A beleza e a cultura da sensibilidade

ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA 158

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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N° 158/14 (2015:6)



O que fere é mau, o que não machuca é bom


A delicadeza, a diplomacia e a susceptibilidade do brasileiro
A beleza e a cultura da sensibilidade guiada por valores como possível missão




Para a passagem do ano 2015/2016
lembrando os 35 anos de visita de pesquisadores europeus a festas de Ano Novo na Praia Grande, SP e em Salvador, BA

 
Praia Grande/SP - Ano Novo. Foto A.A.Bispo 1980

Praia Grande/SP - Ano Novo. Foto A.A.Bispo 1980
Esboço de um problema da vida e de convívio de brasileiros na Europa


É experiência bastante generalizada de brasileiros na Europa, sobretudo em países de língua alemã, o sentir-se machucado com palavras e com comportamentos vistos como por demais diretos e rudes, com a fala clara e sem rodeios, por uma franqueza que não teme ferir susceptibilidades.


Apesar das sempre reconhecidas altas qualidades intelectuais e mesmo da hospitalidade dos europeus, ouve-se muitas vezes de brasileiros - de latinoamericanos em geral - insinuações de que são „grossos“.


Apesar de toda a hospitalidade e outras manifestações sentidas como positivas de acolhimento, oferecimentos e convívio, essa sentida rudeza leva a que se evite relacionamentos mais profundos, mantendo-se uma fachada de educada cortesia e a um afastamento tão pronto quanto possível dessas situações que constantemente ameaçam machucar.


Esse recuo leva ao isolamento ou à procura de compatriotas ou latinoamericanos em geral, favorecendo a formação de círculos, de mundos à parte, desfavorecendo a integração e prejudicando relacionamentos.


As relações assumem um cunho diplomático, marcado pelo cuidado quanto à expressão, por uma reserva atenciosa, formalidade e um silenciamento quanto a posições e pensamentos que possam ser contrários, manifestados então antes em meia-palavras ou através de delicada ironia.


Esse comportamento de auto-defesa da própria susceptibilidade pode ser compreendido como insincero e falso, em casos extremos como escorregadio, pegajoso e mesmo repugnante, mas também despertar admiração e mesmo fascínio pelo refinamento educado e cortês de palavras, gestos e atitudes.


Estabelece-se assim uma situação marcada por ambivalências e mal-entendidos que pode marcar relacionamentos, e influenciar a comunicação e a cooperação por anos. Visto por parte dos europeus, essa ambivalência expressa-se em críticas quanto ao evasivo de um retraimento que surge como obscuro e escorregadio, falso e sorrateiro, mas que se manifesta de forma surpreendente e mesmo admirável em cortesia.


O problema da sensibilidade tratado no início do programa euro-brasileiro 1974/75


A experiência da sensibilidade ferida e da rudeza de europeus e suas reciprocidades foi preocupação constante no convívio de brasileiros e de outros latinoamericanos no início do programa de interações euro-brasileiras no estudo de processos culturais em Lüneburg, em 1974. (Veja) As trocas de experiências, idéias e as reflexões tornaram-se possíveis graças à cooperação de docentes do Instituto Goethe.


Lüneburg. Antigo Goethe Institut. Foto A.A.Bispo 2014
O sentir-se constantemente ferido por palavras e atitudes percebidas como indelicadas era experiência de brasileiros em todas as esferas da vida na Europa, no contato com órgãos e instituições, médicos, nos bancos e no comércio. Fazia-se porém particularmente sentir nas suas consequências entre aqueles de formação mais elevada nas ciências, em áreas culturais e nas artes.


Estudantes sentiam-se machucados com a excessiva franqueza de professores, apesar de suas boas intenções. Graduados e pesquisadores ofendiam-se com o modo direto de expressão de seus orientadores.


Atitudes e gestos sentidos como expressões de inadequada afetividade e falta de distância respeituosa levaram a que estudantes fossem rejeitados por professores e tivessem a sua carreira interrompida, devendo retornar ao Brasil. Este foi o caso de pós-graduada em ciências biológicas que, após negativo encontro em universidade alemã, não pode seguir os seus planos, voltando a seu Estado no Nordeste brasileiro. Menções críticas de professores quanto à cultura e em especial à arquitetura moderna no exemplo de Brasília e a celebrados nomes de arquitetos do Brasil por especialistas em história da arte e da arquitetura em institutos universitários, sentidas como detrimentes, prejudicaram relações e levaram a afastamentos.


Em outras situações, professores e pesquisadores que tomavam especial cuidado perante a sensibilidade aguçada de orientandos e colegas, tratando-os „com luvas“, possibilitaram o estabelecimento de situações simpatéticas, de relações humanas e profissionais, co-determinando assim o desenvolvimento dos estudos em interações internacionais e, assim, influenciando o caminho da ciência. Também estas foram porém em grande parte marcadas por considerações recíprocas, jogo educado de aparências e cortesias, falta de transparência e mesmo de sinceridade.


A visão do europeu da sensibilidade de latino-americanos, em especial de brasileiros


Essas constatações, vivências existenciais e a sua reflexão chamaram a atenção ao olhar do outro, do europeu em confrontos com a América Latina.


A consideração das observações e interpretações feitas por visitantes estrangeiros nos seus relatos surge como pré-condição para estudos da recepção do Brasil na Europa e de sua imagem. Estas preocupações marcaram os estudos euro-brasileiros de recepção cultural e levaram à tematização da imagem do Brasil como problema a ser refletido e discutido sob o signo da reciprocidade. Levaram à ida de delegação de pesquisadores europeus ao Brasil para simpósio internacional em 1981 (Veja) e, a seguir, à realização do primeiro forum euro-brasileiro na Alemanha.(Veja) Tiveram prosseguimento em vários outros eventos, discussões e seminários.


Nas muitas tentativas de compreensão do Brasil, da cultura, do modo de ser, de viver e agir dos brasileiros por parte de visitantes estrangeiros, a delicadeza no trato constatada no Brasil foi frequentemente salientada.


Vários foram os autores que mencionaram a sensibilidade, educação, cortesia, atitude de consideração, refinamento e fineza de trato que observaram e vivenciaram nas suas viagens e encontros no país.


Registraram, por outro lado, a acentuada susceptibilidade dos brasileiros, a facilidade com que são feridos e ofendidos, a sua tendência a expressar-se por meias palavras, indiretamente ou por insinuações, de silenciamento e retraimento em situações desagradáveis, que se retiram de situações conflitantes para evitar embates frontais.


A delicadeza observada e vivenciada no Brasil surge em alguns desses relatos como uma aguda sensibilidade para o que é delicado, para o que deve ser tratado de forma delicada, e, de forma relacionada, com uma grande vulnerabilidade do sentir-se machucado com indelicadezas.


Delicadeza e refinamento no Brasil - a extraordinária diplomacia brasileira


Praia Grande/SP - Ano Novo. Foto A.A.Bispo 1980
A mais profunda consideração da delicadeza do brasileiro encontra-se na Meditação N° 8 das „Meditações Sul-Americanas“ do conde Hermann Keyserling. (Graf Hermann Keyserling, Südamerikanische Meditationen, 2a. ed., Stuttgart/Berlin: Deutsche Verlangs-Anstalt, 1933, 1a. e. 1932, 195 ss.).


Foi essa obra, já conhecida e estuda em círculos de língua e cultura alemãs em São Paulo, que passou a ser ponto de partida de reflexões mais aprofundadas no programa de estudos culturais iniciado na Alemanha, em 1974/75.


Embora dirigindo-se nas suas reflexões à América do Sul em geral, o Brasil ocupa uma posição de destaque quanto à delicadeza observada, vivenciada e analisada por Keyserling.


O Brasil era para êle a mais extrema expressão da delicadeza sulamericana e mesmo do refinamento da sensibilidade em dimensões globais, o que se manifestava na alta consideração da sensibilidade alheia, da preocupação em não ferir o outro, constituindo a delicadeza um verdadeiro codex não escrito de comportamento. (op.,cit., 200)


O Brasil, para Keyserling, seria um país diplomático por excelência. O aparelho de Estado do Brasil oferecia o principal principal caminho para o entendimento mais profundo do fenômeno da delicadeza. Não haveria no mundo nenhuma organização de Estado mais refinada do que a do Brasil. Esse refinamento diplomático e governamental, porém, como era resultado de um amadurecimento humano e de instituições, mas sim uma manifestação de progresso sob condições arcaicas.


Tendo nascido e obtido formação como aristocrata nos países bálticos sob a égide da antiga Rússia, tendo tudo perdido com a Revolução Comunista, Keyserling estava em condições de comparar nesse sentido o Brasil com a antiga Rússia czarista.


Ambos os países eram imensos, com populações não-homogêneas, com atraso e e pouca cultura, impossíveis de ser administrados de forma democrática moderna, dirigidos por uma pequena minoria que culminava num homem onipotente. Assim, os altos funcionários do Estado brasileiro constituiam uma entidade em si que lembrava aquela da antiga Rússia. Entretanto, nessa comparação, o Brasil surgia como perfeito e seguro, enquanto que a Rússia fora imperfeita e insegura.


Já nos primeiros dias de sua estadia no Brasil, Keyserling concluiu que, se a Rússia tivesse sido governada como o Brasil, nunca teria havido a Revolução. Ao contrário da rudeza da Rússia, reinava no Brasil a mais refinada atitude de consideração.


Tudo o que poderia alimentar insatisfações permanecia invisível. Isso acontecia com o policiamento e mesmo com a tolerância perante a imprensa e a opinião pública, onde não se intervinha diretamente. Muitos brasileiros nem se sentiam governados. Esse cuidado do aparelho do Estado em não se fazer notar apenas podia ser comparado com a antiga China, cultura que Keyserling tão bem conhecia.


No Brasil, a consideração pelo outro manifestava-se não por último numa imensa benevolência para com aqueles que serviam ao Estado, cuidando este de pensão para filhos e netos de funcionários públicos.


Diplomacia, arte de governar e o papel dos advogados no Brasil


Aprofundando-se na análise da delicadeza do brasileiro e na arte de governar o Brasil, Keyserling levantou a questão das razões desse seu sucesso em comparação com aquele da antiga Rússia, derrubada pela Revolução de 1917, também segundo êle um país com população heterogêna e em estado primário sob o ponto de vista de desenvolvimento de espírito Essa arte de governar brasileira alcançava tanto pelo fato de nela tudo referenciar-se com origens.


Estabelecendo pontes histórico-etnológicas de natureza demopsicológica, Keyserling lembra que homens e povos indígenas se ressentem com impressões más, que machucam, sendo então estas evitadas. Se houver, por outro lado, boas impressões através de atitudes humanas, por exemplo para com mulheres e crianças, então até mesmo entre povos rudes se fechavam os olhos para o resto.


No Brasil, qualquer um teria compreensão para com aquele que puxa o revólver já perante um olhar ou gesto menos amigo. Como, porém, dominaria a delicadeza, compreender-se-ia que surge como indelicado matar alguém de frente, preferindo-se assim assassinar por detrás, o que evita também dar má impressão. Isso explicaria a frequência de mortes pelas costas no Brasil, evitando-se assim duelos face a face.


Para ilustrar essa sua observação, Keyserling cita a história de um homem que, sentindo-se ferido na sua honra de marido, decidiu matar o seu rival. Este, tendo conhecimento do perigo que corria, nunca mais passou a sair sem estar acompanhado de sua mulher e filhos, pois sabia que o marido traído não teria a indelicadeza de proporcionar a desagradável impressão de sua morte à senhora e às crianças. Na primeira oportunidade que saiu só, foi morto pelas costas. A justiça deu liberdade ao assassino e o público ovacionou-o pela sua refinada sensibilidade. (op.cit. 201/2)


Assim como na diplomacia no aparelho de Estado no Brasil, os fundamentos e a problemática da delicadeza poderiam ser considerados segundo Keyserling na importância da advocacia no Brasil, um país que era conhecido pela profusão de advogados e pelo papel que exerciam na estrutura governamental.


Keyserling lembra que um advogado nem sempre defende a causa de um cliente do qual está convicto de ser sem culpa. Precisa, assim, agir como um ator e contornar o Direito, representando o falso e, assim, mente. Sem talento de ator teatral, um advogado não tem sucesso.Não seria de admirar, assim, que o Brasil sempre tenha sido um país legístico, e, assim, sempre mais romano, não havendo má consciência na manipulação do direito formal.


A delicadeza do brasileiro comparada com aquela de outros povos e os indígenas


Keyserling considera as diferentes expressões da sensibilidade humana nos diferentes povos e que marcaria predominantemente a América do Sul, em particular o Brasil. A mesma atitude determinada pela esfera da delicadeza, em menor intensidade, dominaria a vida de comunidade de todo o subcontinente sulamericano, com exceção do Chile, onde predominaria uma atitude antes nórdica de fala direta, sem cuidados do não ser rude e de ferir.


A América do Sul revelava-se como um mundo que evitava a luz de forma especial, uma vez que todo o subentendido é por todo lado imediatamente compreendido e toda a clareza  mal-entendida.


No Brasil, o país de sensibilidade mais refinada de todas as nações sulamericanas, dava-se particular atenção às aparências, ao aparato, ao „fazer fita“. Tudo podia ocorrer, menos o escândalo. Quem tornar-se-ia objeto de escândalo, estaria perdido. Assim, manter as aparências surge como fundamental. Na Argentina, de forma no fundo similar, porém manifestando-se diferentemente, abafava-se e silenciava-se tudo o que fosse mais alto e elevado, e a máscara da arrogância e do cuidado pelos trajes teria o mesmo efeito daquele da delicadeza brasileira.


Devido à preponderância da sensibilidade, que protege os sulamericanos de erros no tato e procura não ferir, a vida social no subcontinente era, segundo Keyserling, já de início agradável ao europeu.


Neste sentido, o convívio social era mais fácil na América do Sul do que em outros contextos. A cortesia da antiga China aproximava-se por demais da etiqueta de Côrte em prejuízo da espontaneidade, que é para Keyserling o aspecto mais belo da cortesia. A courtoisie francesa orienta-se segundo idéias e valores, sendo ao mesmo tempo condicionada tanto pelo intelecto como pela sensibilidade, exigindo assim atenção nas relações humanas, o que cansa.


A delicadeza brasileira, porém, atua segundo o filósofo em estado tão desvinculado e reage tão precisamente que o homem pode movimentar-se em espaço livre. A descontração sem motivos intelectuais ou sentimentos de valores ou postulados morais leva mais facilmente a resultados que são procurados em outras culturas através da disciplina da etiqueta.


Nem os espanhóis e nem os portugueses possuem segundo Keyserling a delicadeza dos sulamericanos. Os espanhóis, embora quentes e benevolentes, seriam por demais individualistas e fechados em si mesmo para poderem ter tanta consideração para com a sensibilidade dos outros. Os portugueses eram complicados, conflitantes dentro de si e explosivos, o que tornaria impossível o aguçamento do ouvir e o tocar leve no instrumento dos sentimentos como os brasileiros.


A América do Sul, porém, para Keyserling não é o continente primordialmente a ser caracterizado pela consideração do outro, mas sim pela susceptibilidade, a vulnerabilidade do sentir-se facilmente machucado. Uma cultura da consideração, como no Japão, tinha como pressuposto força de criação de imagens e iniciativa de espírito, o que faltava na América do Sul. Aqui existiria apenas natureza refinada. O que é agradável é bom, o que é desagradável e ruim.


A doçura sulamericana tinha como polo contrário uma crueldade refinada e sensível.  A crueldade seria o fino sentimento de deixar que os outros sofram. Isso era o que fazia que a alma feia surgisse como especialmente repugnante: a imagem contrária do que é agradável é aquela que desperta asco.


O que é agradável é bom e belo, o que é desagradável é feio e ruim


Para Keyserling, a mesma delicadeza que hoje é própria à América do Sul, em particular ao Brasil, seria uma virtude característica dos indígenas.


Todos os povos indígenas, com exceção dos araucanos e de tribos decadentes, caracterizar-se-iam por uma singular fineza de sentimentos e doçura. Não seriam nunca descorteses ou rudes.


Keyserling lembra aqui de narrativa na qual os indígenas do Brasil explicavam a vitória do homem branco: Deus ofereceu ao branco e ao índio um punhal de ferro e outro de madeira. O índio escolheu o de madeira, por ser o mais belo.


Também os sulamericanos atuais nunca expressariam uma palavra dura, silenciariam sempre em situações onde o europeu grita. Prefeririam antes matar do que usar de uma palavra dura.


Essa aguçada sensibilidade fundamenta-se, segundo Keyserling. no primado dos sentimentos, ou melhor dos órgãos dos sentidos.


Se a sensibilidade tão acurada vira-se no seu contrário, então torna-se absoluta falta de sensibilidade. Disso resulta total falta de empatia para o sofrimento alheio, explicando uma imporosidade única do sentir em simpatia. Isso explicaria a crueldade refinada e a apatia nas culturas indígenas.


Keyserling constatara que a mais leve sensação desagradável levava à transformação da face do indígena: um rosto belo, perfeitamente controlado transformava-se de repente em feio e mau. Isso seria explicável pelo fato dos indígenas serem homems-sentimento, que encarnavam a polaridade doçura-crueldade. Nos paises do Oriente, também haveria essa polaridade; sendo porém povos mais transpassados pelo espírito, resultariam dela valores mais altos.


Procura de fundamentos da delicadeza na Gênese e aproximações antropológicas


Os fundamentos mais profundos da delicadeza tão característica do Brasil são explicados por Keyserling através do relato bíblico da Gênese. Esse procedimento marca todas as suas meditações, partindo da consideração do subcontinente como a terra do „terceiro dia da Criação“. (Veja)


Para isso, parte não do Criador, mas do Criado, e, assim, da terra. Se a história da Criação - como narrada no texto bíblico - não fosse compreendida da perspectiva daquele que no princípio criou céu e terra e da Palavra criadora, ou seja, da ação, então dever-se-ia dizer que no princípio esteve não a ação, mas a sensibilidade. A sensibilidade precede assim a luz do espírito, preparando-a.


Graças à sensibilidade e irritabilidade é que a criatura viva conseguiu afirmar a sua identidade perante a supremacia do que a envolvia no momento da entrada do espírito que fêz surgir a luz.


Sensibilidade e irritabilidade teriam sido assim consequentemente extraordinárias no homem nas suas origens, uma vez que se encontrava sem defesa e nú, não podendo afirmar-se nem pela adaptação ou pelo mimetismo, como muitos animais, nem pela lentidão da serpente.


A sensibilidade psíquica precisa assim continuamente criar e regular o equilíbrio necessário entre o mundo interior e o exterior. Só com o desenvolvimento da razão é que surgiu algo comparável

como instrumento de defesa àquele dos outros animais. A razão, porém, desenvolveu-se mais tarde do que a sensiblidade original.


Primeiramente, o homem foi sensível, apto a ser facilmente ferido, e apenas a seguir levantou-se a questão do por que e para que é sensível.


A primeira distinção entre o bem e o mal relacionou-se com o sentir se algo fere ou não fere. A primeira distinção entre o belo e o feio coincide com a sensação daquilo que atrai ou repudia. A vida de gana é de natureza passiva; falta-lhe iniciativa, ela reage. (Veja)


Dessa constatação, Keyserling chega a conclusões que contrariam suposições generalizadas quanto à proximidade à natureza e à sensibilidade aguçada.


O corpo saudável reage de forma mais exata, precisa e rápida do que o espírito. Tanto mais a consciência tem o seu foco na esfera do sentimento, tanto mais aguçada é a capacidade de percepção daquilo que fere ou não fere. 


Keyserling concorda que os assim-chamados primitivos podem ser rudes e obtusos. Esse estado, porém, não seria o original, mas um produto da adaptação, seja ao calor ou o frio, ou outra razão negativa que por um lado fomenta uma falta de sensibilidade e, por outro, liberta forças para a sobrevivência. Uma adaptabilidade diferenciada significaria uma exclusiva masculinidade determinadora e um passo à barbarização. Na história da humanidade, um prototipo dessa masculinidade seria Esparta.


Brutalidade e obtusidade caracterizariam também o estágio final da estagnação e deturpação de desenvolvimentos. Ocorrendo endurecimentos, o ser perde a sua sensibilidade e capacidade de transformação. Os povos que se formaram sob circunstâncias de vida desfavoráveis, sendo assim primeirmente rudes e obtusos, tornaram-se os mais progressistas. Necessitaram, através da iniciativa espiritual, criar um equilíbiro entre êles e a natureza do meio ambiente desfavorável. Dai explicar-se-ia o significado cultural dos povos nórdicos e de montanhas, assim como dos estados dos incas e dos astecas, e da tenacidade de povos de desertos.


Se provavelmente todos os povos de mais alta intelectualidade provinham de bárbaros- e bárbaro não seria o primitivo - , a característica primordial não era a barbárie, mas sim a sensibilidade.


A humanidade ter-se-ia primeiramente desenvolvido não em meio ambiente desfavorável, mas sim em condições propícias para a vida. Tanto mais um tipo humano seria correspondente a situações originais, tanto mais vivia de forma sensível.


Se todos os homens simples que não fossem do tipo obtuso evitam expressões claras, isso não seria resultado de incapacidade de espírito, mas sim do receio de serem feridos. O subentendido, o falar através de indiretas seria de mais fácil recepção e compreensão do que o intelectualizado. A leitura de escritos antigos e a compreensão de línguas não-articuladas exigem leitura mais profunda e capacidade combinatória do que uma forma de expressão clara.


Proximidade às origens e refinamento: desconfiança e o estar na defensiva


A humanidade sul-americana daria um exemplo da coexistência da proximidade às origens e refinamento. Ainda que o  seu centro de experiência resida segundo Keyserling na gana, agindo segundo as suas leis, a sensibilidade seria o seu motivo fundamental.


Daí explica-se uma ordenação do bem e do mal à qual falta toda e qualquer qualificação moral. O que fere, é, ipso facto, mal, o que machuca, é o culpado. O ressentimento não é apenas de fato, mas última instância, e a reação surge como direito humano.


Esse ressentimento não podia ser explicado segundo Keyserling no sentido convencional psicoanalítico como fraqueza ou resultado de repressão. A facilidade com que o sul-americano se fere não resulta também do ferimento da honra ou do sentimento de direito ou de prejuízo material. Trata-se antes de uma sensibilidade em si, de um reagir imediato, assim como a mimosa pudica reage ao mais leve toque.


Entretanto, a sensibilidade para com aquilo que é desagradável é maior do que para o agradável, e assim, o panorama que o estado de alma da América do Sul oferece é o do estar constantemente na defensiva, da desconfiança e na disposição de tomar a mal o que se ouve e mesmo o estar pronto à vingança. Domina assim um mêdo original refinado, de sentimentos aguçados.


Como todo o mêdo pede segurança, tem-se, nas relações humanas, o falar indireto ao invés do direto, da etiqueta ao invés da comunicação simples, da cortesia ao invés da franqueza.


Linguagem visual: metáforas de gênero


Como em todas as suas meditações, o uso de imagens relacionadas com o feminino e o masculino domina o tratamento da delicadeza de Keyserling. Em primeiro lugar, considera a esfera da sensibilidade na imagem da mulher. 


A mulher seria mais sensível do que o homem. Mulheres „realmente mulheres“ seriam seres de sensibilidade. Se próximas à sua natureza, tomam toda e qualquer expressão clara como sendo brutal. Isso diz respeito primeiramente ao falar, não ao agir.


Tudo poder-se-ia fazer, desde que não se falesse a respeito. Essa situação podia ser encontrada sempre onde a moderna cultura da franqueza não teria superado a tradição milenar. Como toda a experiência imediata do homem é psíquica, pois é uma relação de alma para alma, palavras significam mais do que a ação. Elas ferem mais, mas também agradam mais. Boas palavras podem fazer superar prejuízos sérios, pois fazem com que sentimentos positivos cubram ps negativos.  A mais grave ofensa torna-se tolerável se a forma for mantida.


Das suas meditações, Keyserling chega à conclusão que, no início, na situação de noite na qual despontou a luz da consciência, não esteve a verdade, mas a mentira. No Início. não esteve a coragem, mas sim o mêdo e, com êle, a sensibilidade que se afirma. A primeira e mais importante questão que se levanta é aquela que pergunta o que fere e o que não fere.


Assim, os povos mais simples ensinariam as crianças primeiramente a dizerem inverdades, pois uma explanação aberta poderia ser perigosa. Inteligente não seria aquele que se prende à verdade exposta rudemente, mas aquele que toca no instrumento da sensibilidade alheia de forma hábil. Nessa consideração, Keyserling se baseia nos estudos de Leo Frobenius (1873-1938), companheiro da sua „Escola da Sabedoria“  (Erythraea, Berlin: Atlantis-Verlag, 1931, cit. op.cit. 208) quanto à inteligência de africanos.


Os povos corteses, ou seja, aqueles que consideram os sentimentos dos outros, independentemente de visões do mundo ou julgamentos, possuem a maior força de atração. Este seria o caso do Brasil. O homem é em primeiro lugar de tal forma sensível e irritável que a consideração da esfera e sentimentos representa o princípio e o fim de toda a arte de tratamento humano.


Para Keyserling, a sensibilidade maior das mulheres do que dos homens faria com que estas se tornassem mais inteligentes na prática. Adaptáveis, tornam-se aquilo que as circunstâncias exigem em cada momento. Mulheres ligadas com homens incompatíveis transformar-se-iam de forma negativa. O mal surgiria assim como fenômeno secundário, faltando primordialmente um sentido para contextos espirituais, intelectuais ou morais.


Como Keyserling parte da sensibilidade como anterior à Palavra criadora da luz no relato bíblico, parte da imagem da imagem de uma mulher transpassada pelo espírito que pairava sobre as águas. O processo transformatório que se desencadeia leva após o surgimento da luz a uma outra imagem, àquela que se manifesta na delicadeza e beleza das águas que correm e se juntam no mar no „terceiro dia da Criação“.


Sensibilidade refinada e sexualidade - a sensualidade quente e a frieza dos brasileiros


Essa complexa imagem é tratada por Keyserling através da consideração da sexualidade. Os sulamericanos gozariam de fama na Europa como amantes de quente sensualidade. Keyserling afirma ter ouvido de mulheres de experiência em assuntos sexuais que nenhum homem ultrapassaria o brasileiro quanto ao grande refinamento de práticas sexuais.


Por outro lado, essa sensualidade tão quente do sulamericano corresponderia a uma frieza. A esfera da sensação não era a do coração, e a sensualidade, em si, é fria. Toda a sensação é fria, a crueldade é fria, a vingança é doce e fria. Assim, a doçura sulamericana não significava calor, e o que parece ser quente seria na verdade, sêde de calor. Nesse sentido, o sulamericano podia ser comparado segundo Keyserling com um lagarto ou animal semelhante de sangue frio que procura o sol para esquentar-se. Dai explicar-se-ia a frieza de mulheres que mais atiçariam homens.


Manifestação de sensibilidade altamente refinada seria a homosexualidade. Também aqui Keyserling vinha a intensidade da homosexualidade na América do Sul, em particular no Brasil com a sua extraordinária delicadeza como contribuição indígena. Lembra que, antes dos europeus, os indígenas conheciam todas as formas de práticas sexuais.


O positivo no mundo determinado pela delicadeza: a beleza


Nas suas meditações referentes à delicadeza, Keyserling parte não da mentira, mas da cortesia e chega a uma afirmação do positivo de um mundo determinado pela delicadeza,


A imagem da mulher primordial como símbolo da sensibilidade possibilita ao filósofo considerar relações entre mentira e beleza. As mulheres não seriam apenas o sexo mentiroso, mas também o da beleza. O engôdo seria a raíz não só da falsidade e da traição, mas também da consideração. As mesmas raízes da vingança e da atrocidade teriam também a comiseração. Assim, Keyserling passa a siuüpr qie a beleza deve provir diretamente do submundo, devia ter outras raízes do que a verdade.


Platão, que compreendia o belo, o teria suposto. Reconheceu que a equiparação socrática do belo com o bom e o verdadeiro não era correta. Assim, na sua concepção tardia, quis afastar a arte e os seus cultivadores do Estado. Também o Cristianismo teria percebido essas relações. Por isso, no seu período inicial, mais radical, fora inimigo de mulheres e da beleza. Preocupado pelo fato de que amor, caridade e o tolerar sofrimento se encontram fundamentados na natureza da mulher, introduziu severa ascese. Com essa exigência de severidade, extirpou toda a esfera de sensação da concepção do mundo. Somente o amor espiritual em contraste com o amor natural deveria existir, somente controle ao invés de indulgência por si próprio, somente confissão de pecados e admoestações no lugar de consideração por aquilo que se gosta.


Como essa desvalorização da beleza não podia ser permanente, os patriarcas da Igreja anatólica, como filhos de um povo de beleza, os helenos, retomaram a equiparação socrática de forma modificada, não a vendo como caracterização do existente, mas como anelo. Beleza, verdade e amor deveriam consistuir uma unidade.


Para Keyserling, porém, o Cristianismo e a filosofia dele resultante nunca conseguiram alcançar a visão adequada dos fatos.


A terra, da qual nascem as flores mais belas, precisa de alimentação das raízes. Essa alimentação corresponde, no trato humano, àquilo que faz bem ao sentimento. Assim, a beleza é filha do falso e feio, mas não é mais falsa e feia.


Para que na terra haja beleza, deve-se primeiramente colocar a questão do que machuca ou não-machuca. O mêdo de ser machucado leva primeiramente ao disfarce, e o mêdo de machucar à cortesia. Também aqui, o positivo e o negativo fundem-se num todo. As mais belas flores são venenosas.


Tudo isso, porém, para o filósofo, não significava nada contra a positividade absoluta do mundo da beleza. A ciência psicológica constatara que a beleza na vida dos sonhos significava o ser atraído em si. Belo é, de fato, originalmente o que faz bem aos sentimentos.


Seria significativo que o renascimento do espírito antigo tenha-se dado na Provence sob o signo da beleza em oposição à metafísica cristã e, assim, ao conhecimento da verdade. Na Provence, a cortesia tinha o mais alto valor. Ao Brasil estaria destinado um papel que coube à Provence no passado.


A partir de suas meditações, Keyserling passou a procurar o sentido e os limites de um mundo determinado pela veracidade.


Complementaridade de mundos da verdade e da beleza


Essa distinção entre mundos da verdade e da beleza não dizia tudo, mesmo visto a partir da terra e para a terra. Para Keyserling, se a mulher acha brutal a expressão direta e clara do homem, ela quer que êle seja agressivo; ela admira a sua belicolosidade, o seu ideal é o herói combativo, ela não quer que ele entenda todo o subentendido. A expressão clara surge como erótica. Se ela odeia a sua crueza, ela desejaria por outro ser tomada.


O mundo da delicadeza brasileira seria tão pouco ideal como o da rudeza chilena. Do refinamento do sentimento, o caminho não segue diretamente à veracidade e pureza de costumes. Como, porém, as raízes dessas virtudes e valores formam um complexo orgânico, existem elos de ligação, e nenhum povo tem talentos unilaterais.


Assim, os homens mais perfeitos foram sempre aqueles que têm as suas raízes tanto nas profundezas da verdade como da beleza e que personificam a síntese de ambos.



A feiúra de povos. A feiúra da cueca chilena


Nos estudos músico-antropológicos voltados à América Latina, uma atenção especial mereceu a consideração da cueca chilena no contexto das meditações de Keyserling sôbre a beleza e a falta de beleza.


As suas reflexões constituiram um assunto de discussões com um dos principais pesquisadores da cueca chilena, o musicólogo Samuel Claro-Valdés (1934-1994), professor da Universidade Católica do Chile (Veja) (S.Claro Valés, C. Peña Fuenzalida, M. I. Quevedo Cifuentes, Chilena o Cueca tradicional, Santiago: Universiad Católica de Chile,1994).


Keserling parte, nas suas negativas considerações sobre a chilena, de considerações estéticas na história: um povo da beleza que foram os gregos representavam os bárbaros como feios. 


Esse complexo poderia ser compreendido em particular a partir da América do Sul. Os chilenos seriam considerados como gente rude. Aos homens chilenos que não pertenceriam à esfera social mais alta, faltaria a delicadeza típica do continente.


A dança da cueca seria a mais feia de todas as danças nacionais. Tanto mais grotesca, tanto mais feios os homens, tanto mais velhas e enrugadas as mulheres, tanto mais autêntica seria a cueca. O fim da festa deixava uma situação comparada com um campo de batalha, com feridos e mortos.


Este, porém, seria apenas uma face da chilenidade, pois os chilenos seriam de toda a América do Sul o povo de homens de mais caráter. São rudes, pois mentem menos do que os outros sul-americanos, menos prometem sem cumprir, menos engodam, são mais diretos e abertos. 



Missão da América do Sul a cumprir para a Humanidade: a sensibilidade


A América do Sul teria, segundo Keyserling, apesar de todos os aspectos negativos da predominância da gana (Veja), de seus limites e fraquezas, uma missão a cumprir para a Humanidade: este residiria na sensibilidade e na delicadeza.

Às vezes perguntava-se se um cavalheiro do ancien régime teria sentido tanta estranheza quanto êle nesse mundo determinado pela delicadeza. A resposta, de início, seria não. Aquele que procura em primeiro lugar a sua dignidade pessoal, a ela sacrificando tudo, precisa colocar o acento vital na sensibilidade. A cultura cavalheiresca teria as suas origens na delicadeza; as suas principais raízes foram o sentido pela beleza da Provence e o sentimento refinado natural dos árabes. Deles ter-se-ia formado o princípio da dignidade, ou seja, do acento valorativo da personalidade, pois sem o acento da sensibilidade não poderia haver um sentimento de honra.

Entretanto, nas suas reflexões, Keyserling logo teve dúvidas. Sob a perspectiva histórica, valeria a frase "nos seus frutos será reconhecido". Não seria por acaso que a civilização provavelmente mais sem dignidade teria resultado do mundo europeu cortês. Também não seria por acaso o contexto entre aquele universo e a moderna brutalidade e feiúra do estado histórico atual.

Esse fato residiria na centralização à verdade exposta rudemente cada vez mais unilateral do mundo atual, que se tornava cada vez mais brutal e feio. 

Keyserling nega o valor absoluto de uma cultura orientada pela verdade na franqueza brutal e da atividade. Mais ainda: da cultura de espírito da razão e como procura de saber escolar e erudição. Se a iniciativa do intelecto for ilimitada, não consegue levar a terra ao céu, mas a dirige ao inferno. Justamente a falta de de escolaridade e a passividade da América do Sul poderia assim ter uma missão global para a Humanidade.

Apenas a afirmação da sensibilidade e a sua alta cultura chegaria a possibilitar uma Apokatastasis das forças de alma em época de extremo espírito ativista, e, assim, criar uma nova cultura da beleza.

Nem a religiosidade renovada, nem espiritualidade baseada em leitura superficial das Escrituras, nem muito menos a crítica intelectual poderiam fundamentar uma elevação. Não se trataria de negar o espírito ou de reconfigurar a vida espiritual; também não se trataria de uma redeterminação de forças psíquicas, mas sim de uma nova inserção na vida a partir de suas raízes reais, que são outras que a da esfera imaterial da abstração no homem, com outras leis e normas.

Keyserling confessa que a América do Sul ensinou-lhe sobretudo algo que jamais esperara como resultado do seu filosofar: duvidar do racional como valor absoluto e exclusivo, considerando o espiritual guiado por valores apenas nas suas indissolúveis vinculações com a sensibilidade.

O filósofo lembra que os tempos da antiga religião, magia e arte foram bastante ativos. Como não se basearam só no impulso à razão e ao poder, mas também na sensibilidade, puderam levar a altos cumes da humanidade integral. Essas florescências feneceram, porém, e onde não morreram de todo, perderam a sua vitalidade. Por isso, tornar-se-ia necessário algo radicalmente novo. O progresso histórico decorre contrapontisticamente; o caminho de uma unilateralidade à totalidade leva sempre a uma unilateralidade compensatória.

Aqui via Keyserling a missão maior da América do Sul, a de proporcionar um reequilíbrio através das forças da cortesia.

Onde a sensibilidade é determinante, não se coloca a questão da absoluta racionalidade ou da utilidade.

Perigo de uma hipersensibilidade que domina sem valores espirituais

Sensibilidade pode dar segurança biológica, como o filósofo considera relativamente à vida que procura despistar e retrair-se para não ser machucada. Se, porém, determinar o homem e a cultura acima dos limites do contexto com a natureza, ela é mais perigosa do que útil.

A sensibilidade leva à satisfação do anelo do homem à beleza. Keyserling demonstra aqui seguir concepções platônicas de uma cultura da beleza ao afirmar que primeiramente seria necessario amar um corpo belo, ascendendo, assim, até à idéia do Belo.

A delicadeza que se afirma em corpos também pode se materializar no princípio espiritual da dignidade, pois também os pressupostos naturais do sentimento de dignidade é o do poder ser ferido e o seu ieal é a perfeição na razão estética, não moral. 

Aqui resultaria a grande possibilidade de significado do tipo de homens que habitam no subcontinente sulamericano. Justamente devido à dominância da ordem emocional - não da razão ou de outras faculdades imateriais - marcada que é por sensibilidade refinada, poderia dar origem após longo tempo a uma cultura exclusiva da beleza que serviria como polarizadora de um mundo cada vez mais intelectualizado, abrindo novas possibiliades e caminhos.

O homem sul-americano parece fraco, pois é do tipo passivo. Mas o fraco, aquele que cede é por fim mais forte do que o forte, e os povos marcados por forte ativismo são aqueles que realmente são mais fracos.

Por esse motivo, o futuro cultural da América do Sul parecia ao autor estar seguro.

Para isso, porém, o continente precisaria desenvolver-se na esfera do espírito, para que pudesse criar uma cultura original e adequada. Ali se encontravam todos os pressupostos por parte da ordem emocional.

Era possível que ali se desse a próxima renascença do Espírito que possibilitou as maravilhas helênicas. Esse espírito ressuscitara primeiramente na Provence, depois no Renascimento italiano e por fim na cultura da forma francesa, podendo assim ressurgir na América do Sul para a redenção e para a salvação de todos os homens da brutalidade. (op.cit. 223)



De ciclos de estudos da A.B.E.
sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo





Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. (Ed.).“A delicadeza, a diplomacia e a susceptibilidade do brasileiro. A beleza e a cultura da sensibilidade guiada por valores como possível missão “
. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 158/14  (2015:06). http://revista.brasil-europa.eu/158/Cultura_da_sensibilidade.html


Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira

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Fotos A.A.Bispo, Praia Grande SP, 1980 ©Arquivo A.B.E.