Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Bruxelas. A.A.Bispo 2015 copyright Arquivo A.B.E..

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Bruxelas. A.A.Bispo 2015 copyright Arquivo A.B.E..


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Bruxelas. Fotos A.A.Bispo 2015 ©Arquivo A.B.E..

 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 153/2 (2015:1)
Editor: Prof. Dr. A.A.Bispo, Universidade de Colonia
Direção administrativa: Dr. H. Hülskath

Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Academia Brasil-Europa
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2015 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


Doc. N°3155




O Rio de Janeiro e a representação do Brasil na Europa da Belle époque
Manuel de Oliveira Lima (1867-1928)
100 anos de sua despedida pela colonia brasileira da Bélgica



Ciclos de estudos na Bélgica pelos 450 anos do Rio de Janeiro
Com agradecimentos à Biblioteca Real da Bélgica em Bruxelas



 

O ano de 2014 foi marcado, na Bélgica, talvez de forma mais intensa do que em outros países da Europa, pela passagem dos cem anos do início da Primeira Guerra Mundial. Os fatos e desenvolvimentos que levaram a essa tragédia que destruiria a antiga Europa foram tratados em conferências, exposições, cortejos e representações históricas sob diversos aspectos e de diferentes formas.


O impacto e as profundas transformações que as trágicas decorrências de 1914-1918 determinaram apenas podem ser avaliados e empaticamente compreendidos considerando-se a época precedente, que surge retrospectivamente como sendo de anos de paz, prosperidade, florescimento de artes, música e ciências, de estreitamento de laços internacionais e mesmo de alegria de vida, a assim chamada Belle époque. Somente uma atenção mais aguçada permite reconhecer tensões internas crescentes e desenvolvimentos militaristas e de armamentos que se manifestariam na hecatombe da Guerra.


Bruxelas. A.A.Bispo 2015 copyright Arquivo A.B.E..

Banquete de despedida oferecido pela colonia brasileira a Oliveira Lima


Sob a perspectiva de estudos culturais relacionados com o Brasil, essa época, que surge como resplandecente em visão retrospectiva, foi encerrada por um evento que, embora caido no esquecimento, adquire grande significado simbólico e como testemunho histórico das intensas relações belgo-brasileiras do início do século XX: o banquete oferecido pela colonia brasileira a Manuel de Oliveira Lima. Este tinha sido Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário junto ao rei belga, de 1. de janeiro de 1912 a 14 de abril de 1912.


Esse banquete foi realizado nos salões do Hotel Astoria na rue Royale de Bruxelas, um dos mais renomados da Europa, construido sob incentivos do próprio Leopoldo II (1835-1909), rei dos belgas, há poucos anos antes, em 1909, para a Exposição Universal e Internacional de Bruxelas, realizada de 23 de abril a 1 de novembro de 1910.


O edifício, hoje considerado patrimônio histórico belga, estava impregnado do espírito que movera a grande feira, evento que entrou na história cultural e em especial da etnologia pela exposição colonial em Tervuren e, entre outros, pelo diorama da Criação do Mundo.


Esse luxurioso hotel, que tornou-se local de recepções de personalidades da política, da diplomacia, do comércio, da aristocracia, adquiriu desde a sua fundação o cunho de emblema da capital de um país voltado a negócios internacionais, a relações com o mundo extra-europeu, aos progressos das ciências, da cultura e das artes. Já a sua arquitetura - projeto de Henri Van Dievoet (1869-1931) -, assim como a sua suntuosa decoração interna, demonstrava, nas suas referências ao estilo Luís XVI, concepções culturais de civilização, cultivo pessoal e vida social refinada referenciadas segundo Paris.


A escolha do Hotel Astoria pela colonia brasileira para a despedida de Manuel de Oliveira Lima, que veio passar alguns dias em Bruxelas com a sua esposa (nascida F. Cavalcanti de Albuquerque) e que se retirava para Londres com o intuito de dedicar-se exclusivamente à vida intelectual, não foi, assim, arbitrário. Possuiu um alto significado político, diplomático, de fortalecimento de redes sociais e institucionais.


Bruxelas. A.A.Bispo 2015 copyright Arquivo A.B.E..
Oliveira Lima havia presidido a seção do Brasil na Exposição de Bruxelas de 1910. Realizara uma conferência sobre o Brasil na Sociedade Real Belga de Geografia no Teatro Real de la Monnaie na presença do rei. Presidira em Liège a abertura do curso de português organizado pela universidade, sob os auspícios da Sociedade Belga de Expansão na América Latina. Fizera conferências na Sociedade de Geografia de Antuérpia, na Universidade de Louvain e em outras instituições. Presidira a fundação da Câmara de Comércio Belgo-Brasileira em Bruxelas.


Esse sentido pelo simbólico manifestou-se também na escolha da data do banquete, o 22 de abril de 1914, festa do Descobrimento do Brasil. Desde o 17 de abril de 1908 tinha Manuel de Oliveira Lima residido na Bélgica e representado o Brasil como Ministro. Pouco antes, tinha sido recebido pelo rei, sendo homenageado com um retrato com dedicatória artisticamente emoldurado.


O ano do início das intensas atividades de Manuel de Oliveira Lima tinha sido aquele da Exposição Mundial no Rio de Janeiro pelo Centenário da Abertura dos Portos às nações
amigas em 1808. Para essa Exposição, a então capital do Brasil mostrava-se reconfigurada, apresentando-se ao mundo como imagem da civilização de um país novo e potente, compreendendo-se ter o Rio de Janeiro estado no centro das ações representativas e científico-culturais de Oliveira Lima, dela tratando em memórias como representante do país em congressos internacionais.


A importância que os organizadores do banquete de despedida deram ao ato teve a sua expressão no fato de querer-se perpetuar a sua memória com uma publicação comemorativa com relatos, com os discursos proferidos e vozes da imprensa belga e brasileira. Os textos foram publicados expressamente com o intento de dar testemunho da cordialidade que presidiu uma reunião na qual os amigos e admiradores belgas e brasileiros de Oliveira Lima o homenagearam por ter este sabido criar na Bélgica redes unidas por elos de amizade. A publicação inclui relatos e comentários de jornais belgas (Etoile belge; Patriote, Chronique, Indépendance belge) e de O Estado de São Paulo.


Essa publicação constitui, hoje, relevante fonte de dados para a reconstrução de um momento de especial brilho e
significado na história diplomática, na das ciências e da cultura referenciadas pelo Brasil e da história da presença brasileira na Europa.


A passagem dos cem anos de sua realização em época na qual não se podia prever que uma guerra mundial eclodiria dentro de poucos meses pode ser vista, assim, como ocasião oportuna para a abertura de estudos eurobrasileiros motivados pelos 450 anos do Rio de Janeiro em 2015.


Personalidades presentes à despedida de Manuel de Oliveira Lima


A lista das personalidades mencionadas nessa publicação oferece um quadro das relações pessoais e institucionais criadas ou intensificadas por Manuel de Oliveira Lima, abrindo caminhos para estudos mais aprofundados de rêdes sociais nas diferentes esferas político-culturais e científicas. O banquete foi presidido pelo novo ministro do Brasil em Bruxelas, de Barros Moreira. Presente estava também João Oliveira de Sá Camelo Lampreia (1863-1943), que havia sido embaixador de Portugal no Rio de Janeiro. Sendo Oliveira
Lima também encarregado da representação brasileira na Suécia, compreende-se a presença de Oliveira Marinelli, encarregado de negócios do Brasil em Estocolmo.


Os estreitos elos de Oliveira Lima com São Paulo, em particular com o jornal O Estado de São Paulo e os círculos paulistas na França e na Bélgica manifestaram-se na presença de Edmundo da Fonseca, Comissário Geral do Govêrno do Estado de São Paulo, assim como os comissários Hernani da Silva Pereira e Aristides do Amaral. Tambem Minas Gerais esteve representada na pessoa do Comissário Azevedo Villela.


Do serviço diplomático e consular, estiveram presentes Cavalcanti Lacerda e Lara Palmeiro, secretários de legação, Bandeira de Mello, encarregado da Missão do Govêrno Brasileiro e Cintra Ferreira, secretário do Comissariado do Brasil. O Vice-Consul do Brasil em Bruxelas, também responsável pelo Bulletin de la Société belge d‘expansion vers l‘Amérique latine (de Liége), Victor Orban, desempenhou importante papel no ato, cabendo a êle preparar e publicar a biografia do homenageado. Também o Vice-Consul do Brasil em Antuérpia F. Georlette, que tinha atuado com Oliveira Lima na exaltação do Rio de Janeiro em congressos internacionais em 1908, esteve presente.


A Câmara de Comércio Belgo-Brasileira esteve presente nas pessoas de seu presidente e vice-presidente, respectivamente Ferdinand Carlier e Alfred Lemmonier. A comunidade ou colonia brasileira foi representada por Carlos Gomes, presidente do Círculo Brasileiro de Bruxelas. Entre outros nomes presentes citam-se Almeida Sampaio, Vaz de Oliveira e R. Bonilha.



Da parte belga, a principal autoridade presente foi o barão Robet P. L. F. M. Ghislain Capelle (1889-1974), cujo pai havia sido diretor geral no Ministério de Assuntos Estrangeiros, Ministro Plenipotenciário e diplomata, tendo recebido em 1912 o título de barão. Presente esteve também o comandante Capitão Van Dionant.


Entre os representantes de instituições belgas, deve-se destacar Paul Ottlet (1868-1944), diretor o Museu do Livro, vulto de primeira grandeza na história das bibliotecas, da documentação e dos conhecimentos globais, que havia fundado em 1895 o Office International de Bibliographie para a criação do Mundaneum, uma Biblioteca Universal, já à época da homenagem a Oliveira Lima em intensas atividades. Já a sua presença indica a reputação de Oliveira Lima como erudito de interesses universais, de pesquisador de bibliotecas e arquivos em contextos e relações globais.


Atenção desperta também a presença de geógrafos, astrônomos e cientistas naturais no banquete de despedida a Oliveira Lima, entre êles E. de Wildeman (1866-1947), diretor do Jardim Botânico de Bruxelas e Georges Lecointe (1869-1929), diretor do Observatório Real da Bélgica. (Veja) Os elos de Oliveira Lima com a classe médica manifestaram-se na presença do Chefe da Clínica do Hospital Saint-Pierre, o Dr. Emile Villers.


O Direito Comparado esteve no centro das atenções do banquete. Este fato não foi só devido à presença de De Busschere, presidente do Instituto de Direito Comparado, mas sobretudo pelo anúncio feito em português por Heinrich Schüler, autor alemão dedicado a assuntos brasileiros, de que o Império Alemão acabava de oferecer a Oliveira Lima uma cátedra de Direito Comparado na Universidade de Aachen, a primeira a ser concedida a um brasileiro.


No banquete, o novo ministro saudou o seu predecessor, dando expressão à tristeza de todos pelo fato de deixar a Bélgica aquele que soubera fazer tantas amizades para dedicar-se exclusivamente ao estudo da literatura e da história. Emocionado, Oliveira Lima agradeceu em termos simples e dignos, acentuando os elos estreitos que o uniam a esse país, fazendo um elogio da Bélgica e das suas instituições. Lembrou os seis anos passados entre os belgas e agradeceu a seu sucessor, aos representantes do Estado de São Paulo, aos cientistas, jornalistas e homens de negócios presentes. O Barão Capelle tomou a seguir a palavra para dar um tributo de simpatia e admiração em nome das instâncias oficiais. Constatou que era a primeira vez que se via um ministro estrangeiro deixar Bruxelas felicitado pelo seu sucessor.


Tomou a seguir a palavra Lecointe, ex-presidente da Société royale de géographie, sendo seguido por De Busschere, que saudou a colonia brasileira. Van Zurpele, do jornal Indépendence belge, salientou os interesses comerciais dos dois países e Bandeira de Mello, secretário da Câmara de Comércio, elogiu a imprensa belga e a sua imparcialidade em questões políticas internacionais. Após o anúncio do oferecimento de cátedra de Direito Comparado a Oliveira Lima pelo govêrno alemão, Paul Otlet, o diretor do Mundaneum, apresentou as despedidas do mundo acadêmico. A sessão foi encerrada como uma série de toasts à saúde do rei e da família real pelo novo ministro do Brasil.


O significado histórico da biografia de Oliveira Lima de Victor Orban


Victor Orban traçou uma breve história de vida de Oliveira Lima, lembrando ter nascido em Pernambuco, em 1867, e realizado os seus estudos em Portugal, onde obteve o título de doutor em filosofia e letras na Faculdade de Lisboa, em 1888. Lembrou que cedo passou a colaborar com diferentes jornais brasileiros e portugueses, notadamente ao Reporter de Oliveira Martins (1845-1894), destacando-se em campanhas a favor da abolição da escravidão.


Solicitado pelo  então Ministro de Assuntos Estrangeiros, aceitou o posto de secretário de legação em Lisboa, iniciando a sua carreira diplomática. Em 1892, foi transferido à legação de Berlim e ali atuou sob a direção do Barão de Itajubá (1842-1897). Tendo tido permissão para retornar ao Rio, ali desenvolveu pesquisas em diferentes bibliotecas públicas destinadas aos trabalhos históricos que desejava empreender.


De 1896 a 1900, foi secretário em Washington, escrevendo no seu tempo livre notas e impressões que deram origem a livro muito apreciado nos Estados Unidos. Foi enviado a seguir à legação de Londres, onde a morte inesperada do Conselheiro Souza Correa fêz com que fosse encarregado de negócios interinamente. Pouco tempo depois foi acreditado oficialmente junto à Corte de Tóquio. Esta sua estadia no Oriente possibilitou-lhe criar um de seus livros considerados mais belos, Au Japon, a primeira obra publicada no gênero no Brasil.


Chamado repetidamente ao Rio pelo Govêrno, foi promovido a Ministro Plenipotenciário, sendo enviado primeiramente ao Peru, depois à Venezuela e, por fim, à Bélgica e à Suécia.


Qualidades de personalidade e a diplomacia nos estudos referentes ao Brasil


Victor Orban salientou que em todos esses países Oliveira Lima distinguiu-se pelo seu caráter elevado e independente, por sua nobreza de sentimentos e dignidade com que desempenhava as suas funções. Alcançou renome como historiador, escritor, jornalista, conferencista e autor de grande produtividade de estudos, críticas e artigos. Empenhou-se sempre em tornar conhecido o Brasil dos tempos coloniais a seu presente e a explicar a rapidez imprevista de sua evolução, traçando os desenvolvimentos de sua civilização.


Se via por vezes como supérfluo salientar convencidamente a fortuna material e a prosperidade crescente do Brasil, se pouco insistia em acentuar os seus recursos múltiplos ou a diversidade de seus climas e privilégios naturais, nunca perdeu a ocasião de salientar o que para êle seria a superioridade moral a verdadeira grandeza, a nobreza, a força da nação.


Segundo Victor Orban, não negligenciando o que escaparia dos espíritos medíocres, Oliveira Lima passou a salientar as qualidades fundamentais da nação, a doçura tradicional de costumes, a constância de aspirações liberais e pacíficas, o mérito de seus escritores, pensadores, artistas.


Para além de cumprir as suas tarefas de historiador, distinguia-se pela sua moderação e tato, além do seu espírito e capacidade de trabalho, jamais permanecendo inativo.


Victor Orban lembra que Oliveira Lima representou o Govêrno no Congresso de Geografia em Genebra, dos Amercanistas e no Centenário de Haydn em Viena, em Paris na festa da Intelectualidade Brasileira, e em Estocolmo, onde negociou uma convenção geral de arbitragem, reestabelecendo as relações diplomáticas com o Brasil.


Ao mesmo tempo, Oliveira Lima procurou criar uma rêde de contatos, procurando com diligencia e tato chegar a julgamentos seguros e justos, de propaganda bem dirigida, em vontade perseverante, procurando consiliar opiniões divergentes.


Depois de 1911, Oliveira Lima, seguindo o pedido de um grupo de professores de universidades, deu uma série de conferências e aulas nos EUA. De New York, dirigiu-se ao Rio de Janeiro, onde Lauro Müller (1863-1926), então Ministro de Negócios Estrangeiros, procurou recompensá-lo pelos seus esforços. Vendo-se impossibilitado de aceitar as ofertas do Govêrno, declinou aceitar por questões de saúde uma missão diplomática no Oriente e o posto de Ministro Plenipotenciário em Londres, retirando-se.


Victor Orban lembra que o Comité France-Amérique honrou a sua colaboração a uma obra histórica para a parte relativa ao Brasil imperial. A Universidade de Harvard, solicitou a sua colaboração para uma série de conferências sobre a história moderna brasileira. A de Aachen conferiu-lhe o título de professor honorário efetivo. Diversas traduções de seus estudos foram publicadas na Alemanha e na Inglaterra.


Para além de suas duas obras sobre os Estados Unidos e o Japão,Victor Orban lemvra os seus livros Pernambuco et son développement historique; Sept ans de république au Brésil, publicado na Nouvelle revue, em Paris; Aspects de la littérature coloniale brésilienne; Memoire sur la découverte du Brésil, Reconnaissance de l‘Empire, contribuição à história diplomática do Brasil; Pan-américanisme, Bolivar-Moroe-Roosevelt, coletânea de artigos sobre questoes de atualidades americanas, edicada ao Barão do Rio Branco; Choses diplomatiques, coletânea dedicada a M. Affonso Penna. Eloge de Varnhagen, discurso para a sua recepção na Academia Brasileira de Letras, Sur l‘évolution de Rio de Janeiro; le Secrétaire du roi, comédia em três atos, onde evoca o século XVIII; Dom Jean VI au Brésil, em dois volumes. Entre os artigos, Père Manoel de Moraes, Vie diplomatique, Jose Bonifacio, Gustavo Beyer, les Limites du Brésil, Manuscrits du Musée britannique, Langue portugaise et la Littérature brésilienne, além de colaborações a jornais e revistas. Publicou textos em Revista brazileira, Revista portugueza, Jornal do Recife, Diario de Pernambuco, Correio a Manhã, Estado de S. Paulo, Jornal do Commercio, Revue de Paris. Escreveu artigos sobre Coelho Netto, José Verissimo, Olavo Bilac, Rui Barbosa.



Os estudos dos anos de Oliveira Lima na Bélgica


A biografia de Victor Orban escrita e publicada por ocasião da sua despedida em Bruxelas necessita ser relembrada nos estudos dedicados à personalidade e obra de Oliveira Lima por ser um texto apresentado em data de alto significado na sua vida, no contexto adequado para a sua consideração.


Manoel da Silveira Cardozo, curador da Oliveira Lima Library da Catholic University of America, Washington, DC, em artigo publicado em Recife, em 1981, salientou entre os seus biógrafos - além de Gilberto Freyre, que teria sido aquele que entre os então vivos mais privara com Oliveira Lima - Fernando da Cruz Gouveia, „que em três grossos volumes traçou o perfil de Oliveira Lima com luxo de pormenor“. („Oliveira Lima, Diplomata da Belle époque“, Ciência e Trópico 9(1) jan./jun. 1981, 35-50).


Esse autor baseou-se na correspondência passava de Oliveira Lima que é conservada na Universidade Católica da América, em Washington, universidade que recebeu a biblioteca do diplomata como doação em 1916, além do seu valioso arquivo. Na sua obra,  Manuel da Silveira Cardozo salienta a sua batalha pelo triunfo do ideal latino no Velho e no Novo Mundo.


„A Belle Époque, que forneceu a Oliveira Lima o brande palco para a sua obra, trouxe a Europa em peso ao Brasil, num renovado interesse pelos trópicos (...) Foi a época da Eleanora Duse, da Sara Bernhardt, estrelas de fama internacional que deliciavam as platéias do Rio de Janeiro; das conferências de Paul Doumer, presidente do Senado de França, de Anatole France, de Gugliemo Ferrero, dos professores Dumas e Richt, propagandistas da União Escolar Franco-Paulista. Inaugurou-se uma exposição no Rio de Janeiro para comemorar o centenário da abertura dos portos, em 1908, que teria tido a presença dos reis de Portugal se a tragédia do Terreiro do Paço não tivesse acontecido.


Dos dois lados do Atlântico, conferências e banquetes, beberetes, passeios, tanto esforço, tanto entusiasmo para promoveer, em face do progresso deslumbrante da Alemanha (...) o ideal latino que devia irmanar a Europa que foi embalada no regaço de Roma e os países neolatinos do Novo Mundo que foram descobertos por um genovês e batizado por um toscano. (...)“ (op.cit. 39)


Considerando os seus anos na Bélgica, o curador da Oliveira Limna Library lembrou que Oliveira Lima deveu ao Presidente Afonso Pena (1847-1909) a sua nomeação junto a Leipoldo II, a que se lhe acrescentou mais tarde a representação diplomática na Suécia.


„Foram os anos da Bélgica os mais belos da sua carreira, os das conferências da Sorbonne, do concerto de música brasileira patrocinado e pago por êle em Bruxelas, da estréia que ele arranjou da jovem pianista Guiomar Novais, das visitas a Harold Temperley, principal da Peter House em Cambridge, da convivência com D. Luís de Orleans e Bragança e sua mulher. Era mais o curso de Português que ele ajudou a fundar em Lovaina, intervindo para esse fim junto do Cardeal Mercier. Eras as conferências que fazia sobre o Brasil, os artigos que escrevia para l‘Indépendance Belge, os congressos internacionais que assistia, a propaganda insistente a favor da língua portugues (...). Como homem que era de muita classe, insurgia-se contra os desatinos da Commission d‘Expansion Économique du Brésil, com sede em Paris, e que inutilmente gastava rios de dinheiro com o propósito de aumentar na Europa o consumo de produtos brasileiros.“


De ciclos de estudos da A.B.E. sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo




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Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A..„O Rio de Janeiro e a representação do Brasil na Europa da Belle époque: Manuel de Oliveira Lima (1867-1928). 100 anos de sua despedida pela colonia brasileira da Bélgica.“
Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 153/2 (2015:01). http://revista.brasil-europa.eu/153/Oliveira-Lima.html