viagens no alcance de conhecimentos.


"América do Sul, esse continente encantador, essa terra de maravilhas (...)"  (pág. 3)

"Tudo, tudo nesse maravilhoso continente é diferente daquilo do que se imagina, tudo amplia-se ao imensurável, tudo pode ser expresso apenas em superlativos. As dimensões são difíceis de serem medidas, e onde podem ser medidas, mostram-se diferentes daquelas de outras regiões da terra. A mais exuberande vegetação tropical sucede ao deserto dos mais estéreis. Há uma cidade que se localiza há 13000 pés de altura, na qual as pessoas não se congelam. O maior rio do mundo corta o continente numa rêde aquática que equivale ao tamanho da Europa. Em todas as imagináveis relações tocam-se os extremos; (...)

A nação cristianíssima chega com a cruz à mão, encontra uma super-cultura e condições paradisíacas de felicidade e de satisfação. Ambição e egoismo instigam todas as mais horrorosas paixões humanas para tudo roubar, destruir, extinguir, para nada mais restar do que discórdia, mentira e logro. Quando se pensa, que esse foi o resultado do trablaho de 400 anos, teria sido talvez melhor que os astecas tivessem conquistado a Espanha, do que o inverso. Um resto das tribos indígenas é caçado de um lado para outro como animais de rapina. Elas diminuem em grandes progressões; a tranquilidade completa será alcançada apenas através da sua absoluta extinção. A raça porém, que aqui se estabeleceu como dominante através de cruzamentos com homens de cor, é muito mais nociva do que as tribos incivilizadas de índios. Sem qualquer fundamento moral, sem formação e julgamento político, a vida pública tornou-se como estação de experimentos em exemplo admoestador e perdeu por gerações toda a possibilidade de experimentar uma mudança purificadora. O nome de cada Estado, se Venezuela, Columbia, Equador, Bolívia, Peru, Argentina, Paraguai, Uruguai e qualquer outro que seja lembra apenas em pronunciamentos, falências de Estados, revoluções, revoltas e ditaduras.

O mais instrumento de todos, porém, é o grande Brasil. Feliz e satisfeito com um imperador que era a bondade em pessoa, a abolição da escravidão deu motivo à insatisfação dos antigos proprietários de escravos, expulsou o Imperador e desde então lançou a Economia republicana em tal queda que subjugou justiça e lei, segurança e bem-estar, passando o leme da nave do Estado de uma mão arbitrária à outra, fazendo com que as dívidas ameacem oprimir essa nação que é uma das maiores e mais ricas. O que serve a um país todas as riquezas do mundo se já o seu nome surge como expressão de logro." (pág. 9)


As suas meditações e conjecturas evidenciam o impacto nele exercido pela natureza, em particular aquela do Rio de Janeiro, repetindo-se, aqui, o fascínio que a paisagem da Guanabara em geral exerceu nos viajantes alemães do século XIX. (Veja http://revista.brasil-europa.eu/141/Fascinio-teuto-pelo-Rio-de-Janeiro.html)


"Tudo, tudo prende a atenção, porque é exótico e novo, e duplamente atrativo, pois a comparação das novas formas os fazem parecer ainda mais interessantes. Os jardins botânicos fazem com que os tipos não sejam totalmente desconhecidos, mas justamente esses tipos que se podem ver em vitrines em exemplares raquíticos e que aqui se mostram sem delimitações, irradiando saúde na natureza ao ar livre, permitem um indescritível encanto. ´Pássaros, besouros e animais de todo tipo dirigem a atenção para aqui e para ali. (...) (loc.cit.)


Es ist schade, wenn ein so reiches Land, das fünfzehn mal größer als Deutschland ist, so vertrottelt wird. (pág. 69)


O entusiasmo de E. von Korff pela natureza do Rio e do Brasil correspondia a seu menosprêzo pelos brasileiros. Partindo desse contraste entre a magnificência da paisagem e a pequenez dos habitantes, o oficial prussiano passava a tecer considerações filosófico-culturais mais amplas, a da fraqueza humana perante o mundo.


Embora salientando o valor da observação empírica possibilitada pelas viagens, E. von Korff lembrava das dificuldades em chegar-se a conclusões a partir dos fatos observados, o que exigia procedimentos especializados. Mesmo assim, apenas o contato com a realidade, não a projeção nela de edifícios previamente elaborados poderia levar a resultados.

"Como o homem é pequeno perante a grandiosidade dessa natureza. Como são fracas as forças e como é curta a vida para que se conheça apenas um minúsculo aspecto de tantas maravilhas. Que trabalho e que sabedoria são necessários para construir de dois fatores um terceiro e de se adquirir uma visão do mundo que corresponda ao edifício orgânico do mundo. Não é suficiente ver muito do mundo, mas é também necessário pensar por vezes nas relações da parte com o todo. 70 anos me parecem muito pouco para tudo compreender, e quando mais se entra nas causas do movimento natural, tanto mais distancia-se o objeto no longínquo horizonte. Apenas o especialista pode ter sucesso. A acepção dos fatos em conceitos cósmicos leva a castelos de cartas que caem quando estão prontos." (pág. 13)

Quanto ao Rio de Janeiro, o texto de E. von Korff insere-se na série das mais encomiásticas descrições de autores alemães de fins do século XIX e início do XX. Nele, o oficial prussiano dirige compreensivelmente a atenção das relações entre as condições naturais da Baía e o sistema de sua defesa militar, aproveitando também aqui a ocasião para criticar o comportamento político dos brasileiros sob o sistema republicano.

"A capital do Brasil, Rio, e um dos pontos mais belos no mundo. É tão magnífica, que esquece-se aqui completamente o modo de agir político miserável dos habitantes.

Uma serra de formação pitoresca de rochas vermelhas forma uma série de bacias de águas nas quais todas as frotas do mundo teriam lugar. Para que não cheguem sem ser chamadas, as costas são protegidas com sete fortes e uma série de baterias, que seriam muito úteis se não fossem usadas de anos em anos para troca de foguetórios entre quaisquer pretendentes e que fazem com que de quatro em quatro semanas tenham os seus ocupantes que jurar a um outro doutor." (ibidem)

Diferentemente de outros viajantes alemães, E. von Korff oferece uma imagem positiva da própria cidade, elogiando a monumentalidade de seus edifícios, registrando, porém, o contraste dessa realidade edificada com o comportamento informal ou desinibido dos habitantes.

"O Pão de Açúcar domina a situação, a vista dele sobre a baía e a cidade é magnífica, as ruas e praças, o porto e os prédios públicos são verdadeiramente imperiais. Os antigos palácios imperiais são agora destinados a objetivos de Govêrno republicano; toda a cidade no seu tráfego público é uma mistura de grandeza e movimentação desinibida de povo.

Em três direções estendem-se os bairros periféricos, os mais distantes são alcançáveis por ferrovias e bondes puxados por cavalos. O vai e vem é de grande cidade. Quase todas as casas particulares são pintadas de branco, dão uma impressão muito limpa, ofuscam porém sensivelmente. As redondezas são colonias de vilas em parques, mantidas pela parte de posses da população fora da capital. Vêm-se à cidade para negócios e visitas e se vive fora. Fica-se contente quando nada há de novo, pois este é, em geral, sempre desagradável. Assim, criou-se fora da capital um idílio separado, distanciado dos interesses da cidade.

A visita do Jardim Botânico oferece uma leve impressão da superabundância de plantas e árvores. Quase todas as plantações tiveram aqui as suas estações experimentais. As alamedas de gigantescas palmeiras são maravilhosamente belas. Um aqueduto imponente, que atravessa os vales várias vezes em série dupla de arcos, não apenas abastece a cidade com a necessária fonte de vida, mas possibilita também um bastante grande número de chafarizes artísticos no Rio e na periferia. Como em todos os locais tropicais, o tráfego se retira em dias ensolarados aos becos cheio de cantos, estreitos e ensombreados." (ibidem)

"A Quinta é para o Rio o que é a rue de la paix em Paris. Aqui se encontram os magazines para o mundo elegante. Belas mulheres saem das lojas de modas e param à frente das vitrines dos joalheiros. Homens desprevenidos, porém, ali vão ver belas mulheres, são imediatamente encantados e podem dizer que tiveram sorte se por perto houver apenas rendas espanholas, pois a expressão de verdadeiro entusiasmo se representa no Rio apenas em brilhantes." (ibidem)

"(...) Quando se chega em Hamburgo, ainda não se conhece de forma alguma a Alemanha; e para conhecer o Brasil, precisa-se, além de outras coisas, de uma saúde de 50 cavalos e tempo de várias vidas humanas. Com diligência, porém, pode-se ganhar no Rio uma abundância de impressões magníficas, que não têm igual quanto à beleza natural e que podem oferecer inspirações de todo o tipo a outros estudos. Sei com certeza que entre nós há poucos jovens que sabem com segurança os poucos passarinhos que, ao lado do pardal, brincam à frente da casa do campônio; aqui no Rio, porém, o número e a diversidade dos animais nativos são tão grandes que um zoólogo especializado tem muito o que fazer para orientar-se neste mundo. O Museu de História Natural no Rio é o mais interessante e rico que jamais vi.

Cada excursão mostra a baía sob outro aspecto, as rochas vermelhas sempre em nova luz. As costas nuas são douradas pelo sol, as sombras jogam de claro violeta ao azul mais profundo. O Corcovado, de 2500 pés de altura, os dois irmãos, a Gávea, com 3000 pés, deixam que a vegetação estenda o multicolor tapete nas suas faldas, da qual se destacam as casas de campo brancas em fontes jorrantes e perfume de flores. Nas polidas ruas há movimento de ir e vir. Reconhece-se que é o tráfego diário entre os arrabaldes e a capital. Praia vermelha, Copa Cabana, Engenho Velho competem em beleza."

Presença de produtos brasileiros na Alemanha - um país não-estranho a alemães

"O visitante gostaria de levar algo como souvenir. A escolha é difícil. Esquece-se, porém, que entre nós vivemos entre tantos produtos brasileiros cuja origem já esquecemos. Os nossos móveis são de madeira brasileira. Dois terços de todo o café brasileiro vão para Hamburgo. Pode-se assim supor que o café de Java com Mocca, que de preferência tomamos, tenha crescido no Brasil. O couro de nossas botas e o extrato de carne Liebig vêm dos pampas (...). E açúcar e tempêros, frutas e gordura, resina e borracha, e não sei o que mais são lembranças brasileiras que achavam o seu caminho do Rio a Hamburgo antes de ter iniciado uma forte concorrência do Canal de Suez. O Brasil não nos é assim tão estranho como parece ser de primeiro momento. Apesar disso, é apenas com desprazer que se abandona o Rio." (op.cit. pág.76-78)

Ciclo de estudos sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo


Todos os direitos relativos a texto e imagens reservados. Reproduções apenas com a autorização explícita do editor.

Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "Como o homem é pequeno perante a grandiosidade dessa natureza! Reflexões prussianas sobre as relações Natureza/Homem na América do Sul sob o impacto do tratamento concedido a Pedro II". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 143/2 (2013:3). http://revista.brasil-europa.eu/143/Emanuel-Korff.html