C. Gomes no Scambio culturale Italia-Brasile

ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA 161

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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N° 161/02 (2016:3)




Antonio Carlos Gomes (1836-1896) no Scambio culturale Italia-Brasile
e os estudos de processos culturais
- lembrando Armando Belardi (1900-1989) -

  1. -


50 anos de homenagem a Carlos Gomes em São Paulo (1966)

40 anos do início do programa euro-brasileiro em Milão (1976)

30 anos do Ano Carlos Gomes (1986)


Fotografias de sessão em Milão, janeiro/fevereiro de 1976

 


Arquivo ABE
O intercâmbio cultural Itália-Brasil é de longa data, contou com o empenho de muitas instituições, de artistas, músicos, regentes, cantores, políticos, intelectuais e idealistas do Brasil e da Itália, sendo que, nele, o compositor Antonio Carlos Gomes sempre desempenhou papel de central importância . 


Esforços e contribuições para a manutenção, intensificação e celebração de elos culturais foram marcados por diferentes momentos em desenvolvimentos político-culturais nos dois países, no contexto internacional e de visões e anelos das diferentes gerações da comunidade ítalo-brasileira que predominantemente os promoveram.


Estudar a própria história do intercâmbio - e do papel nele desempenhado por Carlos Gomes -, os seus motivos, o seu significado e os seus efeitos, é tarefa obrigatória nas análises de processos culturais em relações internacionais.


Não se trata, em estudos assim conduzidos, de apenas considerar a vida e a obra de Carlos Gomes nas suas inscrições em processos históricos de sua época, mas sim também da suas interpretações e revalorizações em diferentes momentos e situações posteriores à sua morte.


Neste sentido, são aqueles que se empenharam pela manutenção e promoção e sua memória e pela difusão de suas obras que se tornam principal objeto de atenção, de alvo de análises de processos difusivos, seus motivos condutores e seus efeitos, assim como de uma "pesquisa da pesquisa" e de uma pesquisa de rêdes sociais de contatos e intercâmbios.


Início dos estudos e seu desenvolvimento


Armando Belardi. Arquivo ABE
O desenvolvimento concomitante e interrelacionado dos estudos culturais - no caso da vida e obra do compositor e de sua difusão na sua época e dos empenhos posteriores para a sua promoção e da própria pesquisa foi percebido como necessariamente merecedor de atenção no início do movimento de renovação originado em São Paulo em meados da década de 60 e que tem continuidade nos trabalhos euro-brasileiros da A.B.E. e do I.S.M.P.S..


Gemma Rina Peracchi. Arquivo ABE
Esse movimento nasceu de preocupações relativas a problemas constatados sobretudo nas áreas de História da Música e de Folclore no Conservatório Musical Carlos Gomes de São Paulo que, pela sua história, direção e corpo docente era uma das principais instituições da comunidade italiana e ítalo-brasileira de São Paulo.


Já o fato de que a escolha do patrono da instituição - remontante a sociedade designada segundo o compositor de origem veneziana Benedetto Marcello (1686-1739) - relacionara-se com exigências de nacionalização de entidades de estrangeiros à época da Segunda Guerra Mundial, trazia à consciência a necessidade de considerar Carlos Gomes em contextos político-culturais em que se inscreveram os italianos em São Paulo.

Libero Vignoli. Arquivo ABE

Libia Piccardi. Arquivo ABE
Esses estudos tiveram o seu início em trabalho conjunto com professores do conservatório, de propriedade do maestro Armando Belardi e dirigido por Gemma Rina Peracchi, tendo como diretor-secretário Líbero Vignoli.
Maria Ines de Comte. Arquivo ABE


Vários professores italianos e ítalo-brasileiros colaboraram com as reflexões, fornecendo dados sobre as suas próprias experiências de vida e profissionais, entre êles Walter Gandolfi, Dino Pedini, Lybia Piccardi, Henriqueta E. Ricardino, Sisto Mechetti, Yolanda Giovanazzi, Rina Coli,, Nicola A. Gregoria, Renata M. Aventurato.


Pesquisas interdisciplinares da vida musical paulista: o Teatro Colombo


Os trabalhos de campo, de levantamento de acervos e entrevistas foram desenvolvidos em vários bairros e cidades de São Paulo marcados pela presença italiana no âmbito do programa "Musicologia Paulista".


Walter Gandolfi. Arquivo ABE
Entre êles salientou-se o bairro do Brás, onde foram visitados protagonistas da vida musical do passado e associações.

Importante encontro deu-se por ocasião de visita ao Teatro Colombo, já fechado, antes de sua demolição. O grande edifício no Largo da Concórdia, então também estudado por arquitetos da FAU/USP, permitia reconhecer a estrutura do mercado que lhe dera origem antes de ser arrendado para casa de espetáculos, inaugurada em 1908.


A própria denominação do teatro testemunhava os seus elos com a Itália no seu orgulho do papel exercido pelos navegantes italianos na história dos Descobrimentos. O teatro representava, assim, o significado de Colombo para os italianos de São Paulo e para a Itália, tendo sido despertado em grande parte pelas comemorações de Colombo nas comemorações dos 400 anos do Descobrimento da América, em 1892.


Milao 1976. Foto A.A.Bispo. Copyright
De acordo com a orientação da atenção do movimento,voltado à superação de esferas entre o erudito, o popular e o folclórico, considerou-se não só programas do teatro e outras casas de espétaculos - cines-teatros -, que testemunham a presença de notáveis artistas e companhias italianas em São Paulo, como também o papel desempenhado por italianos na história da música popular urbana no Brasil.


Armando Belardi na vida musical de São Paulo


O caso da família Belardi oferecia aqui importantes subsídios. Os dados oferecidos de memória por Armando Belardi permitiram obter um quadro de uma família de imigrantes italianos que cultivava tradicionalmente a música nas suas diversas formas de expressão ao lado do exercício de outras profissões. Permitiram também reconhecer o papel da música no processo de integração de imigrantes na sociedade brasileira.
A passagem gradual ao exercício profissional da música como caminho à ascensão social e à auto-afirmação no novo país abria caminhos para a compreensão do pêso dado à profissionalização de músicos entre os imigrantes e o papel destes no estabelecimento e no desenvolvimento de organizações profissionais e sindicais.


Girolamo Belardi chegou a São Paulo em 1897. Veio juntamente com a sua mulher Lúcia e os seus filhos Alfredo e Amélia, sendo que oseu  filho Américo apenas posteriormente veio de Roma, onde ficara em tratamento de saúde. Apesar de sua modesta origem, Girolamo Belardi era bandolinista e violinista, dedicando-se assim tanto à música popular quanto á erudita, o que permaneceu uma característica da família.


Das  memórias de Armando Belardi pode-se reconhecer que o seu pai foisignificativo agente na transmissão ao Brasil da tradicional cultura mandolinista e da prática de instrumentos de cordas dedilhadas italiana, então popular na Itália. Logo destacou-se como bandolinista no Brás, instrumento que também passou a ensinar, também como principal instrumento em conjuntos instrumentais por êle organizados e que se reuniam por ocasião de festas e serenatas. (Armando Belardi, Vocação e Arte: Memórias de uma via para a música, São Paulo: Manon, 1986)


O caminho de vida dos filhos de Girolamo Belardi documenta o papel da música na educação e preparação profissional de filhos de imigrantes italianos no Brasil. Em formações instrumentais singulares e com repertório de agrado à comunidade, preparava-se a nova geração para a vida remunerada em orquestras.


Desde cedo dedicando-se ao violoncelo, Armando Belardi apresentou-se pela primeira vez em público em 1906, na sala de concertos frequentada por italianos, o Salone Excelsior, dirigido por Edoardo Matina, quando, acompanhado ao violão por seu pai, executou uma fantasia sobre temas da ópera La Forza del Destino de G. Verdi (1813-1901), assim como outra sobre motivos napolitanos.


Essa sessão artística promovida por Girolamo Belardi incluiu outros músicos e alunos de outros professores italianos. Entre estes, destacavam-se G. B. D'Arce, músico, compositor e professor altamente considerado nos meios ítalo-brasileiros, assim como Emilio Gallina, Annibale Pranini e Guglielmo Taiana. Do evento participaram também Elena Bonardi, Christina Ghirelli, e Lisa Dertonio. Das sociedades ítalo-brasileiras participantes destacou-se a Società Aleardo Aleardi, dirigida por Emilio Nani.


Já em 1909, A. Belardi participava como violoncelista na orquestra da companhia italiana de operetas Ettore Vitale, dirigida pelo maestro Del Gesú. O início de sua vida profissional deu-se sobretudo como participante em grupos musicais atuantes em bares e em locais da vida noturna.


Ganhou-se, assim, através dos dados transmitidos por ARmando Belardi e posteriormente registrados nas suas memórias, um quadro de desenvolvimentos familiares e pessoais marcados por esforços de ganhar a vida através da música e de gradual ascensão profissional.


No panorama assim obtido, percebe-se que o significado de Carlos Gomes para a colonia italiana de São Paulo acentuou-se com o fim da Primeira Guerra Mundial. O papel da Itália na Guerra, e a participação do país no entusiasmo pela vitória dos aliados pode explicar a atmosfera eufórica que levou a iniciativas de celebração apoteótica de elos ítalo-brasileiros e, neles, do vulto de Carlos Gomes. Os desenvolvimentos políticos internacionais dos anos 20 e início dos 30 explicam a gradual mudança de implicações político-culturais do papel desempenhao por Carlos Gomes para os italianos e ítalo-brasileiros, cujo ponto alto foram as comemorações do seu centenário, em 1936.


Um marco: a visita do Teatro San Carlo de Nápoles a São Paulo em 1969

Para as reflexões iniciadas em meados da década de sessenta, um ponto alto constituiu a visita a São Paulo do Teatro San Carlo de Nápoles, em setembro de 1969, um marco no intercâmbio cultural Brasil-Itália. A memórías de Armando Belardi posteriormente publicadas oferecem pormenorizados registros dessa visita e dos eventos que dela derivaram.


O empresário Alfredo Gagliotti, com a sua rêde de contatos na Itália e no Brasil, em particular através da amizade com a organização artística do San Carlo através de Marchese Parisi, alcançou a vinda de artistas, orquestra, coro, bailado e pessoal técnico e de montagem do renomado teatro, de tanto significado para a história da música no Brasil. (Veja) Entre os cantores, encontravam-se nomes internacionalmente conhecidos, como Mario Del Monaco e Gianni Raimondi.


De particular interesse para os estudos relativos a Carlos Gomes foi a apresentação da ópera La Gioconda de A. Ponchielli (1834-1886) ao lado de Otello e Nabucco de G. Verdi, quando veio à consciência o extraordinário significado da amizade e da colaboração artística entre Ponchielli e o compositor brasileiro. (Veja). 


Essa vinda do Teatro San Carlo deveria ter sido o início de um grande programa de visita ao Brasil de outros teatros de cidades italianas, o que, porém, não se realizou. 


100 anos da primeira apresentação de Il Guarany em Milão (1870-1970)


O ano de 1970 foi marcado pelas comemorações do centenário da primeira representação de Il Guarany no Teatro alla Scala de Milão. Para elas, A. Belardi preparou um concerto coral-sinfônico no qual foram foram executadas várias obras de Carlos Gomes.


O concerto, realizado nas escadarias do Museu Paulista do Ipiranga, adquiriu dimensões político-culturais que foram por muitos consideradas como questionáveis. O evento relaizou-se em data na qual concomitantemente comemorou-se uma Semana da Revolução de março de 1964 e, assim, do regime militar.


Esta, porém, não foi o único evento comemorativo do centenário de Il Guarany em São Paulo.


Cumprindo finalidades de difusão cultural, o Departamento de Cultura, em 31 de maio, promoveu
um concerto com obras de Carlos Gomes na Praça Roosevelt.  A ópera foi apresentada como primeira récita de gala na temporada lírica oficial do Teatro Municipal de São Paulo. 


O centenário de Il Guarany foi celebrado compreensivelmente sobretudo em Campinas, destacando-se aqui o empenho do historiador José de Castro Mendes, colaborador do jornal Correio Popular. Pouco antes de falecer, antevendo a aproximação da data do centenário da primeira apresentação da ópera, Castro Mendes procurou intensamente despertar interesses para a ocorrência, realizando projetos e preparando um alentado trabalho sobre o compositor. Neste intento, incentivado por José Acchilles Faria, deu início a uma publicação que foi lançada postumamente como suplemento do jornal.


Com esse suplemento, o Correio Popular procurou não só prestar homenagem ao compositor, que levou o nome do Brasil ao Exterior, como também celebrar a memória de José de Castro Mendes, que dedicou parte de sua vida à memória de Carlos Gomes.


O suplemento foi aberto com uma poesia de O. Neto, no qual o autor decanta a obra como "voz da terra que canta dentro da natureza esplendorosa do Brasil". Tudo nessa página imortal seria força, vida e amor, e o Il Guarany representaria a alma de Carlos Gomes e o próprio Brasil.


Ilustrado, o suplemento inclui fotografia do piano que pertenceu a Carlos Gomes e que, vindo do Pará, encontrava-se entregue à guarda do Centro de Ciência, Letras e Artes de Campinas, assim como da casa de nascimento do compositor, já então demolida.


Dos trabalhos de pesquisa de Castro Mendes,
despertaram principal atenção aqueles relativos à recepção do compositor em Campinas, em 1870 e à representação da ópera nessa cidade, em 1894.


ll Guarany no Teatro San Carlo de Nápoles, em 1971

A visita do elenco do Teatro San Carlo de Nápoles ao Brasil em 1969 despertou nos círculos líricos de São Paulo o intento de retribuição e de apresentação, na Itália, de cantores e músicos brasileiros ou ítalo-brasileiros.

O principal motor da iniciativa foi mais uma vez o empresário Alfredo Gagliotti, que alcançou apoios de instâncias brasileiras e italianas e o interesse de artistas brasileiros. Entre êles, participaram do empreendimento Niza de Castro Tank, Assis Pacheco, Costanzo Mascitti, Wilson Carrara,Paulo Adonis Gonzáles, Assadur Kiultzian, Andréa Ramus, Benedito Silva e Carlos Ebide. A regência esteve a cargo de Armando Belardi e Henrique Morelenbaum. O corpo
de baile foi formado com bailarinos de São Paulo e do Rio de Janeiro, com coreografia de Johnny Franklin.

Foi a primeira vez que um grupo considerável de cantores, músicos, técnicos e bailarinos do Brasil dirigius-se à Itália para a apresentar-se num dos principais teatros da terra por excelência da arte lírica.

Foi, assim, um marco na história do intercâmbio Itália-Brasil na sua devida reciprocidade. Além do mais, o significado do empreendimento salientou-se pelo fato de ser a obra escolhida aquela de um compositor brasileiro que com ela alcançou o seu maior sucesso na Itália.

O grupo foi recebido, em abril de 1971, com grande cordialidade em Nápoles pelas autoridades e representantes do tradicional Teatro, onde realizou quatro apresentações, com sucesso de público. Sendo filho de italianos, Armando Belardi foi recebido com simpatia pelos membros da orquestra e do coro de Nápoles, que por fim colocaram um seu retrato na sala da orquestra.

Il Guarany em São Paulo, em 1972, e conferência em Campinas

Em setembro de 1972, no programa Ópera 2, apresentou-.se o Il Guarany no Teatro Municipal de São Paulo, representaçnao promovida pelo Departamento de Cultura, estando a direção de cena a cargo de Aldo Calvo e a montagem de Francisco Giaccheri. Em 29 de setembro, Armando Belardi pronunciou uma conferência sobre a vida e obra de Carlos Gomes em Campinas, com a cooperação de Niza de Castro Tank, Waldite M. Accorsi, José S. Marialva e Henrique Rocha.

Em setembro, em forma de concerto, apresentou-se Fosca de Carlos Gomes, com a Orquestra Sinfônica e coral mixto de Campinas. No mesmo mês, durante a Semana Carlos Gomes, além de outras atividades artísticas, apresentou-.se o poema vocal-sinfônico Colombo com o Coral Lírico Municipal de São Paulo, o Coral Scala e a Orquestra Sinfônica de Campinas. A Temporada Lírica Oficial de 1973 principiou com Fosca de Carlos Gomes sob a regência de Nino Bonavolontá, Gigi Campanino e A. Belardi, sempre com a colaboração de Marcello Mechetti, Herminia Russo e Raphael Casalanguida. Nessa ocasião concederam-se prêmios do Círculo Italiano Presenza d'Italia in Brasile. (Armando Belardi, Vocação e Arte: Memórias de uma via para a música, op.cit. 141 ss.)

Retribuição: O Il Guarany em Palermo, em 1974


O Scambio Culturale Italia-Brasile, sob os auspícios da Prefeitura Municipal de São Paulo,

apresentação de Il Guarany por conjunto de artistas brasileiros sob a direção de Armando Belardi e Tullio Colacioppo em Palermo, Sicília, em março de 1974. Realizaram-se sete récitas, com grande sucesso. A viagem foi de iniciativa do empresário Alfredo Gagliotti, em cooperação com Marchese Parisi, na Itália. Essa viagem retribuia, após cinco anos, a visita do Teatro San Carlo ao Brasil.


A ópera, dentro da programação do Teatro Massimo, então em obras, deu-se no Teatro Politeama ou Politeama Garibaldi. Este teatro histórico, construído entre 1867 e 1874, cuja arquitetura traz referências a Pompeia, é um dos principais monumentos arquitetônicos da cidade. O espetáculo esteve a cargo de artistas e técnicos de ambos os países em exemplo de extraordinária cooperação bi-lateral. O corpo de baile e técnicos do Teatro Municipal de São Paulo atuaram com a orquestra e coro do Teatro Massimo.


A coreografia esteve a cargo de Marília Franco, tendo como primeira bailarina Mariangela D'Andrea - ivonice Satie, e solistas Vera Torres, Elenice Ferreira e Waldivia Rangel. Aos componentes do corpo de baile do Teatro Municipal de São Paulo juntaram-se bailarinos do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. A direção de cena esteve a cargo de Paulo Fortes e a cenografia de Francisco Giacheri com a assistência de Emmerson Eckmann. Herminia Russo e Marcel Klass atuaram como maestros substitutos. O maestro de coro foi Mario Tagini.Entre os cantores que se apresentaram em Palermo, encontravam-se Paulo Adonis Gonzales, Niza de Castro Tank, Benito Maresca, Aguinaldo de Miranda Albert, Costanzo Mascitti, Assadur Kiulthzian, Andrea Ramus, Benedito Antonio Silva e Wilson Carrara. (ibidem, 154-158)


Carlos Gomes em São Paulo, em 1974 e sesquicentenário da imigração (1975)


A temporada lírica oficial do Teatro Municipal de São Paulo, de 1974, que esteve sob o signo dos 50 anos da morte de G. Puccini, incluiu o Il Guarany na segunda récita.  Em dezembro, apresentou-se uma Cortina Lírica com a execução completa da ópera Lo Schiavo com a participação da Orquestra Sinfonica Municipal e do Coral Lírico.


Os anos de 1974/75 foram marcados por mudanças sensíveis na vida operística de São Paulo com o afastamento, por idade ou por motivos político-culturais, daqueles que durante décadas tinham-se por ela empenhado. Sem querer esmorecer, Armando Belardi constituiu, no ano da comemoração do sesquicentenário da imigração italiana ao Brasil, um Studio com artistas e amantes do bel canto. Esse Studio foi administrado por Gemma Rina Peracchi, musicista que tinha colaborado através de décadas com o seu trabalho, em particular também no secretariado do Conservatório Musical Carlos Gomes.  A convite do Teatro Lírico de Equipe, organizou-se um Concerto Lírico Carlos Gomes no Museu de Arte de São Paulo. (ibidem, 159-160)


Milão no programa euro-brasileiro de estudos de processos culturais - 1976



Com o início do programa euro-brasileiro na Europa, em 1974, a consideração das iniciativas de difusão cultural como objeto de estudos de processos assumiu dimensões mais abrangentes.


Sob o impacto do debate e das tensões entre correntes que visavam uma renovação da vida musical e a tradição do empenho ítalo-brasileiro pela ópera em São Paulo, questões do intercâmbio Brasil-Itália e do papel nele desempenhado por A. Carlos Gomes passaram a ser alvo de particular atenção. Perspectivas locais e partidarismos puderam ser relativados à distância e a partir de perspectivas mais amplas, dirigidas à análise de processos que se manifestavam nas tensões na vida musical paulista.


Após os grandes momentos da história do intercâmbio cultural Italía-Brasil de 1974, o ano dos 50 anos a morte de G. Puccini, da visita de grande elenco do Teatro Municipal de São Paulo em Palermo e da realização de Lo Schiavo em São Paulo, mudanças políticas e pessoais na vida cultural paulistana indicavam o fim de uma época, aquela que tinha tido à frente um representante de primeira geração da imigração.


Um dos primeiros passos dos trabalhos desenvolvidos em meados da década de 70 na Europa foi o de procurar cidades e instituições italianas mais relevantes para a história de A. Carlos Gomes como também da imigração em São Paulo como locais de nascimento, formação e atuação de artistas ítalo-brasileiros.


O fato de comemorar-se no Brasil, em 1975, o sesquicentenário da imigração italiana, motivou a realização de estudos e encontros em cidades italianas e o tratamento do tema em instituições de outros países, em particular da Alemanha, sob a perspectiva da emigração e imigração. 


Foram visitadas, no início de 1976, instituições em várias cidades da Itália, entre elas a Roma, Nápoles e Milão. No Teatro San Carlo, procurou-se contatos com aqueles que tinham vindo ao Brasil ou colaborado ou presenciado o Il Guarany, no Teatro alla Scala de Milão e em outras instituições, como o Conservatorio G. Verdi e a Biblioteca Comunale, procurou-se documentos e traços da presença de Carlos Gomes e de sua memória. Uma particular atenção foi dada à questão da aclimatação de Carlos Gomes em Milão. (Veja)




Nos trabalhos desenvolvidos na Europa ao redor do ano de 1976, continuou-se a seguir as iniciativas e os desenvolvimentos das reflexões no Brasil, em especial em São Paulo. Ponto alto daqueles anos foi a realização de A Noite do Castelo, em Campinas, em 1977.


Também na Itália desenvolveram-se iniciativas paralelas àquelas do programa euro-brasileiro. Assim, no dia 17 de março de 1977, no Ridotto do Teatro alla Scala, em promoção do Museo Teatrale alla Scala e do Centro Culturale Italo-Brasiliano, deu-se o lançamento de livro dedicado a Antonio Carlos Gomes editado pela Nuove Edizioni de Marcello Conati, Giacomo de Santis, Giampiero Tintori e Gaspare Nello Vetro, sendo a sessão  ilustrada com a interpretação de trechos de obras do compositor brasileiro por renomados cantores.


Em 1978, o Correio Filatélico, no 12° número do primeiro ano, publicava uma edição dedicada a Carlos Gomes


Na Alemanha, Antonio Carlos Gomes foi considerado sobretudo no Instituto de Musicologia da Universidade de Colonia no âmbito do projeto "Culturas Musicais da América Latina no Século XIX". (Veja)


Nas reflexões, tomaram parte vários musicólogos alemães e latinoamericanos, entre êles Francisco Curt Lange (1903-1997). Importante foram encontros com Luís Heitor Correa de Azevedo (1905-1992), que lembrou de suas atividades na biblioteca do Escola de Música da Universidade do Brasil e da publicação de obras de Carlos Gomes, em particular de partes escolhidas de Joanna de Flandres nos Arquivos de Música Brasileira.


Acompanhou-se, nessas reflexões, o desenvolvimento contemporâneo no Rio de Janeiro, em especial o Projeto Memória Musical Brasileira - Pro-Memus, vinculado ao Instituto Nacional de Música e ao Centro e Documentação e Pesquisa da Funarte, iniciado em 1979. Reeditando gravações anteriores realizadas pela Rádio MEC, lançou-se, em 1982, como volume 13, uma seleção da Fosca de 1972, com a Orquestra Sinfônica Nacional da Rádio MEC dirigida por Nino Stinco (MMB 82.018).


De ciclo de estudos sob a direção de

Antonio Alexandre Bispo



Atenção: este texto deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Veja o índice da edição


Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A.(Ed.).“Antonio Carlos Gomes (1836-1896) no Scambio culturale Italia-Brasile
e os estudos de processos culturais - lembrando Armando Belardi (1900-1989)“
.Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 161/02(2016:03). http://revista.brasil-europa.eu/161/Scambio_culturale_Italia_Brasile.html


Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2016 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


Academia Brasil-Europa
Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)
reconhecido de utilidade pública na República Federal da Alemanha

Editor: Professor Dr. A.A. Bispo, Universität zu Köln
Direção gerencial: Dr. H. Hülskath, Akademisches Lehrkrankenhaus Bergisch-Gladbach
Corpo administrativo: V. Dreyer, P. Dreyer, M. Hafner, K. Jetz, Th. Nebois, L. Müller, N. Carvalho, S. Hahne
Corpo consultivo - presidências: Prof. DDr. J. de Andrade (Brasil), Dr. A. Borges (Portugal)




 









Fotos A.A.Bispo ©Arquivo A.B.E.