Romance de Diogo Soares e Martim Afonso
ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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S. Vicente.Fotos A.A.Bispo 2015. Copyright.Arquivo A.B.E..

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S. Vicente.Fotos A.A.Bispo 2015. Copyright.Arquivo A.B.E..

São Vicente SP. Primeira foto do texto: Diègo Suarez. Fotos A.A.Bispo 2015 ©Arquivo A.B.E..

 

154/3 (2015:2)




Nomes e relações do século dos Descobrimentos
„O romance de Diogo Soares“ e Martim Afonso de Souza (ca. 1500-1564/1571)
Em continuidade a encontro no Museu Casa Martim Afonso de Souza em São Vicente, SP (2013)



Imigração, Estudos Coloniais e Colonialismo 2015
pelos 450 anos do Rio de Janeiro


 
S. Vicente.Fotos A.A.Bispo 2015. Copyright.Arquivo A.B.E..
A escolha de Antsiranana/Diégo-Suarez no norte do Madagáscar para o início dos estudos internacionais pelos 450 anos do Rio de Janeiro, celebrados em 2015, explica-se pela sua configuração paisagística, que evoca o Rio de Janeiro, e pelas questões historiográficas que levanta e que dão continuidade a colóquio realizado em São Vicente, SP, em 2013.

Quanto às similaridades paisagísticas, a baía de Diégo-Suarez é frequentemente comparada com a baía da Guanabara devido às suas extraordinárias dimensões: após o Rio e Sidney, é a terceira maior baía do mundo.

Também a beleza de sua paisagem é frequentemente decantada, ainda que se reconheça que, sob este aspecto, não pode
Diego-Suarez.Fotos A.A.Bispo 2015. Copyright.Arquivo A.B.E..
ser comparada com a do Rio de Janeiro. O amplo contorno de montanhas que a emolduram, as ilhas no seu bojo e, sobretudo o fato de também haver um Pão de Açúcar na baía dos franceses trazem constantemente à evocação do Rio nessa baía do Madagáscar. (Veja)

Como no Rio de Janeiro, também nessa baía do Madagáscar aquele que chega por mar surpreende-se com a amplidão do quadro que se abre a seus olhos ao passar a estreita abertura que a liga ao oceano.

As suas numerosas bacias e ramificações se prolongam até o horizonte, vinculando-se com a península do cabo d‘Ambre. Ao sul da baia se estende um vasto plano que domina os cimos da montanha desse nome, que chegam a alcançar 1560 metros de altura.

Quase que fechada, mas de fácil navegação e permitindo manobras, surge com os seus entrecortes e as florestas que a rodeiam como um local particularmente favorável para abrigo e refúgio, para esconderijo, para a recuperação de naves, para a obtenção de água e víveres e para tratos comerciais com os seus habitantes. Esse significado estratégico no Índico manteve-se através dos séculos, como demonstra a sua escolha para o abastecimento de navios em viagens transoceânicas pelo poder colonial francês em fins do século XIX.

Sabe-se que em regiões como essa recônditas, mas estrategicamente favoráveis do Índico floresceu há séculos o comércio, de madeira, de produtos naturais e também o de escravos, nela encontrando-se navios negreiros, corsários e piratas.

Situada no norte da grande ilha do Índico à frente do leste da África, dela separada pelo Canal de Moçambique, encontra-se na área de ação de árabes e de comerciantes do Extremo Oriente.

Essas condições naturais da baia de Diégo-Suarez abrem assim caminho para a consideração de questões históricas. Já há séculos a ilha tinha sido visitada por comerciantes árabes da costa oriental africana, sendo então conhecida como Ilha da Lua. Também comerciantes chineses teriam estado nessa esfera do Índico muito antes da chegada dos europeus.

Problemas da denominação da baía e da cidade de Diégo-Suarez

A sua entrada na história ocidental deu-se com as viagens de navegação dos portugueses no século XVI, prolongando-se em seguida com aquelas de outras nações européias. Através de todos esses séculos, manteve-se até 1975 o nome que remonta ao período dos Descobrimentos e da expansão de Portugal no Oriente: Diégo-Suarez.

Ainda que hoje oficialmente designada como Antsiranana, continua a ser chamada pelo nome antigo, ou até mesmo de forma abreviada simplesmente die Diego, nome sob o qual também é conhecida a baía.

Esta permanência através de séculos de um nome que lembra a remota presença portuguesa no Madagáscar surge como singular e merece particular atenção, uma vez que foi puntual e sem sucessos duradouros, não pertencendo o Madagáscar nem aos países lusófonos, nem àqueles que são vistos como particularmente marcados na sua cultura pelos portugueses.

Essa denominação dá, porém, margens a questionamentos. Em primeiro lugar, o observador não preparado surpreende-se ao tomar conhecimento que essa designação é explicada com referência às navegações portuguesas, uma vez que é escrita em espanhol. Por outro lado, aabe-seque espanhóis ali não estiveram, e que, na divisão do mundo em esferas de influência das nações ibéricas, o Oriente cabia a Portugal, não à Espanha. Qual seria a razão de ter-se perenizado uma versão castelhana de nome português?

Outra questão que se levanta e que tem natureza mais especificamente historiográfica é o da elucidação do nome e sua identificação. A explicação mais comum é a de que a denominação Diégo-Suarez para a cidade e a baía representaria uma justaposição de nomes de dois navegantes: Diogo Dias e Fernão Soares. O primeiro avistou Madagáscar em 1500, denominando-o Ilha de São Lourenço, o segundo, a atingiu em 1506. Explica-se, assim, a grafia com um traço de união entre os dois nomes: entre o prenome de um navegador e o sobrenome de outro. Em aberto permaneceria aqui a escrita do prenome e do sobrenome em castelhano.

Essa junção de dois nomes distintos na denominação da cidade surge porém como procedimento não usual e deve ser vista como construção artificial, um produto de interpretação historiográfica. Os navegantes e descobridores portugueses não davam o seu próprio nome a regiões alcançadas, mas sim, em geral, a da festa religiosa do dia. Muito menos já se teria no decorrer do século XVI ou no século XVII memória tão viva dos dois navegantes para que se designasse uma localidade através da justaposição do prenome de um e do sobrenome de outro. Se a recordação de seus atos estivesse ainda tão viva, então não haveria razão para que não fosse designada com dois prenomes ou dois sobrenomes: Diego-Fernão ou Dias-Soares.

Não sendo plausível essa explicação do nome de Diégo-Suarez, a atenção se dirige a uma outra referência elucidativa, ainda que menos comum: aquela que a relaciona com Diogo Soares, que ali aportou em 1543. Esta identificação, que se revela como correta, implica que a designação da baía e da cidade não mais seja grafada como sendo dois nomes vinculados com traço de união. Sendo Diogo Soares devido à sua proveniência cognominado de „o Galego“, explica-se também a versão espanhola do seu nome na baía e na cidade do Madagáscar.

A explicação do nome através de sua identificação com Diogo Soares tem consequências para os estudos históricos e também levanta questões.

Diogo Dias - Madagáscar no contexto do Descobrimento do Brasil

O nome de Diogo Dias mais comumente lembrando na denominação de Antisiranana/Diégo-Suarez merece uma atenção especial nos estudos que relacionam o Brasil com o Madagáscar.

Como tratado no âmbito das comemorações dos 500 anos de viagens dos Descobrimentos portugueses em 1987 ao considerar-se a viagem do seu mais conhecido irmão, Bartolomeu Dias, Diogo Dias oferece problemas de identificação, uma vez que as fontes também falam de um Pero Dias como irmão de Bartolomeu Dias.

No dobramento do Cabo das Tormentas/Boa Esperança, em 1487, Diogo Dias era capitão da nave de manutenção da frota. Como escrivão, participou do descobrimento do caminho das Indias por Vasco da Gama. Participou, sobretudo da viagem de Pedro Álvares Cabral, tendo estado presente, assim, no descobrimento do Brasil, em 1500.  (M. Soares Pereira, Capitães, Naus e Caravelas da Armada de Cabral, Centro de Estudos de Cartografia Antiga, Lisboa: Junta de Investigações Científicas do Ultramar CXV)

Partindo do Brasil em prosseguimento da viagem à Índia, a nave de Diogo Dias, acolhida por tempestade, foi separada da frota de Cabral, levando-o a explorar o oceano Índico até à entrada do Mar Vermelho.

Retornando em direção sul, descobriu as ilhas de Maurício e a atual La Réunion (Bourbon) em julho e, no dia 10 de agosto, a grande ilha que denominou segundo a festa desse dia: São Lourenço.

Esses fatos, apesar de sob muitos aspectos obscuros, marcam a historiograifa da navegação, dos descobrimentos e da expansão portuguesa. Acentuam o papel pioneiro dos portugueses no descobrimento do Madagáscar e de seu conhecimento na Europa. Ao mesmo tempo, estabelece-se aqui uma estreita relação com aquela do Brasil.

A menção de Diogo Dias é imediatamente seguida por aquela de Fernão Soares, em 1505, que não teria porém realizado nenhum tipo de reconhecimento da ilha, como exposto em quadro traçado por J. Veríssimo Serrão, da Academia Portuguesa da História.

„La isla de Madagáscar, a que ya referencia Marco Polo como ‚una de las mayores y más ricas que son en el mundo‘, fue encontrada por los portugueses en el âno 1505. En ella había hecho escala Diogo Dias, miembro de la flota de Pedro Alvares Cabral, que se desvió del rumbo a la altura del Cabo de Buena Esperanza y prosiguió su loco recorrido hasta Mogadisco. Fue entonces bautizada como isla de San Lourenço, lo que permite asegurar que el encuentro con la tierra se produjo el día 10 de agosto. Se reconoció después que la isla, de ser necesario, podía ser rodeada en los viajes hacia la India, evitando así el abordaje por los puertos del África Oriental. Fernão Soares fue el primer marino que siguió ese rumbo em 1505, pero sin proceder a ningún tipo de reconocimiento. En la flota anual de 1510 iba João Serrão con órdenes de establecerse en la isla, lo que no pudo entonces concretar. El descubrimiento sólo se dio tres años después, para establecer trato y factoría, con los capitanes Luís Figueira y el francés Louis Eanes. El nombre de Madagáscar acabó por imponerse al topónimo de origen portugués, lo que se justifica por la débil implantación del Estado de la India en la gran isla del océano Índico“. (Veríssimo Serrão, J., Portugal en el mundo, Madrid: MAPFRE 1992, 269).

O„Galego“ - atualidade de um nome: „O romance de Diogo Soares“ de Fausto

Colocando a explicação do nome Diégo-Suarez como sendo a de Diogo Soares, o Madagáscar surge em contexto histórico relacionado com uma fase mais tardia da presença e da expansão portuguesa no Oriente. A atenção é dirigida não aos grandes navegantes e descobridores da ilha do período brilhante de D. Manuel, mas a um navegador e aventureiro da época posterior, de D. João III, precedida e marcada por conflitos, como conhecido das fontes, e.o. de M. Severim de Faria (Da Asia de João de Barros, dos feitos que os Portuguezes fizeram no descobrimento e conquista dos mares e terras do Oriente).

Essa elucidação coloca a baía e a cidade que leva o nome de Diégo-Suarez em contexto sob muitos aspectos sombrios, ligada com o comércio de escravos, de pirataria e violência, e no qual se insere uma das figuras de mais negra memória da história da expansão portuguesa.

O seu nome adquire particular atualidade devido à contínua popularidade desde 1982 da canção portuguesa „O romance de Diogo Soares“ de Fausto Bordalo Dias, inspirado na Peregrinação de Fernão Mendes Pinto.

Chegando à India ao redor de 1538, Diogo Soares já tinha no Oriente má fama de ser pirata e criminoso. O então governador de Goa, Estêvão da Gama (ca. 1505-1576), deu ordem para a sua prisão.

Este ato do filho de Vasco da Gama merece ser considerado com particular atenção, pois se tratava de uma autoridade que conhecia como poucos a situação no mundo extra-europeu português, tanto na África, como no Índico e no Extremo Oriente. Estêvão da Gama tinha sido capitão-mor de Mina, na África Ocidental,  de Malaca entre 1534 e 1538, assumindo o govêrno central da Índia portuguesa em Goa entre 1540 e 1542. Comandou incursões contra muçulmanos na região do Mar Vermelho, tendo assim necessariamente uma visão abrangente das atividades árabes no Índico, marcadas pelo comércio, sobretudo do resgate de escravos.

A ordem de prisão de Diogo Soares ordenada por Estêvão da Gama pôde ser contornada por intervenção do seu sucessor, Martim Afonso de Souza, que foi governador da Índia de 1542 a 1545. Este era amigo de Diogo Soares, o que estabelece elos históricos com o Brasil, do qual Martim Afonso foi Governador Geral. É possível que essa simpatia pelo „Galego“ possa ser explicada pelos elos de Martim Afonso de Souza com a Espanha, sendo até mesmo casado com uma nobre de Castela. Em todo o caso, esse apoio a Diogo Soares coloca também esse vulto histórico da história do Brasil em luz negativa.

Tudo indica que, após a sua libertacão, Diogo Soares deu continuidade às suas questionáveis atividades na região do canal de Moçambique. Foi sob ordens de Martim Afonso de Souza que visitou Madagáscar, em 1543. O objetivo dessa viagem foi  - pelo menos oficialmente - a de procurar o local do naufrágio do seu irmão, que se supunha ter ali ocorrido.

Do Madagáscar retornou a Cochim, trazendo prata e escravos. Essa menção sugere já o significado do comércio de escravos para os habitantes do Madagáscar, cuja intensidade seria explicável por relações com comerciantes árabes da costa africana e de ilhas islamizadas. Seria possível, assim, que Diogo Soares estivesse em contato com os Sakalava, habitantes da costa ocidental da ilha, mas também da região de Diégo-Suarez, uma vez que há indícios do envolvimento desse grupo populacional do Madagáscar no comércio de escravos.

A questão que se levanta diz respeito à razão pela qual o nome de Diogo Soares ficou perenizado como denominação da localidade por êle alcançada, se o mesmo não aconteceu com vultos muitos mais destacados da história das navegações portuguesas. Essa designação não pode ter sido oficial, mas sim inoficial ou popular, transmitida por tradição, com base na memória e de um renome. Este, porém, não tinha conotações positivas, representando um detrimento para a localidade. Esse fato explicaria o intuito de relativá-la através da construção historiográfica de uma justaposição de dois nomes, fazendo remontá-la a Diogo Dias e Fernão Soares.

O mau caráter de Diogo Soares segundo estória relatada por Fernão Mendes Pinto

Ainda que considerada como obra que deve ser lida com particular cuidado sob o aspecto dos dados históricos que transmite, a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, nos seus capítulos 191 e 192, surge como a principal fonte que explica o renome - ainda que negativo - daquele com o qual a baía do norte do Madagáscar ficou relacionada.

Em 1547, Diogo Soares alcançou Malaca, ali sendo levado por intempéries, onde esteve sob a autoridade do rei dos birmanos, Tabinshwehti. Com a amizade e a proteção desse rei, alcançou prosperidade material, obtendo jóias e outros bens, além de uma pensão e cargos de liderança no govêrno do reino e na armada.

Na guerra entre Birma e o Sião de 1548, Diogo Soares chegou a comandar uma tropa de 180 mercenários,  dirigido por cinco capitães, liderando o ataque de invasão de Tapuram. Esta terminou depois de cinco meses, após terem desertados centenas de soldados que se retiraram a Pegu, entre outras razões devido ao tratamento recebido por Diogo Soares.

Principal menção das qualidades negativas do seu caráter - é o relato na Peregrinação de seus atos criminosos no Oriente e que manifestam descontrolada sensualidade, insídia e abuso de posição. Segundo esse relato, Diogo Soares, quando governador em Pegu, ou seja, em posição de autoridade, teria certa vez encontrado, à frente de sua comitiva, festas de casamento da filha de um mercador de nome Mambogoá.

Inicialmente bem recebido, tendo sido presenteado pela noiva com um anel, Diogo Soares, tomado de desejos, a exige para si. O seu pai, Mambogoá, pede que não lhe tome a filha, em nome do Deus do próprio Diogo Soares. Este ordenou então a um acólito que matasse Mambogoá, que pôde, porém, fugir. Diogo Soares ordenou então que fossem mortos o noivo, o seu pais e outros parentes. A noiva, por sua vez, estrangulou-se, por não querer ser tomada por Diogo Soares. Este, posteriormente, disse que não se arrependia do que fizera, mas sim que se arrependia de não tê-la convertido antes que esta se matasse, uma menção que testemunha as questionáveis relações entre procedimentos moralmente condenáveis e concepções religiosas de cristãos como Diogo Soares.

Mudando-se a situação política após o assassinato do rei e a tomada de poder por um general de nome Zemin, após quatro anos, Mambogoá se vinga. Em um templo, pronuncia um discurso que, impressionando os ouvintes, levaram a um levante de mais de 50 mil pessoas que passaram a exigir justiça.

Diogo Soares, levado ao terreiro, foi apedrejado à morte em ação de grane alvoroço e violência. O cadáver foi a seguir tirado de sob as pedras e despedaçado pela multidão indignada. Os seus restos foram arrastados pelas ruas, puxados pela cabeça e pelas tripas por meninos. A sua casa foi arrombada, ali porém encontrando-se muito menor riqueza do que suposto, crendo-se que tenha queimado muito do que possuia antes que os bens caíssem em mãos de seus inimigos.


 Consequências para os estudos históricos brasileiros


A discussão sobre o nome de Diégo-Suarez no âmbito dos estudos realizados no Índico, em 2015, realizou-se em continuidade a colóquio levado a efeito em 2013 no Museu Casa Martim Afonso de Souza, em São Vicente/SP. Nessa ocasião, tratou-se do excepcional significado de Martim Afonso de Souza para os estudos históricos referentes ao Brasil, já pelo fato do seu estar vinculado à primeira vila fundada oficialmente no Brasil: São Vicente, no dia 22 de abril de 1531.
Entre os muitos aspectos considerados, lembrou-se que Martim Afonso, sob ordens de D. João III, comandou, entre 1530 e 1533, a mais importante expedição ao Brasil após a de Cabral. Em 1530, essa frota partiu para o Brasil com 400 homens, em cinco navios, com o objetivo de garantir a defesa e promover o reconhecimento e a exploração do Brasil.

Em Pernambuco, atuou contra franceses que realizavam comércio de madeiras, ali deixando alguns homens. Prosseguindo viagem ao sul, navegou até a baía da Guanabara, seguindo em direção do Prata. Retornano, aportou em São Vicente, tornando-se este em 22 de janeiro de 1532 a primeira vila oficialmente fundada no Brasil, onde levantou a igreja matriz, a Casa da Câmara e o pelourinho e, introduzindo o cultivo da cana, o Engenho do Governador.

Retornando a Portugal, em 1533, Martim Afonso teve os seus méritos reconhecidos com as capitanias de São Vicente e do Rio de Janeiro. Em 1534, foi nomeado capitão-mor do mar das Índias, com a tarefa de defender as feitorias dos ataques de corsários e de ocupações de outras nações. Entre os seus feitos lembrou-se da expulsão do rajá de Calicute e a ocupação da ilha de Repelim.

No ano seguinte, em 1534, foi enviado à India. Ali, interferiu no conflito entre os soberanos de Cochim e Calicut, alcançado sucesso e conseguindo a ampliação das possessões portuguesas. De 1542 a 1545 ocupou o cargo de governador, retornando em 1545 a Portugal. Enviado de novo à India, onde atuou durante três anos e conduziu um govêrno que deixou uma imagem de ineficiente e mesmo corrupto. Tornou-se vice-rei das Índias, retornando a Portugal provavelmente em 1545. Lembrou-se que, segundo alguns autores, uma das razões que teriam levado a seu afastamento da política residiria em acusações contra enriquecimento ilícito.

A memória da presença de piratas no Madagáscar é sobretudo viva na ilha de Sainte-Marie, o que é compreensível pelo fato de situar-se entre duas rotas comerciais do passado e por conter também baías onde os navegantes podiam encontrar abrigo de tempestades, água e víveres.

A região foi, no século XVII e XVIII, frequentada sobretudo por piratas do Caribe, que para ali teriam transferido o seu centro de atividades. Com o maior controle nas águas americanas e com a redução do número de navios espanhóis com riquezas da América, essas atividades passaram a se concentrar no Índico.

Esse passado é recordado no cemitério dos piratas, em frente à ilha dos Forbans, assim como no museu, onde nomes da história da pirataria, sobretudo ingleses e franceses - como Olivier Le Vasseur -, são lembrados. De relações com nativos, nasceram mestiços, dando origem a grupos populacionais mulatos de significado na história dos processos étnicos e culturais do Madagáscar.

A discussão sobre o nome de Diégo-Suarez faz remontar de décadas esses estudos da história de atividades voltadas ao enriquecimento, a apropriações violentas e outros atos moralmente condenáveis no Madagáscar, trazendo à consciência também aspectos problemáticos da história do Brasil nas suas inserções em desenvolvimentos globais.


De ciclo de estudos da A.B.E.
sob a direção de

Antonio Alexandre Bispo




Todos os direitos reservados

Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A.(Ed.).„Nomes e relações do século dos Descobrimentos. „O romance de Diogo Soares“ e Martim Afonso de Souza (ca. 1500-1564/1571)“.
Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 154/3(2015:02). http://revista.brasil-europa.eu/154/Diego-Suarez_Martim_Afonso.html


Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2015 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


Academia Brasil-Europa
Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)
reconhecido de utilidade pública na República Federal da Alemanha

Editor: Professor Dr. A.A. Bispo, Universität zu Köln
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