Legião da mulher brasileira na música
ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA 156

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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N° 156/10 (2015:4)




A Legião da Mulher Brasileira

e a direita social-nacionalista e católico-restaurativa na música

Concepções estético-musicais de Júlia Lopes de Almeida (1862-1934)


Reflexões em Victoria(BC) em continuidade a seminário de Pesquisa Musical e Política na América Latina da Universidade de Colonia
e de
Gender Studies na Universidade de Bonn

 
Arquivo A.B.E.
As comemorações dos 450 anos do Rio de Janeiro em 2015 seguem-se às rememorações dos 100 anos da deflagração da Primeira Guerra Mundial em 2014 e que se prolongam na Europa até 2018. Essa conjução de datas favorece uma concentração das atenções aos efeitos da Primeira Guerra na então capital do Brasil, que também nela participou, tanto ao periodo anterior à sua eclosão, como ao posterior a seu desfecho. (Veja)

Assim como a Guerra levou à derrocada da velha ordem européia, política e cultural, com deslocações no significado de metrópoles européias e de polos de irradiação de tendências e de sistemas de referências no pensamento e nas artes, também no Brasil fêz-se necessariamente sentir essa crucial cisão nos desenvolvimentos historicos, e de transferências de pesos e focos em um campo de tensões já há muito existente.

A análise de situações culturais precedentes e posteriores à Guerra, a detectação dos múltiplos elos e correntes intelectuais e estéticas entre o Brasil e a Europa anteriores a 1914 nas suas permanências e transformações após a vitória de 1918 é complexa e sensível, mas necessária.

Essa análise exige enfoques dirigidos a processos e suas interações, também e sobretudo nas suas dimensões políticas em contextos globais. A dificuldade desse intuito reside no fato de que os estudos histórico-políticos, baseando-se sobretudo em fontes escritas, da literatura e da imprensa, pouco consideram as artes e da música como expressões e fatores de mudanças político-culturais de orientações mentais e posicionamentos.

Surge como oportuno, assim, recordar alguns assuntos tratados e momentos de debates levados a efeito no primeiro seminário superior de Pesquisa Musical e Política na América Latina realizado no Instituto de Musicologia da Universidade de Colonia em cooperação com o ISMPS e a ABE. Um dos aspectos considerados disse respeito ao papel da mulher na música e nas instituições culturais latino-americanas no século XX.

Com essa focalização da mulher, deu-se continuidade, agora sob a perspectiva político-cultural, a estudos que vêm sendo desenvolvidos há anos relativos à mulher na música e nas instituições culturais no Brasil. Esses esforços levaram à realização de uma primeira sessão internacional no âmbito do Congresso de Musicologia levado a efeito no Rio de Janeiro pelos 500 anos do Descobrimento da América, em 1992. (Veja)

Os estudos tiveram continuidade sobretudo no seminário dedicado a Gender Studies realizado no Seminário de Musicologia da Universidade de Bonn.

Atualidade: mulheres radicais na América Latina: direita e esquerda

A atualidade do tema revela-se em várias publicações surgidas nos últimos anos, entre outros no livro dedicado a „mulheres radicais na América Latina: direita e esquerda“ pela universidade da Pennsylvania. (Radical Women in Latin America: Left and Right. Hg. Victoria González-Rivera, Karen Kampwirth, 233. Pennsylvania State University 2001)

Nessa publicação, lembra-se que a entrada do Brasil na Primeira Guerra, assim como as ações mobilizadoras a partir de 1917 levaram ao surgimento de grupos de mulheres atuantes politicamente similares àqueles já existentes na Argentina.

Destaca-se nesse estudo a Ação Social Nacionalista (ASN), estabelecida em 1920 e centralizada no Rio de Janeiro como entidade católica anti-esquerdista que agregou grupos nacionalistas e cívicos de mulheres, atingindo considerável número de associados.

Segundo o estudo, nesse movimento não participavam apenas mulheres de elite ou de círculos mais privilegiados da sociedade. Eram sobretudo mulheres da classe média que nele se envolviam, ou seja, mulheres pertencentes a uma esfera da sociedade imbuída de anelos de ascensão e afirmação social e cultural que se ressentia do progresso econômico de imigrantes, sobretudo de comerciantes portugueses, assim como das mudanças que se intensificavam.

Receios de perda da situação alcançada, de privilégios e do aconchego do mundo familiar, social, cultural e religioso a que estavam acostumadas teriam levado a ímpetos de defesa de situações conhecidas, de tradições, da família, da propriedade, da religião e da nacionalidade. O extremado sentimento nacional relacionar-se-ia assim com sentimentos de insegurança, inveja e xenofobia.

As grandes transformações culturais e sociais, e sobretudo a crescente imigração já teriam lançado antes da Guerra as bases para esse desenvolvimento. A recepção de correntes de pensamento e tendências na arte e modos de vida das grandes metrópoles secularizadas e cosmopolitas da Europa contribuira aqui à sensação de abalo de universos culturais e modos de vida consuetudinários. A transformação urbana da antiga capital do Brasil no início do século XX, impregnada de concepções evolucionistas, poderia aqui ser vista como expressão mais extraordinária desse desenvolvimento. (Veja)

O fato do movimento estabelecer-se sobretudo em meios católicos mereceria aqui porém maior atenção. Com a revitalização da ação de ordens religiosas estrangeiras no Brasil, possibilitada pela República, intensificara-se um processo católico restaurador que não se restringiu apenas a questões de culto. (Veja)

Através de publicações e periódicos, da criação de associações e de escolas, os missionários, em particular alemães, desenvolveram ampla ação de recatolização de novas gerações, em particular de arregimentação e educação de mulheres sob o signo do combate às consequências do Esclarecimento, que viam corporificados no Imperador destronado. Gerações de jovens assim formadas e impregnadas de sentimentos restaurativos e de defesa de normas morais, da família e da nação, estavam assim preparadas à época da Primeira Guerra à eclosão da militância feminina de extremo conservadorismo.

Homens por detrás da militância de mulheres

As autoras de Radical Women, ainda que não lembrando suficientemente a ação aparentemente paradoxal dos missionários católicos estrangeiros na formação das mulheres imbuídas de nacionalismo e de defesa de normas e da tradição no Brasil, consideram a ação de homens por detrás da militância feminina a partir de fins da Guerra.

Lembram, aqui, que  presidente honorário do movimento foi um homem, nada menos do que o Presidente Epitácio Pessoa (1919-1922). Esse fato teria favorecido a tomada de medidas várias, protecionistas e restritivas à imigração, vindo de encontro a receios, ressentimentos e suposições nas quais os estrangeiros surgiam indistintamente associados com a esquerda.

A organização social-nacionalista procurava emancipar as mulheres, mas isso no sentido de incorporar esposas e parentes de membros no rol dos ativistas católicos.

A imagem condutora da mulher nessa organização seria aquela de Joana d‘Arc, a santa heroína nacional francesa, venerada na França e em todas as suas colonias da época da intensificação do galicanismo por seu patriotismo, bravura, despreendimento e auto-sacrifício. (Veja)

Essa militância seria diferente daquela dos homens, pois tratava-se de uma legião formadora de legiões, de legiões de homens valentes, como expressa pela escritora Anna César, presidente da Legião da Mulher Brasileira, entidade fundada em 1919 e lembrada na publicação: as mulheres deveriam guiar e inspirar os homens em amor patriótico.

No vigor do amor de mãe, de esposa, de irmã e de filha, um amor que sempre faz maravilhas, as mulheres poderiam transformar o número pequeno de valentes patriotas em legiões de homens valorosos e combatentes a serviço da preservação e reinstauração de valores. As mulheres deviam assim emancipar-se de seus papéis convencionais de dona-de-casa, passando a cultivar o patriotismo com o mesmo zêlo que até então dedicavam a jardins e à própria aparência.

A publicação lembra palavras da escritora Rachel Prado que, em texto publicado em Gil Blas, apelava às mulheres - esposas, mães, filhas e irmãs - de todas as cores, religiões e classes para amar o Brasil e passar esse amor a seus maridos, filhos e irmãos para que se tornassem verdadeiros brasileiros que se opusessem a esquerdistas e comerciantes estrangeiros que abusavam da hospitalidade brasileira.

Essa militância patriótica das mulheres devia ocorrer no seio das famílias, no íntimo doméstico e nos seus locais de trabalho. As autoras também lembram o nome da poetisa e educadora Maria Rosa Moreira Ribeiro da Legião da Mulher Brasileira e do Centro Pedagógico Nacionalista - assim como da Cruz Vermelha -, segundo a qual a educadora brasileira deveria dar a sua contribuição no ensino à batalha sacrosanta do engrandecimento da pátria.

O Cristo Redentor como imagem emblemática e a militância feminina

A publicação salienta as dificuldades de se reconstruir as atividades dessa movimento legionário de mulheres e seus efeitos no desenvolvimento histórico-político do Brasil que precedeu e teria preparado a época autoritária dos anos 30, lembrando porém a contribuição relevante da ação feminina no projeto de construção e execução da estátua do Cristo Redentor, completada em 1931.

Essa estátua-emblema do Rio seria, assim, quase que um monumento sempre presente da ação das patrióticas legionárias cariocas a serviço do catolicismo e de sua moral, da direita política e do nacionalismo em defesa e combate ao poder de imigrantes e estrangeiros, e assim de oposição ao laicismo, à política de esquerda, ao internacionalismo e à cosmopolitização.

Legionárias e processos integrativos de imigrantes. Júlia Lopes de Almeida (1862-1934)

Um dos muitos nomes que merecem ser lembrados de mulheres que exerceram militância com os meios então considerados como mais propriamente femininos é o de Júlia Lopes de Almeida.

A escritora, presidente honorária da Legião, era de tradicional família, tendo-se formado e atuado em Campinas. A consideração dessa escritora e personalidade do movimento feminino de direita conservadora nacionalista é particularmente relevante, uma vez que era casada com o escritor Francisco Filinto de Almeida (1857-1945), nascido no Porto. Significativamente, a escritora, que adquiriu renome com Ansia Eterna, em 1903, colaborou para órgãos luso-brasileiros como para a revista Brasil-Portugal (1899-1914).

Se a ação social nacionalista de mulheres ganhava os seus impulsos também a partir de ressentimentos contra imigrantes, em particular de comerciantes portugueses, como salientado no Radical Women, o fato de Júlia Lopes de Almeida ser casada com Filinto de Almeida, e com êle colaborando, traz à consciência a necessidade de análises mais diferenciadas da situação dos portugueses na época.

Filinto de Almeida atuara como redator de A Província de São Paulo/O Estado de São Paulo, fora deputado e colaborara em vários períodicos do Rio de Janeiro e em São Paulo, sobressaindo-se como diretor da revista A Semana do Rio de Janeiro .

Adquirira renome como representante do Parnasianismo, uma orientação estética repetidamente constatada em situações de mudanças culturais vivenciadas por estrangeiros de formação cultural também em outras regiões do mundo. (Veja)

Filinto de Almeida parece aqui surgir como exemplo do português - ou do imigrante em geral - que se esforçava em integrar-se, identificando-se com o Brasil, desejando ser como tal reconhecido, tornando-se para isso até mesmo „mais brasileiro do que os brasileiros“. Esses processos mentais e psiquicos de integração de imigrantes teriam vindo de encontro com aqueles vivenciados pela mulher imbuída de sentimentos de família e tradição, pronta para levar, através do amor de esposa, mãe e irmã os homens a tornarem-se combatentes patrióticos por valores vistos em perigo.

Nessa militância das legionárias através de meios femininos, as artes e sobretudo a música desempenharam necessariamente papel relevante. Pelas próprias características da educação feminina tradicional, a leitura de livros e periódicos de ilustração e o aprendizado do piano constituiam elementos fundamentais de formação. Embora sendo o alcance de conhecimentos e o desenvolvimento de aptidões literárias e musicais primordialmente destinadas ao exercício doméstico no recato do lar, algumas escritoras, musicistas e artistas conseguiram superar os limites impostos pelas convenções, expondo-se à publicidade.


Victoria BC. Foto A.A.Bispo 2015
A visão musical do mundo no „Para o Álbum de Guiomar Novaes“, de 1921

Um texto que surge como de significado para a análise da militância de mulheres da Legião da Mulher Brasileira a partir de meios femininos ou como tal conotados é o artigo „Para o Álbum de Guiomar Novaes“ e Júlia Lopes de Almeida publicado no Jornal do Commercio do Rio de Janeiro a 15 de Outubro de 1921.

No seu texto, a escritora salienta de início o poder da música, designada como dominadora de almas, capaz de reger multidões. O poder da música é, assim, uma das principais armas da legionária que pretende incutir nos homens sentimentos patrióticos e de combate pela preservação de valores. Como se depreende do texto, a militância feminina não procedia primordialmente através de meios racionais, mas sim através da psique que se ampliava à esfera do pensamento, um pensamento que, nas suas palavras, não podia ser bem definido. A música estaria em condições de transportar o ouvinte atento através de uma expansão da alma a um estado mental que apenas poderia ser esboçado com termos imprecisos de elevação, abstração e sensação de felicidade.

Relatando a sua entrada no salão no qual a pianista se apresentava, Júlia Lopes de Almeida, defrontando-se com o silêncio e a atenção do auditório, passa a tratar do poder de fascinação da música como „poderosa domadora de almas“.

As suas palavras surgem como reveladoras de suas concepções, uma vez que fala do poder da música como „domadora“ mesmo de almas das mais ferozes e rebeldes, do auditório como „turba“ que era dominada pela música da pianista. A escritora utiliza-se, aqui, de forma consciente ou não, de figuras de antigas origens, conhecidas da mitologia da Antiguidade e transmitidas em escritos e na linguagem visual através dos séculos, em particular no complexo imagológico de Orfeu. (Veja) A pianista, aqui, embora mulher, assume o papel de Orfeu e, portanto, uma imagem conotada masculinamente.

„Ouvi-a de olhos fechados no doce recolhimento que intensifica a attenção e desdobra a alma pelo mundo infinito do pensamento - pensamento que se não sabe bem se é antes sentimento, mas que é com certeza enlevo, abstracção, felicidade. A sala, os espectadores, o ambiente, em que nem o respirar da multidão que enchia o theatro immenso se percebia, era tudo, em bloco, como um só ouvido ancioso e attento. A fascinação da musica, que é a mais poderosa domadora de almas, mesmo as mais ferozes e rebeldes, tinha já produzido o seu effeito quando entrei no salão. Senti, suspenso no ar, o espirito da turba dominada.“

Música como voz da natureza e a metáfora da água

Segundo as concepções estéticas de Júlia Lopes de Almeida, a música é voz da própria natureza, alma de uma sinfonia universal, que poderia ser em tudo percebida, mas não captada racionalmente. O homem vive dentro da música como um peixe na água, não a compreendendo. A pianista seria uma sacerdotiza que sabia penetrar na alma dos seus mistérios, interpretando-os e transmitindo-os às multidões ávidas e sofredoras.

„Guiomar Novaes tocava a ultima parte do Carnaval, de Schumann, que é muito menos uma peça do que um punhado de almas em que sorri a graça, lampeja o genio, soluça a dôr e a ironia destilla a sua intelligencia subtil e coleante. Senti-me logo tambem dominada pela sonoridade que a pianista sabe tirar do seu instrumento, qualidade que é talvez o melhor segredo do seu prestigio e da sua gloria. O teclado tem, sob a magia dos seus dedos, verdadeiras confidencias, revelações inesperadas, e a musica, que é a voz da propria natureza - que em tudo se exprime em phrases melodias ou em cadeias harmonicas - tem nella uma interprete admiravel.

Todos nós vivemos dentro da Musica, como os peixes dentro d‘agua, mas não a comprehendemos nem quando ella se intensifica em expressões mais densas e directas, como uivar da ventania, no rumorejar das ramadas, no reboar das ondas e até no proprio sussurar do silencio, em que arfa toda a alma da sinfonia universal.“

A mulher e o receptivo na percepção estética

As palavras de Júlia Lopes de Almeida revelam a permanência de antigas concepções também nas suas referências à música no macrocosmos nas suas relações com o microcosmos. O papel feminino seria aqui o receptivo da percepção estética.

„Eu sinto musica até nas nuvens: mas os meus ouvidos imperfeitos apenas a advinham em uma vaga tão alta, tão inatingivel, que della me não vem mais que uma percepção indistincta. Tudo na vida universal é rithmo e todo rithmo causa ruido e o ruido dos elementos é todo combinado em accordes de uma sublimidade, cuja belleza não nos é dada penetrar ainda.“

Também revelando pensamento teórico-musical na tradição do antigo Quadrivium, Júlia Lopes de Almeida sugere relações numéricas no cosmos, campos disciplinares da aritmética, geometria, astronomia e música. Apreendidas vagamente por matemáticos e compositores, esses mistérios eram transmitidos ao público pela intérprete, que aqui desempenhava uma função sacerdotal.

„Os mathematicos já lhe aprehenderam o compasso, e os compositores, os grandes mestres, colhem no ar alguns dos seus sons dilacerados ou perfeitos e teem com elles as suas obras eternas ou fugazes. A receptividade do seu temperamento, a sensibilidade do seu cerebro, sentiram a rajada e ficaram impregnados da sua poesia maravilhosa.

Felizes todos elles, quando têm quem lhes saiba penetrar bem fundo na alma dos seus segredos, e nas dôres das suas mortificações, para as interpretarem e transmittirem depois como um balsamo ás multidões avidas e soffredoras. Guiomar Novaes é uma dessas sacerdotisas.“

O pensamento de Júlia Lopes de Almeida é marcado por concepções sinestésicas correspondentes à impossibilidade de distinções racionalmente claras do mistério da Criação.

O Som, o Perfume, a Luz, o nada que enche o espaço e penetra em tudo e tudo poetisa, sensibiliza, diviniza, criam no homem a impressão de que o nosso mundo é bem mais mysterioso do que o descrevem os livros. Na nossa imperfeição nós já comprehendemos que o som tem fórma como a luz tem côr, e na arte da musica, como na do desenho, essa fórma se delinea em porticos de cathedraes, espiritualizadas torres, rosaceas de rendilhados contornos e grandes anos de pedra branca, que abrem sobre as naves das tonatas olhos divinos...

De palpebras cerradas sinto-me, através da interpretação de Guiomar Novaes, transportada a esse outro mundo deleitoso, em que o proprio fél do soffrimento se transforma em inolvidavel ambrosia...“

Poema a Guiomar Novaes - a pianista como tecelâ de anseios

A escritora, que por motivos de convenções da época ressentia-se em publicar seus poemas, apresentando-os sob outros nomes, inclui no seu texto, em post scriptum, versos que teriam sido escritos por um seu amigo durante intervalo do concerto, provavelmente, porém, de sua própria lavra.

A pianista, antes designada como sacerdotisa, surge aqui como representação da alma que tece anseios, sonhos e ilusões numa esfera lunar. A menção ao anseio nesse poema da autora de Ânsia Eterna surge como significativa para a compreensão de um estado de espírito que poderia ser analisado sob a perspectiva dos estudos da mulher. A intérprete criava um tecido de segredos de almas torturadas e da natureza. O ouvinte não deveria nela ver a aparência física, mas sim a alma canora, não os dedos do corpo, mas os dedos da alma.


(Jornal do Commercio, Sabbado, 15 de Outubro de 1921)


De ciclo de estudos da A.B.E.
sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo


Todos os direitos reservados

Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A.(Ed.). „ A Legião da Mulher Brasileira e a direita social-nacionalista e católico-restaurativa na música. Concepções estético-musicais de Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) “.
Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 156/10 (2015:04). http://revista.brasil-europa.eu/156/Legiao_da_Mulher_Brasileira.html


Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2015 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


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