Esposizione internazionale de 1911 em Turim

ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA 159/11

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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N° 159/11 (2016:1)







O Brasil na Esposizione internazionale dell'Industria e del Lavoro de 1911 em Turim

"pela ordem e pelo progresso, o Brasil desenvolve seu comercio e sua indústria"

                                                                      

10 anos do ciclo estudos euro-brasileiros na Savóia e Piemonte pelos Jogos Olímpicos de 2006 em Turim


 
A.A.Bispo. Turim 2006
Turim, há 10 anos, foi alvo de viagem de estudos promovida pelo I.S.M.P.S. (Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa) e pela A.B.E. (Academia Brasil-Europa) em cidades da Savoia e Piemonte.

A viagem foi motivada pelo fato da cidade estar preparando a 20. edição dos Jogos Olímpicos de Inverno para 2006 (XX Giochi olimpici invernali), para o qual se esperava também a participação de brasileiros.

Tinha como objetivo trazer à memória os elos já antigos ítalo-brasileiros relacionados com a cidade e região, assim como o significado de Turim como centro internacional de intercâmbios, de  indústria, comércio, artes, arquitetura e de música, cidade marcada pela Belle Époque, possibilitando profundidade histórica aos estudos de relações entre a Itália e o Brasil.

Precedentes relações nas Belas Artes. Lembrando Virginia Lombardi (1821-1872)

Relações entre Turim e Brasil contavam já com longa tradição. Já em meados do século XIX vivia e atuava em Piemonte uma artista que trazia o título concedido por Dom Pedro II (1825-1891) de "Desenhista da Imperial Câmara": Virginia Lombardi . A concessão desse título, em 1863, foi resultado de uma do oferecimento que essa artista fêz de aquarelas de sua autoria à Imperatriz Dona Teresa Cristina (1843-1889).

Juntamente com duas de suas irmãs, Virginia Lombardi foi artista que alcançou renome por obras expostas em exposições. Debutou na Esposizione del Valentino em 1838, participou de várias exposições entre 1846 e 1873, destacando-se com pinturas de paisagens, de panoramas de cidades, cópias de obras antigas e aquarelas.

Em 1846, em exposição da Società Promotrice delle Belle Arti de Turim, expôs uma aquarela sobre o motivo de uma cascata de água. Este foi um dos sujeitos prediletos da pintora como paisagista. O tema surge novamente em obra vendida em 1854, de título "Grande cascata d'acqua".

Em 1858, a artista esteve de novo representada na exposição de Turim com obra dedicada a cascata da Chiusella, nas circunvizinhanças de Vistorio no período de liquefação da neve.

Em 1870, o sujeito surge novamente na obra Cascata d'acqua a Lemie presso Viù apresentada na exposição XXIX da Società Promotrice, adquirido pela casa real. (M. C. Gozzoli, Virginia Lombardi, in Cultura figurativa e architettonica negli Stati del Re di Sardegna 1773-1861, catalogo della mostra a cura di E. Castelnuovo, M. Rosci, Torino 1980, vol. III, pp. 1457-1458)

Além de cascatas, as flores constituiram outro motivo tratado com predileção pela artista.

Em 1863,  Dom Pedro II mandava que o Encarregado de Negócios do Brasil em Turim, Tomás Fortunato de Britto, informando-o a respeito do oferecimento pela "professora de desenho" local, assim como do seu intento de conceder-lhe o título de Desenhista da Imperial Câmara, pedindo, porém, informações mais detalhadas sobre os merecimentos artísticos da artista. (Dom Pedro II e a Cultura, Rio de Janeiro: Arquivo Nacional 1977, doc.192, 40).

O título de pintora e desenhista da Imperial Câmara foi concedido a Virgina Lombardi, sendo o diploma a ela enviado em 1865 através do citado Encarregado de Negócios do Brasil em Turim. (op.cit. doc. 198, 42).


A Esposizione internazionale de 1911 nos estudos euro-brasileiros


A atenção à presença do Brasil no grande evento internacional de Turim foi despertada já em fins da década de 60 no âmbito dos estudos voltados à música, em particular daqueles relacionados com o compositor Henrique Oswald (1852-1931).

Por ocasião de concertos e em cursos repetidamente fazia-se referência quanto a sua participação como enviado do Govêrno brasileiro à Esposizione internazionale dell'Industria e del Lavoro) de Turim, em 1911, salientando-se o seu sucesso e o significado dessa participação para a sua vida futura.

Os trabalhos em Turim por ocasião dos ciclos de estudos da A.B.E. na Savóia e no Piemonte foram preparados por cursos e seminários anteriormente realizados, em particular na série de "Música no Encontro de Culturas" do Instituto de Musicologia da Universidade de Colonia e daquele dedicado à "História da Música em Contextos Globais" que havia sido recentemente realizado no Seminário Musicológico da Friedrich-Wilhelms-Universität de Bonn.


A exposição internacional pelos 50 anos do Reino da Itália e da Unidade Italiana

Poucas foram as exposições mundiais que marcaram tanto a história de cidades e países como a Exposição Internacional da Indústria e do Trabalho, realizada pela cidade de Turim de abril a novembro de 1911.

A razão do empenho das autoridades e de empreendedores regionais em realizar evento de tais proporções explica-se pelo fato de então comemorar-se o cinquentenário da Unidade Italiana e da proclamação do Reino da Itália.

A data era assim de particular força simbólica para a cidade-residência, para a dinastia e para o país como nação unida, representando oportunidade particularmente favorável para a intensificação e promoção de laços econômicos, comerciais, industriais, culturais e de projeção internacional da Itália.

Se as dimensões nacionais da data manifestaram-se em eventos em outras cidades italianas, tais como nas exposições nacionais de Roma e de Florença, a de Turim foi especialmente marcada pela sua internacionalidade.

Turim contava com uma longa tradição de exposições. Ela se seguia a uma grande exposição realizada em 1902 e, que fora precedida pela exposição de 1898. Retomava, assim, em dimensões maiores, eventos que tinham marcado a passagem do século.

Anteriormente já se tinham realizado outras exposições, em grande parte possibilitadas por empresas comerciais, como aquelas da grande empresa de produções metálicas, em particular de ferro, a Carpenterie A. Brambilla, de Milão.

Essas exposições tinham marcado a fisionomia da cidade que, como em outras cidades da Europa, ganhou construções representativas e de referências
à história e à cultura regional, como, no caso, o burgo medieval levantado no Parco del Valentino. (Veja)

Nenhuma delas, porém, havia alcançado tal esplendor em construções monumentais e de encenação urbana como a e 1911. Os edifícios então levantados - e que infelizmente em grande parte foram demolidos - transformaram Turim em cidade que expressava de forma exuberante a prosperidade, a confiança no progresso, o engenho industrial da Itália e dos italianos no mundo.

A exposição internacional de 1911 adquire, assim, significado para a história da Arquitetura e do Urbanismo nos anos que precederam à primeira guerra, e que, no caso do Brasil, foram marcados pela reconfiguração urbana da sua capital e de outras cidades, entre elas Belém, então ainda em anos de apogeu econômico da época da borracha.

No caso do Brasil, exposição de Turim tinha sido precedida pela exposição internacional do Rio de Janeiro, em 1908, centenário da Abertura dos Portos.

Grande foi o empenho de Turim na preparação tão grandiosa e representativa quanto possível da exposição internacional. Muitos países foram convidados a que participassem, levando a monumentais construções de pavilhões para a  apresentação de produtos, firmas e a auto-promoção como países de progressos e de perspectivas de desenvolvimento. A internacionalidade da exposição foi salientada pela sua programação cultural, em particular musical, compreensível em país considerado como musical por excelência.

A importância do evento foi salientada pelo fato de ter sido inaugurado, no dia 29 de abril, pelo rei Vittorio Emanuele II (1820-1878) em solenidades em que estiveram presentes os representantes dos muitos países participantes.

Para o encerramento desse dia festivo, preparou-se uma apresentação noturna de ginástica de mais de
6000 escolares no estádio que foi então inaugurado (Stadium).

Não só as apresentações de Educação Física, mas também os congressos científicos que se realizaram no âmbito do evento revelam o espírito de energia vital e de progresso de conhecimentos e de evolução de engenho humano que perpassou a exposição de 1911 e que se manifestava também nas representações visuais em cartazes e programas.

O próprio fato de ser a exposição designada não só com o termo indústria, mas também com o de trabalho, simbolizado com enérgicas figuras másculas de operários, surge como significativo para a percepção do espírito que animava a exposição, as relações internacionais da Itália e as comunidades italianas da imigração com os seus numerosos círculos de operários.

Também os italianos no Exterior, na imigração, eram vistos como soldados do trabalho, dispersos pelo mundo a revolver terra inculta, demonstrando a outras nações o povo operoso e forte da Itália. Essa presença de italianos atuantes em países de forte comunidade italiana, como a Argentina e o Brasil, representava um incentivo aos próprios italianos, pois exemplificavam que as virtudes de indústria e trabalho do homem da Itália eram por vezes mais apreciadas em terras longínquas do que no próprio país, servindo, assim, à conscientização de valores próprios.

O significado da música na Exposição: a Itália como país musical

A música desempenhou importante papel na Exposicão, fato compreensível pela auto-consciência de ser a Itália nação musical por excelência. Expressão construída dessa vontade da Itália de apresentar-se como país da música foi o monumental pavilhão da música levantado para a Exposição e onde se montou uma exposição de instrumentos musicais de produção italiana.

Entre abril e maio de 1911, realizaram-se numerosos concertos, cinco deles com a orquestra do Teatro Regio sob a direção de Arturo Toscanini (1867-1957). Os concertos contaram com a direção de outros renomados regentes, entre êles Robert Kajanus (1856-1933), Tullio Serafin (1878-1968) e Joseph Wilhelm Mengelberg (1871-1951). Outros concertos tiveram lugar em outubro. Um dos mais renomados participantes deveria ter sido Gustav Mahler (1860-1911), que, porém, faleceu alguns anos antes da sua programada apresentação. Dos compositores franceses, o principal nome ligado à Exposição de 1911 foi o de Claude Debussy (1862-1918).

Durante a Exposição, manteve-se uma grande orquestra para ela constituída por iniciativa o Comitê Executivo, composta por 100 músicos de alta formação sob a direção de Arturo Toscanini. Planejou-se dois concertos por semana, às quinta-feiras e aos domingos, com programas diversificados. Os ensaios começaram em abril, possibilitando a preparação de um amplo repertório. Tiveram lugar no Salão os Concertos, no recinto da Esposizione, um espaço que comportava 3000 pessoas.

O primeiro ensaio público da orquestra da Exposição deu-se no dia da inauguração, com a apresentação de uma cantata
inaugural composta por Luigi Mancinelli (1848-1921). Mancinelli daria, dois anos mais tarde, prova da sua proximidade à música do Brasil regente, em primeira audição, em Buenos Aires, Abul de Alberto Nepomuceno (1864-1920).

Entre as obras do programa podem ser mencionadas as três Pezzi Sacri de G. Verdi (1813-1901): o Stabat Mater para coro e orquestra, as Laudi a Maria para quatro vozes feminina, além do Te Deum para coro duplo a quatro vozes e orquestra. Para aumentar a massa coral, concorreram a Società Corale Valdese e os alunos do Liceo Musicale.  

Do repertório constaram também execuções dos trabalhos premiados no concurso para uma sinfonia ou suite a grande orquestra instituído para o evento. Também realizou-se um grande concurso internacional de bandas, organizado por uma comissão especial.

Em nenhuma outra exposição tinha-se dado tanto peso à parte musical e nunca se havia dado tanta atenção à diversidade estilística, de modo a satisfazer todos os gostos dos visitantes, demonstrar a rica diversidade musical da Itália e a sua internacionalidade.

A participação de membros da família Oswald na Exposição de 1911 testemunha que também o Brasil veio de encontro a esse peso dado à música na Exposição de Turim.

Coordenação pelo Ministro da Agricultura, Indústria e Comércio do Brasil

Os trabalhos de organização da presença do Brasil na exposição de Turim de 1911 foram coordenados pessoalmente pelo Ministro da Agricultura, Indústria e Comércio sob a presidência de Nilo Peçanha (1867-1924), Rodolfo Nogueira da Rocha Miranda (1862-1943), na pasta entre 1909 e 1910.


Descendente do barão do Bananal de família de políticos tradicionalmente vinculados com o Partido Liberal, Rodolfo Miranda destacara-se porém pelo seu republicanismo, tendo participado da Convenção de Itú de 1873. Tendo estudado em Paris, manteve-se estreitamente vinculado com a cultura francesa.


A exposição de 1911 caia em período de particular atenção do Govêrno pela agricultura, pela sua atualização e pelo ensino agrônomo, pela promoção da cafeicultura, destacando-se a reforma da Escola de Minas de Ouro Preto, instituição que desempenhou papel significativo em Turim. A criação do Serviço de Proteção aos Índios e Localizações dos Trabalhadores Nacionais, em 1910, correspondia à política de exaltação do trabalho celebrada na exposição de Turim.


Os objetivos da participação brasileira eram o da exposição de produtos nacionais com a finalidade da expansão econômica, assim como o a propaganda do nome a serviço da credibilidade do Brasil e da sua representação como nação civilizada.


Para a realização da exposição brasileira, criou-se uma comissão executiva, presidida pelo ministro, com a tarefa de dirigir a construção e organizar a exposição, representando também o país.


Para Comissário Geral escolheu-se Antonio de Pádua Assis Rezende, auxiliado por um secretário geral na pessoa de Francisco de Avellar Figueira de Mello, representando o Museu Comercial do Rio de Janeiro. À comissão pertenciam delegados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pará e Pernambuco, assim como adidos especiais.


Um relatório de Antonio de Pádua A. Rezende constitui uma das principais fontes para o estudo da participação brasileira. (Relatorio sobre os trabalhos da Commissão do Brazil na Exposição Turim-Roma de 1911 e Propaganda do Café no Extrangeiro apresentado ao Snr. Ministrado da Agricultura, Industria e Commercio pelo Commissario Geral Dr. Antonio de Padua Assis Rezende em 31 de dezembro de 1910). Subsídios para os estudos relativos ao pavilhão do Brasil encontram-se em livro escrito pelo próprio Rezende e publicado pela Société Générale D'impression, em 1913 (No Paiz e no Estrangeiro)


Uma das principais preocupações de Rezende era a da apresentação coerente dos expositores brasileiros. Para isso, salientava a necessidade de um serviço no país que coordenasse as atividades.


Ao lado do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, o Pará desempenhou papel relevante na Exposição, sendo representado oficialmente por vários delegados, entre êles o Consul Geral do Brasil na Itália e, sobretudo, pelo suiço Jacques Huber (1867-1914), diretor do Museu Goeldi em Belém.


A comissão executiva passou por modificações na sua constituição no ano da exposição, em julho, passando o comissariado geral de Antonio de Pádua Assis Rezende a Joaquim Cândido da Costa Sena (1852-1919). Com isso, mantinha-se a presença de Minas Gerais à testa do Comissariado Geral, sendo a riqueza das águas minerais salientada por Pádua Rezende, natural de Caldas, e a de minérios pelo diretor da Escola de Minas de Ourto Preto. O novo Comissário Geral passou a ser assistido em agosto daquele ano por Joaquim Cândido da Costa Sena e por Jacques Huber.



Veja artigo em continuidade, nesta edição


Súmula de trabalhos da A.B.E.e do I.S.M.P.S. sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo, Universidade de Colonia


Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A.(Ed.).“ O Brasil na Esposizione internazionale dell'Industria e del Lavoro de 1911 em Turim“
. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 159/11 (2016:01). http://revista.brasil-europa.eu/159/Expo_Turim_1911.html


Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2016 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


Academia Brasil-Europa
Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)
reconhecido de utilidade pública na República Federal da Alemanha

Editor: Professor Dr. A.A. Bispo, Universität zu Köln
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Fotos: Turim 2005/6, A.A,Bispo ©Arquivo A.B.E.