Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Canal du Midi.Foto A.A.Bispo©


Canal du Midi.Foto A.A.Bispo©


Canal du Midi.Foto A.A.Bispo©


Canal du Midi.Foto A.A.Bispo©


Canal du Midi.Foto A.A.Bispo©


Canal du Midi.Foto A.A.Bispo©


Canal du Midi.Foto A.A.Bispo©


Canal du Midi.Foto A.A.Bispo©



Fotos.A.A.Bispo.
©Arquivo A.B.E.

 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 145/12 (2013:5)
Editor: Prof. Dr. A.A.Bispo, Universidade de Colonia
Direção administrativa: Dr. H. Hülskath

Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Academia Brasil-Europa
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2013 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 3034




O Canal du Midi - Canal dos Dois Mares
a divisão das águas ao Mediterrâneo e ao Atlântico
no seu significado histórico, na sua emblemática e nos seus sentidos atuais



Ciclo de estudos em regiões francesas pelo ano de Marseille como Capital Européia da Cultura 2013 e 300 anos de Denis Diderot (1713-1784)

 
Entre os estrangeiros que hoje realizam viagens de lazer pelo Canal du Midi, -  canal que une Toulouse com a costa mediterrânea em Sète -, registra-se uma surpreendente presença brasileira.
Ao lado de inglêses, irlandeses, canadenses, norte-americanos, australianos, novo-zeelandeses, sulafricanos e alemães, na sua maioria assim visitantes de países anglofônicos e de língua alemã, encontram-se com relativa frequência brasileiros que, em pequenos grupos, alugam
barcos para percorrer trechos do Canal.

Encontro no 7 de setembro - razões pelo interesse brasileiro pelo Canal du Midi

Em encontro desses grupos em Négra, constituído por empresários, músicos e professores provenientes de Santa Catarina - de Florianópolis e Jaraguá do Sul -, assim como por seus parentes e amigos residentes em Montreal, Canadá, que se encontraram em território francês para a viagem, tomou-se conhecimento que o interesse em navegar pelo canal
e realizar para tal as longas e dispendiosas viagens do Norte e do Sul do continente americano à Europa foi resultado da leitura de texto publicado em revista de turismo no Brasil.

Tudo indica, assim, que a estrategia publicitária de empresas de locação de botes, focalizando determinados países, explique a predominância constatada quanto à origem dos visitantes. Segundo funcionários de uma dessas companhias, a consideração de determinados países para a divulgação do Canal du Midi obedece a critérios refletidos. Coloca-se a questão, assim, por que razão o Brasil é alvo de particular atenção ao lado de países europeus e anglo- e francofones de outros continentes.

Se no caso de franceses, britânicos, holandeses e outros europeus que conhecem a densa rêde de canais que cortam o continente e as ilhas britânicas e que dela usam com barcos próprios - alguns deles passando a vida a navegar - o fascínio de visitantes de nações não-européias apenas pode ser explicado pelo conhecimento do significado histórico, paisagístico e mesmo sentimental do Canal du Midi em esferas marcadas pela cultura francesa e pela assimilação de perspectivas, imagens e critérios de qualificação de objetos de viagens interno-europeus.

Canal du Midi.Foto A.A.Bispo©

Somente assim pode-se explicar o fato de que muitos deles realizam a viagem de seus continentes à Europa com essa finalidade e que, ao invés de visitarem grandes capitais, passem grande parte de sua temporada no menos espetacular, demorado e trabalhoso navegar pelo Canal du Midi com as suas numerosas comportas, ou seja, que escolham um aspecto antes particular, especial, quase que secundário no espectro das possibilidades que a Europa oferece.

Perspectivas e imagens valorativas de regiões européias internalizadas

Além de simples resultado da ação publicitária de empresas de barcos, o fascínio de brasileiros pelo Canal do Midi explica-se antes por uma cultura de saber de determinadas características, marcada pela familiaridade com o prestígio e um sentido poético que o Canal du Midi goza na Europa.

Este seria o caso dos brasileiros residentes no Canadá francês e franco-inglês e que lá assimilaram perspectivas de valoração cultural e de paisagens do Velho Mundo vigentes na tradição cultural franco-canadense. Refletiria, assim, uma situação cultural e mental sobretudo observada em Quebec, onde, como resultado de processos coloniais, constatam-se expressões de intenso conservadorismo cultural, o de ser "mais francês do que os franceses", com características sentidas por vezes como exageradas ou estranhas pelos próprios franceses. (http://www.revista.brasil-europa.eu/128/Canada-EUA-Brasil.html)

Canal du Midi.Foto A.A.Bispo©

Reflexões motivadas pela experiência do Canal em referenciações brasileiras

No encontro em Négra veio à consciência que uma das primeiras reflexões de brasileiros que vivenciam o Canal du Midi e se confrontam com uma obra impressionante de um projeto de engenharia de vias e transportes fluviais de passado já remoto diz respeito às potencialidades ainda não suficientemente aproveitadas dos rios do Brasil.

Esse cotejo auto-crítico perante um dos exemplos - ainda que dos mais importantes - da grande rêde de canais e rios da Europa traz à memória, porém, que não só essa constatação não é nova, como também já de séculos tem-se utilizado os rios brasileiros e desenvolvidos projetos para a intensificação de seu uso, inclusive de  interligações de bacias hidrográficas na integração continental. (Veja e.o.http://revista.brasil-europa.eu/141/Alemanha-Brasil-Abertura-do-Amazonas.html)

A pesquisa e a análise de visões e feitos do passado surgem como pressupostos para um prosseguimento fundamentado de reflexões, uma vez que essas não podem restringir-se apenas a demonstrar vagamente um espírito crítico daqueles que as formulam perante insuficiências de govêrnos. (Veja e.o.http://revista.brasil-europa.eu/141/Alemanha-Peru-Brasil-Rio-Purus.html)

Canal du Midi.Foto A.A.Bispo©

De forma ambivalente, porém, a admiração pelas dimensões de um projeto de engenharia de vias e transportes do passado associa-se à constatação do absoleto das instalações e maquinários, do abandono e mesmo da ruína de casas que no passado serviram de moradia aos guardiães das comportas.

As dificuldades e a vagarosidade da locomoção pelo canal, que corre paralelamente a rodovias e ferrovias, demonstram que este não possui já há muito utilidade econômica para o transporte de cargas e de passageiros e que provavelmente nunca recuperará um significado prático que teve no passado.


Ainda que a privatização do canal com a sua subordinação a uma sociedade de vias fluviais francesas e as medidas de automatização de comportas, - com a dispensa de muitos funcionários e contratados - já levam e levarão a profundas transformações a partir de 2018, nada faz supor que o canal possa vir a ser uma via de interesse econômico para o transporte de cargas e regular de passageiros. Permanecerá sendo um canal utilizado por visitantes que o procuram justamente pelas suas qualidades não-utilitárias. Não sendo apto a esportes, o canal apenas atrai aqueles fascinados pelas suas características imateriais, pelas suas qualidades paisagísticas, pela sua poesia idílica e bucólica. Tem-se, assim, motivos mais especificamente culturais que justificam e justificarão primordialmente o uso do canal e essas razões tornam oportunas e necessárias aproximações teórico-culturais.


A sensação do navegar em quadro que poderia ser aquele de uma pintura de paisagem do Romantismo é criada pelo fato dos visitantes sentirem-se transportados nostalgicamente a um mundo já de remoto passado, em parte em ruínas, despertando imagens de uma época de vida mais próxima à natureza e de um mundo marcado por integralidade.


Uma melancólica morbidez do Canal du Midi acentua-se na atualidade pela morte dos seculares plátanos que o ladeiam, atingidos por um câncer causado por fungo transmitido pelo homem e cujas causas ainda não foram descobertas. Navegando entre grandiosas árvores em parte já sêcas e confrontando-se com a derrubada de milhares de plátanos, cuja madeira é queimada ao lado do canal, o visitante conscientiza-se que, apesar dos reemplantes, a atual paisagem encontra-se condenada e que o que aprecia não é perene, mas temporário.


Por muitos lados os visitantes são lembrados das cruzadas da Idade Média, daquelas dirigidas não a inimigos do Cristianismo mas a cristãos, os albiginenses ou cátaros, centralizados nas terras cortadas pelo canal. O universo submerso daqueles que buscavam a Perfeição em vida de simplicidade e abstenção, mortos e mesmo massacrados em nome do Catolicismo romano, cujo pensamento e vida religiosa permanecem envoltas em mistério, determina sentimentos ambivalentes e vagos em semiconsciência de que aqui se trata de uma ferida não totalmente fechada na história cristã.

Evocações da Idade Média tornam-se presentes em localidades e monumenos que podem ser visitados durante a viagem, salientando-se aqui Carcassone, cuja velha cidade, representando o mais impressionante monumento de cidade fortificada da Europa medieval, demonstra a idealização do passado medieval ocorrida no século XIX. (Veja http://revista.brasil-europa.eu/145/Carcassone-passado-ideal-e-patrimonio.html)

Confrontando-se com as questões patrimoniais que se colocam hoje perante o anacronismo de projeções de idealizado passado do Romantismo, aquele que percorre o canal toma consciência que também este vivencia um quadro romântico que não corresponde à época histórica da realização dessa obra terminada em 1681 e que representa o maior empreendimento construtivo do século XVII.

A atenção passa assim a ser dirigida a visão histórica do próprio canal e o seu papel na memória e identidade das localidades que atravessa.

Pierre-Paul Riquet (1609-1680) e seus monumentos em Bézier e Nauroze

Se visões determinadas por perspectivas convencionais da História da Arte dirigem a atenção quase que exclusivamente a catedrais, palácios e fortalezas, ou seja, à arquitetura religiosa, de representação e militar, o Canal du Midi traz à consciência a necessidade de considerar-se com mais atenção obras da Engenharia Civil e da Técnica nos intentos de reconscientização de valores patrimoniais em ano marcado pelas Jornadas Européias do Patrimônio.

No caso do Canal du Midi, conhece-se e celebra-se o nome do seu criador e principal construtor, Pierre-Paul Riquet, barão de Bonrepos. Diferindo de outras obras de edificação civil e técnica, não é obra anônima e de iniciativa de Estado, mas sim de autor conhecido e sobretudo de iniciativa privada e na qual direitos de propriedade familiares desempenharam importante papel.

A grande e audaciosa obra de Riquier surpreende sobretudo pelo fato do seu criador, de profissão levantador de impostos de sal, ter adquirido conhecimentos de topografia, de técnica construtiva e de canais autodidaticamente, percorrendo a região do Languedoc e estudando o Canal de Briare, via entre a Loire e a Seine em 1642.


Acalentando desde a sua juventude o ideal de construção de um canal na sua região - Languedoc -, estudou detalhadamente as possibilidades de sua construção e, sobretudo, do seu provimento com água. Nesse sentido, a sua principal descoberta foi a de constatar a possibilidade de levar água da Montagne Noire e conduzí-la para o ponto superior do canal em Nauroze (Col de Naurouze).


Foi essa descoberta, comunicada às autoridades reais em carta, que possibilitaram o apoio do Estado à sua obra. Uma comissão de especialistas instituída pelo Ministro das Finanças da França, Jean-Baptiste Colbert (1619-1683), exigiu a demonstração da viabilidade da condução de águas da Montaigne Noire ao canal como pré-condição para um apoio oficial ao empreendimento.


Para o estudo e a constatação da viabilidade prática do projeto, Riquet não apenas construiu com recursos próprios um córrego que demonstrou a condução da água como realizou um grande modêlo do canal e das suas muitas obras de engenharia na sua casa de campo, maquete que adquire interesse no estudo histórico da arquitetura e urbanismo.

Em 1666, o rei Luís XIV lançou o edital da construção do canal, então designado como Canal Royal, e já em 1667 iniciaram-se os trabalhos para a condução de águas que deviam alimentar o canal. A barragem para o reservatório de águas de Saint-Ferréol constituiu a maior obra de engenharia da Europa do seu tempo.

Empregando numerosos operários e vencendo muitas dificuldades e exigências de inspetores reais, o canal foi terminado em 1681.

O vulto de Riquet é lembrado em monumento na alameda central da sua cidade natal, Bézier, e em obelisco levantado na área de Nauroze. Esta última é o local da divisão das águas entre o Mediterrâneo e o Atlântico, e portanto de significado técnico e simbólico-cultural. Nauroze adquire assim significado para estudos relativos a divisões simbólicas de esferas geográficas e culturais, como considerado, no caso da separação do Novo e do Velho Mundo celebrada na Islândia. (Veja http://www.revista.brasil-europa.eu/132/Pingvellir.html)


Emblemática mitológica do canal e das águas das montanhas e do Atlântico/Mediterrâneo

Edificado em 1827, de 20 metros de altura, o pedestal do monumento de Nauroze é ornamentado com inscrições e baixo-relêvos alegóricos. Do lado norte, as armas e o medalhão de Riquet, sustentados por Minerva como divindade emblemática da sabedoria, e por Mercúrio, deus do comércio.

Do lado sul, o monumento é ornamentado com a imagem de uma ninfa que deixa verter água de um vaso e por uma representação de Netuno. A ninfa representa as águas das fontes na Montagne Noire, cujas águas foram trazidas de longe para a alimentação do canal, feito magno de Pierre-Paul Riquet. Essa água se divide em duas correntes, simbolizando a divisão das águas do canal em Nauroze. Netuno rege o lado oceânico, Venus rege o lado mediterrâneo.

Atualidade do Canal du Midi no ano de Marseille como Capital da Cultura

Os preparativos e a celebração de Marseille como Capital Européia da Cultura 2013 têm motivado estudos e reflexões voltadas às relações entre o Mediterrâneo e o Atlântico (Veja http://www.revista.brasil-europa.eu/138/Estudos-e-Esclarecimento.html).

Entre outros aspectos, considerou-se em diferentes contextos fundamentos de processos culturais que, remontando ao mundo insular colonial grego da Antiguidade (http://www.revista.brasil-europa.eu/138/Protis.html), atingiram a região da atual Marseille e, de lá, se expandiram em direção ao Atlântico, tanto em direção sul (Veja http://www.revista.brasil-europa.eu/138/Euthymenes.html) quanto norte (http://www.revista.brasil-europa.eu/138/Pytheas.html). Nesse último caso, considerou-se tanto o caminho através das antigas Colunas de Hércules, o atual Gibraltar, como através do interior da antiga Gália, atingindo as costas do Atlântico e, dali, as ilhas britânicas e o Norte da Europa.

É nesse amplo contexto de relações entre o Mediterrâneo e o Atlântico que se revela o significado maior do Canal du Midi para os estudos de processos culturais.

Parte-se aqui do anelo secular em procurar-se um meio de evitar o contorno da Península Ibérica através do Estreito de Gibraltar, demorado, dispendioso e riscante. A idéia de construção de um canal entre o Mediterrâneo e o Atlântico, que remonta à colonia grega no Mediterrâneo, manteve-se viva à época da latinização da região, quando os romanos chegaram a construir um canal de ligação do mar à capital da sua província Narbonense e que hoje constitui parte do Canal de la Robine. (Veja )

O plano de construção manteve-se vivo nos séculos posteriores, residindo porém a principal dificuldade na impossibilidade então vista de provê-lo com água, sendo a solução desse problema um dos principais méritos de Riquet.

A ligação dessa parte do interior da França com o Atlântico foi possibilitada através dos séculos pelo rio Garonne, passando por Bordeaux e levando a Toulouse. O Canal du Midi, subindo, leva de Toulouse ao passo de Naurouze; descendo, a Carcassone, dirigindo-se a seguir a Béziers, a Agde e desembocando na laguna de Thau, possibilitando a chegada a Sète, no Mediterrâneo. Posteriormente criou-se um caminho mais direto ao Mediterrâneo através do Canal de Jonction e Canal de la Robine, em direção a Narbonne.

A construção do canal levou não apenas a um maior desenvolvimento do sul da França, mas teve também repercussões nas relações comerciais internacionais, uma vez que abriu possibilidades para a exportação de produtos regionais, em particular do vinho, fato salientado em museus regionais. Destes salienta-se o de Homps, cidade que procura valorizar o patrimônio cultural Minervois trazendo à lembrança as relações temáticas entre o patrimônio fluvial e o vinícola. A capitania do Port Minervois pretende assim desempenhar um papel central de informações para todo o território. Esse porto, o terceiro do canal, foi um dos mais movimentados, pois era um dos poucos locais onde os barcos podiam fazer mudanças de sentidos. Por êle passavam ainda em fins do seculo XIX numerosos transportes com destinação de Bordeaux ,no Atlântico ,e Sète, no Mediterrâneo.


O canal possibilitou também a intensificação de intercâmbio e da comunicação, contribuindo à integração do país, com consequências geo-estratégicas, também relativamente ao Exterior. A região sul da França, marcada desde a Antiguidade por seus elos com o mundo ibérico, teve, com o canal, um canal em sentido figurado de irradiação de expressões culturais de cunho ibérico ao interior e ao norte do país. Ainda que diminuído no seu significado com a construção de ferrovias, contribuiu à desenvolvimento econômico do sul, à auto-valorização de seu passado e de suas tradições e ao fascínio pelo universo ibérico em Paris no século do Romantismo, fator relevante para a compreensão do interesse e da simpatia da França pela América Latina e, no caso, pelo Brasil. (Veja e.o.http://www.revista.brasil-europa.eu/121/Imperatriz_Eugenie.html)

De ciclo de estudos sob a orientação de
Antonio Alexandre Bispo




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Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "
O Canal du Midi - Canal dos Dois Mares a divisão das águas ao Mediterrâneo e ao Atlântico no seu significado histórico, na sua emblemática e nos seus sentidos atuais". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 145/12 (2013:5). http://revista.brasil-europa.eu/145/Beziers-Nauroze-Canal-du-Midi.html