Cultura e agricultura em processos coloniais
ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA 155

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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N° 155/6 (2015:3)



Cultura e agricultura como arte universal

Filosofia, estudos de povos e aclimatação de plantas na história colonial

Memória de Pierre Poivre (1719-1786) no Jardin de l‘Etat em Saint Denis


Pelos 450 anos do Rio de Janeiro e 350 anos da chegada de franceses nas Mascarenhas


 

O Jardim Botânico do Rio de Janeiro é, sob diversos aspectos, um dos maiores monumentos do Brasil. É um monumento da história das ciências aplicadas, da pesquisa botânica, das ciências naturais em geral, do pensamento e da cultura nas suas relações com a natureza, sendo em si obra de ciência e arte, local de fruição da natureza, aguçamento da sensibilidade e promotor da contemplação, de formação no seu sentido mais amplo. 

O Jardim Botânico do Rio foi, na sua longa história, sempre fator de primeira grandeza para a imagem da cidade e do Brasil, visitado e descrito por viajantes estrangeiros, cientistas, artistas e intelectuais das mais diversas áreas. Merece ser assim particularmente lembrado em ano em que se comemora os 450 anos da antiga capital do Brasil sob a perspectiva adequada, ou seja, aquela que atente às suas dimensões internacionais.

É o Jardim Botânico do Rio um dos principais pontos de partida para a consideração de elos do Brasil com a esfera do Índico e mesmo do Oriente mais distante, com países e regiões que, numa primeira aproximação, poucas relações parecem apresentar com contextos brasileiros na história e no presente.

A visita a jardins botânicos de mundos tropicais favorecem cotejos e reconhecimento de relações que não são tão evidentes em jardins, centros botânicos e parques europeus, apesar da riqueza que estes apresentam em espécimes tropicais trazidas de distantes regiões no decorrer da história colonial. Reconhece-se neles similaridades na configuração paisagística, científica e estética de jardins ao sul do Equador, e dela a estreita rêde de elos recíprocos possibilitada pelas plantas entre mundos separados por continentes e oceanos.

Um dos primeiros, senão o primeiro lugar nesse redescobrimento e revalorização desse universo comum, nos seus elos de unidade e nas suas diferenças, cabe, no Índico, ao Jardim de Pamplemousses, em Maurício, a antiga Île de France, hoje Sir Seewoosagur Ramgoolam Botanical Garden. Foi, assim, foco de ciclos de estudos realizados no programa Cultura/Natureza da A.B.E. em 2009. (Veja)

Dando continuidade a esses trabalhos, consideraram-se no presente ano outros jardins botânicos, reservas e parques do Índico, no Madagáscar (Veja) e em outras ilhas do arquipélago das Mascarenhas, visitas motivadas pelas comemorações, na França, dos 350 anos da chegada dos franceses nas ilhas.

O Jardin de l‘Etat em Saint Denis e o Jardim Botânico do Mont Fleuri de Seychelles

Saint Denis, La Reunion. Foto A.A.Bispo 2015. Copyright

Dois dos principais desses jardins apresentam estreitos elos históricos com o de Pamplemouses, hoje, podendo ser considerados como exemplos de sua irradiação no mundo insular: o Jardim Botânico do Mont Fleuri, nas Seychelles, (Veja) e o Jardin de l‘Etat em Saint Denis, em La Réunion, antiga Île Bourbon, no qual se encontra também o Museu de História Natural desse departamento francês.

Saint Denis, La Reunion. Foto A.A.Bispo 2015. Copyright

Saint Denis, La Reunion. Foto A.A.Bispo 2015. Copyright
Ambos representam instituições e locais de grande relevância científica, prática, cultural e emblemática nas duas ilhas, uma país independente há algumas décadas, outro, um departamento ultramarino da França, administrativamente e sob diversos aspectos parte da Europa no Índico.

Apesar dos elos históricos com Pamplemousses e outras similaridades decorrentes da situação nos trópicos e de suas inserções na esfera do Índico, constatam-se grandes diferenças entre o jardim das Seychelles e o de La Réunion.

O primeiro, encravado na floresta tropical, impregnado da sua exuberância, dirige a atenção sobretudo ao patrimônio representado pelas palmeiras endêmicas, em particular à palmeira das Seychelles com o seu „côco de mar“, não só útil mas de amplas implicações culturais, celebrado em pinturas, plásticas e marcado por estórias na tradição oral. (Veja)

O segundo, no passado denominado de Jardin du Roy, muito antes implantado do que aquele de Seychelles, entre 1767 e 1773, revela de forma mais evidente a tradição do paisagismo francês nos princípios geométricos de sua implantação, assim como as dimensões científico-culturais e coloniais do jardim através de seus monumentos e bustos.

Se o Jardim de Mont Fleuri das Seychelles indica a ressonância do pensamento científico e estético-paisagístico inglês nas suas interações entre a floresta e o parque, compreensível pelo longo período da administração colonial britânica em Maurício e nas Seychelles, o de Saint-Denis remete o visitante ao passado de formação cultural francesa do mundo insular do Índico e que hoje mantém-se presente, apesar de suas transformações, nessa capital de um departamento francês nos trópicos.

Significativamente, o Jardin de l‘Etat de Saint-Denis é considerado monumento histórico, centro cultural por excelência, local e foco de referências de exposições diversas, festivais e apresentações musicais.

Se em Mont Fleuri a atenção é dirigida a questões de conservação e recuperação de espécies em risco e a questões ambientais em geral - ali se encontra o Ministério do Meio Ambiente do país -, no Jardin de l‘Etat é a dimensão cultural e intelectual do Botanismo que se sobressai.

Saint Denis, La Reunion. Foto A.A.Bispo 2015. Copyright

O Jardin de l‘État na configuração urbana de Saint-Denis e memória colonial

Esse jardim de Saint Denis representa o ponto alto na configuração urbana da cidade. Encontra-se no término da principal artéria do traçado geométrico em xadrez das ruas da cidade, significativamente no fecho da rue de Paris, aberto monumentalmente por arcadas em pedra, tendo no centro da praça uma coluna com o busto de François Gédéon Bailly e Monthion (1776-1850).

Essa posição apoteótica de um militar nascido em Saint-Denis e que desempenhou papel relevante nas batalhas, na política e diplomacia da época de Napoleão, alcançando o grau de General de Brigada à época da incursão bonapartista em Portugal, em 1808, tendo os seus feitos reconhecidos também na época posterior da Restauração, torna presente o campo de tensões histórico entre a França e a Grã-Bretanha nos seus vínculos respectivamente com a Espanha e Portugal, assim como as suas repercussões no Brasil com a vinda da Corte real portuguesa ao Rio de Janeiro, determinante dos destinos do país.

Essa atualização desse campo de tensões do passado na capital de La Réunion à frente do Jardin de l‘Etat favorece também uma leitura dos jardins botânicos do Indico nas suas inserções em processos político-culturais.

As suas configurações, marcadamente britânica no Mont Fleuri, francesa em Saint Denis, evidenciadora da complexidade de interações franco-britânicas com a passagem da Île de France à Grã-Bretanha à época napoleônica abre também caminhos para uma leitura cultural mais diferenciada do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

O cultivo da arte de jardinagem atual na França e as Florálias do Índico


A presença da França continental nesse seu jardim de departamento e região do ultramar não representa apenas um período passado, mas sim um aspecto da realidade atual.

Esse fato é testemunhado da forma mais expressiva pelo fato de realizarem-se no Jardin de l‘Etat os eventos florísticos que tanto caracterizam a França no presente. Como poucos países da Europa - e diferentemente do paisagismo inglês e do amor pelas florestas da Alemanha - a França se distingue pelas suas cidades floridas, pela arte de jardinagem no cruzamento de ruas e estradas, o que é fomentado através de concursos e prêmios.

Placa colocada no Jardin de l‘Etat lembra que ali foram inauguradas as terceiras Floralies do Oceano Indico, em 1987, pela Primeira Dama da França, assim como pelas autoridades de La Réunion e de Saint-Denis. Ali se mantém um painel vegetal-artístico com representações plásticas, vasos e um grande coração de referências e conotações várias, hoje representativo de tendências ornamentais e da jardinagem artística da década de 80.

Essa hoje já não-moderna  modernidade do arranjo vegetal-floral e plástico das Florálias do Índico traz à luz a diversidade de referências históricas que podem ser percebidas no Jardin de l‘Etat e que, guardados os fundamentos de sua implantação, documentam remodelações no decorrer dos séculos, em particular no século XIX, quando o jardim - como comprovam fotografias da época - atingiu uma época de florescimento e brilho em cidade que se destacava pela vida literária e artística de círculos aristocráticos de uma sociedade colonial enriquecida pela agricultura. (Veja)

A fonte Wallace no Jardin de l‘État de La Réunion como símbolo de desenvolvimento

Uma dessas referências que chama a atenção do pesquisador brasileiro é a „fonte Wallace“ que se encontra nesse paris no topo da rue de Paris, uma vez que traz à lembrança fontes similares na capital francesa e muitas outras cidades da França, assim como de outros países, inclusive no Brasil.

Designado segundo o mecenas inglês Richard Wallace, esse bebedouro público projetado com o escultor Charles-Auguste Lebourg (1829-1906), que se caracteriza pelas suas cariátides, surge como um emblema da nova época marcada pela remodelação de Paris no século XIX e de cidades que passaram a refletir o modêlo parisiense de cidade e modos de vida. Essa fonte pode ser lida sob o aspecto das relações Cultura/Natureza, uma vez que atualiza relações entre a água e as cariátides da Antiguidade nas suas reatualizações na Renascença e na Neo-Renascença do século XIX.

Em ambos os casos evidenciam-se conotações de gênero que podem ser lidas nas figuras femininas que servem de colunas. Mais do que uma leitura de linguagem estilística, porém, são os sentidos subjacentes que revelam concepções e mesmo uma filosofia que orientou a iniciativa de sua criação e difusão.

Essas fontes suprimiam as necessidades de água potável e serviam à higiene, revelando a sua função social no fato de servirem sobretudo à população desprivilegiada dos sem-teto e depauperados, contribuindo ao combate ao alcoolismo. Ao mesmo tempo, as quatro figuras representam conceitos condutores da iniciativa, a bondade, a simplicidade, a filantropia e a sobriedade.

Pierre Poivre (1719-1786), filosofia do cultivo da terra e o papel do Brasil no Índico

Essa presença de reflexões filosóficas no Jardin de l‘Etat tem a sua principal expressão na coluna com o busto de Pierre Poivre (1719-1786), o fundador do Jardim Botânico de Pamplemouses. Em placa comemorativa, lembra-se que Pierre Poivre foi aquele que introduziu o cravo-da-India, a noz-moscada e sobretudo a canela nas Mascarenhas.

Esse feito é assim celebrado como sendo de grande importância para a antiga Île Bourbon, pois conferiu-lhe a possibilidae de competir com o comércio com regiões do Extremo Oriente controlado pelos holandeses, levando a que seu nome continuasse até o presente a ser associado com a canela - inclusive no Brasil. 

A obtenção por contrabando de sementes dessas plantas das Molucas é eternizada como ato principal de Pierre Poivre, tanto em La Réunion, como nas Seychelles.

Em Victoria, capital das Seychelles, encontra-se também o seu busto, lembrando que Poivre, quando intendante das ilhas de France e Bourbon, de 1767 a 1772, foi nada menos do que o iniciador do estabelecimento das Seychelles, tendo nelas introduzido plantas de especiarias, particularmente a canela. O monumento foi edificado pela Seychelles Society e inaugurado por Ministro da Agricultura e dos Recursos Naturais em 1972, no âmbito do primeiro festival das Seychelles pela comemoração do bi-centenário da introdução da canela nas ilhas.

O fato do monumento nas Seychelles ter sido inaugurado pelo Ministro da Agricultura salienta o contexto em que deve ser considerada a atuação de Poivre: o agrícola.

O fomento da agricultura a serviço da colonização e do desenvolvimento das ilhas surge na obra de Poivre estreitamente relacionados e refletem uma concepção de cultura referenciada segundo o cultivo da terra de antiga tradição.

Essa compreensão de cultura manifestada na atenção primordial dada à agricultura na história de vida de Poivre pode ser entendida a partir da formação teológica que recebeu. Como missionário, membro da Ordre du Saint-Esprit, atuou em territórios de antiga presença portuguesa no Oriente, em Macau, Guangzhou e no Sudeste asiático. Como membro da Companhia Francesa das Índias Orientais, viajou pela Índia e vivenciou batalha marítima com navios ingleses.

As bases filosóficas de sua atenção à cultura agrícola em diferentes regiões do mundo e de seu empenho pela introdução de espécies nas ilha do Índico manifestam-se já no título de seu livro „Voyages d‘un philosophe, ou observations sur les moeurs et les arts des peuples de l‘Afrique, de l‘Asie et de l‘Amérique“, de 1768.

A agricultura como arte universal e o estado de seu desenvolvimento nos vários povos

Poivre considerava-se êle próprio como sendo um filósofo que fazia observações sobre costumes e artes. A sua obra, assim, representa um documento da etnografia, mas de uma etnografia baseada em concepções filosóficas determinadas por uma compreensão de cultura estreitamente relacionada com o cultivo da terra.

Poivre inicia a sua obra lembrando que não haveria nação, por mais bárbara que fosse, que não tivesse artes que lhe fossem particulares. A diversidade de climas, modificando as necessidades dos povos, oferece à sua indústria produções diferentes sobre as quais podiam exercitar-se.

Cada país possuia fábricas que lhe seriam próprias, mas a agricultura era a arte de todos os homens, independentemente do céu sob o qual vive. De uma extremidade da terra à outra, podia-se distinguir povos de maior civilização e aqueles que eram bárbaros a partir na sua subsistência, na cultura de seus campos.

A agricultura, arte universal, não era por todo o lado igualmente desenvolvida. Ela prosperava entre as nações sábias que a sabiam promover e encorajar, elas se encontrava mais fraca entre povo semi--cultos, que preferiam as artes frívolas, ou que eram por demais esclarecidos para perceber a sua utilidade, eram ainda por demais escravos de preconceitos da sua antiga barbárie para chegar a reconhecer e honrar aqueles que a exerciam.

A situação da agricultura foi sempre o primeiro objeto das suas pesquisas entre os diferentes povos que viu durante as suas viagens. Não era possível a um viajante que apenas tivesse passado por um só país, de fazer observações necessárias para uma idéia justa de govêrno, da educação e de costumes dos habitantes.

Nesse caso, não haveria meio mais breve para se ter uma idéia geral da nação onde se encontra do que lançar olhos nos mercados públicos e nos campos. Se os mercados são abundantes e as terras bem cultivadas e cobertas de frutos, pode-se em geral assegurar que o país se encontra bem povoado, que os habitantes são policiados e felizes, que os costumes são doces, que o seu govêrno é feito sob os princípios da razão. Poder-se-ia mesmo dizer que se estaria entre homens. O contrário revelariam povoados onde os mercados apenas apresentavam algumas más raízes, podendo-se constatar ali um povo infeliz, feroz ou escravo.

Nunca tinha podido mudar essa sua opinião de que o estado da agricultura nas diferentes nações: um país mal cultivado é quase que certamente habitado por homens bárbaros ou oprimidos. Entre todos os povos a agricultura depende de leis, de costumes e de conceitos pré-estabelecidos.

Lembrando o significado do café de Bourbon e sua origem de Moka

Após tratar de Madagáscar, Poivrre considera as ilhas de Bourbon e de France, onde o solo era tão fértil como o malgache, mas o clima melhor. Bourbon não possuia nenhum porto, sendo pouco frequentada por navios franceses, os habitantes tinham conservado modos simples, e a agricultura era muito florescente, produzindo cereais, arroz e milho para os habitantes e mesmo para os colonos da Ile de France.

A cultura era ali a mesma que no Madagáscar, tendo-se para ali também transportado gado dessa ilha. Grande parte de suas terras eram empregadas para a cultura do café, tendo sido as primeiras plantas trazidas de Moka. Multiplicando-se por si, exigia pouca cultura, bastando três ou quatro trabalhadores para o seu cuidado. Podendo ser colhido durante todo o ano, o café de Bourbon trazia mais vantagens do que aquele de ilhas francesas da América.

A Ile de France, possuia dois bons portos que serviam respectivamente ao comércio com a Índia e com a China. Menos isolada do que Bourbon, ali a administração e os costumes da Europa tinham maior influência. Após M. de la Bourdonnais que a governara durante 10 ou 12 anos, visto como fundador da colonia por ter sido o primeiro que ali estabeleceu agricultura, houve um troca contínua de projetos, tendo-se tentado a cultura de todos os tipos de plantas, nenhuma delas sobrevivendo.

Se se tivesse seguido o plano simples do fundador, que era o de assegurar o pão, a ilha seria florescente, reinando abundância entre os colonos, ali procurando provisões os navios. A cultura de cereais, negligenciada, era a que maior sucesso tinha. A mandioca, transportada do Brasil por de la Bourdonnais, inicialmente cultivada com repugnância e por força, tornara-se então o principal recurso alimentício de colonos para escravos. A cultura dessa raiz era a mesma daquela do Brasil.

Tratando das diferentes partes do mundo, Poivre salienta que a América Central, coberta de florestas e de animas selvagens, terras imensas, estavam endurecidas pelo suor de sua mão-de-obra escrava. O norte dessa parte do mundo era habitada por pequenos povos indígenas, pobres e sem agricultura, mas homens, vivendo a sua liberdade, menos infelizes também do que a multidão daqueles que pretendiam ser civilizados, mas que, por estarem mais longes do que eles das leis da natureza, faziam esforços potentes para alcançar felicidade, que seria um resultado da agricultura .(op. cit. pág. 99)

Colonos não devem pensar apenas no enriquecimento rápido e no retorno à metrópole

No discurso pronunciado por Poívre à chegada na Ile de France aos habitantes da colonia reunidos no Governo,  seguindo ordens do rei, transmite a todos em termos precisos para que nada fosse negligenciado no sentido de possibilitar a felicidade dos colonos.

„Jusqu‘ici chaque colon, aveuglé par son intérêt privé, n‘a régardé cette colonie que comme un lieu e passage, et ne s‘est attaché qu‘aux moyens de faire une rapide fortune par toutes sortes de voies, pour retorner promptement en France.

Permettez-moi de vous le dir, messieurs, le colon qui, sous un ciel aussi heureux que celui de cette isle, habitant une terre aussi fertile, exemplt de toute espèce d‘impositions et de droits, au milieu de toutes les productions de l‘univers que la mer lui apporte, n‘a pas su se procurer le vonheur qu‘il cherche, ne le grouvera jamais en France.“

(...) Revenez donc de l‘erreur dans laquelle vous étiez tombés. Attachez-vous à une colonie où le climat, la situation, le sol, l‘aisance, la liberté, toput concourt à votre bonheur. Élevez auhord‘hui vos ames au-dessus du vil intérét qui vous aveugloit.

(...) Des hommes avides et ignorans, ne pensant que pour eux-mêmes, ont ravagé l‘isle, en détruisant les bois par le feu; empressés de faire aux dépens de la colonie une fortune rapide, ils n‘ont laissé à leurs successeurs que des terres arides, abandonnées par les pluies, et exposées sans abri aux orages, et à un soleil brulant.

La nature a tout fait pour l‘Isle-de-France: les hommes y ont tout détruit. Les forêts magnifiques qui couvroient le sol, ébranloient autrefois, par leurs mouvemens, les nuages passagers, et les déterminoient à se résoudre en une pluie féconde: les terres qui sont encore en friche, n‘ont pas cessé d‘éprouver les memes faveeurs de la nature; mais les plaines qui furent les premieres défrichées, et qui le furent par le feu, sans aucune réserve de bois, pour conserver au moins de l‘abri aux récoltes, et une communication avec les forêts, sont aujourd‘hui dÄune aridité surprenante, et par donséquent beaucoup moins fertiles; les rivières mémes, considérablement diminuées, ne suffisent pas toute l‘année à abreuver leurs rives altérées: le ciel, en leur refusant les pluies abondantes ailleurs, semble y venger les outrages faits à la nature et à la raison. (op.cit. pág. 112)

De ciclo de estudos da A.B.E.
sob a direção de

Antonio Alexandre Bispo


Todos os direitos reservados

Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A.(Ed.) „Cultura e agricultura como arte universal. Filosofia, estudos de povos e aclimatação de plantas na história colonial. Memória de Pierre Poivre (1719-1786) no Jardin de l‘Etat em Saint Denis“. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 155/6 (2015:03).
http://revista.brasil-europa.eu/155/Cultura_e_agricultura_em_colonias.html


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Fotos A.A.Bispo, La Réunion. 2015 ©Arquivo A.B.E.