Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Hallein. Foto A.A.Bispo 2014 ©Arquivo A.B.E..

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Hallein. Foto A.A.Bispo 2014 ©Arquivo A.B.E..

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Hallein. Foto A.A.Bispo 2014 ©Arquivo A.B.E..

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Fotos A.A.Bispo 2014 ©Arquivo A.B.E..

 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 152/13 (2014:6)
Editor: Prof. Dr. A.A.Bispo, Universidade de Colonia
Direção administrativa: Dr. H. Hülskath

Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Academia Brasil-Europa
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2014 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


Doc. N°3151



Noite Feliz - Stille Nacht, heilige Nacht

Modéstia como princípio filosófico e humano
no pesquisador, no regente, no educador e como objeto de ensino
no Brasil e no mundo de língua alemã
Martin Braunwieser (1901-1991) em Hallein


Hallein-Leichlingen-Pedro de Toledo (SP)

 
Hallein. Foto A.A.Bispo 2014 ©Arquivo A.B.E..

Poucas cidades são tão marcadas musicalmente pelo Natal do que a austríaca Hallein, localidade da região de Salzburg. Esse significado deriva do fato de ter sido principal centro de atividades e local de falecimento do compositor da mais conhecida e difundida canção de Natal, a „Noite Feliz“ (Stille Nacht, heilige Nacht), Franz Xaver Gruber (1787-1863). A cidade é sede do „Museu Noite Feliz“ (Stille-Nacht-Museum), visitado pela A.B.E. no corrente ano de 2014.

A melodia foi criada em 1818 na casa da escola de Arnsdorf (Lamprechtshausen) pelo padre Joseph Mohr (1792-1848) em Mariapfarr no Lungau, em 1816. Este era coadjutor da igreja de S. Nicolau em Oberndorf, localidade próxima de Salzburg, cujo antigo centro era Laufen, hoje bávara e onde viviam principalmente barqueiros do rio Salzach.

Franz Gruber, nascido em família de tecelões de linho em Hochburg, êle próprio tecelão, era professor na escola de Oberndorf, onde atuava como organista. Mohr pediu a esse professor que colocasse a poesia por êle criada em música, para duas vozes, coro e acompanhamento de guitarra. No Natal de 1818, foi cantada pela primeira vez na noite de  Natal nessa igreja de S. Nicolau - Mohr na voz superior, acompanhando-se a si próprio, Gruber cantando o baixo.

Já essas menções sumárias indicam a modéstia de origem e de vida do compositor da „Stille Nacht“, as condições simples de comunidade em que a canção foi criada e executada, e as relações entre o ensino nas escolas e a origem da melodia natalina que se tornou emblemática mundialmente.

Essa modéstia que se depreende da história da famosa canção corresponde de modo significativo ao conteúdo do mistério da Natividade, quando as atenções são dirigidas, - em perspectiva teológica -, ao nascimento, no passado, do Logos ou da Sabedoria na Humanidade não espiritualizada, carnal, dirigida à matéria.



 ©Arquivo A.B.E..

Elos da região da „Noite Feliz“ com o Brasil

Os elos dessa região de surgimento da „Noite Feliz“, em particular de Hallein com o Brasil são singularmente estreitos, e esse fato não decorre somente da difusão da canção no país.

Nascido em Salzburg, ali também atuou Martin Braunwieser (1901-1991), que mais tarde desempenharia intensas atividades como professor, músico, regente, compositor e pesquisador no Brasil.

Jovem instrumentista, foi ali que, adiantado na sua formação no Mozarteum, apresentou-se em concertos de música de câmara, primeiramente substituindo o violista Georg Dust. Numa quarta-feira, dia 24 de março de 1920, às 20:OO horas, M. Braunwieser tomou parte do Streichquartett Hofbauer, constituído por Leopold Hofbauer, Alexander Vogel (violinos), Rudolf Schock (violoncelo) em concerto promovido pela Volksbildungsverein Hallein no teatro municipal da cidade. O programa constou de obras de J. Haydn (Quateto op. 76 N° 2 em ré menor); F. Schubert (Quarteto op. 29 em lá menor); W. A. Mozart (Quarteto em mi bemol maior) e F. Schubert ( Vier deutsche Tänze mit Coda).

Martin Braunwieser voltou a participar em outros concertos do Quarteto de Cordas Hofbauer. Assim, esse quarteto, contando também com a apresentação do Dr. Martin Hummel no violoncelo, apresentou-se a 21 de abril de 1920 pela Volksbildungsverein St. Johann im Pongau.(A.A.Bispo, Martin Braunwieser (...) Ein Beitrag zum österreichischen und deutschen Einfluss auf die Musik Brasiliens des 20. Jahrhunderts, Musices Aptatio/Jahrbuch 1991, Roma/Colonia 1991, 30)

Uma formação de caráter sob o signo da modéstia

Tendo procurado sempre apagar-se na modéstia que o caracterizava e regia a sua vida, não auto-projetando-se e impondo-se, dedicando-se às crianças e mesmo adaptando a sua obra composicional às necessidades de ensino infantil, em detrimento de suas ambições de alta qualidade estético-musical avançada da juventude, Martin Braunwieser teria ficado esquecido na história da música e do ensino no Brasil se não fosse a contínua lembrança de seu nome nos estudos euro-brasileiros.

Como lembrado em visita ao Museu Stille Nacht em Hallein, esse empenho justifica-se, entre muitas outras razões, talvez principalmente pelo exemplo humano que estatuiu de modéstia nos vários campos de atividades, em especial no ensino.

É nesse sentido que o seu exemplo adquire constante atualidade. Com a sua atitude de vida e de procedimento constituiu um contraste com muitas outras personalidades da vida musical e sobretudo do ensino e da formação de professores de música no Brasil.

Braunwieser procurou, com essa modéstia, implantar um outro espírito no Canto Orfeônico que determinou o ensino musical no Brasil por décadas e no movimento coral dele em parte derivado. Apesar de muitos de seus aspectos positivos, a formação de professores de Canto Orfeônico teve também resultados questionáveis do ponto de vista da formação humana de professores e regentes.

Formados sem a necessária compenetração e trabalho de anos que se exigia de instrumentistas, professores-maestros e maestrinas, colocados em posição de liderança, desenvolveram em muitos casos excessiva e injustificada consciência de si, à falta de auto-crítica e a atitudes de arrogância e mesmo insolência.

As relações humanas e profissionais de muitas décadas no Brasil surgem marcadas por personalidades em contexto que relaciona o ensino, a vida musical e a pesquisa que se salientaram por dificilmente suportáveis atitudes e de falta de auto-crítica quanto à própria competência.

Esses problemas não marcaram apenas o Canto Orfeônico no Brasil, mas também a formação em Regência coral e os estudos culturais representados pelo Folclore, tornando-se assim motivo de preocupações já quando da introdução da Educação Musical - e a seguir Artística - em São Paulo.

Justamente em instituição que tinha sido marcada, no passado, pela atuação de Martin Braunwieser, a mudança de orientações teórico-culturais e educativas que acompanharam a substituição da formação em Canto Orfeônico pela Licenciatura em Música e Educação Artística não deveria perder a orientação corretiva da formação de professores e líderes do ponto de vista humano a que se dedicara Martin Braunwieser.

Esta preocupação e o reconhecimento da exemplaridade de Martin Braunwieser perante os riscos de falta de modéstia, de autoritarismo, arrogância e insolência de educadores e educadoras, maestros, maestrinas e folcloristas levaram a que sua personalidade fosse repetidamente lembrada nos trabalhos euro-brasileiros na Europa a partir de 1974.

Essa lembrança tornou-se particularmente atual com a Bundesschulmusikwoche de 1978, dedicada ao tema „Educação Musical e o Humano“. Passando a Escola de Música de Leichlingen, membro da organização-teto alemã de escolas de música (Verband deutscher Musikschulen) a ter orientação brasileira, decidiu-se aproveitar a passagem dos 80 anos de Martin Braunwieser para tematizar um problema humano que parecia poder ser constatado também na Alemanha e ser em parte resultado do próprio tipo de formação na Educação Musical e na pesquisa.

Esse tema abriu o Forum de Leichlingen dedicado à Pedagogia Musical Comparada e a estudos da Educação Musical sob perspectivas interculturais. Essa orientação adquiriu particular relevância pelo fato da Bundesschulmusikwoche de 1982 dedicar-se às relações entre o ensino da música e a „Cultura Musical“. As necessárias reflexões sobre o que se entendia por „cultura“ levaram, na Semana Alemã-Brasileira (Deutsch-Brasilianische Musikschulwoche) de 1982, à proposta de uma definição ética de cultura, relacionando-a com os Direitos e Deveres do Homem. (Veja) Essa conceituação, que passou a ser idéia condutora dos desenvolvimentos, vinha de encontro ao pensamento representado por Martin Braunwieser.

Reproduz-se, aqui, em português, texto publicado no Leichlinger Musikforum de 1982.



***

Foram celebrados, em 1981, os 80 anos de Martin Braunwieser, que alcançou um significativo nome na sua longa vida, marcada por idealismo das suas múltiplas atividades de músico, regente, compositor, organizador, pesquisador e sobretudo de professor.

Filho de Franz e Maria Braunwieser em Salzburg, nasceu no dia 6 de junho de 1901, tendo estuado música no Mozarteum. Após o término de seus estudos, exerceu uma intensa atividade como instrumentista na região e em países europeus vizinhos.

O seu caminho levou-o à Grécia, onde ensino durante muitos anos no Odeion Athenon. Com a sua esposa Tatiana, de origem teuto-russa, emigrou em 1928 para o Brasil e passou a residir em São Paulo. Em 1932 tornou-se diretor artístico da uma emissora Rádio Educadora Paulista. (1)

As suas atividades seguintes foram marcadas pela consideração da cultura do Brasil, cuja nacionalidade adquiriu. Fêz um nome como promotor do canto coral, trabalhou intensivamente no desenvolvimento de vários coros, entre êles do Coral Popular e do Coral Paulistano, e dirigiu numerosos concertos.

A sua execução do oratório A Criação de F. J. Haydn (1732-1809) no dia 17 de Janeiro de 1933 representou um marco na história da vida musical de São Paulo. (2) Como professor de canto coral por décadas nas mais antigas escolas superiores de São Paulo, o Conservatório Dramático e Musical de São Paulo e o Instituto Musical de São Paulo, contribuiu decisivamente à propagação do movimento coral no Brasil. No âmbito do movimento do Canto Orfeônico promovido por Heitor Villa-Lobos (1887-1959), (3) que emprestava ao canto popular em comum um alto valor educativo, Martin Braunwieser orientou a formação de futuros regentes corais e educadores. Também salientou-se como compositor de obras corais. Das suas composições para coro menciona-se aqui como exemplo a música para o Salmo 86, „Ensinai-me, Senhor, o Vosso Caminho“. (4)


Um importante acontecimento na sua história de vida foi a viagem de pesquisas que empreendeu em 1938 para o Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, (5) em companhia de vários folcloristas e representantes de diferentes áreas do conhecimento ao Nordeste do Brasil para a pesquisa do folclore regional. Alguns resultados dessa viagem registrou-os em dois fundamentais estuos sôbre o canto de esmolas de cegos e o grupo instrumental do cabaçal. (6)

O arquivo sonoro da Discoteca Pública Municipal de São Paulo, uma das maiores bibliotecas especializadas da América Latina, foi enriquecida com esses documentos sonoros gravados durante essa viagem. Martin Braunwieser considerou elementos musicais da música do povo do Nordeste do Brasil na sua criação, por exemplo no segundo movimento de sua Sonata para violino e piano (1932) (7) e no seu Quarteto N° 1, que é constituído por três movimentos, o Com vigor em forma de sonata, o Vagaroso, em forma de Lied, e o Coco, este com elaborações de elementos do Coco de roda da tradição popular. (8) Deve-se citar especialmente neste contexto a sua elaboração a quatro vozes do canto popular de Natal „Acordai quem está dormindo“. (9)



Apesar de seu intenso empenho pela música do povo do Brasil na sua forma autêntica, contribuiu decisivamente ao cultivo e à difusão do patrimônio musical da Europa no Brasil sobretudo como fundador e regente por trinta anos da Sociedade Bach de São Paulo.

O trabalho de Martin Braunwieser mereceu a atenção entre outros de Albert Schweitzer (1875-1965), o teologo, médico, filósofo cultural, organista e pesquisador musical que com êle correspondeu e que marcou uma fase importante na pesquisa de Bach. (10)

Também conhecia-se o empenho da Sociedade Bach para um descobrimento de Bach no Brasil. Até mesmo na obra do mais conhecido compositor brasileiro de cunho nacionalista, Heitor Villa-Lobos, revela-se a influência desse espírito o tempo. Nas Bachianas Brasileiras, criadas à época de suas atividades músico-educativas de 1930 a 1944, o elemento folclórico até mesmo dá lugar de predominância ao clássico nesse sentido. Villa-Lobos procurou aqui, como o título sugere, estabelecer vínculos entre J. S. Bach, cuja música para teclado elaborou em transcrições não-convencionais também para coro e conjuntos instrumentais, e a música folclórica brasileira, que também reelaborou melodicamente de forma individual. (11)

Martin Braunwieser encontrou a compleição de sua vida como pedagogo musical. Como diretor artístico de jardins da infância de São Paulo deu grande valor a uma educação musical pré-primária bem fundamentada. Exemplo da seriedade de consciência do seu trabalho é o estudo que publicou sobre os êrros mais frequentes do canto do Hino Nacional brasileiro, dando conselhos para a sua melhoria. (12) Das suas composições para crianças, pode-se citar os 25 Brinquedos Cantados, nos quais folguedos infantís são elaborados com base na pesquisa folclórica. (13)

Uma grande difusão obteve também a sua coleção 40 Cânones para duas a oito vozes, que devia servir à formação musical do jardim de infância até o segundo ciclo do curso segundário. (14)


Mesmo em português, a obra de Martin Braunwieser está esperando porém um estudo mais pormenorizado. Aqui, ao lado de algumas de suas composições, salienta-se apenas um aspecto de seu diversificado trabalho e que surge como particularmente relevante para uma Pedagogia Musical Comparada: o seu interesse pela música popular em geral e a sua consideração na Educação Musical. Como exemplo, apresenta-se aqui as 8 peças para crianças segundo melodias turcas para piano, (15) que por assim dizer de forma exemplar representam uma atenção criadora de compositor de língua alemã à música tradicional turca.

O compositor elabora as melodias com uma harmonia orientada segundo a sua modalidade. A precisão científica com que Martin Braunwieser procedia nas suas transcrições como pesquisador musical manifesta-se por exemplo na consideração diferenciada do rítmo e da métrica não raro complexa e a-simétrica da música turca.


De especial interesse é a configuração musical de uma melodia na segunda peça, que parece ser um uzun hava. Ritmicamente livre, correspondem estas ao assim-chamad tipo parlando (Bartok), possuem amplo âmbito e um fluxo melódico em geral descendente. No início, tem-se tons longamente mantidos e cantados em forte, pulsações terminais em piano e a divisão de 2 a 4 espaços intervalares que descendem gradualmente em correspondência ao estilo de cantos de pastores, em particular dos povos turcos da Ásia Central e do Norte. (16) Esse tipo de cantar tenso, apertado, é considerado pelo compositor na dinâmica de sua composição.


A peça N° 3 distingue-se por uma elaboração contrapontística não-convencional de melodia oriental.


Segue, em contraste a esse tratamento horizontal do material, a peça N° 4, onde a melodia é acompanhada por acordes.


Um dos exemplos mais singulares desse diálogo do compositor e de sua técnica composicional de cunho ocidental com o material melódico de outra cultura é a peça N° 5, que apresenta uma grande riqueza em detalhes.


Na peça N° 6, pode-se salientar o tratamento dos ornamentos melódicos.


Sempre pode-se observar o cuidado do compositor em elaborar o material musical de outra cultura com a qual se confronta a partir de princípios construtores refletidos. Veja-se por exemplo a condução escalar do baixo no fim da peça N° 7 e no início da peça N° 8.


No presente, o diálogo composicional de Martin Braunwieser com a música turca ganha grande significado pela sua atualidade e valor prático perante o crescente número de migrantes de origem turca na Alemanha e a problemática musical que com isso se cria.

Braunwieser é um pedagogo musical no sentido mais amplo da palavra, que, partindo do significado da música na cultura e o seu valor educativo, está convicto do papel da música como veículo para a formação do Humano. Para êle, a vivência criadora, reprodutiva e mediadora da música surge inserida numa concepção do mundo profundamente enraizada, da qual tira diretrizes para a sua própria condução de vida.

Na coerência do seu pensar e agir, Martin Braunwieser demonstra viver a serviço de um ideal mais alto, cuja irradiação coloca a sua própria pessoa em segundo plano.

Essa relação do homem Braunwieser consigo mesmo se releva da forma mais evidente no seu comportamento com o próximo, que é marcado por grande modéstia. Os seus alunos aprendem, porém, a reconhecer essa modéstia como expressão da sua segurança interna e superioridade. Martin Braunwieser encarna a modéstia no sentido original do termo, no qual surge, em língua alemã (modéstia= Bescheidenheit), relacionada com o distinguir ou discernir (scheiden), o decidir (entscheiden) e o ter e transmitir saber (Bescheid geben e Bescheid wissen). Nesse sentido, essa virtude relaciona-se com a formação de um julgar correto.

No seu sentido original ela surge quase que com o mesmo significado de inteligência ou sabedoria. Isso possibilita, assim, que a modéstia seja compreendida como uma virtude da medida certa, aproximando-a de concepções de virtudes da Antiguidade grega, tocando em certo sentido com a sophrosyne helênica, a virtude da sensatez. (17)

No desconhecimento dessas relações encontra-se talvez o insuficiente reconhecimento da obra e da ação de Martin Braunwieser, tanto na Áustria, sua terra natal, como na terra de sua escolha, o Brasil.“ (1982)

  1. 1)Schütz, A. O mundo artístico do Brasil, Rio de Janeiro: Pró-Arte 1954

  2. 2)Caldeira Filho, J. C., A aventura da música, São Paulo: Ricordi 1970, 123

  3. 3)Veja Peppercorn, L.M. Heitor Villa-Lobos: Leben und Werk des brasilianischen Komponisten. Zürich e Freiburg i. Br.: Atlantis 1972

  4. 4)São Paulo: Vitale, 78-0

  5. 5)A respeito Luper, A. T., „The Musical Thought of Mario de Andrade (1893-1945)“, Yearbook-Anuário/Inter-American Institute for Musical Research (Tulane University), 1965

  6. 6)Lange, F. Curt (ed.), Boletim Latino-americano de Música (1946), vol. 6

  7. 7)Caldeira Filho, J. C., op.cit., 129

  8. 8)ibidem, 125

  9. 9)São Paulo: Vitale, 47-0

  10. 10)Veja entre outros s sua obra J.S.Bach (Leipzig 1908, Wiesbaden 1976)

  11. 11) Correa de Azevedo, L. H., „Villa-Lobos, Heitor“, Die Musik in Geschichte und Gegenwart 13, 1627

  12. 12) Braunwieser, M. „Erros e defeitos no modo de cantar o Hino Nacional“, Revista o Arwuivo Municipal (São Paulo) CX (1946) (Separata)

  13. 13) São Paulo: Vitale, 63-A

  14. 14) São Paulo: Vitale, 40-0

  15. 15) São Paulo: K. G. Miranda, 138

  16. 16) Reinhard, K., „Türkische Musik“, Die Musik in Geschichte und Gegenwart 13, 957

  17. 17) Bollnow, O. F., Wesen und Wandel der Tugenden. Frankfurt/M.: Ullstein 1965, 128


De ciclos de estudos da A.B.E. sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo


Todos os direitos reservados. Reproduções apenas com a autorização explícita do editor.

Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A..“ Modéstia como princípio filosófico e humano no pesquisador, no regente, no educador e como objeto de ensino no Brasil e no mundo de língua alemã. Martin Braunwieser (1901-1991) em Hallein“ .
Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 152/13 (2014:6). http://revista.brasil-europa.eu/152/Modestia-como-principio.html