Florestas do Alasca e do Brasil

ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA 157

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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N° 157/9 (2015:5)




In wildness is the preservation of the world


Cultura/Natureza em relações Norte/Sul das Américas
Florestas húmidas temperadas no Alasca e tropicais do Brasil
- Interagency Center do Tongass National Forest, Ketchikan -



 

Relações e interações entre Cultura e Natureza são objetos de primordial atenção dos trabalhos euro-brasileiros desenvolvidos pela A.B.E. (Veja).  Consideradas sob múltiplos aspectos, essa preocupação tem levado à visita de instituições, museus, parques e reservas no Brasil e em diferentes países do globo. Problemas da trágica destruição do patrimônio de florestas tropicais da atualide foram, por último, considerados em 2015 no Madagascar. (Veja)

Procura-se, nos diversos contextos, tomar contato mais próximo com problemas regionais e soluções, com o estado das pesquisas e debates, com tendências da política ambiental e do estudo de questões ecológicas nas universidades, com tendências do pensamento, da educação voltada à preservação e recuperação do meio natural e da vida animal, assim como de iniciativas de informação pública por parte de instituições de pesquisa e centros de visitantes em parques e reservas.

A passagem dos 450 anos do Rio de Janeiro acentua a consciência da importância da análise de relações Cultura/Natureza, uma vez que a antiga capital do Brasil quase tudo deve à natureza na imagem que alcançou no mundo e que foi até mesmo condutora de projetos urbanos, culturais e artísticos. Concepções evolucionistas relacionadas com a metamorfose urbana do Rio que marcou a sua fisionomia foram decorrências extrapolantes de desenvolvimentos de estudos da natureza e do pensamento científico-natural. (Veja)

A atualidade e mesmo premência das preocupações quanto ao binômio de interações Cultura/Natureza em contextos supra-regionais e mesmo globais manifestam-se no presente sobretudo na experiência da falta de água em metrópoles e regiões brasileiras conhecidas até hoje pela abundância de seus recursos em rios, lagos e represas, e que hoje se apresentam sêcas, com graves consequências não só para a qualidade de vida e para a economia, como para urbanizações, cultura e turismo.

Essa experiência da sêca e da aridez traz à consciência e tematiza efeitos da destruição de florestas em regiões que  até há poucas décadas tinha grande parte de seu território coberto de matas.

„Florstes de chuva“ (Rain forests/Regenwälder) em relações Norte/Sul das Américas

As florestas húmidas, significativamente designadas como de chuva em inglês e alemão (rain forests, Regenwälder) foram centro de atenções de visita promovida pela A.B.E. ao Interagency Visitor Center do Tongass National Forest, em Ketchikan. Esse centro é a instituição científico-cultural mais importante da cidade, a de maior população do Alasca.

O seu significado para estudos do binômio Cultura/Natureza deriva do fato de não apenas representar um museu florestal, com expressivas técnicas visuais, de representação e de pedagogia museológica interativa de informação pública sobre a natureza da região, como também incluir exposições sobre exploração de recursos naturais na sua história e presente, do trabalho e da indústria, da vida indígena nas suas inserções no meio ambiente, dos efeitos dos contatos e do papel dos indígenas na tomada de consciência da necessidade de uma atitude de maior responsabilidade perante o patrimônio natural.

A imagem do Alasca é marcada por gêlo e neve, pouco estando presente o fato de existir no sudoeste do Alasca e na Britisch Columbia a maior floresta húmida temperada do globo. A Tongass National Forest possui 14% do total de florestas húmidas temperadas do mundo. Essas florestas húmidas temperadas são muito mais frias do que as florestas tropicais, mas também igualmente húmidas. A queda de chuvas no Alasca varia entre 4 a 25 pés por ano, dependendo da localidade. A floresta húmida temperada possui 55 polegadas de precipitação anual, com 10% ou mais ocorrendo no verão. O clima é marcado por verões frescos; uma estação de adormecimento da vida vegetal é causada pela baixa temperatura no inverno. Embora haja casos excepcionais, a floresta húmida temperada em regiões tão frias apresenta menor risco de incêndios florestais.


As terras públicas do Alasca - The Tongass National Forest; maior floresta da nação

O Centro do Tongass National Forest recebe os visitantes trazendo à consciência o significado do Alasca sob o aspecto da ecologia e das dimensões das áreas administradas pelo Govêrno dos Estados Unidos. Lembra-se, de início, que o Alasca é o maior dos cinquenta estados dos Estados Unidos. Dos dados, constata-se que o Alasca pode concorrer com o Brasil em superlativos. Possui 17 das montanhas mais altas da América, 70 vulcões, 3000
rios, acima de 3 milhões de lagos e o maior número de geleiras ativas e áreas cobertas de gêlo de territórios habitados do globo.
A maior parte das terras do Alasca é de propriedade pública. 60% de todo o sistema nacional de preservação de selvas (National Wilderness Preservation System) encontra-se no Alasca. No Sudeste do Alasca, as terras administradas pelo Govêrno Federal perfazem 92% dos 24 milhões de acres da região - 2,5 % de terras e 12 milhões de
acres de áreas submersas.

O Tongass National Forest é a maior floresta dos Estados Unidos e compreende 17 milhões de acres com as suas matas, montanhas, lagos, correntes e áreas cobertas de gêlo.

O Centro de Ketchtikan faz parte de um sistema de quatro centros interagenciais de informação pública do Alasca, situados respectivamente em Tok, Anchorage, Fairbanks e Ketchikan.

Os vários centros interagenciais

Em mapas, o visitante pode perceber, através de cores, as operações dos centros.

O U.S.D.A. Forest Service promove a administração de terras qualificadamente para contribuir à procura de suprimento das diversas necessidades da população de forma sustentável, relacionado o preservacionismo com a produtividade das terras e de suas águas.

O National Park Service preserva os recursos naturais e culturais dentro do National Park System e propicia a fruição pública desses recursos agora e para as gerações futuras.

O Bureau of Land Management promove a conservação e o uso inteligente dos recursos das terras públicas, incluindo valores recreacionais, paisagísticos, minerais e de habitats de peixes e de vida animal, de florestas e correntes.

O Alaska Department of Natural Resources fomenta o povoamento do Alasca e o desenvolvimento de seus recursos tornando-o acessível para o seu uso de forma adequado ao interesse público e natural.

O Alaska Department of Fish and Game protege os recursos de vida aquática e animal, promovendo tambémn o uso de recursos pelo homem de forma adequada à preservação, a valores culturais, ambientais e estéticos. 

A Alaska Division of Tourism beneficia residentes e visitantes através de um desenvolvimento ordenado, da promoção e marketing da experiência turística do Alasca para americanos e para o mundo.

Mapeamento ambiental e cultural

O mapeamento ambiental e cultural do Alasca é apresentado aos visitantes em quadros explicativos, nos quais se apresentam as seis regiões ou áreas do Estado, em particular sob o ponto de vista natural e de populações indígenas.

Deles, deu-se especial atenção às regiões visitadas do Sudoeste e Sudeste. Esta última, com as suas montanhas costeiras e mais de 1000 ilhas, com o seu clima mais ameno e húmido, proporciona condições adequadas para a floresta húmida temperada da América do Norte.

Esta é a maior área de antigas florestas de chuvas do mundo. Do ponto de vista étnico-cultural, é a região onde vivem grupos indígenas Tlingit, Haida e Tsimshian. A vida animal nessa região de florestas, montanhas, baíuas, fiordes, estuários, lagos, rios e correntes é particularmente diversificada, ali vivendo baleias, leões marinhos e aves de mar, assim como o maior número de águias do mundo.


Encenações realistas de florestas húmidas temperadas como método interativo

O centro do TheTongass National Forest distingue-se pelas dimensões e pela qualidade de suas encenações de interiores de florestas. Essa retomada de uma prática de exposição de antigos museus de Etnografia e Zoologia, de dioramas e outras formas de representação tridimensionais em instituição que se apresenta como avançadamente modelar explica-se pelas condições climáticas do Alasca.

Com a frequência de dias chuvosos e gelados e com as dificuldades do terreno que tornam pouco possíveis para explorações para a maior parte dos visitantes, essas encenações do meio natural permitem uma experiência de ambientes próxima à realidade.

Esse renascimento de um recurso pedagógico-museológico já visto como pertencente ao passado em Ketchikan dá-se com o emprêgo de avançadas técnicas de encenação, cor e luz. Neste sentido, o centro insere-se em longa tradição de dioramas dos Estados Unidos, em particular de museus de História Natural e de Etnografia, atualizando-a. Essa tradição científico-natural evidencia-se na inserção de animais preparados.


Na sua qualidade cenográfica, os dioramas do centro pode ser apenas comparado com dioramas recentes em museus de outros países nórdicos, em especial da Noruega.

Ao mesmo tempo, porém, o uso de recursos cenográficos e pictóricos na representação do meio ambiente traz complexas interações entre critérios estéticos e intentos científicos e de informação.

A linguagem visual aproxima-se daquela de pinturas de paisagens do século XIX e início do XX, em particular da representação de florestas em pinturas, o que se manifesta também na escolha de perspectivas dos dioramas.

Essa influência emocional através de linguagem paisagística da arte romântica do passado também possui aspectos questionáveis, pois favorece uma percepção seletiva de questões ambientais, criando uma atmosfera psíquica e mental na qual se processa a recepção por parte dos visitantes das informações relativas ao uso dos recursos naturais, de madeira, de mineração e da vida animal e que poderiam despertar a consciência para os graves problemas de degradação ambiental também existentes no Alasca.

O recurso museológico serve, assim, ao entorpecimento da sensibilidade para esses problemas e para o reconhecimento de argumentos pretensamente científicos que justificam empreendimentos predatórios.

Estes, de forma equívoca, salientam a „renovação da natureza através de distúrbios“. Servindo a essas justificativas que servem à diminiuição de problemas, lembra-se que também os homens causam distúrbios, sendo, entre esses a abertura das florestas a madeireiros. Somente de passagem menciona-se a existência de áreas em diferentes graus de distúrbio que os visitantes podem constatar em visitas à região.


De ciclos de estudos da A.B.E.
sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo



Todos os direitos reservados

Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A.(Ed.).“ Cultura/Natureza em relações Norte/Sul das Américas. Florestas húmidas temperadas no Alasca e tropicais do Brasil“.
Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 157/9 (2015:05). http://revista.brasil-europa.eu/157/Florestas_Alasca_e_Brasil.html


Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2015 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


Academia Brasil-Europa
Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)
reconhecido de utilidade pública na República Federal da Alemanha

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Fotos A.A.Bispo, 2015 ©Arquivo A.B.E.