Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Foto do título: Pietà em Werl, Vestfália.
A.A.Bispo 2014 ©Arquivo A.B.E..
Fotos antigas:  P. C. Espey, op.cit.

 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 151/6 (2014:5)
Editor: Prof. Dr. A.A.Bispo, Universidade de Colonia
Direção administrativa: Dr. H. Hülskath

Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Academia Brasil-Europa
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2014 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


Doc. N° 3133



Ibirubá (Rio Grande do Sul)


Exemplaridades do passado latino-americano na restauração franciscana no Alto Jacuí
S. Francisco Solano (1549-1610) e o culto a Nossa Senhora das Dores em Soledade



 

Os trabalhos do corrente ano da A.B.E. relativos à imigração alemã e que preparam o seu bi-centenário dentro de dez anos, motivaram também um balanço dos estudos culturais euro-brasileiros desenvolvidos nas últimas décadas referentes à imigração alemã ao Rio Grande do Sul.


Estudos da imigração e colonização que há muito vêm sendo desenvolvidos em vários contextos, são marcados por distintas aproximações, perspectivas e métodos; na orientação que determina os trabalhos da A.B.E., a atenção é dirigida a processos e processualidades, superando categorizações de esferas culturais que marcaram a distinção de disciplinas culturais, tanto empíricas como históricas ou sistemáticas.


Os estudos nessa orientação, remontando aos anos 60 do século XX, levaram a viagens de estudos, a encontros e a eventos, no Brasil e na Alemanha, podendo-se aqui salientar o forum teuto-brasileiro e semana de música levados a efeito na Alemanha em 1981, cuja edição de 1983 foi dedicada à renovação dos estudos da imigração nas suas relações com os estudos transatlânticos e interamericanos pelos 300 anos da emigração alemã à América e pelas novas condições criadas pelo processo de aproximação e integração européia. (Veja)


Também deve-se salientar, entre outros eventos, o Forum Rio Grande do Sul realizado em Gramado, Nova Petrópolis e São Leopoldo na abertura do congresso de encerramento do triênio de eventos científico-culturais pelos 500 anos do Brasil e entrada do terceiro Milênio, e no qual foram tratadas questões relacionadas com o conceito de pós-colonialismo em regiões de passado colonial imigratório, em particular alemão. (Veja)


Em ano da passagem dos cem anos da eclosão da Primeira Guerra Mundial, tornou-se oportuno agora dirigir a atenção sobretudo a regiões coloniais que surgiram ou que tiveram o seu maior desenvolvimento nos anos que se seguiram ao término da hecatombe que destruiu a antiga ordem européia.


A Guerra modificou de forma determinante as relações entre a Alemanha e o Brasil, o movimento migratório e a vida das comunidades alemãs no Brasil. Se levou a profundas crises nos países vencidos, causando novas emigrações, condicionou a novos desenvolvimentos de alemães e seus descendentes entregues às próprias forças no Brasil, o que torna compreensível a intensificação de empreendimentos teuto-brasileiros, colocando-os em posição privilegiada relativamente à Alemanha depauperada e em crise política e social dos anos posteriores à Guerra. (Veja)


Os imigrantes que então vieram para as novas colonias traziam outros pressupostos, estavam marcados pela experiência da Guerra e a queda da antiga ordem. Se a antigas colonias, na sua origem, referenciavam-se segundo fatos e desenvolvimentos do século XIX, estando em muitos casos ainda marcadas por uma imagem histórica do Império fundado com a vitória na Guerra Franco-Prussiana de 1871, os novos imigrantes traziam a marca traumática das trágicas decorrências da Guerra.


Pressupostos dos elos do Alto Jacuí com os Franciscanos alemães - Alfons (J.) Junges


Entre as localidades que devem ser consideradas, uma relevância particular cabe à atual Ibirubá e região da qual é polo. Esse significado explica-se pelo fato de ser essa cidade a primeira do Rio Grande do Sul na qual se assentaram os Franciscanos alemães que vieram da Província Franciscana da Saxônia com o objetivo de reconstruir a vida conventual no Brasil, revitalizar a vida religiosa e a moral que sentiam como decadente, combater o secularismo e o que compreendiam como consequências da já remota época do Iluminismo.


Se embora a situação política ao início da ação franciscana no Alto Jacuí era completamente outra daquela da „luta cultural“ do século XIX à época posterior à Guerra, os religiosos mantinham a orientação que determinara a sua vinda como missionários. Possuiam, porém, agora, experiência ganha em outras regiões, em particular nas fundações em Santa Catarina, então já em florescimento e possuidoras de instituições de ensino de renome. Entre essas, a principal era o colégio de Blumenau.


A atuação dos Franciscanos e de suas instituições em pleno desenvolvimento, das grandes igrejas, conventos e escolas que levantaram era assim já de conhecimento nos meios coloniais. Sob Pio X, os ideais de reforma restaurativa do Catolicismo generalizaram-se, levando a um apreço amplo das atividades dos Franciscanos alemães, de seus intuitos, modos de procedimento e ação, assim como de seus sucessos na revitalização da vida religiosa e no fomento da moral consuetudinária nas regiões em que atuavam.


Compreende-se, assim, que o fascínio despertado pelos Franciscanos tenha alcançado o pároco do Alto Jacuí, a atual Ibirubá, então pertencente à Diocese de Santa Maria, José Junges, que teve o desejo de entrar para a Ordem, desempenhando grandes esforços em consegui-lo e trazer os Franciscanos para a sua comunidade.


As circunstâncias do início do Franciscanismo renovado no Alto Jacuí demonstram que o labor em outras partes do Brasil tinha sido registrada mesmo em regiões afastadas do Rio Grande do Sul. Já em Santa Catarina a vinda dos Franciscanos alemães despertara desde o início expectativas de padres que procuravam auxilios e substitutos. No caso do Alto Jacuí, porém, tratou-se pelo que tudo indica não só de interesses pragmáticos, mas sim e sobretudo de formação religiosa renovada no sentido do Catolicismo alemão segundo a tradição, a espiritualidade franciscana e os ideais restauradores litúrgicos da época.


A história de vida do pároco do Alto Jacuí indica que o conhecimento da presença e das atividades dos Franciscanos alemães em outras partes do Brasil despertava também desejos de aproximação de católicos descendentes de alemães que seguiam ou tinham a intenção de entrar na vida religiosa. Tratava-se aqui, assim, de questões de conscientização de história familiar e de formação cultural marcada por elos com a Alemanha em regiões coloniais.


Sociedade que parecia exigir reintensificação religiosa e reformas moralizantes


A localidade a que servia existia apenas há ca. de 30 anos, e a sua população era constituída por brasileiros, italianos e alemães. Antes da chegada dos portugueses e brasileiros de outras partes do Rio Grande do Sul, a região havia sido habitada por indígenas, sobretudo pelos Kaingangs, conhecidos como Coroados.


Essa fase mais remota da história local leva à época da missionação jesuítica indígena por missionários jesuítas espanhóis a partir do Paraguai. Ao lado de índios cristianizados e jesuitas, também escravos destes últimos teriam composto o antigo fundo populacional do Alto Jacuí. Com a aquisição de terras por uma companhia de colonização (Dias e Fagundes), deu-se, em 1899, a fundação da atual Ibirubá. Famílias de pioneiros marcaram a história e marcam hoje a memória da região, entre elas destaca-se a que remonta a Carl Krames.


O centro da colonização foi chamado de Barão de São Jacob, designação mudada para General Osório, permanecendo assim conhecida até 1938, quando seria redenominada de General Câmara. O atual e recente nome, Ibirubá, associa-se com a pitangueira, pelo fato de ser uma árvore em crescente crescimento. Nesse nome pode-se ver um indício de uma consciência da comunidade, que se compreende em intenso, constante e persistente desenvolvimento.


Esse ethos de uma sociedade marcada por diversidade de origem de seus grupos e impregnada de anelos de progresso material e de desenvolvimento econômico de colonos que procuravam a sua sorte na região em expansão parece explicar a necessidade vista pelo Pe. José Junges de uma reforma de base da sociedade, de recuperação da religiosidade, de defesa da moral consuetudinária e da formação de novas gerações acostumadas à frequência à igreja.


José Junges em Rodeio durante a Guerra e estabelecimento franciscano no Alto Jacuí


Ao deflagar a  Primeira Guerra Mundial, José Junges sentiu-se atraído pela vida conventual, entrando para o noviciado da Província Franciscana em Rodeio em 1916, quando adotou o nome de Alfons ou Afonso.


Sem esquecer a paróquia de onde viera, empenhou-se junto à direção da Província para que esta assumisse a direção espiritual do Alto Jací. Esse desejo foi realizado ao término da Guerra, em 1918, quando foram enviados para a cidade os padres Bruno Linden e Bonaventura Klemmer. O primeiro passou a atuar como pároco, ministério que exerceu até 1925, o segundo como reitor do colégio e superior da residência.


Esses Franciscanos estabeleceram uma residência em Alto Jacuí, habitando provisoriamente uma pequena casa de madeira. A fotografia da capela divulgada na Alemanha pela obra do Pe. Cletus Espey demonstra uma construção modesta de tábuas, com varanda à porta central de entrada, abaixo da pequena torre de sino, com trepadeiras e cercada de cerca de madeira, manifestando não só a simplicidade e a modéstia do modo de comportamento, de vida e de atuação dos Franciscanos, mas também o seu intento de procurar o ambiente de vida da população mais simples, como em geral nas suas novas fundações. (Festschrift zum Silberjubiläum der Wiedererrichtung der Provinz von der Unbefleckten Empfängnis im Süden Brasiliens 1901-1926, Werl i. Westf. 1929).


Francisco Solano OFM (1549-1610) como modêlo de exemplaridade para Alto Jacuí


Importante sinal da referenciação histórico-cultural e religiosa que os Franciscanos procuraram vivenciar e orientar o seu trabalho no Alto Jacuí foi o fato de dedicarem a sua residência e capela a São Francisco Solano OFM, o patrono das atividades missionárias franciscanas.


A vida, os métodos e a exemplaridade desse religioso estavam no centro das atenções dos Franciscanos alemães na época, o que testemunham publicações então surgidas e muito divulgadas, como a dos frades Hinge e Melanius editada em Viena, em 1877 (Der heilige Franziskus Solanus, Missionär des Franziskaner-Ordens, Apostel von Peru. Dargestellt in seinem Leben und Wirken, Viena: Keiß & Ph. Löb, 1877) e, mais recentemente, precedendo a fundação no Alto Jacuí, a do P. Gutbert Groeteken OFM, de 1912 (Der heilige Franziskus Solanus, Apostel von Peru und Tucuman, Trier 1912 = Aus allen Zonen: Bilder aus den Missionen der Franziskaner in Vergangenheit und Gegenwart).


Com essa dedicação, estabeleceram um modêlo de exemplaridade humana e religiosa para as suas vidas e para a vida da comunidade, inserindo a sua atividade numa história mais antiga da atuação franciscana junto aos índios e à população pobre do continente.


A vida desse missionário espanhol, nascido em família bem situada na Andalusia, surgia como um exemplo de dedicação aos simples e pobres, de uma vida marcada por modéstia e amor à natureza e à música, do cultivo da paz no seu empenho em superação de discórdias e conflitos, a sua modéstia, simplicidade e doçura no comportamento e no falar e, sobretudo, o amor que irradiava de sua personalidade e que dedicava ao próximo, assim como a sua alegria.


Francisco Solano surgia também como significativo para a comunidade, uma vez que também êle, como o pároco Alfons Junges, entrara na Ordem Franciscana após ter vivenciado outras esferas da vida religiosa.


A dedicação a São Francisco Solano colocou o Alto Jacuí em estreito relacionamento com a história religioso-cultural da América ibérica, fato singular no movimento de reconstrução religiosa promovido pelos Franciscanos no Brasil.


A sua história estava indelevelmente marcada pela sua vinda à América do Sul em 1590, tendo como objetivo Lima. O naufrágio que vivenciou e que sobreviveu de modo maravilhoso, serviu como exemplo para exortações no contexto local, atualizando a antiga imagem da viagem da vida, sempre ameaçada pelas tormentas, na qual o homem se salva com esperança e confiança em Deus.


A missão de Francisco Solano, que de início pretendera ir à África, dedicando-se à assistência de escravos africanos durante a sua vinda ao continente americano, passano então a ser dedicada aos indígenas, possuia também cunho de exemplaridade para a situação histórica da formação populacional de Alto Jacuí.


Francisco Solano desenvolvera a sua missão sobretudo a Tucumán e à região do Rio de la Plata. A sua viagem do Peru a essa região, através das Cordilheiras e dos Andes, pelas florestas e campos, correndo riscos de toda a ordem, surgia como similar àquela que emprendiam os missionários alemães que se dirigiam ao Alto Jacui. Sobretudo a tradição de suas viagens missionárias pelo Paraguai, Uruguai e regiões circunvizinhas a caminho da Argentina estabelecia um referência com o Franciscanismo histórico da região.


„Fazer do corpo uma ermida, a alma o seu morador“


A principal exemplaridade de Francisco Solano para os Franciscanos alemães formados no espírito do Catolicismo alemão e em época marcada pelo direcionamento do Concílio Vaticano I residia no fato de ter combatido o modo de vida mundano e de procedimentos de europeus que davam mal exemplo para os indígenas missionados.


Estabelecia-se aqui um paralelo entre uma sociedade voltada a bens materiais e ao luxo do passado de Lima, centro do ouro, assim como em outros locais onde atuou, entre outros em Córdoba, com aquela do presente, demonstrando a necessidade do combate anti-secularizador e da reintensificação da religiosidade em vida marcada por  modéstia. Tendo Francisco Solano dedicado-se à moralização e ao retorno à vida religiosa de ex-navegantes que se assentaram na América, estabelecia-se uma relação de similaridade de imagens com os imigrantes que se fixavam no Alto Jacuí.


Também na sua missão na região do Prata foi marcada pela reconstrução da vida religiosa perdida de indígenas cristianizados devido ao mal exemplo de europeus voltados apenas para o ganho material e que os oprimiam, com vida marcada por exterioridade e lascívia.


A atuação de Francisco Solano na moralização de costumes em Lima e em outras localidades fazia com que se tornasse exemplo dos Franciscanos alemães que combatiam o que compreendiam como decadência moral de uma sociedade secularizada e marcada por ambições e materialismo. O caminho para evitar a cólera divina em sociedade assim corrompida consistia na penitência.


Lauda anima mea Dominum e as aves cantando com as almas


A escolha de Francisco Solano para o Alto Jacui indica também o significado concedido à música na vida religiosa franciscana, uma vez que, tendo sido êle próprio violinista, surgia como modêlo do religioso músico, que colocava a música a serviço do consolo de necessitados e da edificação do próximo.


Segundo a tradição, a sua própria morte foi marcada pelo canto de salmos e pela música de aves. A dedicação do Alto Jacui alcança assim uma relevância no desenvolvimento das atividades franciscanas alemãs no Brasil, uma vez que estas foram fundamentalmente marcadas pelo fomento da renovação restaurativa litúrgico-musical no espírito do Cecilianismo de Ratisbona, em particular pelo cultivo da polifonia a cappella, orientação salientada pelo Motu Proprio de 1903. (Veja)


O seu exemplo explica também a razão pela qual a prática musical franciscana não se limitou à polifonia nessa tradição e ao Gregoriano, mas também incluiu oratórios e obras não-religiosas para fins edificadores.


A história de Francisco Solano trazia também a memória características de expressões franciscanas do culto e de devoções populares, entre elas sobretudo a do presépio no período natalino, a de Jesus flagelado na coluna, a dos mártires Franciscanos no Marroco e da sepultura de Nossa Senhora.


Tendo sido Francisco Solano mestre de noviços, oferecia um exemplo para o colégio instituido no Alto Jacui, no qual jovens deviam ser preparados para frequentar o de Blumenau e posteriormente o do Rio Negro.



Atuação dos Franciscanos alemães em Soledade e a preparação de noviços no Alto Jacuí


A pedido do bispo de Santa Maria, os Franciscanos do Alto Jacuí assumiram também a paróquia vizinha de Soledade. A sua área de atividades era ide extraordinária extensão, compreendendo ca. de 40 capelas e 25 escolas, estas visitadas por ca. de 3000 crianças.


Nesse grande território, as missas eram celebradas não apenas nas capelas, mas também em ca. de 40 ou 50 casas particulares. Essa ação intensa junto aos colonos despertou novas vocações entre os filhos dos imigrantes que, seguindo o caminho dado pelo Pe Junges, pretendiam entrar no noviciado da Ordem.


Tendo sido porém o colégio de Blumenau transferido para o novo de Rio Negro (Veja), muito distante e os colonos sem meios, a Província decidiu criar uma filial do colégio em Alto Jacuí. Concretizou-se, assim, o ideal do Pe. Alfons (José) Junges em fazer da região um centro de vida franciscana. Nessa filial, os filhos de colonos passavam dois anos em prova antes de seguirem para o Colégio de Rio Negro. O seu início deu-se em 1919, quando, na festa da Assunção de Nossa Senhora, foram aceitos nove filhos de alemães como estudantes. (op.cit. 101)


„No dia 15 de agosto de 1919, teve lugar a primeira admissão de noves filhos de colonos alemães, que, mesmo que fossem ainda bem rudes, tinham muito boa vontade e se monstravam desejosos de aprender. O número das comunhões após um ano da vinda dos Franciscanos era de 10 000, subindo até 1925 para 34636, enquanto que as primeiras comunhões subiram de 272 a 466.“ (Festschrift... op.cit.)


Concepções marianas na tradição e na reforma: Nossa Senhora das Dores e Soledade


Em Soledade, os Franciscanos alemães entraram mais de perto em contato com uma cultura religiosa marcada não apenas pelas atividades missionárias dos jesuítas do passado, e que criaram aldeamentos nos anos vinte do século XVII. Na região da cidade atual de Barros Cassal, nos altos do Rio Pardo, ergue-se a redução de São Joaquim, assolada pelos bandeirantes e destruida em 1637. No século XVIII, foi marcada pelas irradiações dos Sete Povos das  Missões,

como também com aquela de „mineiros“ que, nos anos 20 do século XIX provindo de regiões de formação cultural histórica do Brasil dirigiram-se ao sul à procura de minas e possibilidades de ganho.


Essa cultura religiosa era marcada pela devoção mariana, em particular pelo culto a Nossa Senhora do Rosário e a Nossa Senhora das Dores, a primeira sobretudo venerada em grupos populacionais de ascendência africana, a segunda entre portugueses e seus descendentes.


Como resultado de uma promessa, ergueram uma capela a Nossa Senhora no lugar em que não mais tiveram condições de dar continuidade a seu trajeto, dando origem ao povoado. Esse fato, transmitido em tradição que relata a natureza maravilhosa das ocorrências, testemunha o significado do culto mariano na consciência da população.


Nesse fértil local, distante e solitário, ergueram a capela com a designação que faz referências à solidão. A capela de Nossa Senhora da Soledade foi elevada à freguesia em 1857, pertencente à vila de Passo Fundo, à vila em 1875, emancipada de Passo Fundo.


As dimensões transcendentes da solidão é que justificam a designação do local segundo Nossa Senhora da Soledade. Essa forma de veneração hiperdúlica centralizava-se no culto de Maria na sua solidão na Sexta-Feira santa. Correspondia, assim, à antiga veneração de Nossa Senhora das Dores da tradição local e cuja imagem tinha sido trazida pelos „mineiros“ em remoto passado. A designação de Nossa Senhora das Dores segundo Soledad correspondia ao significado dessa devoção entre os Carmelitas e os Franciscanos. O culto, fomentado em Castela do século XVI, marcou em vários contextos as atividades missionárias franciscanas, sendo o seu maior exemplo a Missão Soledad na cidade do mesmo nome na Califórnia.


De ciclos de estudos da A.B.E. sob a direção de

Antonio Alexandre Bispo




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Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. (Ed.). „Ibirubá (Rio Grande do Sul). Exemplaridades do passado latino-americano na restauração franciscana no Alto Jacuí. S. Francisco Solano (1549-1610) e o culto a Nossa Senhora das Dores em Soledade“.
Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 151/6 (2014:5). http://revista.brasil-europa.eu/151/Ibiruba.html