Revista
BRASIL-EUROPA
Correspondência Euro-Brasileira©
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Bruxelas. Fotos A.A.Bispo 2015 ©Arquivo A.B.E..
Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 153/10 (2015:1)
Editor: Prof. Dr. A.A.Bispo, Universidade de Colonia
Direção administrativa: Dr. H. Hülskath
Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Academia Brasil-Europa
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)
© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2015 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
Doc. N°3162
Bruxelas-Rio de Janeiro, os Estudos Brasileiros na Sorbonne
e a diplomacia cultural de Oliveira Lima
Ciclos de estudos na Bélgica pelos 450 anos do Rio de Janeiro
Com os agradecimentos à Biblioteca Real de Bruxelas
Escolhendo-se Bruxelas para abertura dos trabalhos eurobrasileiros pelos 450 anos do Rio de Janeiro, a atenção não poderia deixar de voltar-se às relações entre os estudos culturais e a história diplomática.
Bruxelas não é apenas a capital da Bélgica, centro de um país de complexa constituição na diversidade de línguas e culturas assim definidas - alemã, francesa, flamenga - hoje marcado pela imigração extra-européia, mas também capital da Europa, sede de instituições da União Européia e assim centro de contatos, intercâmbios, decisões e iniciativas européias e de suas relações com países extra-europeus.
Nenhuma outra cidade européia poderia melhor servir para estudos de complexos processos resultantes de encontros, convivências e interações culturais, transformações, permanências, avanços e retrocessos nas suas relações com questões de representações nacionais e de interesses políticos. Também estes não são apenas bi-laterais, mas referenciados segundo uma Europa inscrita em complexa dinâmica de ambivalentes aproximações, integrações, afastamentos e diferenciações.
Nesses trabalhos em Bruxelas sob o signo da comemoração do Rio de Janeiro não se poderia assim deixar de recordar a sessão da A.B.E. no Museu de História Diplomática no Palácio do Itamaraty que encerrou, em 2002, o triênio de eventos científico-culturais internacionais pelos 500 anos do Brasil.
Dificilmente poderia encontrar-se portanto cidade européia e ocasião mais adequadas para o prosseguimento dessas reflexões do que Bruxelas à abertura de trabalhos dedicados ao Rio de Janeiro. O significado de Bruxelas nesse sentido não se fundamenta historicamente na situação relativamente recente criada pelas instituições européias, representando o presente uma nova situação e novas dimensões de uma tradição já antiga de reflexões sobre as relações entre cultura e diplomacia.
As suas muitas publicações históricas, as suas conferências e sobretudo o fato de ter inaugurado com as suas aulas a cátedra de Estudos Brasileiros na Universidade de Paris, em 1911, poderiam justificar que seja considerado primordialmente como personalidade antes da pesquisa histórica e cultural.
É significativo, porém, que José Veríssimo (1857-1916), da Academia Brasileira de Letras, em Avant-Propos à publicação de suas conferências na Sorbonne, tenha exaltado a sua personalidade sob o título de um „Diplomata da Atualidade“. Na difícil, problemática e por vezes impossível distinção de identificações de áreas e esferas, José Veríssimo define Oliveira Lima como sendo primordialmente um diplomata, entretanto sob uma concepção então nova, por êle próprio configurada de diplomacia.
Idéia condutora no pensamento Oliveira Lima - diplomacia atual
José Verissimo parte na sua explanação, de um dos livros de vasta obra de Oliveira Lima, de título Choses diplomatiques, devotada ao presidente Afonso Pena (1868-1944), na qual reunira artigos publicados na imprensa periódica entre 1903 e 1907.
Apesar da diversidade de temas e motivos, esses artigos revelavam uma unidade. Essa unidade resultava menos do fato dos artigos tratarem de diplomacia, mas sim do argumento fundamental e constante desenvolvido em todos os textos.
Esse argumento era o de que, para corresponder às necessidades atuais, a diplomacia moderna não podia assemelhar-se à convencional, àquela de intrigas políticas, de segredos de gabinetes, de habilidades e astúcias maquiavélicas, de atitudes protocolares, de elegâncias mundanas e cortesãs. Menos ainda tratando-se de diplomacia de um país democrático, e ainda mais de uma democracia americana. Uma nação do continente americano é nova e cheia de futuro, sem tradições capazes de por obstáculos ao desenvolvimento natural de sua juventude e que, ainda quase que desconhecida, experimenta uma necessidade imperiosa de se fazer conhecer e estimar.
Diplomacia como agente vivo e o papel de diplomatas na era de comunicações
A diplomacia dessas nações e mesmo daquelas de países antigos e famosos devia ser um agente vivo, de aspecto múltiplo e variado, do progresso de seus interesses de todo tipo, um agente que respondesse a toda oportunidade, triunfando sobre os entraves da rotina.
O progresso da época, favorizado pela ampla publicidade, pela comodidade e rapidez de comunicações, anulara o método clássico diplomárico justamente no que constituia o seu emprego: as relações políticas entre os povos por meio de delegados junto aos govêrnos respectivos. Essas relações passaram a se operar de govêrno a govêrno, de chancelaria a chancelaria, e o papel de ministros diplomatas reduzir-se-ia àquele de mensageiros se, de acordo com as condições da nova era, não se abrissem para os novos campos de atividade.
Os diplomatas tornar-se-iam agentes comerciais, assumindo tarefas consulares, quando isso o exigia a ocasião econômica; agentes intelectuais, quando isso requeresse o interesse da cultura nacional; agentes de honra e do crédito do seu pais quando fosse necessário cuidar do seu renome; agentes industriais, quando a indústria nacional solicitasse os seus serviços. Essas seriam os diplomatas do futuro, apesar da presunção hierática da carreira, sob o risco de tornarem-se nulidades revistidas de superbos uniformes.
Segundo José Verissimo, mesmo antes de ter escrito Choses diplomatiques, que refletiam um programa completo de reforma diplomática fundamentada em raciocínios e demonstrações teóricas e práticas, Oliveira Lima já tinha posto em ação a diplomacia que preconizava, aquela que tinha como principal razão a própria força dos fatos. Oliveira Lima não entrara na diplomacia como um bacharel qualquer, seduzido pelo brilho da carreira, ávido de percorrer o mundo, de divertir-se como um dandy longe da pátria ou outras puerilidades, mas demonstrara sempre um caráter sério e um temperamento de estudioso.
Ainda que representando uma nova diplomacia, reconhecia os méritos dos antigos diplomatas, seus primeiros mestres ou antigos chefes. A sua coragem patriótica levou-o a denunciar situações que via como anormais, como no Pan-américanisme (1908).
Formação e vida no Exterior como razões da extremada dedicação ao Brasil
Distinguindo-se logo ao entrar com apenas 23 anos na diplomacia republicana em 1890, foi o primeiro a ocupar-se durante as horas livre com estudos Desses estudos, o autor pernambucano publicou uma obra sobre a história de seu Estado natal: Pernambuco et son développement historique, publicado em Berlim, em 1895.
José Verissimo salienta o nacionalismo e patriotismo de Oliveira Lima, explicando-o justamente pelo fato de ter recebido formação no Exterior. Distante da pátria desde jovem, Oliveira Lima fortaleceu livremente o seu amor pátrio, passando a servir ao país com critérios por êle próprio estabelecidos. Essa observação de José Veríssimo adquire hoje um acentuado interesse, uma vez que a questão do apego à terra natal por vezes idealizada de estrangeiros residentes no Exterior adquire particular significado nos estudos de processos culturais.
Verissimo cita aqui Sept ans de république au Brésil, publicado em Paris, em 1896, onde rebate e esclarece a opinião européia menos simpática à república brasileira; Aspects de la littérature coloniale brésilienne, publicado em Leipzig, em 1896; a Mémoire sur la découverte du Brésil et négociations diplomatiques auxquelles elle a donné lieu, de 1900; La Reconnaissance e l‘Empire, de 1901; Relation des manuscrits intéressant le Brésil, existant au Musée Britannique de Londres, de 1903; Éloge académique de F. A. Varnhagen, de 1903.
A essa série de livros somava-se Aux États-Unis (1899) e Au Japon (1903), assim como a obra de ficção teatral Le Secrétaire du Roi (Paris, 1900).
As duas obras surgidas nas suas estadias nos Estados Unidos e no Japão denotavam que Oliveira Lima considerava os respectivos países tendo o Brasil como referência. A mesma preocupação exalava da sua peça e teatro, onde o principal personagem era um dos mais destacados brasileiros do tempo colonial: Alexandre de Gusmão (1695-1753).
Fundamentação teórica de obras - primado de concepções e idéias
Para José Verissimo, essas obras asseguravam a Oliveira Lima uma posição na literatura brasileira, não tanto pela excelência da forma, mas pelas qualidade do saber e do pensamento. Em tudo o que expunha havia uma idéia que queria defender, convencendo os seus ouvintes ou leitores.
A sua concepção da tarefa literária era a de que esta tinha responsabilidades perante a cultura e a civilização. Por isso, após o começo de sua carreira diplomática (1890-1904), pôs em prática a sua máxima de servir ao país para além de seus deveres de obrigação, estudando e divulgando a história da nação com base em estudos de arquivos.
Defendeu assim o Brasil contra toda suposição injusta ou errônea, contribuindo à boa opinião e esclarecendo o Estrangeiro sobre os esforços brasileiros a caminho da cultura e da civilização.
Embaixador intelectual do Brasil (Björkman)
Na Bélgica, onde foi acreditado como ministro plenipotenciário adquirira uma viva e alta reputação, na Suécia onde exerceu as mesmas funções, em Viena, em Paris e em outras capitais, soube fazer-se reconhecer como embaixador intelectual do Brasil.
Para José Veríssimo, Oliveira Lima, sem negligenciar aspectos econômicos, teria salientado as qualidades do país como nação de cultura européia e de civilização ocidental. Até então, o Brasil teria uma reputação ainda semi-colonial de país de bela natureza selvagem e de imensas riquezas inexploradas, de primeiro produtor de café e de borracha.
Chamou não só a atenção de capitalistas europeus para as riquezas do país, promovendo o crescimento de relações comerciais e encorajando a formação de Câmaras de Comércio,
como também das classes acadêmicas para as manifestações da civilização brasileira.
Valorização do português como língua acadêmica
Em Congresso científico em Viena, alcançou que fosse admitida obscura e pouco considerada lingua portuguesa como um dos idiomas oficiais, o que jamais tinha acontecido. Na Sorbonne, levou a que a intelectualidade francesa celebrasse a brasileira em comemoração solene de Machado de Assis.
Em Bélgica conseguiu que se reconhecesse a necessidade de fundação de cadeiras de língua portuguesa, tendo a satisfação de poder presidor em outubro de 1911, uma delas na Universidade de Liège.
Divulgou, em revistas francesas, a obra literária do Brasil de então.
Desta época surgiram La langue portugaise et la littérature brésilienne, Machado de Assis et son oeuvre littéraire, La Conquête du Brésil, além de conferências, discursos, artigos. Livro considerado capital foi Dom Jean Vi au Brésil, não só uma monografia do soberano que preparou a independência do país, mas uma história geral do Brasil, a sua história econômica, política, social, literária.,
Valorização do Pe. José Maurício Nunes Garcia (1767-1830) em Congresso de Haydn
Nessa mesma cidade, em Congresso de Música, chegou a fazer ouvir, juntamente com obras de Haydn e Mozart, composições do Pe. José Maurício Nunes Garcia, ressuscitado pelos esforços do Visconde de Taunay (1843-1899). (Veja)
O diplomata no exercício de atividades acadêmicas
Abrindo a série de conferências no anfiteatro Turgo, Alfred Croiset (1845-1923), renomado filólogo, especialista da Antiguidade e historiador, salientou ser Oliveira Lima o primeiro diplomata estrangeiro que ocupou uma cadeira no tão célebre instituto.
José Verissimo lembra que apresentar uma síntese da evolução histórica a um público que totalmente desconhecia o Brasil já era uma tarefa difícil, mais ainda de fazê-la interessante para estrangeiros. Para poder cumprir a segunda tarefa, introduziu nas suas lições aspectos pitorescos pertinentes, estendendo-se em especial ao papel desempenhado pelos franceses na história. Importante foi aqui o de manter o interesse do auditório durante semanas, nele deixando uma idéia, ainda que vaga, da evolução do Brasil.
Utilizando-se também da literatura brasileira de imaginação, procurou traçar costumes e o caráter nacional, tentando retratar a fisionomia particular do país e do seu povo.
Não apenas para o Brasil, mas para toda a América do Sul, essas conferências tiveram o efeito útil, pois apresentou-se ao Conselho municipal de Paris um projeto de criar na Sorbonne uma cadeira de história e de geografia das repúblicas latinas dessa parte da América, projeto inspirado no curso de Oliveira Lima.
Mais significativa ainda foi o convite que recebeu da Universidade de Leland Stanford, da California, para ali ensinar ou história do Brasil ou aquela da América, e a seguir, de um número de universidades americanas para realizar conferências.
A civilização européia no Brasil como herança e o seu desenvolvimento
Os leitores da publicação com as conferências nela encontrariam em grandes traços a explanação de uma nação americana que teve a honra de não deixar perder e pereclitar a herança da civilização européia, conservando-a e mesmo aumentando essa herança.
As aulas eram as de um diplomata atual, ao mesmo tempo um homem de letras, que sabia cumprir com honra as suas obrigações e deveres através da recomendação fervente, inteligente e exemplar da nação.
Oliveira Lima como diplomata moderno - diplomacia como agente do progresso
Para a publicação da obra, José Verissimo, da Academia Brasileira de Letras, escreveu um Avant-Propos onde exalta a personalidade de Oliveira Lima como exemplo de um diplomata da atualidade.
Lembra, de início, um dos livros de sua vasta obra, de título Choses diplomatiques, no qual apresentara artigos publicados na imprensa periódica entre 1903 e 1907. Apesar da diversidade de temas e motivos, esses artigos revelavam uma unidade.
Essa unidade resultava menos do fato dos artigos tratarem todos da diplomacia, do que do argumento fundamental e constante desenvolvido em todos os textos. Esse argumento era o de que, para corresponder às necessidades atuais, a diplomacia moderna não podia assemelhar-se à classica, àquela de intrigas políticas, de segredos de gabinetes, de habilidades e astúcias maquiavélicas, de atitudes protocolares, de elegâncias mundanas e cortesãs. Menos ainda tratando-se de diplomacia de uma democracia, ainda mais de uma democracia americana, onde a nação é nova e cheia de futuro, sem tradições capazes de por obstáculos ao desenvolvimento natural de sua juventude e que, ainda quase que desconhecida, experimenta uma necessidade imperiosa de se fazer conhecer e estimar.
A diplomacia dessas nações e mesmo a daquelas de países antigos e famosos devia ser um agente vivo, de aspecto múltiplo e variado, do progresso de seus interesses de todo tipo, um agente que respondesse a toda oportunidade, triunfando sobre os entraves da rotina.
O progresso da época, favorizado pela ampla publicidade, pela comodidade e rapidez de comunicações, anulara o método clássico diplomático justamente no que constituia o seu emprego: as relações políticas entre os povos por meio de delegados junto aos govêrnos respectivos.
Essas relações passaram a se operar de govêrno a govêrno, de chancelaria a chancelaria, e o papel de ministros diplomatas reduzir-se-ia àquele de mensageiros se, de acordo com as condições da nova era, não se abrissem para os novos campos de atividade.
Passaram a ser agentes comerciais assimilados aos consules, quando isso o exigia a ocasião econômica, a agentes intelectuais, quando o requeresse o interesse da cultura nacional; agentes de honra e do crédito do seu pais quando o exigisse o renome da sua civilização; agentes industriais, quando a indústria nacional solicitasse os seus serviços.
Essas seriam os diplomatas do futuro apesar da hierarquia da carreira, sob o risco de tornarem-se nulidades revistidas de superbos uniformes.
Oliveira Lima como diplomata moderno - responsabilidade perante a civilização
Mesmo antes de ter escrito Choses diplomatiques, que refletiam um programa completo de reforma diplomática fundamentada em raciocínios e demonstrações teóricas e práticas, Oliveira Lima já tinha posto em ação a diplomacia que preconizava, aquela que tinha como principal razão a própria força dos fatos.
Ele não entrara na diplomacia como um bacharel qualquer, seduzido pelo brilho da carreira, ávido de percorrer o mundo, de divertir-se como um dandy longe da pátria ou outras puerilidades, mas demonstrara sempre um caráter sério e um temperamento de estudioso.
Distinguindo-se logo ao entrar com apenas 23 anos na jovem diplomacia em 1890, foi o primeiro a ocupar durante as horas livre a estudos, recusando os prazeres mundanos.
Desses estudos resultaram Pernambuco et son développement historique, publicado em Berlim, em 1895.
Tendo recebido a sua formação longe da terra natal e já distante da pátria desde jovem, Oliveira Lima fortaleceu livremente o seu patriotismo, passando a servir ao país com critérios por êle próprio estabelecidos. Os seus estudos do passado e do presente, de instituições, de literatura e outros temas testemunhavam para além de inteligência um amor profundo e sincero.
Verissimo cita aqui Sept ans de république au Brésil, publicado em Paris, em 1896, onde rebate e esclarece a opinião européia menos simpática à república brasileira; Aspects de la littérature coloniale brésilienne, publicado em Leipzig, em 1896; Mémoire sur la découverte du Brésil et négociations diplomatiques auxquelles elle a donné lieu, de 1900, La Reconnaissance e l‘Empire, de 1901; Relation des manuscrits intéressant le Brésil, existant au Musée Britannique de Londres, de 1903; Éloge académique de F. A. Varnhagen, de 1903.
A esta lista de livros somava-se Aux États-Unis (1899) e Au Japon (1903), assim como a obra de ficção teatral Le Secrétaire du Roi (Paris, 1900).
As duas obras surgidas nas suas estadias nos Estados Unidos e no Brasil denotavam sempre ser referenciadas segundo o Brasil. A mesma preocupação exalava da sua peça de teatro, onde o principal personagem era um dos mais insignes brasileiros do tempo colonia: Alexandre de Gusmão.
Essas obras asseguravam a Oliveira Lima uma posição na literatura brasileira, não tanto pela excelência da forma, mas pelas qualidade do saber e do pensamento. Em tudo o que expunha havia uma idéia que queria defender.
A sua concepção da tarefa literária era a de que esta tinha responsabilidades perante a cultura e a civilização. Por isso, após o começo de sua carreira diplomática (1890-1904), pôs em prática a sua máxima de servir ao país para além de seus deveres de obrigação, estudando e divulgando a história da nação com base em estudos de arquivos.
Defendeu assim o Brasil contra toda suposição injusta ou errônea, contribuindo à boa opinião e esclarecendo o Estrangeiro sobre os esforços brasileiros a caminho da cultura e da civilização. Ainda que representando uma nova diplomacia, reconhecia os méritos dos antigos diplomatas, seus primeiros mestres ou antigos chefes. A sua coragem patriótica levou-o a denunciar uma situação anormal em obras, como no Pan-américanisme (1908).
Oliveira Lima - embaixador intelectual do Brasil - cultura européia e civilização ocidental
Na Bélgica, onde foi acreditado como Ministro Plenipotenciário adquirira uma viva e alta reputação, na Suécia onde exerceu as mesmas funções, em Viena, em Paris e em outras capitais, soube fazer-se reconhecer como embaixador intelectual do Brasil (Björkman).
À reputacão ainda semi-colonial de país de bela natureza selvagem e de imensas riquezas inexploradas, de primeiro produtor de café e de borracha, trouxe, sem negligenciar aspectos econômicos, as qualidades do país de cultura européia e de civilização ocidental.
Em Congresso científico em Viena, alcançou que fosse admitida obscura e desdenhada lingua portuguesa como um dos idiomas oficiais, o que jamais tinha acontecido. Nessa mesma cidade, em Congresso de Música sacra, chegou a fazer ouvir, juntamente com obras de Haydn e Mozart, composições do Pe. José Maurício Nunes Garcia, ressuscitado pelos esforços do Visconde de Taunay.
Na Sorbonne, levou a que a intelectualidade francesa celebrasse a brasileira em comemoração solene de Machado de Assis. Em Bélgica conseguiu que se reconhecesse a necessidade de fundação de cadeiras de língua portuguesa, tendo a satisfação de poder presidir em outubro de 1911, uma delas na Universidade de Liège. Divulgou, em revistas francesas, a obra literária do Brasil de então.
Chamou a atenção de capitalistas europeus para as riquezas do país, assim como das classes acadêmicas para as manifestações da civilização brasileira. Promoveu o crescimento de relações comerciais encorajando a formação de Câmaras de Comércio. Desta época, surgiram La langue portugaise et la littérature brésilienne, Machado de Assis et son oeuvre littéraire, La Conquête du Brésil, além de conferências, discursos, artigos. Livro considerado capital foi Dom Jean Vi au Brésil, não só uma monografia do soberano que preparou a independência do país, mas uma história geral do Brasil, a sua história econômica, política, social, literária.
Diplomacia e Estudos Brasileiros para estrangeiros
José Veríssimo lembra no seu texto uma exigência das circunstâncias que deve ser lembrada por influenciar a escolha de assuntos, o peso dado a determinados temas e sobretudo a perspectiva histórica das conferências na Sorbonne. Apresentar uma síntese da evolução histórica a um público que totalmente desconhecia o Brasil era uma tarefa difícil, mais ainda de fazê-la interessante para estrangeiros. Para poder cumprir a segunda tarefa, introduziu nas suas lições aspectos pitorescos pertinentes, estendendo-se em especial ao papel desempenhado pelos franceses na história.
Importante foi aqui manter o interesse do auditório durante semanas, nele deixando uma idéia, ainda que vaga, da evolução do Brasil. Essa menção de José Veríssimo traz assim à consciência as relações entre o espírito e a função do diplomata, a escolha de recursos retóricos e pedagógicos para conquistar e manter a atenção dos franceses e o próprio edifício de concepções que, como revelado entre outros textos, denotava interpretações evolutivas da história.
Não apenas para o Brasil, mas para toda a América do Sul, essas conferências tiveram o efeito útil, pois apresentou-se ao Conselho Municipal de Paris um projeto de criar na Sorbonne uma cadeira de história e de geografia das repúblicas latinas dessa parte da América, projeto inspirado no curso de Oliveira Lima.
Mais significativa ainda foi o convite que recebeu da Universidade de Stanford, da California, para ali ensinar ou história do Brasil ou aquela da América, e a seguir, de um número de universidades americanas para realizar conferências.
Os leitores da publicação com as conferências nela encontrariam em grandes traços a explanação de uma nação americana que teve a honra de não deixar perder e pereclitar a herança da civilização européia, conservando-a e mesmo aumentando essa herança.
Utilizando-se também da literatura brasileira de imaginação, Oliveira Lima procurou traçar costumes e o caráter nacional, tentando retratar a fisionomia particular do país e do seu povo.
Segundo José Veríssimo, essas aulas eram as de um diplomata atual, ao mesmo tempo um homem de letras, que sabia cumprir com honra as suas obrigações e deveres através da recomendação fervente, inteligente e exemplar da nação.
De ciclos de estudos da A.B.E. sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo
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Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A..„ Bruxelas-Rio de Janeiro, os Estudos Brasileiros na Sorbonne e a diplomacia cultural de Oliveira Lima“ Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 153/9 (2015:01). http://revista.brasil-europa.eu/153/Diplomacia-cultural.html