Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Título: Prof. H. Lonnendonker, Saarbruecken;
W. Walcker-Mayer e o editor em viagem a S. Luís do Paraitinga, 1981.  
Texto: Orgão da igreja Santa Ifigênia, São Paulo,
Fotos A.A.Bispo, 2007 ©Arquivo A.B.E.
Coluna: oficinas da Firma Walcker, Alemanha

 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 149/12 (2014:3)
Editor: Prof. Dr. A.A.Bispo, Universidade de Colonia
Direção administrativa: Dr. H. Hülskath

Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Academia Brasil-Europa
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2014 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 3109




Importação, manutenção e construção de órgãos no Brasil
Implicações econômicas e patrimoniais de reformas eclesiais
Experiências latinoamericanas em órgão doado ao Vaticano pelo Chanceler alemão

e o projeto de formação de organeiros brasileiros em Ludwigsburg
com Werner Walcker-Mayer (1923-2000)



Este texto deve ser compreendido à luz do escopo geral dos trabalhos divulgados na Revista Brasil-Europa do corrente ano. Estes são voltados a balanços e revisões de caminhos, a reconscientizações de objetivos e a análises do programa de interações que teve o seu início em 1974. (Veja)


Esses números da Revista consideram sobretudo decorrências das décadas de 70 e 80 do século passado, caídas no esquecimento ou desconhecidas. Procuram contribuir a reaprumos, ao reconhecimento de possíveis desvios e a que se evitem repetições de idéias, projetos e iniciativas de um desenvolvimento da história recente que já é há muito marcado por interações internacionais.



 
Igreja Santa Ifigenia SP. Foto A.A.Bispo 2007 Copyright

Igreja Santa Ifigenia SP. Foto A.A.Bispo 2007 Copyright
O Brasil possui um considerável patrimônio nos órgãos que se encontram nas suas muitas igrejas. São instrumentos de diferentes épocas e origens, representando escolas, técnicas, estilos construtivos e correntes histórico-culturais, diferentes critérios estéticos quanto à sonoridade e à prática de execução, adequando-se assim em particular à interpretação de determinados repertórios.


Esses instrumentos resultaram e perpetuam elos com a cultura musical e religiosa dos contextos europeus de onde provieram, podendo ser entendidos como testemunhos de relações internacionais, em particular entre a Europa e o Brasil.


Êles documentam, na sua diversidade, as transformações por que passaram a construção e os ideais sonoros no decorrer do tempo. Estas transformações foram resultados de processos culturais abrangentes, determinados sobretudo por mudanças de concepções e práticas de culto, do significado da religião no pensamento, na cultura e nas artes de diferentes épocas.


O órgão surge como parte integrante do espaço interior de muitas igrejas, completando-as arquitetônicamente. Nesse sentido, foi objeto de projetos que atentaram a fatores teológicos, simbólicos, arquitetônicos, artísticos em geral e musicais, e que, para a sua realização, exigiram extraordinários esforços de comunidades para a obtenção de meios.


A importação desses instrumentos exigiu sempre grandes dispêndios, devendo ser os recursos obtidos através de diversos meios, entre êles campanhas para angariar fundos e doações, recursos que, assim, deixavam de ser utilizados para outros fins, sociais ou pastorais.


O órgão surge, assim, em muitos casos e em muitos sentidos como o mais valioso componente do interior de muitas igrejas. Para além de constituir um patrimônio cultural e artístico como documento de épocas e contextos, representa um patrimônio material, uma vez que, tal como as próprias igrejas, exigiram altos investimentos e mesmo sacrifícios de gerações passadas. Tiveram de fato de ser adquiridos no Exterior e transportados com grandes dificuldades logísticas e elevados custos através do Atlântico. Abandoná-los representaria uma irresponsabilidade, perda e empobrecimento sob o ponto de vista cultural e material.


Devido a seus estreitos elos com concepções teológico-musicais e formas de culto, o órgão foi particularmente atingido pelas reformas conciliares que redirecionaram o celebrante do altar-mór ao povo e voltaram a atenção à participação ativa da assembléia também através do canto.


A intensificação dessa orientação e prática no atual Pontificado faz com que problemas já constatados e discutidos em décadas passadas adquiram renovada atualidade. Considerar essas preocupações dos anos que se seguiram ao Concílio e sobretudo as iniciativas e os caminhos então propostos representam um pressuposto para o tratamento de problemas que novamente se colocam.


Os órgãos no Brasil sob a perspectiva de estudos de processos culturais e políticos


Os estudos voltados a processos culturais no decorrer dos anos 70 haviam trazido à consciência aspectos nem sempre considerados quando se tratava do instrumento no Brasil, uma vez que dirigiram a atenção ao fomento do instrumento no país pelo movimento de reforma ou restauração litúrgico-musical a partir do século XIX, acentuado após a promulgação do Motu Proprio de Pio X (1903).


A extensão de correntes de reforma ou restauração sacro-musical da Europa ao Brasil, crítico com relação à música sacra com acompanhamento orquestral como de uso nas igrejas brasileiras, passou a exigir a introdução de órgãos nas catedrais e igrejas em geral, e isso apenas pode ser efetivado através de aquisições de instrumentos na Europa. Essas importações tiveram amplas dimensões culturais e de intercâmbio internacional, uma vez que levaram ao estreitamento de laços com especialistas e fabricantes europeus, assim como pela procura de alcance de informações e conhecimentos.


O fomento da música organística no contexto do movimento de reforma ou restauração católica teve assim dimensões econômicas e comerciais, representando, na evidência dos instrumentos, uma nova fase nas relações entre a Europa e o Brasil e mesmo de um processo europeizador ou reeuropeizador cultural do Brasil. A existência de instrumentos, exigindo organistas competentes, favoreceu intuitos de formação de músicos na Europa e a difusão de obras da arte organística no Brasil.


A introdução de órgãos em igrejas brasileiras no contexto reformador teve também implicações de cunho educativo sob vários aspectos, compreendendo-se os elos entre o fomento de órgãos, o ensino e intuitos de difusão e formação cultural que se manifestam entre várias personalidades e instituições do Brasil. Pode-se aqui lembrar, entre outros, de Leopoldo Miguez (1850-1902), que adquiriu na Alemanha um órgão Wilhelm Sauer com o prêmio recebido pelo seu Hino da proclamação da República. Doando-o para o Instituto Nacional de Música, o instrumento adquire hoje um espectro de sentidos múltiplo, lembrando relações entre correntes políticas e estético-culturais contextualizadas sobretudo na Alemanha na sua recepção brasileira.


O fomento da música para órgão e a importação de órgãos não se limitaram à esfera católica, mas manifestaram-se nas igrejas evangélicas, sobretudo após a Proclamação da República. Também aqui intensificou-se a recepção de repertórios e correntes da música religiosa de países e centros evangélicos europeus, sobretudo da Alemanha.


Preocupações quanto aos órgãos nos anos que se seguiram ao Concílio


Com a Concílio Vaticano II, a reforma litúrgica, como mencionado, despertou preocupações quanto ao futuro da música para órgão e a consequente conservação de instrumentos em vários países, também no Brasil.


O redirecionamento do celebrante do altar ao povo e a atenção à participação ativa da assembléia fizeram com que o instrumento de tubos no alto do coro passasse a surgir para muitos como representativo de concepções e práticas do passado, sendo substituído por instrumentos eletrônicos próximos ao centro da ação litúrgica. Com o uso crescente de instrumentos populares de acompanhamento, em particular do violão, também estes substitutos corriam o risco de passar a plano secundário. Os instrumentos adquiridos com tantos sacrifícios e gastos no passado representavam bens em perigo e, assim, um empobrecimento cultural e material do país.


Esse desenvolvimento colocava em perigo instrumentos de grande valor histórico, artístico e material de muitas igrejas, o que representava uma perda patrimonial e um empobrecimento em muitos sentidos para a vida cultural do Brasil.


Preocupações patrimoniais e sentido de responsabilidade pela manutenção desses instrumentos, o que exigia o seu uso, marcaram as reflexões da década de 70. Muitos desses órgãos eram verdadeiras obras de arte, representativos da técnica construtiva e de concepções organológicas de diferentes épocas, necessários também para a vida musical em geral, uma vez que apenas poucos órgãos existiam em teatros ou auditórios. Esse significado do instrumento era percebido e avaliado sobretudo pelos apreciadores e cultores da arte organística e, em especial, pelos círculos que se dedicavam à música antiga.


Importante sinal: órgão móvel em Roma como presente do Chanceler alemão


As preocupações referentes ao órgão eram assim marcadas pela perda do significado do "rei dos instrumentos" nas suas funções por excelência de culto ou mesmo pelo seu abandono como consequência das reformas litúrgicas pós-conciliares à época do Papa Paulo VI.


Com o início do Pontificado de João Paulo II, círculos eclesiais e de músicos preocupados com o patrimônio organístico e organológico viram renovadas perspectivas para correções de desenvolvimentos, trazendo à consciência que o instrumento devia continuar a ocupar uma posição privilegiada na configuração musical da liturgia segundo os próprios textos conciliares, não havendo, assim, contradição entre as novas orientações e práticas e o cultivo do instrumento.


Um projeto de extraordinária importância como sinal da possibilidade do emprêgo do órgão em celebrações segundo os preceitos da reforma litúrgica, em particular também em grandes assembléias e em ações ao ar livre foi aquele que levou à construção de um órgão móvel para ser usado em celebrações na Praça de São Pedro em Roma.


Esse projeto foi resultado de um pedido de sugestão a autoridades eclesiásticas do então Chanceler alemão Helmut Schmidt quanto a um presente que poderia oferecer ao Pontífice quando de sua visita a Roma. Sugeriu-se, então que oferecesse um órgão que, passível de ser movido em trilhos, pudesse ser deslocado de uma das capelas laterais para o alto das escadarias da Basílica de São Pedro, possibilitando assim a configuração musical de atos ali celebrados.


O projeto, aceito pelo Govêrno alemão, foi confiado a Walter Walcker-Mayer, responsável por tradicional e renomada firma construtura de órgãos.


Os órgãos de Walcker-Mayer gozavam de particular prestígio internacional em fins da década de 70, tanto na Alemanha como no Exterior. Entre os instrumentos mais recentes construídos pela sua firma que despertavam a atenção de especialistas salientavam-se o órgão Praetorius em Freiburg, os órgãos para a catedral de Ulm, para a igreja São Pedro da cidade de Sinzig, para igrejas e auditórios de outros países europeus, entre êles para a sala de concertos da Sociedade dos Amigos da Música de Viena e para o grande auditório do Conservatório Chopin de Varsóvia. Fora da Europa, despertava a atenção o fato de ter construído o primeiro órgão para um templo budista em Tóquio.


A solução de problemas relacionados com o deslocamento do instrumento, assim como outros aspectos técnicos e sonoros foram discutidos em encontros realizados em Colonia em 1979 e 1980, assim como em Roma por ocasião de trabalhos de instalação e da consagração do instrumento.


Nessa ocasião, o Papa João Paulo II salientou que o instrumento tradicional da Igreja devia ser mantido em altas honras, citando a Constituição sobre a Liturgia (Sacrosanctum Concilium 120). Como considerado em pronunciamentos e pela imprensa, esse ato servia para trazer à consciência que o órgão mantinha o seu significado de instrumento litúrgico por excelência também sob as condições criadas pelas reformas conciliares. A iniciativa vinha assim de encontro às preocupações daqueles que temiam a perda de significado do instrumento, manifestando, ao mesmo tempo, a fidelidade aos novos desenvolvimentos da reforma litúrgica.


A tradição dos órgãos Walcker no seu contexto histórico-cultural e as novas tendências


O renome internacional de Walcker-Mayer baseava-se na tradição da empresa familiar que dirigia e nos órgãos por ela construídos. Essa tradição remontava à oficina  de produção de órgão fundada por Johann Eberhard Walcker em 1780 e desenvolvida pelo seu filho Eberhard Friedrich Walcker. Entre as suas obras incluiram-se órgãos para a igreja de São Paulo em Frankfurt (74 registros), da Igreja de S. Pedro em Petersburgo (65 registros), da Igreja S. Olav de Reval (65 registros), da Catedral de Agram, da catedral de Ulm (100 registros) e o da Exposição de Boston, considerado o mais importante da América na sua época.


Os seus filhos também construiram importantes órgãos, entre eles para as catedrais de Riga e Santo Estevão. O seu neto, Oskar Walcker, deu prosseguimento a esse desenvolvimento da E. F. Walcker & Cie - Orgelbau, tendo construido órgãos para a igreja de São Miguel em Hamburgo e para a Exposição Mundial de Barcelona.


Oskar Walcker distinguiu-se no processo de redescobrimento de valores da antiga construção de órgão. Essa revalorização procedeu-se paralelamente ao movimento de restauração da música sacra no contexto mais amplo do Historismo e da consequente valorização da polifonia.


Em 1921, em Freiburg i. Breisgau, com dados fornecidos pelo musicólogo Willibald Gurlitt (1891-1963), Oskar Walcker construiu um órgão segundo uma disposição publicada por Michael Praetorius. Este, na segunda parte do Syntagma - Dos Instrumentos (Wolfenbütel, 1618), descreveu registros, disposições e a construção de um órgão. O instrumento assim construído foi concebido para ser usado em execuções originais de música do estilo da época de Praetorius. Oskar Walcker contribuiu, assim, de forma decisiva ao desenvolvimento do assim-chamado "movimento de órgão".


Pesquisa organológica e construção de instrumentos - Ciência e Prática


Ainda que prosseguindo a tradição familiar, Werner Walcker-Mayer representou uma nova fase na construção de instrumentos. Após ter adquirido a sua formação prático-artesanal ou técnica na oficina de produção de órgãos Wilhem Sauer em Frankfurt a.d.O. a partir de 1939, época da Segunda Guerra, interrompendo-a em 1942 para a prestação de serviço militar, assumiu em 1945 a direção da empresa da família em Ludwigsburg e, em 1948, a oficina de produção.


Com formação musicológica, Werner Walcker-Mayer distinguiu-se por salientar as relações entre Ciência e Prática, entre pesquisa musicológica e a tecnologia, sem perder naturalmente a atenção às relações entre a construção de instrumentos e o empreendendorismo econômico de venda de instrumentos em dimensões globais.


Já em 1949, Werner Walcker-Meyer passou a editar folha de notícias da firma com artigos e dados sobre construção de instrumentos, temas relativos à música em geral e informações sôbre atividades da própria produção. Nos anos 50 já era reconhecido como um dos mais destacados especialistas em assuntos organológicos, o que se manifestou no fato de ser nomeado especialista juramentado para questões jurídicas relacionadas com a construção de órgãos. A expansão da firma levou à fundação de uma sucursal na Áustria, em Guntramsdorf.


Essa atenção à musicologia especializada levou à criação da Fundação Walcker para a pesquisa científica do órgão em 1965 e, dois anos depois, de uma Sociedade Editorial Musicológica. Essa fundação passou a realizar jornadas de estudos e, através da editôra, a publicar textos que enriqueceram a literatura sôbre o instrumento. De particular importância foi a edição de tratados sobre órgão da Idade Média.


De 1970 data o principal trabalho de investigação histórico-organológica e reconstrutivo de Walcker-Mayer: "O órgão romano de Aquincum". Esse instrumento, do século III, encontrado nessa localidade próxima de Budapeste em 1931, foi reconstruído por W. Walcker-Mayer. O mecanismo para a produção de ar não existia, mas restavam a caixa de ar, fragmentos de tubos, restos de teclas e interruptores de som. Com os seus estudos, demonstrou que esse antigo órgão possuia 13 teclas e 4 registros; a caixa de ar era revestida de folhas de bronze, as teclas de madeira, os canais dos registros e as linguetas de bronze; possuia 52 tubos, sendo 39 fechados e 13 abertos, todos de uma folha fina de bronze.


Outra publicação de particular relevância de W. Walcker-Mayer foi dedicado ao órgão da época de Max Reger, de 1974.


Esses dois títulos podem exemplificar o interesse de W. Walcker-Mayer pela história do órgão desde as mas remotas eras, dando atenção não apenas a aspectos construtivos, como também às transformações de sonoridades.


Werner Walcker-Mayer e o Brasil


No âmbito dos encontros em Colonia e em Roma motivados pela construção do órgão móvel para São Pedro passou-se a discutir questões relativas à construção de órgãos e ao uso do instrumento sob as novas condições da prática litúrgica no Brasil, uma vez que se preparava o Simpósio Internacional "Música Sacra e Cultura Brasileira".


Com essas trocas de idéias deu-se início a cooperações de W. Walcker-Mayer com iniciativas euro-brasileiras que se prolongaram por anos. Estas não se restringiram à sua participação como conferencista no simpósio que então se preparava para ser realizado em São Paulo. Tendo-se considerado que um dos principais problemas relacionados com o instrumento no Brasil sempre foi o dos altos custos de importação, necessária devido ao insuficiente número de organeiros no país. W. Walcker-Meyer dispôs-se a apresentar uma proposta de formação a brasileiros interessados no seu centro de estudos em Ludwigsburg.


Através da Fundação que dirigia, Walcker-Mayer apoiou posteriormente projetos do Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS), possibilitando a edição de vários números desta revista nos seus primeiros anos. Tornou-se também um benfeitor da Academia Brasil-Europa quando de sua revitalização no início da década de 90.


O interesse de W. Walcker Mayer pelo Brasil não era novo, inscrevendo-se no âmbito maior de suas atividades internacionais e que uniam o idealismo pelo tema com a pesquisa e interesses empresariais. Os trabalhos de recuperação de órgãos históricos em vários países proporcionaram-lhe um vasto conhecimento da situação do patrimônio de instrumentos no mundo.


Nas suas visitas, procurava despertar a atenção para o significado dos instrumentos nos vários contextos, contribuindo assim de forma significativa para intercâmbios e relações. Em viagem à América do Sul, em 1952, W. Walcker Mayer havia feito observações sobretudo quanto a condições climáticas e durabilidade de instrumentos. Pôde empregar esses seus conhecimento em vários intrumentos que construiu para o Brasil. Em viagem realizada em 1975/6, teve ocasião de rever e inspecionar os instrumentos, constatando que, apesar de não serem bem cuidados, tinham-se mantido em bom estado de conservação.


A viagem realizada por vários países da América do Sul e Central levou à elaboração de regras especiais para regiões tropicais considerando o alto grau de humidade do ar e, em parte, a falta de humidade, tornando-se necessário empregar materiais especiais e tratamento contra cupins. Desenvolveu a partir de suas observações na América Latina uma forma especial de construção para territórios sujeitos a terremotos, um conhecimento que foi de utilidade na construção do órgão móvel para a Basílica de S. Pedro em Roma. Houve, assim, uma influência recíproca entre a América Latina e a Europa na construção de órgãos: as experiências feitas em países americanos contribuiram para a construção do órgão oferecido pelo Chanceler alemão a João Paulo II e dessa ocasião surgiu o projeto para a formação de organeiros brasileiros na Alemanha.


Walcker-Mayer em São Paulo em 1981


Como resultado desse desenvolvimento e dos preparativos nos encontros de Colonia e Roma, um dos problemas tratados no Simpósio Internacional "Música Sacra e Cultura Brasileira" de 1981 disse respeito à formação especializada de brasileiros no Centro de Ludwigsburg para a construção de órgãos segundo critérios de alta qualidade no Brasil.


Essa preocupação relacionou-se estreitamente com outras questões relativas ao órgão e à prática organística que vinham sendo consideradas há anos e que foram tratadas no evento por diferentes especialistas. Assim, a possibilidade do uso do órgão em celebrações marcadas pela participação ativa de comunidades sobretudo através da prática alternada foi tratada em conferência à parte e demonstrada em improvisações sobre motivos de cantos religiosos brasileiros no Teatro Municipal de São Paulo. (Veja)


Procurou-se, no contexto da palestra de W. Walcker-Mayer, trazer à consciência que cada instrumento possui uma história, relaciona-se com determinada corrente cultural e sacro-musical nas relações entre a Europa e o Brasil, com determinados compositores e organistas, merecendo ser tratado particularmente; a atenção devia ser voltada para cada caso, exigindo aproximações particulares em trabalhos de restauração ou reconstrução. Havia, assim, na Unidade do patrimônio organístico uma Diversidade, o que correspondia ao lema condutor do Simpósio.


Lembrando a tradição de órgãos Walcker no Brasil



Na sua conferência, W. Walcker-Mayer salientou o grande numero de órgãos Walcker existentes no Brasil. O primeiro fornecido ao Brasil foi para Porto Alegre, em 1896. A ele seguiu-se instrumento para o Conservatório do Pará, em 1899. Até 1980 haviam sido enviados 25 órgãos para o Brasil, dos quais 11 para S. Paulo. O maior deles é o da Basílica de S. Bento, com 80 registros.


Porto Alegre, Igreja protestante (5 registros), 1896

Belém do Pará, Conservatório (7 registros), 1899

Paranaguá, igreja católica (4 registros), 1902

São Paulo, Igreja Evangélica Alemã (12 registros), 1907

São Paulo, Liceu Sagrado Coração de Jesus (Rec.) (26 registros), 1911

Petrópolis, Igreja Alemã (16 registros), 1914

São Paulo, Santa Efigência (44 registros), 1921

São Paulo, particular (12 registros), 1922

Rio de Janeiro, Igreja Alemã (13 registros), 1922

Rio de Janeiro, Catedral (28 registros)(, 1923

Rio de Janeiro, (B) (6 registros), 1924

Rio de Janeiro, (B) (4 registros), 1924

São Paulo, Convento do Carmo (28 registros), 1931

São Paulo, Igreja Santa Terezinha (12 registros), 1952

Nova Friburgo, Igreja Evangélica Alemã (3 registros), 1952

São Paulo, Basílica de São Bento (80 registros), 1954

Rio de Janeiro, Santo Afonso (26 registros), 1955

São Paulo, Igreja Evangélica Luterana (Rec.) (20 registros), 1956

São Paulo, Igreja de Nossa Sra. de Fátima (Rec.) (34 registros), 1956

São Paulo, Convento do Carmo (Rec.) (40 registros), 1957

São Paulo, Sanatório Santa Catarina (9 registros), 1957

Blumenau (3 registros), 1957

Pato Branco, Franciscanos (6 registros), 1957

Rio de Janeiro, Santa Catarina (10 registros), 1957


A estética sonora dos orgãos e o interesse pela música antiga no Brasil


A tradição de revalorização dos antigos órgãos inaugurada por Oskar Walcker e prosseguida de forma ampliada e sob signo antes de pesquisa musicológica por Walter Walcker-Mayer veio de encontro ao interesse por música antiga existente no Brasil.


Na sua explanação no Simpósio, o conferencista lembrou que, se até o século XIX predominavam nos registros instrumentos de sopro como flauta doce, trompete, Krummhörner, também em forma adaptada, a partir desse século passou-se a usar timbres de instrumentos de corda. Além disso, modificou-se dinamicamente o cunho de estaticidade sonora com o emprêgo de osciladores e mecanismos de "crescendo". A sonoridade tornou-se cheia, arredondada, orientada à execução da música homofônica, valorizando-se a capacidade de diferenciação na intensidade sonora.


Esses órgãos românticos, de cunho por assim dizer sinfônico ou orquestral, também presentes no Brasil, passaram a dar lugar a um novo tipo de instrumentos no âmbito dos anelos de restauração sacro-musical, orientado antes segundo modelos históricos.


A aquisição de um órgão com características históricas tornou-se um dos grandes desejos de músicos bem informados, o que também se verificava no Brasil.


As principais características de um instrumento de qualidade passaram a ser vistas a partir de impulsos desse movimento de reforma sacro-musical, sendo reconhecidas na unidade a ser observada no instrumento, que passa a ser uma obra de arte de originalidade criativa única.


Como Walter Walcker-Mayer salientou na sua exposição, pressuposto para a individualidade técnica e sonora é o acabamento artesanal do instrumento, sendo cada parta projetada e construída especialmente para o órgão em questão, de modo que o mecanismo, a disposição, o aparelhamento técnico e a arquitetura se complementam num todo congruente.


Determinando a disposição o resultado sonoro do órgão, a tendência de disposição à música polifônica passa a ser satisfeita a partir da relação entre tom fundamental e registros de sons parciais. O conferencista salientou também a necessidade de se considerar a proporção sonora dos diversos manuais entre si.


A disposição evidencia o princípio construtivo do instrumento, o estilo do órgão através da composição dos registros e do tipo de proporções sonoras entre manuais e pedal. A construção do mecanismo segue o princípio de obra construtiva, mostrando-se também na colocação das partes no espaço.


A estruturação arquitetônica do móvel devia refletir a construção, sendo o móvel já em si de importância. O material empregado deve ser da melhor qualidade para os tubos, com uso de ligas de estanho da melhor qualidade (não de zinco), tração mecânica, que permite uma execução sensível, caixa insuflatória corrediça, proporcionando uma entoação viva e não explosiva, assim como móvel fechado, que protege tubos, dirigindo o som aos ouvintes.


Projeto de formação de organeiros brasileiros em Ludwigsburg


A proposta de W. Walcker-Mayer partia do pressuposto que a principal pré-condição para a fabricação de órgãos no  Brasil reside na existência de construtores qualificados do instrumento no próprio país. Mesmo que fosse possível encontrar na Europa um construtor de órgãos que tivesse condições de enviar e dirigir uma oficina de órgãos no país, isso seria apenas uma solução temporária. Este organeiro estaria em pouco tempo tão sobrecarregado com serviços de consertos e de manutenção que deixaria de lado o objetivo real, ou seja, a montagem de uma fábrica brasileira de órgãos. Por isso, fazia a sugestão nos sentido de se procurar um artesão adequado no Brasil que seria então por êle ensinado na Alemanha.

Como a construção de órgãos se baseia fundamentalmente em madeira, tratava-se de se procurar um artesão adequado no campo da marcenaria que tivesse interesse em se especializar na construção de órgãos. Esse domínio do trabalho em madeira era, para W. Walcker-Mayer, fundamento decisivo de uma construção de órgãos qualificada. Por isso, era necessário encontrar um ou dois brasileiros bem formados em carpintaria e marcenaria que quisessem especializar-se na construção de órgãos.


Um outro pressuposto seria que tal artesão compreendesse o idioma alemão para que pudesse seguir os cursos realizados na escola técnica de construção de órgãos em Ludwigsburg fundada em 1924 por Oskar Walcker.


O currículo dessa instituição incluia Acústica, Desenho Técnico, Aritmética, Algebra, Medição, Construção de Instrumentos, História, Teoria da Música, Estilística, Mecânica, Estática, Pneumática, Eletricidade, Materiais de oficina especializada, Teoria do Trabalho, Desenho especializado com Geometria e Projeto Aplicado. Além dessas disciplinas, o estudo também incluia matérias empresariais e jurídicas como Alemão, Correspondência, Economia Empresarial, Propaganda, Contabilidade, Escrituração, Serviço de Pagamentos, Direito e Técnica de Ensino. Nas matérias de oficina, assumia uma importância especial o Tratamento da Madeira, incluindo Prensa e Técnica de Folheamento, assim como Afinação e Intonação.


No novo centro escolar profissional em Ludwigsburg, a escola técnica dispunha de salas de aula e oficinas apropriadas Tinha-se para a construção de órgãos salas e oficinas especiais, assim como salas de máquinas, laboratórios de acústica e de experimentações complementares. Estavam à disposição também oito cabinas de afinação para o aprendizado. Para a formação em trabalho de madeira e em tratamento de superfície, contava-se nessa escola técnica com um parque de máquinas excelentemente bem aparelhado, com uma marcenaria e com uma oficina de pintura com modernas instalações. O mesmo podia ser dito para a formação teórica, feita em parte nas modernas salas de Física, Química e de Música do centro escolar.


O ensino prático nas oficinas era dado por professores técnicos em tempo integral, com prática de anos como mestres de construção de órgãos. As matérias teóricas eram confiadas a professores que, além de formacão secundária e superior, aprenderam a profissão.


A escola não oferecia porém ensino prático completo, pois isso era reservado às empresas construtoras de órgãos. Ela também não visava uma formação musical no sentido de execução musical. Ela servia em primeiro lugar à formação técnica, física e teórica especializada, ao lado de um ensino de economia empresarial amplo e uma formação complementar de oficina bem apropriada de tecnologia aplicada. A escola técnica desejava transmitir a seus alunos conhecimentos e experiências do campo da técnica, das Ciências Naturais e da Economia já provados na prática. Ela mostrava a seus alunos o caminho para uma forma moderna de trabalho e de organização, procurando capacitá-los a um trabalho técnico de alto valor. Ela pretendia desenvlver os seus alunos até ao ponto no qual possam enfrentar as tarefas construtivas dentro da Economia de mercado livre.


O tempo de aprendizado era de três anos e meio na oficina, sedo que 12 semanas por ano deviam ser dedicadas à escola profissional. Seguindo o sistema alemão de formação técnico-profissional, pós o término do aprendizado, o aprendiz brasileiro tornava-se "companheiro" , podendo-se prepara para o exame de mestria, todavia, porém, apenas após cinco anos. Em geral, os estudantes passavam a cursar por mais um ano a escola técnica de órgão.


O brasileiro que ali estudasse faria então a sua obra mestre, um pequeno órgão, recebendo o diploma de mestria, o que o capacita a dirigir uma oficina de órgão e formar novos construtores. Essa oficina devia trabalhar conjuntamente com uma de marcenaria para a produção das partes do instrumento, de modo que as máquinas pudessem ser também usadas na construção de órgão, economizando investimentos extras. A fabricação de tubos de metal devia ser deixada para mais tarde, pois para tal eram necessários especialistas. Talvez fosse o caso, aqui, que o Brasil, no caso da criação de uma fábrica de órgãos, continuasse no início a comprar tubos na Europa.


A construção de órgãos no Brasil exigia a consideração das condições climáticas especiais em relação à escolha dos materiais. De grande importância era a escolha da madeira - o cedro e o carvalho tinham levado a bons resultados. A madeira devia ser sempre várias vezes impregnada contra a ação de termitas e outros insetos. Nas regiões húmidas, o construtor devia tratar as partes de metal com cádmio ou niquelá-las. A parte superior do móvel devia ser coberta com uma folha fina de plástico. Todas as partes, após a impregnação, deviam ser envernizadas duas vezes ao mínimo. A calafetação das junturas devia ser feita comm matéria plástica dura e não com uma camada de espuma como na Europa. Todo o aparelhamento elétrico e os contatos deviam ser colocados em caixas fechadas impermeáveis ao ar. No caso de registração elétrica, o gerador de baixa voltagem devia ser munido de um estabilizador. Seria desejável que se construisse um órgão-modêlo no qual, de um lado, estivessem presentes as características ideais de um órgão europeu da atualidade com respeito à sonoridade e, de outro, que possibilitasse constatar concretamente o uso na prática de dados construtivos e técnico-materiais especiais, resultantes das condições brasileiras.


Discussão final e preparo de moções


A exposição de Walcker-Mayer foi seguida por uma discussão, na qual se manifestaram organistas brasileiros presentes. Como moderador, o editor salientou a necessidade de pesquisas sobre a história do órgão no Brasil, considerando os órgãos históricos que tinham sido visitados no âmbito dos trabalhos do Centro de Pesquisas em Musicologia da Sociedade Nova Difusão em fins da década de 60 e primeira metade da década de 70. Lembrou que após o Simpósio os especialistas estrangeiros e um grupo de pesquisadores brasileiros teriam um encontro em Mariana, onde também se consideraria o órgão local. Além dessas necessárias pesquisas de instrumentos mais antigos,era necessário desenvolver estudos mais pormenorizados relativos à música para órgão no século XIX. Também a construção de órgãos no passado no Brasil deveria ser objeto de atenções, considerando-se os intentos realizados, em particular aqueles referentes ao órgão de bambús de S. Leopoldo. Este, já visitado em viagem de estudos, deveria ser novamente alvo de estudos em colóquios com pesquisadores e estudantes brasileiros. (Veja) Os aspectos simbólicos do órgão, ainda que já considerados na literatura especializada, necessitariam ser analisados sob o enfoque mais abrangente do edifício cultural e da linguagem de imagens. Particular atenção mereceria a gaita de foles no sistema de tipos e anti-tipos próprio da antiga hermenêutica. A partir dessas análises poder-se-ia então procurar caminhos para um tratamento culturalmente adequado do órgão no Brasil e que poderiam talvez levar a substituições instrumentais que preenchessem o mesmo sentido do instrumento.



Interações posteriores


Publicação de caderno sobre fundamentos da construção de órgãos


Em carta de 13 de outubro, W. Walcker-Mayer escrevia ao editor manifestando a sua satisfação pelas experiências ganhas no Brasil e o seu intuito em manter e aprofundar as relações. Nessa carta, comunicava que ia escrever à Associação Paulista de Organistas, sendo da opinião que seria oportuno publicar um pequeno caderno com os conhecimentos básicos de construção de órgãos para motivar os seus membros quanto ao tema. O livro deveria ser realizado em conjunto com o editor a partir da conferência proferida em São Paulo.




Correspondência com a Associação Paulista de Organistas


A anunciada carta à Associação Paulista de Organistas foi escrita a 14 de outubro. A resposta, assinada por Dorotéa Machado Kerr, seria enviada apenas alguns meses mais tarde, no dia 1 de janeiro, fato explicado pelas dificuldades da sua formulação em alemão. Na entidade atuava um organista alemão, mas este encontrava-se em viagens fora do Brasil. Nesse meio termo, a Associação havia recebido de Walcker-Mayer discos e posters.




Nessa carta, Dorotea Kerr dava informações a respeito da Associação, então com 40 membros, nem todos organistas. Tinha-se conhecimento que havia uma associação com finalidades similares no Rio Grande do Sul, sendo o contato aqui Julio Posenato. No decorrer do ano de 1981, a Associação havia realizado três séries de concertos, 10 dominicais, sendo um por mês; 5 de cunho educativo, a partir de agosto, e 10 concertos em dezembro no âmbito de celebrações de Natal. Além do mais, atuava-se juntamente com coros e grupos instrumentais. O número de concertos aumentara consideravelmente desde a fundação da entidade em 1977. Um grande problema era o de superar os obstáculos colocados pelas igrejas e pelos sacerdotes contrários à realização de concertos.


O estado lamentável dos órgãos de São Paulo constituia também uma dificuldade. Tinha-se acima de 50 órgãos na cidade, mas destes apenas 5 ou 6 estavam em situação razoável. Era muito difícil encontrar-se um técnico em condições de manter os órgãos em boas condições, pelos menos esses 5 ou 6. Não se sabia bem se essa situação era devida ao clima tropical ou as muitas modificações feitas nos instrumentos por técnicos incompetentes. Bastava que fossem tocados por algum tempo que já saiam fora de controle. Um outro fato lamentavel era a descaracterização de instrumentos. Orgãos que eram originalmente pneumáticos, com dois manuais, tinham sido eletificados, aumentados, por fim já não funcionando. As igrejas, que gastavam grandes quantias para essas modificações, lamentavam os gastos e não estavam mais dispostas a cuidar de sua manutenção.


A proposta feita durante o Simpósio em formar um jovem brasileiro nas oficinas alemãs tinha grande interesse para o prosseguimento das finalidades da Associação. Acreditava-se, porém, não ser fácil convencer algum jovem a fazer tal experimento, uma vez que faltava um mercado profissional na área no Brasil. Perguntava-se então a Walcker-Mayer se haveria a possibilidade de enviar alguém por um tempo mais curto a Ludwigsburg para a obtenção de alguma experiência, de modo que pudesse ao retornar cuidar da manutenção dos órgãos existentes, sem pensar-se, assim, na questão da construção de novos instrumentos.


Na crise econômica por que o Brasil passava, acreditava-se que a importação de novos órgãos era impossível, assim como a introdução de novos organeiros. O último órgão trazido para São Paulo havia sido um da firma Tamburini em 1968, destinado para o Teatro Municipal, fato possibilitado por uma lei especialmente promulgada para tal. Os custos alfandegários e outros de importação eram tão elevados que nenhum teatro e nenhum igreja podia tentar algo semelhante.


Nesta carta, transmitia-se à Alemanha nomes de organistas que deveriam ser considerados nos contatos internacionais: a professora de órgão Dacyr Gatz, Frances van de Putte, o professor de órgão Gerardo Gorosito, Orlando Retroz e Nelly Martins.


Correspondência com especialistas em questões técnico-construtivas - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, IPT


Em carta de 27 de outubro de 1981, W. Walcker-Mayer escrevia novamente informando ter recebido carta de Valfrido del Carlo, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, perguntando se o nome era conhecido. O editor pode informar-lhe que bem o conhecia, uma vez que tinha sido docente na Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo à época de seus estudos entre 1969 e 1973. Foi a partir desses contatos que esse especialista seria convidado para a sessão dedicada à Acústica por ocasião do I Congresso Brasileiro de Musicologia, em 1987.




Interações com meios teuto-brasileiros no sul do Brasil. Projetos de exposições


Na mesma data era datada carta enviada de Curitiba por Ricardo Hermann, que W. Walcker-Mayer reenviou ao editor no dia 10 de novembro.




Nessa carta escrita em alemão que demonstrava que R. Hermann já não dominava perfeitamente o idioma, partia-se da constatação que o intercâmbio cultural, político e comercial entre a Alemanha e o Brasil aumentara. Por essa razão Hermann sugeria que participasse numa exposição a ser realizada em São Paulo e no Paraná, respectivamente no Parque Ibirapuera e no Parque Barigui, apresentando um grande órgão de tubos e um pequeno órgão doméstico de tubos da sua fabricação.


A exposição poderia ser divulgada ou levada a Leipzig, Hannover e a outras cidades, sendo designada como "A cultura musical a serviço do povo". Seria importante para a concretização desse plano que os govêrnos da Alemanha e do Brasil fossem sensibilizados para a construção de uma fábrica de órgãos no Brasil. R. Hermann pedia assim sugestões a respeito de como poderia obter dados sobre a formação prática em construção de órgãos. Relacionava, assim, o seu projeto de realização de exposição com a proposta feita por W. Walcker-Mayer em São Paulo de forma difícil de ser bem compreendida. Para a conservação de órgãos históricos do Brasil, Hermann era da opinião que seria muito importante haver um contato entre a Fundação Walcker e a Fundação Roberto Marinho do Rio de Janeiro.




Na carta em que repassava ao editor esta missiva de Ricardo Hermann, W. Walcker Mayer W. Walcker-Mayer dizia já estar em contato com Hermann  há ca. de dez anos. Supondo ser este um organista amador, enviara-lhe cópia da conferência proferida em São Paulo, sendo esta o motivo da carta de Hermann.


Interações com especialistas em pesquisa de órgão dos EUA - A. E. Lemmon


No dia 3 de novembro, Werner Walcker-Mayer enviava ao editor um artigo de Alfred E. Lemmon de título "America's First Liturgical Musicians" publicado na revista The American Organist em julho de 1981, em tradução alemã que tinha mandado fazer, juntamente com uma carta a aquele pesquisador. Nessa carta, referia-se à sua participação no Simpósio realizado no Brasil e à conferência que tinha proferido, na qual tratara exatamente dos problemas também mencionados por Lemmon. Citava e qualificava como gratificante a experiência de ter ouvido música sacra brasileira dos diferentes séculos. Recomendava o autor a entrar em contato com o editor e tomar conhecimento de suas pesquisas e publicações, sugerindo um encontro em comum para o prosseguimento das discussões.




Com data de 17 de fevereiro de 1982, Walcker-Mayer informava que recebera nova carta e novo artigo de A. E. Lemmon, agora sobre jesuítas alemães na América do Sul. Pedia que esse texto fosse lido e que fossem feitas sugestões a respeito de uma eventual publicação.




Divulgação no Jornal da Música de São Paulo por Luis Ellmerich


No dia 5 de janeiro de 1982, Walcker-Mayer escrevia dizendo que se faziam sentir repercussões de sua conferência em São Paulo. Enviando carta e artigo de Luís Ellmerich ao editor, baseado fundamentalmente na sua conferência.






Contatos com Portugal: Maria Augusta Alves Barbosa


A correspondência com Walcker-Mayer inclui várias referências à Profa. Dra. Maria Augusta Alves Barbosa, então em fase de instalação do Departamento de Ciências Musicais da Universidade Nova de Lisboa. (Veja) Em carta de 14 de abrild e 1982,  o editor comunicava ter falado pessoalmente com a pesquisadora a respeito dos vários projetos de intensificação das relações com Portugal em questões referentes ao órgão e visitado o Departamento. Essa visita era decorrente do fato de ter sido convidado por ela para ali assumir cadeira de Etnomusicologia.


Carta de José Carlos Barboza de Oliveira da Fundação Roberto Marinho


No dia 28 de julho de 1982, W. Walcker-Mayer enviava ao editor publicação recebida de José Carlos Barboza de Oliveira do Rio de Janeiro, com as informações solicitadas a respeito da Fundação Roberto Marinho, tendo-se em vista o projeto sugerido por R. Hermann.




Conhecimento de atividades no Brasil


Essa carta apenas pode ser respondida a 10 de outubro devido ao fato do editor encontrar-se em viagem no Brasil e ter estado por demais ocupado com a realização da Semana de Música Teuto-Brasileira em Leichlingen. Comunicava-lhe ter visitado regiões mais distantes, entre outras no Mato Grosso e em Rondônia. Estivera em Brasília e sobrevoara as cataratas do Iguaçú, as obras da represa de Itaipú e as Sete Quedas, que então iriam desaparecer. (Veja) Em São Paulo tomara parte na assembléia da Sociedade Brasileira de Musicologia, em cuja fundação Walcker-Mayer tomara parte em São Paulo, em 1981.






Matéria elaborada por membros do ISMPS, revista e traduzida em versão modificada por

Antonio Alexandre Bispo



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Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. (ed.). "Importação, manutenção e construção de órgãos no Brasil. Implicações econômicas e patrimoniais de reformas eclesiais".
Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 149/12 (2014:3). http://revista.brasil-europa.eu/149/Construcao-de-orgaos.html