C. Gomes no Scambio culturale Italia-Brasile
ed. A.A.Bispo
Revista
BRASIL-EUROPA 161
Correspondência Euro-Brasileira©
C. Gomes no Scambio culturale Italia-Brasile
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BRASIL-EUROPA 161
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N° 161/02 (2016:3)
Antonio Carlos Gomes (1836-1896) no Scambio culturale Italia-Brasile
e os estudos de processos culturais
- lembrando Armando Belardi (1900-1989) -
-
50 anos de homenagem a Carlos Gomes em São Paulo (1966)
40 anos do início do programa euro-brasileiro em Milão (1976)
30 anos do Ano Carlos Gomes (1986)
Fotografias de sessão em Milão, janeiro/fevereiro de 1976
Esforços e contribuições para a manutenção, intensificação e celebração de elos culturais foram marcados por diferentes momentos em desenvolvimentos político-culturais nos dois países, no contexto internacional e de visões e anelos das diferentes gerações da comunidade ítalo-brasileira que predominantemente os promoveram.
Estudar a própria história do intercâmbio - e do papel nele desempenhado por Carlos Gomes -, os seus motivos, o seu significado e os seus efeitos, é tarefa obrigatória nas análises de processos culturais em relações internacionais.
Não se trata, em estudos assim conduzidos, de apenas considerar a vida e a obra de Carlos Gomes nas suas inscrições em processos históricos de sua época, mas sim também da suas interpretações e revalorizações em diferentes momentos e situações posteriores à sua morte.
Neste sentido, são aqueles que se empenharam pela manutenção e promoção e sua memória e pela difusão de suas obras que se tornam principal objeto de atenção, de alvo de análises de processos difusivos, seus motivos condutores e seus efeitos, assim como de uma "pesquisa da pesquisa" e de uma pesquisa de rêdes sociais de contatos e intercâmbios.
Início dos estudos e seu desenvolvimento
Já o fato de que a escolha do patrono da instituição - remontante a sociedade designada segundo o compositor de origem veneziana Benedetto Marcello (1686-1739) - relacionara-se com exigências de nacionalização de entidades de estrangeiros à época da Segunda Guerra Mundial, trazia à consciência a necessidade de considerar Carlos Gomes em contextos político-culturais em que se inscreveram os italianos em São Paulo.
Vários professores italianos e ítalo-brasileiros colaboraram com as reflexões, fornecendo dados sobre as suas próprias experiências de vida e profissionais, entre êles Walter Gandolfi, Dino Pedini, Lybia Piccardi, Henriqueta E. Ricardino, Sisto Mechetti, Yolanda Giovanazzi, Rina Coli,, Nicola A. Gregoria, Renata M. Aventurato.
Pesquisas interdisciplinares da vida musical paulista: o Teatro Colombo
Os trabalhos de campo, de levantamento de acervos e entrevistas foram desenvolvidos em vários bairros e cidades de São Paulo marcados pela presença italiana no âmbito do programa "Musicologia Paulista".
Importante encontro deu-se por ocasião de visita ao Teatro Colombo, já fechado, antes de sua demolição. O grande edifício no Largo da Concórdia, então também estudado por arquitetos da FAU/USP, permitia reconhecer a estrutura do mercado que lhe dera origem antes de ser arrendado para casa de espetáculos, inaugurada em 1908.
A própria denominação do teatro testemunhava os seus elos com a Itália no seu orgulho do papel exercido pelos navegantes italianos na história dos Descobrimentos. O teatro representava, assim, o significado de Colombo para os italianos de São Paulo e para a Itália, tendo sido despertado em grande parte pelas comemorações de Colombo nas comemorações dos 400 anos do Descobrimento da América, em 1892.
Armando Belardi na vida musical de São Paulo
Das memórias de Armando Belardi pode-se reconhecer que o seu pai foisignificativo agente na transmissão ao Brasil da tradicional cultura mandolinista e da prática de instrumentos de cordas dedilhadas italiana, então popular na Itália. Logo destacou-se como bandolinista no Brás, instrumento que também passou a ensinar, também como principal instrumento em conjuntos instrumentais por êle organizados e que se reuniam por ocasião de festas e serenatas. (Armando Belardi, Vocação e Arte: Memórias de uma via para a música, São Paulo: Manon, 1986)
Já em 1909, A. Belardi participava como violoncelista na orquestra da companhia italiana de operetas Ettore Vitale, dirigida pelo maestro Del Gesú. O início de sua vida profissional deu-se sobretudo como participante em grupos musicais atuantes em bares e em locais da vida noturna.
No panorama assim obtido, percebe-se que o significado de Carlos Gomes para a colonia italiana de São Paulo acentuou-se com o fim da Primeira Guerra Mundial. O papel da Itália na Guerra, e a participação do país no entusiasmo pela vitória dos aliados pode explicar a atmosfera eufórica que levou a iniciativas de celebração apoteótica de elos ítalo-brasileiros e, neles, do vulto de Carlos Gomes. Os desenvolvimentos políticos internacionais dos anos 20 e início dos 30 explicam a gradual mudança de implicações político-culturais do papel desempenhao por Carlos Gomes para os italianos e ítalo-brasileiros, cujo ponto alto foram as comemorações do seu centenário, em 1936.
Um marco: a visita do Teatro San Carlo de Nápoles a São Paulo em 1969
Para as reflexões iniciadas em meados da década de sessenta, um ponto alto constituiu a visita a São Paulo do Teatro San Carlo de Nápoles, em setembro de 1969, um marco no intercâmbio cultural Brasil-Itália. A memórías de Armando Belardi posteriormente publicadas oferecem pormenorizados registros dessa visita e dos eventos que dela derivaram.
O empresário Alfredo Gagliotti, com a sua rêde de contatos na Itália e no Brasil, em particular através da amizade com a organização artística do San Carlo através de Marchese Parisi, alcançou a vinda de artistas, orquestra, coro, bailado e pessoal técnico e de montagem do renomado teatro, de tanto significado para a história da música no Brasil. (Veja) Entre os cantores, encontravam-se nomes internacionalmente conhecidos, como Mario Del Monaco e Gianni Raimondi.
De particular interesse para os estudos relativos a Carlos Gomes foi a apresentação da ópera La Gioconda de A. Ponchielli (1834-1886) ao lado de Otello e Nabucco de G. Verdi, quando veio à consciência o extraordinário significado da amizade e da colaboração artística entre Ponchielli e o compositor brasileiro. (Veja).
Essa vinda do Teatro San Carlo deveria ter sido o início de um grande programa de visita ao Brasil de outros teatros de cidades italianas, o que, porém, não se realizou.
100 anos da primeira apresentação de Il Guarany em Milão (1870-1970)
O concerto, realizado nas escadarias do Museu Paulista do Ipiranga, adquiriu dimensões político-culturais que foram por muitos consideradas como questionáveis. O evento relaizou-se em data na qual concomitantemente comemorou-se uma Semana da Revolução de março de 1964 e, assim, do regime militar.
Esta, porém, não foi o único evento comemorativo do centenário de Il Guarany em São Paulo.
O centenário de Il Guarany foi celebrado compreensivelmente sobretudo em Campinas, destacando-se aqui o empenho do historiador José de Castro Mendes, colaborador do jornal Correio Popular. Pouco antes de falecer, antevendo a aproximação da data do centenário da primeira apresentação da ópera, Castro Mendes procurou intensamente despertar interesses para a ocorrência, realizando projetos e preparando um alentado trabalho sobre o compositor. Neste intento, incentivado por José Acchilles Faria, deu início a uma publicação que foi lançada postumamente como suplemento do jornal.
O suplemento foi aberto com uma poesia de O. Neto, no qual o autor decanta a obra como "voz da terra que canta dentro da natureza esplendorosa do Brasil". Tudo nessa página imortal seria força, vida e amor, e o Il Guarany representaria a alma de Carlos Gomes e o próprio Brasil.
Ilustrado, o suplemento inclui fotografia do piano que pertenceu a Carlos Gomes e que, vindo do Pará, encontrava-se entregue à guarda do Centro de Ciência, Letras e Artes de Campinas, assim como da casa de nascimento do compositor, já então demolida.
ll Guarany no Teatro San Carlo de Nápoles, em 1971
A visita do elenco do Teatro San Carlo de Nápoles ao Brasil em 1969 despertou nos círculos líricos de São Paulo o intento de retribuição e de apresentação, na Itália, de cantores e músicos brasileiros ou ítalo-brasileiros.
Foi a primeira vez que um grupo considerável de cantores, músicos, técnicos e bailarinos do Brasil dirigius-se à Itália para a apresentar-se num dos principais teatros da terra por excelência da arte lírica.
Foi, assim, um marco na história do intercâmbio Itália-Brasil na sua devida reciprocidade. Além do mais, o significado do empreendimento salientou-se pelo fato de ser a obra escolhida aquela de um compositor brasileiro que com ela alcançou o seu maior sucesso na Itália.
O grupo foi recebido, em abril de 1971, com grande cordialidade em Nápoles pelas autoridades e representantes do tradicional Teatro, onde realizou quatro apresentações, com sucesso de público. Sendo filho de italianos, Armando Belardi foi recebido com simpatia pelos membros da orquestra e do coro de Nápoles, que por fim colocaram um seu retrato na sala da orquestra.
Il Guarany em São Paulo, em 1972, e conferência em Campinas
Em setembro de 1972, no programa Ópera 2, apresentou-.se o Il Guarany no Teatro Municipal de São Paulo, representaçnao promovida pelo Departamento de Cultura, estando a direção de cena a cargo de Aldo Calvo e a montagem de Francisco Giaccheri. Em 29 de setembro, Armando Belardi pronunciou uma conferência sobre a vida e obra de Carlos Gomes em Campinas, com a cooperação de Niza de Castro Tank, Waldite M. Accorsi, José S. Marialva e Henrique Rocha.
Em setembro, em forma de concerto, apresentou-se Fosca de Carlos Gomes, com a Orquestra Sinfônica e coral mixto de Campinas. No mesmo mês, durante a Semana Carlos Gomes, além de outras atividades artísticas, apresentou-.se o poema vocal-sinfônico Colombo com o Coral Lírico Municipal de São Paulo, o Coral Scala e a Orquestra Sinfônica de Campinas. A Temporada Lírica Oficial de 1973 principiou com Fosca de Carlos Gomes sob a regência de Nino Bonavolontá, Gigi Campanino e A. Belardi, sempre com a colaboração de Marcello Mechetti, Herminia Russo e Raphael Casalanguida. Nessa ocasião concederam-se prêmios do Círculo Italiano Presenza d'Italia in Brasile. (Armando Belardi, Vocação e Arte: Memórias de uma via para a música, op.cit. 141 ss.)
Retribuição: O Il Guarany em Palermo, em 1974
O Scambio Culturale Italia-Brasile, sob os auspícios da Prefeitura Municipal de São Paulo,
apresentação de Il Guarany por conjunto de artistas brasileiros sob a direção de Armando Belardi e Tullio Colacioppo em Palermo, Sicília, em março de 1974. Realizaram-se sete récitas, com grande sucesso. A viagem foi de iniciativa do empresário Alfredo Gagliotti, em cooperação com Marchese Parisi, na Itália. Essa viagem retribuia, após cinco anos, a visita do Teatro San Carlo ao Brasil.
A ópera, dentro da programação do Teatro Massimo, então em obras, deu-se no Teatro Politeama ou Politeama Garibaldi. Este teatro histórico, construído entre 1867 e 1874, cuja arquitetura traz referências a Pompeia, é um dos principais monumentos arquitetônicos da cidade. O espetáculo esteve a cargo de artistas e técnicos de ambos os países em exemplo de extraordinária cooperação bi-lateral. O corpo de baile e técnicos do Teatro Municipal de São Paulo atuaram com a orquestra e coro do Teatro Massimo.
A coreografia esteve a cargo de Marília Franco, tendo como primeira bailarina Mariangela D'Andrea - ivonice Satie, e solistas Vera Torres, Elenice Ferreira e Waldivia Rangel. Aos componentes do corpo de baile do Teatro Municipal de São Paulo juntaram-se bailarinos do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. A direção de cena esteve a cargo de Paulo Fortes e a cenografia de Francisco Giacheri com a assistência de Emmerson Eckmann. Herminia Russo e Marcel Klass atuaram como maestros substitutos. O maestro de coro foi Mario Tagini.Entre os cantores que se apresentaram em Palermo, encontravam-se Paulo Adonis Gonzales, Niza de Castro Tank, Benito Maresca, Aguinaldo de Miranda Albert, Costanzo Mascitti, Assadur Kiulthzian, Andrea Ramus, Benedito Antonio Silva e Wilson Carrara. (ibidem, 154-158)
Carlos Gomes em São Paulo, em 1974 e sesquicentenário da imigração (1975)
A temporada lírica oficial do Teatro Municipal de São Paulo, de 1974, que esteve sob o signo dos 50 anos da morte de G. Puccini, incluiu o Il Guarany na segunda récita. Em dezembro, apresentou-se uma Cortina Lírica com a execução completa da ópera Lo Schiavo com a participação da Orquestra Sinfonica Municipal e do Coral Lírico.
Os anos de 1974/75 foram marcados por mudanças sensíveis na vida operística de São Paulo com o afastamento, por idade ou por motivos político-culturais, daqueles que durante décadas tinham-se por ela empenhado. Sem querer esmorecer, Armando Belardi constituiu, no ano da comemoração do sesquicentenário da imigração italiana ao Brasil, um Studio com artistas e amantes do bel canto. Esse Studio foi administrado por Gemma Rina Peracchi, musicista que tinha colaborado através de décadas com o seu trabalho, em particular também no secretariado do Conservatório Musical Carlos Gomes. A convite do Teatro Lírico de Equipe, organizou-se um Concerto Lírico Carlos Gomes no Museu de Arte de São Paulo. (ibidem, 159-160)
Milão no programa euro-brasileiro de estudos de processos culturais - 1976
Sob o impacto do debate e das tensões entre correntes que visavam uma renovação da vida musical e a tradição do empenho ítalo-brasileiro pela ópera em São Paulo, questões do intercâmbio Brasil-Itália e do papel nele desempenhado por A. Carlos Gomes passaram a ser alvo de particular atenção. Perspectivas locais e partidarismos puderam ser relativados à distância e a partir de perspectivas mais amplas, dirigidas à análise de processos que se manifestavam nas tensões na vida musical paulista.
Após os grandes momentos da história do intercâmbio cultural Italía-Brasil de 1974, o ano dos 50 anos a morte de G. Puccini, da visita de grande elenco do Teatro Municipal de São Paulo em Palermo e da realização de Lo Schiavo em São Paulo, mudanças políticas e pessoais na vida cultural paulistana indicavam o fim de uma época, aquela que tinha tido à frente um representante de primeira geração da imigração.
Um dos primeiros passos dos trabalhos desenvolvidos em meados da década de 70 na Europa foi o de procurar cidades e instituições italianas mais relevantes para a história de A. Carlos Gomes como também da imigração em São Paulo como locais de nascimento, formação e atuação de artistas ítalo-brasileiros.
O fato de comemorar-se no Brasil, em 1975, o sesquicentenário da imigração italiana, motivou a realização de estudos e encontros em cidades italianas e o tratamento do tema em instituições de outros países, em particular da Alemanha, sob a perspectiva da emigração e imigração.
Nos trabalhos desenvolvidos na Europa ao redor do ano de 1976, continuou-se a seguir as iniciativas e os desenvolvimentos das reflexões no Brasil, em especial em São Paulo. Ponto alto daqueles anos foi a realização de A Noite do Castelo, em Campinas, em 1977.
Na Alemanha, Antonio Carlos Gomes foi considerado sobretudo no Instituto de Musicologia da Universidade de Colonia no âmbito do projeto "Culturas Musicais da América Latina no Século XIX". (Veja)
Acompanhou-se, nessas reflexões, o desenvolvimento contemporâneo no Rio de Janeiro, em especial o Projeto Memória Musical Brasileira - Pro-Memus, vinculado ao Instituto Nacional de Música e ao Centro e Documentação e Pesquisa da Funarte, iniciado em 1979. Reeditando gravações anteriores realizadas pela Rádio MEC, lançou-se, em 1982, como volume 13, uma seleção da Fosca de 1972, com a Orquestra Sinfônica Nacional da Rádio MEC dirigida por Nino Stinco (MMB 82.018).
De ciclo de estudos sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo
Atenção: este texto deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Veja o índice da edição
Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A.(Ed.).“Antonio Carlos Gomes (1836-1896) no Scambio culturale Italia-Brasile
e os estudos de processos culturais - lembrando Armando Belardi (1900-1989)“.Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 161/02(2016:03). http://revista.brasil-europa.eu/161/Scambio_culturale_Italia_Brasile.html
Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira
© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2016 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
Academia Brasil-Europa
Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)
reconhecido de utilidade pública na República Federal da Alemanha
Editor: Professor Dr. A.A. Bispo, Universität zu Köln
Direção gerencial: Dr. H. Hülskath, Akademisches Lehrkrankenhaus Bergisch-Gladbach
Corpo administrativo: V. Dreyer, P. Dreyer, M. Hafner, K. Jetz, Th. Nebois, L. Müller, N. Carvalho, S. Hahne
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Fotos A.A.Bispo ©Arquivo A.B.E.