Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Bruxelas. A.A.Bispo 2015 copyright Arquivo A.B.E..


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Bruxelas. Fotos A.A.Bispo 2015 ©Arquivo A.B.E..

 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 153/6 (2015:1)
Editor: Profa. Dr. A.A.Bispo, Universidade de Colonia
Direção administrativa: Dr. H. Hülskath

Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Academia Brasil-Europa
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2015 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


Doc. N°3159





Climatologia a serviço da reputação do Brasil e colonização

Geografia na Mission Brésilienne d‘Expansion Economique de Antuérpia

Ciclo de estudos na Bélgica pelos 450 anos do Rio de Janeiro


Com agradecimentos à Biblioteca Real da Bélgica em Bruxelas

 
Constata-se, no presente, uma crescente atenção ao papel exercido pelas Ciências Naturais na história do planejamento urbano.


A teoria da evolução que marcou decisivamente o desenvolvimento do pensamento científico no século XIX assumiu, sobretudo através de Ernst Haeckel (1834-1919), dimensões abrangentes e mesmo filosóficas e de visões do mundo, o que não deixou de levantar polêmicas e levar a desenvolvimentos questionáveis. Com o pensamento evolutivo no sentido social-darwinista e haeckeliano monista relacionaram-se questões de higiene, higiene social e eugenia.


Como poucas cidades do mundo, o Rio de Janeiro possibilitou a consideração relacionada de questões de saneamento, de higiene, de combate a epidemias e infecções com a de regeneração e reconfiguração urbana, de sua vida e população.


Essas relações revelam-se em publicações da

Mission Brésilienne d‘Expansion Economique de Antuérpia dos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial uma vez que foram dedicadas a temas como a metamorfose e a evolução do Rio de Janeiro ou do clima e da salubridade do Brasil.


Numa primeira aproximação, esses temas surpreendem, pois não parecem correspondenter às finalidades da Missão Brasileira, que seria a da expansão econômica. Surgem de imediato antes como relevantes para uma história da arquitetura ou da geografia. Na realidade, porém, serviram a interesses da expansão econômica da missão, através do meio indireto de melhoramento da imagem, da reputação e da credibilidade do país no Exterior, despertando interesses, corrigindo informações negativas, atraindo empreendedores e capitais, assim como emigrantes para a colonização.


O tratamento de temas não imediatamente reveladores das suas finalidades econômicas era expressão de uma estrategia que partia da premissa que a melhor propaganda seria aquela que partia da informação e do esclarecimento, da objetividade de fatos, da neutralidade e distância.


Evitando-se exagêros de exaltação e sensacionalismo, que evidenciariam os intentos propagandísticos e uma falta de seriedade, esse procedimento utilizava-se da ciência e de concepções de natureza científica. Manifestava-se, através da ciência, que o interesse residia primordialmente na transmissão de conhecimentos seguros e da demonstração fundamentada de potencialidades. Assim procedendo, a propaganda passava a servir também à aplicação e à difusão de conhecimentos científicos, servindo à ciência.


Esse procedimento da Missão Brasileira de Expansão Econômia vinha de encontro ao espírito de uma época marcada pela convicção do progresso e da evolução, pela certeza no desenvolvimento dos conhecimentos, e pela valorização da ciência e da técnica.


Ela correspondia também a uma nova diplomacia, na qual os embaixadores passavam a exercer funções também como agentes culturais, demonstrando na sua própria pessoa e suas atividades a seriedade de procura fundamentada de conhecimentos. O principal vulto dessa diplomacia foi Manuel de Oliveira Lima (1867-1928), Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário do Brasil na Bélgica (1867-1928).


Significado da ciência na Bélgica e seu papel no intercâmbio de conhecimentos


O central papel desempenhado pela Bélgica, em particular Bruxelas em época determinada pela valorização dos conhecimentos e da ciência no trato internacional explica-se pelo fato de ser, como Estado nacional, um produto do século XIX, século da técnica e do progresso científico-natural. O país, em particular a sua capital, transformou-se em centro de congressos internacionais, fato explicável pela posição geográfica entre a França, a Alemanha, os Países Baixos e a Inglaterra, como acentuado numa das principais obras de Geograifa da época, a de Élisée Reclus (1830-1905). Nessa obra a Sociedade de Geografia belga e o Observatório de Bruxelas são salientados entre as suas mais destacadas instituições.


„A certains égards la capitale de la Belgique est aussi l‘un des chefs-lieux de l‘Europe; grâce à sa position centrale entre la France, l‘Allemagne et l‘Angleterre, elle est souvent choisie comme lieu de réunion pour les congrès internationaux.

(....)

La capitale de la Belgique (...) est devenue naturellement le siège des principaux corps savants et académies diverses. Une Société de Géographie s‘est récemment fondée à Bruxelles; en outre, une compagnie ayant pour but spécial l‘exploration de l‘Afrique s‘est constituée sous la présidence du roi des Belges, et ce patronage a peut-être plus fait que l‘amour de la science pour assurer à la societé naissante un budget considérable, car en Europe d‘autres sociétés plus anciennes, se donnant la même mission, sont loin d‘être aussi riches. L‘observatoire de Bruxelles est un de ceux qui ont rendu le plus de services, grâce à l‘illustre Quetelet, qui s‘était mis à la tête d‘une enquête scientifique ayant pour but d‘enregistrer le retour des phénomènes périodiques naturels.“ (Reclus, E., Nouvelle Géographie Universelle IV, Paris: Hachette 1879,115-119).


A Geografia na propaganda brasileira - Georges Lecointe (1869-1929)


Do círculo mais próximo de Oliveira Lima fazia parte G. Lecointe, diretor do Observatório Real de Bruxelas e membro do Comité central da Real Sociedade Belga de Geografia. Lecointe, na cerimônia de despedida do embaixador brasileiro, em 1914, lembrou que no dia 4 de abril de 1910, o jovem rei dos belgas ofereceu a sua primeira recepção oficial a essa sociedade de Geografia, nela honrando conjuntamente a entidade e o ministro do Brasil, assim como a todos quantos se interessavam pelos progressos das ciências, das letras e das artes. Era sob os auspícios da Real Sociedade Belga de Geografia que M. Oliveira Lima realizara uma conferência histórico-geográfica sobre „A Conquista do Brasil“. (Oliveira Lima. Bruxelas: Anc. Maison Ad. Mertens, s/d, 105)


O renome de Georges Lecointe era em grande parte devido à Expedição Antárctica Belga, empreendimento partido de Antuérpia em 1897, onde fizera observações astronômicas. Na América do Sul, realizara explorações nos Andes. De retorno à Bélgica, dedicara-se a publicações e à cooperação internacional nas ciências, vindo a desempenhar posteriormente papel relevante na criação do Conselho Internacional de Pesquisa.


O seu pronunciamento na despedida de Oliveira Lima demonstra os estreitos elos da ciência, em particular da Geografia, com a diplomacia, uma vez que se concentrou em salientar os seus elos de amizade e admiração pela família de Oliveira Lima, em particular pelas qualidades de cultura e cultivo social de sua esposa.


Diversidade de climas do Brasil e a aclimatação de colonos europeus


A publicação da Missão Brasileira de Expansão Econômica de Antuérpia sobre o Clima e a Salubridade do Brasil serviu sobretudo à promoção da imigração e da colonização. Tinha sido justamente nesse campo que a reputação do país mais havia sofrido no passado devido a informações negativas.


Em nenhum outro país europeu despertava a questão colonial tantas atenções como na Bélgica, país que muito devia no seu crescimento econômico ao Congo Belga. O período anterior à Guerra foi marcado nesse sentido por exposições coloniais; o Palácio das Colonias, hoje Museu Real da África Central, surge como um dos maiores monumentos arquitetônicos dessa época, dos estudos coloniais e da etnologia.


A consideração desse contexto favorece a compreensão da publicação do texto da Missão Brasileira de Expansão Economica, uma vez que esta inicia salientando a facilidade de aclimatação de colonos europeus no Brasil.


Essa facilidade era devida à diversidade climática do país. Lembrava-se que, na sua grande extensão territorial, as zonas climáticas eram perfeitamente determinadas, podendo-se definir distintamente as zonas tropical, sub-tropical e temperada e, assim, as regiões adequadas à vida e ao trabalho de europeus e sua aclimatação.


Nesse texto, explicava-se que a zona tropical, tórrida ou equatorial se encontra delimitada pela linha isotérmica de 25 centigrados. Essa linha, passando ao sul do Estado de Pernambuco, cortando, ao norte, o então Estado de Goiás, atingindo o de Mato Grosso, à altura de Cuiabá, determinava as condições do Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grane do Norte, Paraíba e Pernambuco. A temperatura média dessa zona era de 25°, mas a distribuição pluviomética a subdividia em três regiões distintas, a saber a região do Amazonas superior, a região interior do Maranhão, do Pará, do Mato Grosso, do Piauí, de Paraíba e Pernambuco e, por fim, aquela do litoral.


A excelência do clima do Amazonas para fins de colonização européia


A atenção dada ao Amazonas pode ser possivelmente explicada pelo interesse na colonização da região promovida já há muito em Paris (Veja) e pela presença do universo amazônico no centro de Bruxelas, uma vez que um dos principais atrativos da capital era a grande Vitória Régia conservada em estufa no Jardim Botânico. (Veja)


Salientava-se, na publicação, que no Alto Amazonas, a estação das grandes chuvas vai de fevereiro a junho, aquelas das poucas chuvas de meados de outubro a janeiro. De julho a outubro e de janeiro a fevereiro tinha-se a estação de seca. As oscilações termométricas se fazem sentir em alguns pontos do Alto Amazonas. O abaixamento rápido da temperatura, faz descer o termômetro até mais de 11° centigrados. A temperatura do dia é sempre mais elevada, mas as tardes se tornam suportáveis devido ao efeito da brisa.


O autor da publicação - provavelmente M. Oliveira Lima - baseia-se sobretudo em Louis Agassiz (1807-1873) para exaltar as condições climáticas do Amazonas. Considerando que Oliveira Lima desenvolvera estudos nos Estados Unidos, compreende-se o pêso dado à sua autoridade e a de outros cientistas norte-americanos. Citando-o, o texto diz que a característica do seu clima era ação quase que constante de uma brisa que assopra uniformemente de Leste a Oeste e que não era nada mais do que uma grande corrente de ventos que, entrando na imensa abertura formada pela embocadora do Amazonas, sobe o vale desse rio majestoso. Uma brisa doce se faz assim sentir sempre, produzindo uma evaporação que abaixa a temperatura. A constância dessa brisa refrescante faz com que o clima amazônico se torne agradável, mesmo dos mais agradáveis.


Citando M. Maury, engenheiro hidrográfico americano, afirma-se que no vale do Amazonas, as chuvas, ainda que abundantes, não caem senão durante alguns meses. Elas não são acompanhadas dos terríveis cicloes que desolam a Índia a cada mudança de estação. Essas chuvas eram doces e vivificantes; raramente o vento as tornam violentas. O nome de M. Maury na Bélgica era sobretudo conhecido nos meios relacionados com a navegação e o comércio marítimo - importantes devido ao porto de Antuérpia -, uma vez que na sua obra Hidrografia e navegação se relacionam com o estudo de sistemas de ventos e correntes.


Comparando a região amazônica com as indianas, observar-se-ia a mesma diferença de clima que poderia ser registrada entre Roma e Boston. Estas duas cidades estavam situadas na mesma latitude e poder-se-ia supor que tivessem climas identicos. Isso seria um êrro similar àquele que partisse da similaridade entre os climas do Amazonas e da Índia só porque seriam ambas intertropicais.


A temperatura mínima do Amazonas é de 18°, a máxima de 36°. Citando a obra de Metereologia do Equador segundo observações no Museu Goeldi do Pará de Julius Hann (1839-1921) (Zur Metereologie des Äquators nach den Beobachtungen am Museum Goeldi in Pará, Wien 1902), afirma-se que a temperatura média do Pará é de 25°,7, a máxima 33°3, a mínima de 18°1. As observações de Agassiz davam uma temperatura normal de 28°, raramente chegando a 32°.


Outro nome particularmente considerado no texto foi F.M. Draenert, autor de estudos sobre a meteorologia do Brasil, em particular na Meteorologische Zeitschrift (e.o.„Die Vertheilung der Regenmengen in Brasilien“, 1886; „Das Küstenklima der Provinz Pernambuco“, 1887).


As bruscas variações citadas por Draenert e que acusavam diferenças de 20° em 24 horas, seriam extremamente raras. Em todo caso, não seriam comparáveis às oscilações do termômetro observadas na zona temperada dos EUA, onde se registrava não raro uma diferença de 50° em 24 horas.


Era necessário, porém, salientar que essa temperatura não era geral em toda a região do Alto Amazonas. Em alguns pontos elevados havia geadas e o termômetro podia descer a  4°. Nas regiões altas do Amazonas, podia-se falar de clima temperado. O estado higrométrico varia entre 80 e 100, a condensação noturna forte, e no raiar do dia o solo se encontra húmido como se tivesse chovido. O grau de humidade relativa é de 74,5%. A humidade faz diminuir o calor, mas ela era prejudicial à salubridade. Essa humidade é compensada pela eliminação, que era abundante. De mais, se se derrubasse as florestas ao redor das moradias, para facilitar a ação do sol, e se o solo for convenientemente drenado, se se tomasse cuidado na construção de casa , observando-se as condições de higiene, a humidade não teria nenhum efeito nocivo na salubridade local.


Clima da Amazônia e sua salubridade favoráveis para os europeus


A publicação procura assim corrigir a imagem do Amazonas, lembrando que salubridade da região amazônica tinha tido detratores injustos. Há não muito tempo essa região teria sido apenas explorada por „miseráveis aventureiros“ que, sem o menor cuidado de conforto e higiene, movidos só com a preocupação de lucro. A sedução do Eldorado atraia a maioria de deserdados da sorte que visavam ganho rápido.


A depressão física, as privações, as longas caminhadas na floresta, a fome, a fadiga, a falta de limpeza dessas aglomerações de indivíduos, todos os inconvenientes da vida nômade conduziam à insalubridade dessas tribos errantes.


Na atualidade, o Govêrno brasileiro saneava o interior do Amazonas e pretendia fazê-lo cortar por linhas de estradas de ferro.


Apesar de tudo, comparando os habitantes desse vale àqueles da zona temperada, não se encontraria entre êles nenhuma diferença física. Em concurso de crianças menores de três anos realizado em Paris em 1878, entre 1200 concorrentes deu-se o primeiro prêmio a uma menina de Manaus. Nessa região casos de longevidade não eram raros, podendo-se citar o caso de um indivíduo falecido com 145 anos!


Sob o aspecto da patologia intertropical, as febres paludes e o beriberi eram os únicos males que assolavam as tribos nômadas, e a falta de observação de regras de higiene era a única razão que explicava que tais doenças tinham alcançado Manaus.


Embora Manaus se situasse em zona tórrida, era um exemplo que a saúde de um indivíduo não dependia da latitude de sua residência.


Precisava-se mencionar ainda que as febres paludes em alguns lugares do vale do Amazonas não eram uma doença das regiões tropicas. Essas febres eram ainda mais tenazes e perigosas na Itália. A ancilostomiose era muito mais grave na Bélgica e no Norte da França.


Não havia doenças próprias do Amazonas. Bastaria ler a história da colonização para que se constatasse que todas tinham sido importadas. Segundo o preceito científico, não haveria doenças de clima; poder-se-ia evitá-las com a higiene, e era partindo da rigorosa aplicação de regras de higiene que o Govêrno brasileiro baseava a sua política sanitária.


O suposto perigo do clima do Amazonas era circunscrito a alguns pontos onde a via nômade era mais acentuada, constituindo uma ínfima parte do vasto território. Ao lado dessa zona mínima, encontrar-se-ia um clima extremamente saudável em região de ca. 40.000 quilometros quadrados, que vai do norte de Belém até às cidades de Bragança e Vizeo e às margens do rio Gurupi. Ali se encontram as terras férteis de Cametá e Santarem, levemente acidentaas, onde, segundo a expressão de Henry W. Bates (1825-1892), domina um clima „glorious“.


Todo o território entre os rios Tapajós e Madeira, com as ondulações e os planaltos a partir da cadeia Morena até as colinas do Parintins, sobre uma extensão de 300000 quilometros quadrados, as de Monte Alegre e dos Montes Ereres, a salubridade segundo Charles F. Hartt (1840-1878) era uma das melhores do mundo, a zona dos Campos Gerais sobre uma extensão de 1.000.000 quilômetros quadrados, onde a indústria pastoril era muito fácil, tudo constituia um enorme território onde, apesar da latitude, o clima era muito saudável, muito doce, oferecendo ao colono europeu todas as vantagens de uma moradia favorável. Alfred Wallace (1823-1913), na sua viagem através do Amazonas, mencionaram a maravilhosa temperatura e a doçura balsâmica das noites dessa região. Também o autor cita Herbert Huntington Smith (1851-1919), que dizia ter percorrido o Amazonas durante quatro anos e nunca ter tido febre; bastou porém passar três dias em Ohio para pegá-la. As insolações eram comuns nos EUA.


Clima do Brasil Central e do Nordeste e relativamento do problema da sêca


Entrando no tratamento de uma região que possuia má renome na Europa devido às sêcas, a publicação procura mostrar a necessidade de diferenciação diferenciada com base em conhecimentos seguros de cientistas.


A segunda divisão de Draenert, compreendendo o interior dos Estados do Norte do Brasil, teve a sua climatologia observado em longa viagem do Dr. Severiano da Fonseca. Os ventos de NO. e SE., ao mesmo tempo quentes e húmidos, às vezes frios, causam variações de temperatura que atingem 20° centígrados. Observou-se no mês de agosto uma minima de 7°,5 e uma maxima de 37°, rapidamente diminuida pela chuva ou pelo vento.


A estação seca dura, de mais, dois meses e nesse lapso de tempo cai a chuva durante dois dias e por vezes mais; excepção feita para alguns Estados, como Ceará, Paraíba, Piaui e Rio Grande do Norte, onde há anos de seca mais prolongada.


O clima do planalto do Mato Grosso era extremamente saudável, a água excelente, o ar seco, a temperatura doce. Não haveria ali doenças endêmicas, um planalto com área de 32000 léguas quadradas. Ovservava-se geadas durante o inverno, ainda que a região fosse designada como zona torrida.


Esse clima delicioso em muitos pontos do planalto seria também aquele do interior de outros Estados. Naqueles de Paraíba, Pernambuco e Piauí, haveria lugares onde a temperatura média caia a 19° e 20°. Não havia doenças próprias nessas regiões.


A zona do litoral era caracterizada por chuvas durante o outono e verão. A temperatura seria um pouco mais elevada no verão, mas a diferença com aquela do inverno não era demasiadamente grande. Começando pelo Norte, em Viseu e no Pará, situados a 1°,12 de latitude sul, a mais alta temperatura de verão, à manhã, não ultrapassava 29°,1, enquanto que no inverno, em julho, descia apenas a 25°. Em S. Luis, 2°,31 de latitude sul, a média durante os meses mais quentes, de dezembro a fevereiro, era de 27° e a mínima de 26°, o vento de S.-O. se vazia sentir todo ano; a altura da água da chuiva chegava a 2m 455 e chovia ca de 86 dias por ano, ou seja, um dia de chuva para três de tempo bom. Durante os meses mais húmidos, o estado higrométrico atingia 87°.


Em Teresina, a temperatura média anual, às 9 horas da manhã, era de 26°8. Durante a estação seca, o vento soprava do S.-O, S. e E.. Durante o tempo de chuivas, vinha do Norte. Haveria 64 dias de chuiva durante o ano e a altura máxia é de 14 millim.


Em Fortaleza, a tempertura média ra de 26°,6; a temperatura minima de 23°,1 e a máxima de 30°,4. Na região montanhosa, a mínima descia a 14° e a máxima chegava a 24°. Chovia muito pouco e a altura pluviométrica mais forte durante 28 anos fora de 2m 450.


O clima dessa região era identico àquele do Rio Grande do Norte e de Paraíba, onde as chuvas eram igualmente pouco abundantes em determinada época do ano.


A falta de água era um verdadeiro problema que decimava os campos. Durante vários dias não chovia, os rios se secavam, a vegetação desaparecia, mas logo com as primeiras gotas de chuva tudo voltava a tornar-se verde como de encanto, descartando o perigo.


Os trabalhos consideráveis empreendidos pelos engenheiros brasileiros colocavam fim a esse estado de coisas. Apesar da fome, e as vicisssitudes ocasionadas pela sêca, os habitantes não sofriam de nenhuma doença epidêmica.


Climatologia e mortalidade em comparações internacionais


Quanto à mortalidade, as cidades de Belém e de S. Luiz do Maranhão tinham um coeficiente de 20,22 e de 22,26,, porcentagem inferior à de quase todas as cidades da região intertropical onde o coeficiente chega a 48 como no México e a 57,3 como no Panamá.


Em Roma, Milão, Marselha, Genova, Lisboa, Breslau, Nápoles, Madrid, Trieste, Moscou, Atenas e S. Petersburgo o coeficiente de mortalidade era superior àquele de Belém, apesar da latitude desta cidade.


No que dizia respeito ao clima do Pará, lembrava-se que H. Bates havia constatado que os ingleses que ali residiam há mais de 30 anos conservavam o mesmo aspecto e as mesmas cores como se nunca tivessem deixado o país natal. A constância da temperatura, o verde perene, o frescor da estação seca e a moderação das chuvas periódicas faziam com que o clima do Pará fosse um dos mais agradáveis do mundo. Herbert Smith dizia que podia levar qualquer pessoa do Pará aos Andes pelo Amazonas sem receio de uma simples dor de cabeça.


No Piauí havia localidades onde os casos de longevidade eram frequentes. Em Jaicós haveria habitantes de 110 anos. Em Areia, na Paraíba, reinava um clima europeu, com uma média de 19°. As cidades do interior de Pernambuco, como Itambé, Garanhuns, Jaboatão, eram renomadas pela sua salubridade. Todo o Estado do Rio Grande do Norte tinha um clima extremamente saudável.


De todas essas explanações, podia-se concluir que a zona tropical do Brasil tinha uma temperatura perfeitamente suportável. Se os dias eram quentes, as noites eram doces graças à brisa que fazia o termômento abaixar. Quanto à salubridade, fora das febres paludes que assolavam alguns ponos do Amazonas e do béribéri em algumas localidades do Maranhão, não haveria doenças endêmicas. Contra o béribéri e as febres paludes havia meios de defesa. O europeu os evitaria facilmente se soubese escolher a sua moradia e introduzir o conforto e a higiene. No norte do Brasil, a média de duração da vida humana era igual àquela de países da Europa de melhores climas.


As qualidades climáticas do Rio de Janeiro


A publicação da Missão Brasileira de Expansão Econômica, apesar de oferecer um quadro geral e objetivo sob o aspecto geográfico do Brasil, permite que se perceba um acento ao Rio de Janeiro, cidade que fora um dos principais motivos da má reputação do país devido à febre amarela e assim obstáculo à emigração.


Nela se salienta que no Rio de Janeiro a temperatura mais elevada no verão era de 37,5, e assim menor que a temperatura máxima de Paris nessa época do ano, onde o termômetro chevava a atingir 40°. A temperatura mínima no Rio era de apenas 10°2.


Uma particular menção era dada ao arejamento do Rio, onde os ventos eram aqueles do S.-S.-E. e do N.-N.-E. O de S.-S.-E. era uma brisa de mar que soprava das 11 horas da manhã às 2 da tarde, dependendo das estações. A tarde, a brisa da terra se fazia sentir e durava até a manhã. Quanto a chuvas, a altura da água caída era de 1, 12 metros, havendo ca. de 24 temporais no ano. No Estado do Espírito Santo,  a temperatura média era de 24°9, a humidade relativa de 76%, a quantidade de chuva caída de 1,654 metros.


Em diversos pontos do Estado do Rio de Janeiro, o clima era assim extremamente doce. Nova Friburgo, apesar da sua latitude, tinha com a sua altitude de 876 metros uma temperatura méia de 17°2; no verão, o termômetro alcançava na região serrana o máximo de 24°,1 no verão, o mínimo no inverno de 1°; a altura da chuva caída era de 1m, 314.


Também Petrópolis apresentava condições ideais, pois ali a temperatura média era de 18°,6 graus, a pressão barométrica de 0m,752, a humidade relativa de 78 a 90%, a quantidade de chuiva caída de 1m,562. Também Teresópolis, apesar da sua latitde, tinha uma excelente temperatura média de 16°,8.


As observações meteorologicas do Rio de Janeiro feitas durante 10 anos davam em média bons resultados.


Os bairros afastados do centro do Rio - de resto com êle em comunicação por meios rápidos de transporte, em particular de bondes - apresentavam uma temperatura inferior de 4 a 5° daquela da cidade.


De ciclos de estudos da A.B.E. sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo





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Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A..„Climatologia a serviço da reputação do Brasil e colonização. Geografia na Mission Brésilienne d‘Expansion Economique de Antuérpia.“
Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 153/6 (2015:01). http://revista.brasil-europa.eu/153/Climatologia-do-Brasil.html