Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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S.Luis do Paraitinga. Foto A.A.Bispo 2007. Copyright


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S.Luis do Paraitinga. Foto A.A.Bispo 2007. Copyright


Fotos do evento - Movimento Coral da Secretaria de Cultura do Estado; fotos na coluna lateral: A.A.Bispo 2007 ©Arquivo A.B.E.

 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 149/5 (2014:3)
Editor: Prof. Dr. A.A.Bispo, Universidade de Colonia
Direção administrativa: Dr. H. Hülskath

Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Academia Brasil-Europa
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2014 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 3102



Música sacra do tempo colonial e a processualidade do Colonialismo
Focalizando anônimos do Vale do Paraíba e André da Silva Gomes
Impulsos para o presente de festa do Espírito Santo em São Luís do Paraitinga (1981)




Este texto deve ser compreendido à luz do escopo geral dos trabalhos divulgados na Revista Brasil-Europa do corrente ano. Estes são voltados a balanços e revisões de caminhos, a reconscientizações de objetivos e a análises do programa de interações que teve o seu início em 1974. (Veja)


Esses números da Revista consideram sobretudo decorrências das décadas de 70 e 80 do século passado, caídas no esquecimento ou desconhecidas. Procuram contribuir a reaprumos, ao reconhecimento de possíveis desvios e a que se evitem repetições de idéias, projetos e iniciativas de um desenvolvimento da história recente que já é há muito marcado por interações internacionais.



 

O acento dado à opção pelos pobres e a crítica a um sistema econômico que leva a problemas sociais e à violência que se constatam em pronunciamentos e textos no atual Pontificado relacionam-se estreitamente com questões teórico-culturais, algumas explícitas nos documentos, outras que devem ser analisadas pelos pesquisadores nos posicionamentos e explanações eclesiais. (Veja)


Entre estas últimas, uma surge como de fundamental importância: os elos entre os problemas sociais da atualidade apontados nos documentos e o processo histórico desencadeado já à época do Descobrimento, entre êles o Colonialismo, a expansão cristã com a chegada dos europeus e a Missão.


Por mais que autores - sobretudo aqueles ligados a instituições eclesiais - tenham procurado sempre salientar a diferença entre a colonização européia do Novo Mundo e a Cristianização, a pesquisa historiográfica não deixa dúvidas a respeito dos estreitos vinculos aqui existentes apesar das necessárias diferenciações que devam ser reconhecidas na atuação dos missionários em defesa dos indígenas, oprimidos, pobres e desprivilegiados e as ações de conquistadores, exploradores e colonizadores.


A própria auto-consciência desses europeus quanto à legitimidade de suas ações fundamentou-se no mandato de missão do Novo Testamento, supondo-se à época tratar-se de uma renovação da Evangelização supostamente já realizada pelos Apóstolos. Consideravam-se cristãos, católicos muitas vezes convictos e fervorosos apesar das injustiças e atrocidades que em muitos casos cometiam. Levantaram igrejas nas suas cidades que se tornaram centros religiosos e culturais, algumas de excelência arquitetônica e artística, com formas de culto que procuravam seguir normas de perfeição européias.


Não há, portanto, possibilidades de evitar-se a retomada do debate concernente aos elos entre o processo colonial iniciado com os Descobrimentos e a Evangelização, exigindo-se assim também da parte eclesial auto-crítica quanto aos procedimentos de expansão cristã do passado, à atuação de cristãos no mundo extra-europeu, a métodos missionários e suas fundamentações quando Roma procura hoje - e com razão - dirigir prioritariamente a atenção aos desfavorecidos.


Esse debate não começa do zero, e a consideração dos argumentos e das reflexões de décadas é necessária para o seu prosseguimento refletido e eficaz. É significativo aqui relembrar uma iniciativa de renovação na visão histórica da cultura, das artes e da música do período colonial no Brasil através de um direcionamento da atenção a processos e que se processou em época marcada por intentos renovadores no espírito do Concílio Vaticano II.


Essa iniciativa inseriu-se no contexto mais amplo da renovação de disciplinas culturais iniciada em meados da década de 60 e que, reconhecendo os problemas da categorização de objetos de estudos e esferas culturais na definição de disciplinas, levou à constituição, em São Paulo, em 1968, de uma sociedade voltada ao estudo de processos culturais e correspondentemente a uma prática cultural refletida (Nova Difusão).


Um dos primeiros grandes eventos desse movimento foi o da realização de um Festival de Música Barroca em 1970 e que, acompanhado por estudos e conferências, teve como escopo trazer à consciência as inserções dos desenvolvimentos histórico-musicais do passado brasileiro em processos globais e os problemas de categorizações resultantes do transplante de periodizações da história política na análise histórico-cultural.


Constatava-se a situação singular e mesmo paradoxal da coexistência de visões positivas e mesmo supravalorizadoras da arquitetura, da arte e da música do período colonial em atitudes quase que nostálgicas e de posicionamentos políticos e político-sociais críticos em consciência de emancipação e libertação.


A expressão "música colonial" e congêneres, sugerindo uma categorização - ou essencialização - do objeto de estudo, punha obstáculos à compreensão das expressões músico-culturais como integrantes de uma processualidade que não encerrou-se com a elevação do Brasil a Reino Unido ou com a Independência. Os estreitos elos da vida musical com processos econômicos e de expansão nas suas relações com desenvolvimentos europeus foram demonstrados com base em exemplos do Vale do Paraíba, então um dos focos de pesquisas do editor desta revista. (Veja)


A discussão dessa problemática histórico-metodológica e teórico-cultural teve continuidade nos anos seguintes, no Brasil e, a partir de 1975, em centros europeus, quando procurou-se a cooperação internacional no desenvolvimento de um programa de renovação de perspectivas de disciplinas culturais preparado com base nos conhecimentos ganhos no Brasil. (Veja)


Tratando-se sobretudo de música sacra no patrimônio cultural brasileiro considerado, compreende-se que as preocupações tenham adquirido uma especial relevância no âmbito de movimentos e iniciativas relacionados com a reforma litúrgico-musical da segunda metade da década de 70.


O desenvolvimento sob Paulo VI das reformas desencadeadas pelo Concílio, despertando em muitos músicos, intelectuais e teólogos receios de perda da herança sacro-musical latina da Europa, levou a que as atenções reformadoras preconizadas fossem dirigidas sobretudo ao mundo extra-europeu.


Aqui partia-se desde Simpósio realizado em Roma, em 1976, sobretudo de concepções marcadas por uma visão que partia de culturas não-cristãs como objeto de cristianização, sem atentar suficientemente ao fato de que o processo de transformação cultural através de ações cristianizadoras de séculos já tinha levado a expressões resultantes das interações.


A situação grave de mal-entendidos aqui resultante tornou-se evidente no Congresso Internacional de Música Sacra realizado em Bonn e Colonia em 1979, no qual participaram vários brasileiros. (Veja) Reconheceu-se aqui a necessidade de trazer à consciência dos pesquisadores  a complexidade de processos históricos de extensão européia e de transformação cultural de culturas indígenas iniciados no século XVI e o patrimônio diversificado desde então surgido e que não poderia ser desconsiderado. O enfoque etnomusicológico não poderia deixar de considerar o desenvolvimento histórico - e o histórico a aproximação etnomusicológica - na análise do passado e do presente de regiões de continentes alcançados pelos europeus, e isso valia sobretudo para a América Latina.


Compreende-se, assim, que problemas da música sacra e das tradições culturais de sentido religioso nas suas relações com o Colonialismo ocupassem o primeiro lugar na programação do

Simpósio Internacional "Música Sacra e Cultura Brasileira" levado a efeito em São Paulo, em 1981.


Abrindo os trabalhos efetivos do evento, a jornada dedicada à "música sacra no tempo colonial" devia demonstrar continuidades, vigências de expressões tradicionais e a consequente incoerência resultante da exclusão de obras criadas no passado em contexto cultural que mantinha tais tradições. Com isso, relativava-se o próprio tema do evento, trazendo-se à luz que não se tratava de música e de tradições de uma época encerrada de remoto passado, mas sim de expressões de processos ainda vigentes.


Sentidos da escolha de São Luís do Paraitinga para o primeiro dia do Simpósio


Essa jornada de estudos realizou-se não na cidade São Paulo, onde dera-se a inauguração do evento no dia anterior, mas sim em São Luís do Paraitinga. Com isso, retomavam-se trabalhos que tinham levado à realização do evento de 1970, no qual executara-se obra procedente dessa cidade do Vale do Paraíba.


Para essa jornada foram transferidos muitas centenas de participantes brasileiros e toda a delegação de estrangeiros, e a continuidade dos eventos no próprio dia na capital apenas pôde ser realizada por meio de helicópteros. Já essas menções indicam as dificuldades que tiveram de ser superadas e o planejamento que se tornou necessário para a efetivação desse dia da programação.


As próprias atividades locais exigiram frequentes viagens e estadias de mediadores e ensaiadores de São Paulo para o estabelecimento de contatos e para o auxílio na preparação de atos de culto, de grupos de música e dança populares, de cortejos e outras atividades festivas. Isso sem falar na troca de correspondência entre o editor como iniciador da programação na Europa e os protagonistas locais para o esclarecimento de intenções no pensar em conjunto. Personalidade-chave na realização local do evento foi o Pe. Tarcísio de Castro Moura que, conhecendo profundamente a comunidade e suas expressões, preparou-a para o dia festivo e possibilitou a grande concorrência e participação popular. No ano seguinte, a esse sacerdote seria outorgado o título de Monsenhor pelo Papa João Paulo II. A cidade de São Luís do Paraitinga guardou através das décadas a sua memória como uma das mais significativas personalidades locais.


Todo esse empenho demonstra a importância que se concedeu a esse dia de abertura do simpósio. A escolha da temática colonial não foi apenas resultado de um procedimento histórico-cronológico na ordenação do programa e a decisão de abrir-se o evento internacional não na capital mas numa pequena localidade tradicional do interior não foi um capricho, nem arbitrária foi a escolha de São Luís do Paraitinga.



Os principais intentos que orientaram essa decisão foram:


Do ponto de vista teológico, a atenção foi dirigida à concepção do Espírito Santo como agente de processos, de movimentação ascensional. Esta foi uma orientação que marcou não apenas a escolha de textos e composições para a missa e a pregação, como também a preparação das expressões culturais tradicionais. Justificava-se essa orientação da programação pela importância cultural das expressões tradicionais do culto ao Espírito Santo em São Luís do Paraitinga


Assim, o dia foi aberto às 6:00 horas da manhã como uma Alvorada Festiva, com repicar de sinos e foguetório, nela participando Foliões do Divino e a Congada de Cotia. Às 7:00 horas, seguiu-se um ato de adoração do Divino Espírito Santo no Império. Essa prática - e a tradição dos Impérios - devia trazer à luz os estreitos elos da cultura local com expressões do Catolicismo português, em particular ainda vigentes no mundo insular dos Açores.


Às 9:00 horas, seguiram-se atos que demonstravam que essas expressões possuiam um significado patrimonial equiparável àquele arquitetônico, então exemplificado no tombamento do prédio da Prefeitura da cidade e da Capela de Nossa Senhora das Mercês.


Esses atos foram emoldurados festivamente por grupos de Danças de Fitas, Moçambique e Congada, que por fim se integraram numa procissão do Divino que, percorrendo as ruas da cidade, se dirigiu à igreja.


A missa festiva e Te Deum, celebrada pelo presidente da organização pontifícia de música sacra e do Pontificio Istituto di Musica Sacra (Roma), teve como orador o Cônego Tarcisio de Castro Moura, este também responsável pela preparação teológica local do evento.


A missa foi configurada musicalmente pelo Coral do Estado de São Paulo e Orquestra São Paulo Pró Música sob a regência de Jonas Christensen e que executaram duas obras de André da Silva Gomes (1752-1844), primeiro mestre-capela da Sé de São Paulo: Kyrie e Gloria da Missa em Sol Maior e os Motetos da Imaculada (1785).


A inclusão dessas obras de músico português que exerceu o cargo de mestre-capela da Sé de São Paulo, ali atuando também após a Independência, servia para trazer à consciência a continuidade de repertórios, práticas e atuações de músicos, evidenciando a artificialidade de distinções por demais placativas resultantes de periodizações da história política.


Mais significativo do ponto de vista teórico-cultural foi o Te Deum de autor anônimo, uma vez que provinha da própria região. Essa composição, revelada em pesquisas do editor em fins da década de sessenta, realizadas no âmbito dos trabalhos do Centro de Pesquisas em Musicologia da Sociedade Nova Difusão, havia trazido à luz características composicionais até então não consideradas de um repertório que apresenta traços de atividade criativa de músicos de domínio técnico relativamente limitado, de linguagem musical próxima ao pré-classíco, sem, porém, indicar assimilações imediatas.


A apresentação dessa obra, - considerada nesses seus aspectos à luz do significado da missão para o desenvolvimento histórico-musical em dimensões globais documentado pela Encíclica Annus qui -, teve o sentido de fomentar a discussão sobre a possibilidade de desenvolvimento ou de difusão de práticas composicionais surgidas a partir de atividades e métodos missionários, ou seja de processos receptivos internos no continente. Este tema deveria ser, nos anos posteriores, tratado sob diversos aspectos em eventos, cursos e publicações.



Após a missa, à porta da igreja, procedeu-se então ao ato simbólico da "coroação do rei Congo" pelo presidente da organização pontifícia de música sacra. Esse ato, único pelo fato de ter sido efetuado por autoridade eclesiástica, teólogo e especialista em questões teológico-culturais, representou o reconhecimento de sentidos de uma expressão tradicional que não apenas não tinha sido compreendida por muitos párocos e religiosos, que em alguns casos chegaram a impedir a sua realização, mas sim também por folcloristas e etnomusicológos.


O ato apenas pôde ser realizado a partir de estudos que foram desenvolvidos pelo editor em anos precedentes e que revelaram que essas expressões tradicionais pertencem inquestionavelmente ao repertório de tradições cristãs européias e que possuem sentido simbólico que deve ser compreendido adequadamente.


A principal razão da inclusão desse ato foi o de trazer à consciência os êrros de interpretação concernentes a essa expressão tradicional - e outras similares - na literatura, em particular na etnomusicológica, cujos autores, partindo da cor de pele dos protagonistas, postulam uma origem africana no sentido indiferenciado do termo, supondo tratar-se de uma extensão no Brasil de práticas autóctones da África.


Mantendo a característica geral da jornada festiva na sua orientação teológica segundo o Espírito Santo, realizou-se, às 12:00 horas, um "Afogado" no mercado da cidade. Essa tradição mereceu considerações a respeito do simbolismo da carne em expressões relacionadas com o Espírito Santo. Essa simbólica, que naturalmente deveria ser compreendida no sentido transcendente ou metafórico do termo, relacionado com a concepção do homem carnal da Antropologia cristã, assumiu infelizmente no decorrer do tempo interpretações por demais superficiais e questionáveis expressões materiais relacionadas com o gado e outros animais, assim como com o consumo da carne.


Para as 13 horas, previu-se a realização de uma das tradições que com mais evidência demonstra correntes de difusão do repertório lúdico-festivo da Idade Média de conteúdos simbólicos: a Cavalhada.


Em súmula, reconsiderando-se o evento dedicado a reflexões sobre o tratamento adequado de questões músico-culturais na formação colonial do Brasil, deve-se salientar os seguintes pontos:


  1. -Retomou-se, com essa jornada, um debate que marcou desde o início o movimento de renovação de perspectivas culturais através de uma orientação da atenção a processos (Nova Difusão, 1968), estabelecendo-se uma ponte com a temática já formulada no Festival de Música Barroca realizado em 1970 por esse movimento e o Departamento de Cultura de São Paulo.

  2. -O evento procurou trazer à consciência dos participantes de forma mais imediatamente perceptível e vivenciável os problemas resultantes de um pensamento orientado segundo periodizações da história política e que se manifesta em expressões como "música sacra no Brasil do tempo colonial"  ou mais simplesmente "música colonial". Essas expressões e congêneres não são adequadas para análises culturais, pois não consideram suficientemente o caráter processual do Colonialismo.

  3. -Em consequência, o evento procurou demonstrar que a superação desse pensar em compartimentos temporais é pressuposto para o estudo mais diferenciado de linhas de continuidade, permanências e tradições, assim como de descontinuidades, mudanças e inovações.

  4. -A escolha de uma pequena cidade do Vale do Paraíba ainda marcada pelo cultivo de tradições já conhecidas de fontes de remoto passado e que à época da decadência econômica no século XIX e XX manteve repertórios e práticas do século XVIII justificou-se por favorecer a percepção de continuidades em processos culturais que ultrapassam marcos estabelecidos pela periodização segundo datas da história política.

  5. -O evento procurou também trazer à consciência dos participantes de forma mais imediatamente perceptível e vivenciável que um pensamento marcado pela distinção de esferas do erudito e do popular não é adequado para a análise de complexos culturais determinados pela formação colonial do Brasil, sendo também aqui necessário um direcionamento da atenção a processos.

  6. -A artificialidade de distinções entre o erudito, o folclórico e o popular, ainda mais se projetadas em remoto passado, manifesta-se de forma mais evidente no contexto cultural de uma pequena localidade ainda marcada pela vida religiosa e por um complexo cultural caracterizado por integralidade, por unidade e diversidade. Aqui, onde pelas próprias dimensões da sociedade exige-se união de forças disponíveis, categorizações distintivas adequadas seriam antes aquelas do litúrgico, do para-litúrgico e de expressões lúdicas de festas, sendo também pertinentes aquelas que distinguem atos de adoração daqueles de veneração, de culto dúlico ou hiperdúlico. As próprias relações dessas distinções com aquelas do sagrado e do profano surgem como objeto de estudos mais diferenciados sob a perspectiva de suas transformações no decorrer do tempo e a perspectiva teológica e confessional.

  7. -No contexto de uma cidade pequena e tradicional, poder-se-ia constatar a necessidade de consideração de obras e expressões que se situavam entre-esferas, ultrapassando ou não respeitando supostas fronteiras entre o artístico e o popular.

  8. -A jornada de São Luís do Paraitinga procurou trazer à consciência dos participantes de forma mais imediatamente perceptível e vivenciável as dimensões do tema Unidade na Diversidade e Diversidade na Unidade. A constatação de que as múltiplas expressões lúdicas tradicionais, "folclóricas" se inserem num todo, numa lógica determinada pelos sentidos do ciclo religioso nas suas relações com o natural (do Hemisfério norte) e que são ao mesmo tempo na sua diversidade indispensáveis como manifestações dessa unidade, deveria despertar a sensibilidade para que o mesmo podia ser dito para as múltiplas manifestações no tempo da música litúrgica, de todas as épocas e estilos. Ao mesmo tempo, essa vivência da Unidade na Diversidade e Diversidade na Unidade deveria trazer à consciência a necessidade de uma consideração teórica mais aprofundada desse lema frequentemente utilizado no Catolicismo. Abria-se, assim, uma discussão sôbre o assunto que teria continuidade nos anos seguintes no âmbito de debates críticos sôbre o "monopluralismo" que seriam tematizados novamente pelo editor no âmbito do Colóquio Internacional de Influências Recíprocas entre a Europa e a América Latina realizado em 1983 e 1984 por organizações da Comunidade Européia.


A consideração da jornada dedicada à problemática colonial terá prosseguimento em textos a serem publicados em outras edições desta revista.


Matéria elaborada por membros do ISMPS, revista e traduzida em versão modificada por

Antonio Alexandre Bispo






Todos os direitos reservados. Reproduções apenas com a autorização explícita do editor.

Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. (ed.). "Música sacra do tempo colonial e a processualidade do Colonialismo
Focalizando anônimos do Vale do Paraíba e André da Silva Gomes. Impulsos para o presente de festa do Espírito Santo em São Luís do Paraitinga (1981)".
Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 149/5 (2014:3). http://revista.brasil-europa.eu/149/Musical-colonial-e-Colonialismo.html