Minas e Rio em fotografias de Peter Fuss

ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA 157

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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N° 157/3 (2015:5)





A revalorização da época do ouro no Brasil
nas suas inserções em contextos histórico-culturais dos anos 30
- lembrando fotografias de Minas e do Rio de Peter Fuss (1904-1978) -


De ciclos de estudos pelos 450 anos do Rio de Janeiro

 

Entre os muitos autores europeus pouco lembrados que escreveram sobre o Brasil e que divulgaram imagens de sua capital e outras regiões através de fotografias (Veja) deve-se salientar o Dr. Peter Fuss (1904-1978). Natural da cidade de Düren, cidade da região ocidental da Alemanha, entre Aachen (Aix-la-Chapelle) e Colonia, próxima à Bélgica, de sólida formação universitária em Economia e Direito, viveu no Rio de Janeiro nos anos 30 a contrato do Deusche Überseeische Bank.

Peter Fuss dedicou-se a estudos do país, de sua história e cultura, visitando várias regiões do Brasil, dedicando-se à fotografia de paisagens, cidades e monumentos, vindo de encontro ao interesse pelo fotojornalismo então muito atual na Alemanha.  Peter Fuss distingue-se porém de outros jornalistas fotógrafos pela profundidade e objetividade de seus textos e pela extraordinária qualidade técnica e artística de suas fotografias. (Veja) Do Rio de Janeiro enviou estudos que foram publicados em língua alemã.

Os seus textos e as suas fotos, de extraordinária qualidade técnica e artística, vêm sendo considerados nos estudos de recepção cultural e de imagem do Brasil no Exterior. Esse estudos levaram a simpósio internacional em São Paulo, com sessões no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, em 1981, (Veja) assim como ao Forum internacional em Leichlingen, em 1982, cidade natal de engenheiro alemão celebrado pelo seu papel na construção do Caminho Aéreo do Pão de Açúcar. (Veja)

No simpósio dedicado à renovação dos estudos da imigração e do transatlantismo realizado no âmbito da terceira edição desse Forum pelos 300 anos da emigração alemã à América, em 1983, considerou-se a necessidade de levantamento e consideração diferenciada de uma vasta literatura silenciada da década de trinta e quarenta, cuja problemática política pressupõe atenção crítica de leitura. Desde então, vários dos textos e material fotográfico desse passado submerso vêm sendo considerados e divulgados por esta revista. (Veja)

Em ano em que se comemora o Rio de Janeiro pelos seus 450 anos, cumpre recordar sobretudo autores que consideraram tanto a antiga capital do Brasil como Minas Gerais, trazendo à consciência os estreitos vínculos entre o porto do Rio de Janeiro e a região do ouro não só do passado colonial, como também á época de sua redescoberta no século XX.

Já nos encontros de pesquisadores europeus e brasileiros realizados em Ouro Preto e Mariana, em 1981, seguindo-se àqueles de Petrópolis e do Rio (Veja), considerou-se que o redescobrimento e a revalorização de expressões arquitetônicas, artísticas em geral e musicais da época áurea das Minas foram eles próprios inseridos em contextos epocais e resultados de desenvolvimentos globais dos anos 20 e 30.

Essas inscrições na história de correntes de pensamento, da pesquisa e das circunstâncias político-culturais do século XX evidenciavam-se e já tinham sido alvo de reflexões na vida e obra de Francisco Curt Lange (1903-1997), musicólogo estreitamente vinculado ao programa de interações euro-brasileiras iniciado em 1974 na Alemanha. (Veja)

Francisco Curt Lange e Peter Fuss

Se tanto o Rio de Janeiro como Minas Gerais e a sua história já tinham sido considerados na Europa de língua alemã por diferentes autores antes da Primeira Guerra Mundial e nos anos que a seguiram, a consciência de suas relações aguçou-se através da publicação em sequência de textos e fotografias de Peter Fuss na revista Atlantis.

Essa publicação, dedicada a paises, povos e viagens foi fundada em 1929 e editada por Martin Hürlimann (1897-1984), tendo a sua redação central em Berlim. Era um órgão do Bibliographisches Institut AG. Leipzig, e da editora Atlantis de Zurique, fundada por Hürlimann em 1930. Se os livros de Peter Fuss publicados por esta editora entre 1935 e 1937 na série de Hürlimann Orbis Terrarum, são relativamente bem conhecidos, o mesmo não pode ser dito quanto aos artigos referentes em especial ao Rio de Janeiro e a Minas Gerais publicados na revista.

O fascínio de Peter Fuss pelo Rio de Janeiro - Atlantis, 1935

Peter Fuss destaca-se entre os vários autores que decantaram o Pão de Açúcar e que, por esta razão, foram particularmente considerados nos estudos da recepção e da imagem do Brasil no Exterior (Veja).

O seu texto sobre o Rio de Janeiro de 1935 („Rio de Janeiro“, Atlantis VII/12, 1935, 723-727) inicia-se com a exclamação „Cidade maravilhosa!“.

O autor lembra essa qualificação então popular devido a canção de carnaval, descrevendo o deslumbramento experimentado por todo o visitante estrangeiro ao ver o Pão de Açúcar e ao passar pela entrada na Baía da Guanabara. Para êle, o Rio de Janeiro era „a mais perfeita realização do sonho dos Trópicos“.

Após mencionar dados históricos dos primeiros séculos e justificar a denominação da cidade, lembra o extermínio dos indígenas e salienta a forte presença de descendentes de africanos e mestiços na população.

Mesmo assim, afirmava que não se podia falar de um problema racial no Brasil, pois o brasileiro seria tolerante por natureza e o negro um cidadão tranquilo e modesto.
Com isso, tornara-se possível manter uma linha de separação invisível mas eficiente entre esses dois grupos populacionais, sem que susceptibilidades fossem feridas.

O Rio de Janeiro tinha para Peter Fuss muitas peculiaridades que o distinguiam de outras metrópoles do mundo.

Era uma cidade de contradições que, porém, se inscreviam num todo harmonioso. A cidade, com os seus automóveis e ônibus que trafegavam com grande velocidade pelas ruas otimamente asfaltadas, cujos arranha-céus e reclames aumentavam de mês em mês, cujo mar de luzes noturnas deixavam opacas todas as grandes cidades, cujo serviço sanitário fizera desaparecer mosquitos, era ainda cercada por densas florestas, com barracos de zinco em meio a mansões, permitindo que se andasse descalço pelas calçadas de mosaicos.

Essa cidade, que mantinha severas convenções quanto às relações entre homens e mulheres em sociedade, na qual
os homens jamais andavam sem paletó, apesar do calor, essa cidade permitia que se fosse em roupas de banho ao mar. Nos bairros à praia viam-se mais pessoas em costumes de banho do que vestidas.

A principal atração do Rio residia na concomitância de mar e montanha. E essas relações podiam ser observadas sobretudo numa subida ao cimo do Pão de Açúcar. Dele, os grandes navios surgiam como brinquedos, e o acender de luzes da cidade como uma colares de pérolas. (Veja

Já à época de Peter Fuss levantara-se o Cristo Redentor, e a obra fotográfica de Peter Fuss distingue-se pelo fato de registrar e valorizar a paisagem do Rio a partir de diferentes pontos de observação, apresentando panoramas de posições não só do Pão de Açúcar, mas do Corcovado, de Dois Irmãos e outras.

Do tempo colonial de Minas Gerais, 1937 - o rush de ouro na história do Brasil

„Do tempo colonial de Minas Gerais“ foi título de artigo publicado por Peter Fuss na revista Atlantis, em Agosto de 1937. („Aus der Kolonialzeit von Minas Geraes“, Atlantis IX/8, 468). Esse texto, com cinco fotos do autor, distingue-se pelos dados históricos que transmite - o mais pormenorizado estudo até então publicado sobre Minas Gerais em alemão, e, sobretudo, pela excelência das fotografias, também as de maior qualidade técnica e artística até então publicadas de cidades e obras de arte mineiras. Foi esse estudo importante fator no despertar de interesses de Francisco Curt Lange por Minas Gerais assim como na preparação da atenção européia a questões relativas à arquitetura, às artes à música do passado colonial do Brasil.

Peter Fuss inicia o seu texto lembrando ser Minas Gerais um dos maiores e mais importantes Estados do Brasil: imensa região montanhosa, de excelente e saudável clima, com as mais altas montanhas do Brasil, as Agulhas Negras do Itatiaia, salientando, que era na sua riqueza da terra que residia o seu maior significado.

Fazendo suas palavras de Auguste de Saintt-Hilaire (1779-1853), Peter Fuss dizia que, se existisse uma terra que pudesse prescindir do resto do mundo algum dia, era ela Minas Gerais. As riquezas do solo de Minas eram não só aquelas do ouro, diamantes e outras pedras preciosas, mas também minérios e metais dos mais diversos, que à época - anos 30 - ainda apenas em pequena parte tinham sido explorados.

Ouro e pedras preciosas já tinham exercido a sua mágica força de atração à época da soberania portuguesa, quando Minas foi, de fins do século XVII até o início do XIX a mais rica e importante província do Brasil, época na qual todo o país viveu num verdadeiro rush de ouro. Com essa menção, Peter Fuss utilizou, com relação ao Brasil, de um conceito até então sobretudo corrente em considerações das posteriores corridas de ouro na América do Norte.

Traçando um panorama histórico desse rush, parte do achamento de ouro em lavagem por Garcia Pais, em 1638. De 1693 até 1696, locais e grande número de forasteiros que já então tinham corrido à região, descobriram-se vários rios auríferos, como Ribeirão do Garcia e Ribeirão do Carmo, e „ninguém mais pensava em outra coisa do que lavar ouro ou escavá-lo“.

Como economista, Peter Fuss considerou em especial implicações econômicas do rush do ouro. Salientou que, na região do ouro então cainda oberta de florestas, os garimpeiros, na sua febre, descuidaram do cultivo da terra para a própria alimentação, compreendendo-se que os preços tenham subido a alturas inacreditáveis. Uma das consequências desse descuido teria sido a fome que nos anos de 1697 e 1698 grassou na região do ouro, e que se repetiu em 1700.

A história e o apogeu de Ouro Preto na sua divulgação na Alemanha nos anos 30

O principal foco de atenções de Peter Fuss no seu texto referente a Minas residiu em Ouro Preto. Nele, o autor salientou que o ponto culminante na procura do „metal mágico“ na região deu-se em 1698 com o descobrimento de ouro na região da posterior cidade de Ouro Preto por Antonio Dias de Oliveira.

A êle seguiu-seu um novo ápice em 1700, quando Borba Gato descobriu grande ocorrência de ouro nos rios e rochas de Sabará. Quando a região de Ouro Preto já estava quase que abandonada pelos garimpeiros, lavava-se e procurava-se ouro nos rios e corregos de Sabará, em cujas proximidades, como salientado por Peter Fuss, situa-se a mina de Morro Velho. O autor lembra aos leitores alemães e suíços que dessa mina retirava-se diariamente 10 quilogramas de ouro, que, com os seus 2700 metros, era a mais profunda mina de retirada de ouro do mundo.

Peter Fuss revela o seu enfoque de economista mencionando as estatísticas e registros que permitiam calcular as dimensões da exploração de ouro na época colonial de Minas. Segundo essas fontes, o Brasil teria produzido nos primeiros cem anos da exploração de ouro, 1042000 quilogramas de puro ouro, sem considerar aquilo que teria sido contrabandeado. Dessa produção global, 80% teriam cabido a Minas Gerais, o que representaria uma surpreendente atividade dos mineiros. O seu trabalho apenas poderia ser valorizado adequadamente levando-se em consideração que, sem ajuda de máquinas, passavam a vida em exaustiva procura de extrair da água e da terra o cobiçado metal.

Peter Fuss não se cansa de salientar que o ouro de Minas influenciou de forma decisiva a história do país através dos séculos. Se em 1698 fora descoberto o vale aurífero da atual cidade de Ouro Preto, 13 anos depois já foi esta elevada a vila pelo rei D. João V, tornando-se, ao mesmo tempo, sede do governador português de Minas Gerais sob a designação de „Vila Rica“. Esta, em 16 de fevereiro de 1724, foi elevada a cidade, denominando-se desde então Vila Rica de Ouro Preto, um nome que deriva da cor escura da terra rica em ouro da região.

Peter Fuss lembra que Ouro Preto manteve-se nessa situação de principal centro de Minas Gerais sob a Coroa portuguesa, sob o o Império e sob a República até 12 de Dezembro de 1897, quando então deu-se a transferência da capital mineira para Belo Horizonte. Esse fato, assim como a diminuição da procura de ouro, fêz com que a cidade perdesse em significado.  Durante dois séculois tinha sido a história da „cidade rica do ouro preto“ também a história de Minas Gerais.

A reconsideração do passado colonial no Brasil em mudanças de visões

As palavras de Peter Fuss trazem à luz que, passando período de mais de duas décadas e relativo esquecimento do passado de Ouro Preto após a transferência da capital a Belo Horizonte, dava-se agora, nos anos 30, o seu redescobrimento, e, ao mesmo tempo, o da revalorização do passado colonial na cultura, nas artes e na música do Brasil desencadeado pelo rush de ouro.

A reconsideração desse passado significaria neste contexto uma expressão de uma mudança no espírito do tempo e de orientações mentais. A época marcada pela pelo entusiasmo no progresso e pelas convicções de desenvolvimento de cunho evolucionista do século XIX. que se expressara na fundação de Belo Horizonte e na remodelação do Rio de Janeiro (Veja), acompanhadas que foram por intentos de superação do passado português e aquele dele decorrente a caminho da civilização deu lugar àquela da reconscientização histórica.

Peter Fuss salienta as dimensões globais do descobrimento do ouro no Brasil, lembrando que o período áureo do império colonial português relaciona-se estreitamente com Ouro Preto e, ao mesmo tempo, com a luta do povo das montanhas pela sua liberdade e, assim, pela independência do Brasil.

Interpretações de economista de anelos de liberdade, de independência e de república

Para o economista Peter Fuss, como em muitos outros casos na história, essa luta pela liberdade não teria sido desencadeada e determinada por causas ideais, mas pela necessidade econômica. Os portugueses dominantes não teriam deixado de assegurar asuas  participação nos sucessos dos garimpeiros, o que levou a que o Governador ordenasse que um quinto do ouro deveria ser entregue ao fisco.

A amargura dos garimpeiros acentuou-se com o fato do Govêrno ter anunciado o levantamento de 538 arrobas de ouro de tributos devidos. Estando os mineiros impossibilitados de vir de encontro a esta exigência em tempos de dificuldades, preparou-se o terreno de Minas para a primeira sublevação brasileira contra os portugueses.

Peter Fuss lembra no seu texto que a alma dessa luta foi José Joaquim da Silva Xavier (1748-1792), nascido nas circunvizinhanças de São João del Rey, conhecido popularmente como Tiradentes. Após muitas decepções na procura e na vida de trabalho, Tiradentes entrara na vida militar e tomara conhecimento de idéias libertárias difundidas por estudantes retornados da Europa.

Tratando da revolta de 1789 em Ouro Preto, Peter Fuss lembra da reunião dos conspiradores na casa de Manoel da Costa, quando se chegara até mesmo a esboçar regimentos de um futuro estado. Significativamente,para a eclosão da revolução escolheu-se o dia do levantamento obrigatório dos tributos atrasados. Devido ao pouco cuidado quanto à discreção e segrêdo dos conspiradores, foi fácil ao Governador superar a conjuração, sendo Tiradentes preso e enviado ao Rio de Janeiro. Enquanto que outros conjurados foram deportdos a colonias portuguesas na África, Tiradentes foi executado no dia 21 de Abril de 1792 no Rio de Janeiro, sendo partes do seu corpo apresentados publicamente em Ouro Preto e em outras localidades de Minas.

Peter Fuss não deixa de salientar que a memória de Tiradentes passara a ser cultivada de forma intensa sob o regime republicano no Brasil, tendo sido o dia de sua morte declarado feriado e o seu vulto celebrado em inumeráveis monumentos e nomes de logradouros. Também a reconsideração de Tiradentes e da conjuração mineira revela-se, assim, na sua historicidade, como inserida em processos de reconsideração do passado decorrente de mudanças de visões.

Recepção européia do significado artístico-cultural da época do ouro em Minas Gerais

Se o significado político e econômico de Minas Gerais no período colonial tinha sido muito grande, Peter Fuss salienta sobretudo a extraordinária importância de Minas para a História da Arte do Brasil. Em nenhuma outra região do imenso país encontrar-se-ia tal número de valiosos bens arquitetônicos e tesouros artísticos como nas pequenas e distantes cidades de Ouro Preto, São João del Rey, Mariana e Congonhas do Campo.

Para Peter Fuss, o mais alto exemplo do „estilo colonial“ de construções barrocas que tão bem se inscreviam na rude paisagem de Minas era Ouro Preto, que durante séculos pouco tinha mudado de fisionomia. Com as suas 22 igrejas, numerosas fontes e casas em „estilo colonial“ representava a cidade um testemunho único desse período cultural passado. As igrejas eram o principal memorial da riqueza da época com os seus altares quase todos cobertos com folhas de ouro, o mesmo dando-se com as imagens de santos.

Mariana e Sabará ofereceriam um quadro similar ao de Ouro Preto, ainda que ali a unidade do estilo construtivo não teria sido nelas mantida de forma tão completa.

O significado especial de Congonhas do Campo e do „Aleijadinho“ difundido na Europa

Um significado especial possuia Congonhas do Campo, que para Peter Fuss podia ser considerado como sendo uma „Lourdes“ o Brasil.

Explicando essa comparação, o autor lembra que o português Feliciano Mendes, que ali residia no século XVII, desesperado pelo insucesso econômico e por grave doença, pretendendo retornar a Portugal, foi curado após ter feito uma promessa. Em gratidão, levantou uma cruz e posteriormente uma capela em morro próximo a Congonhas, depois de ter angariado fundos em peregrinações através de Minas. A graça divina que acreditava-se irradiar da igreja de romaria de Congonhas fêz com que a povoação se tornasse famosa, recebendo em setembro milhares de peregrinos de todas as partes do Brasil. Documentos de curas, em grande parte quadros pintados que descreviam a história de doenças e de curas, podiam ser vistas numa sala especial.

Também na História da Arte, Congonhas adquiria um lugar de especial relêvo, pois ali se encontravam obras do mais famoso escultor do Brasil, o Aleijadinho, Francisco da Costa Lisboa (1730?1738-1814).

Como Peter Fuss salienta, a vida e obra desse artista eram estreitamente ligadas a Minas. Nas suas considerações, vindo aqui também de encontro a interesses de sua época por questões raciais, o autor empresta particular atenção ao fato do Aleijadinho ter sido mulato. Contribuiu, assim, com o seu texto, significativamente ao interesse por questões da mestiçagem e do mulatismo que tanto marcou os estudos relativos ao Brasil, em particular também aqueles de Francisco Curt Lange.

O „Aleijadinho“, o mulatismo, o africano e o interesse por questões raciais dos anos 30

Peter Fuss registra que o Aleijadinho era filho do imigrante português Manoel Francisco da Costa Lisboa em Ouro Preto, tendo como mãe uma escrava africana. Com essa menção, sugere o fato conhecido de regiões de rush em outros contextos, em particular no Alasca, no qual a concentração de homens sós, vindos em geral às regiões auríferas sem as suas famílias, uniram-se com mulheres que ali viviam, nativas ou forasteiras à procura de ganho como no Alasca, escravas africanas como no Brasil.

Também correspondendo aos interesses raciais dos anos 30, Peter Fuss salienta a africanidade do Aleijadinho. Êle que o artista tinha uma cor de pele tão escura que reproduzia um tipo africano, pouco se diferenciando de um africano puro.

Doença e deformações do artista e as desproporções e o grotesco de suas obras

O autor menciona a doença que acometeu o artista, provavelmente lepra, salientando que, apesar dos sofrimentos, deu prosseguimento a seus trabalhos com o auxílio do seu escravo Maurício.

Dessa forma, o Aleijadinho, que nunca saira da sua terra natal nem adquirira formação e ensino, e provavelmente nem mesmo sabia ler e escrevar, criara os mais significativos bens de Minas. Para Peter Fuss, o Aleijadinho emprestou a sua marca a todas as construções das localidades mencionadas no seu texto de tal forma, que a seu lado não se citaria nenhum outro nome. A arte construtiva da época colonial de Minas devia ser vista, assim, como sendo a sua obra.

Embora salientando a beleza dos portais de igrejas, Peter Fuss faz restrições quanto às representações humanas do Aleijadinho. Segundo ele, estas revelariam uma surpreendente deficiência de conhecimentos anatômicos, o que poderia ser constatado nas proporções de corpos e no grotesco das cenas.

Embora a maior parte de seus trabalhos tenha sido de pedra, o artista também criou importantes plásticas em madeira, e uma delas demonstraria também feições que causavam estranheza. Este era o caso da imagem de S. Jorge na igreja de Nossa Senhora do Pilar em Ouro Preto e que era construida de forma a ser levada a cavalo em procissões, costume conhecido na Europa, em particular em Portugal.


De ciclos de estudos da A.B.E.
sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo


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Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A.(Ed.).“ A revalorização da época do ouro no Brasil nas suas inserções em contextos histórico-culturais dos anos 30 - lembrando fotos de Minas e do Rio de Peter Fuss (1904-1978“.
Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 157/3 (2015:05). http://revista.brasil-europa.eu/157/Fotografias_de_Peter_Fuss.html


Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira

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