Nella Luna de E. T. Viollier e A. Carlos Gomes

ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA 162

Correspondência Euro-Brasileira©

 

N° 162/8 (2016:4)






O teatro de revista em processos político-culturais italianos

o conservadorismo moderado, a crítica ao volúvel e o apelo ao bom senso

Nella Luna - rivista del 1868 - de E. Torelli Viollier (1842-1900) e A. Carlos Gomes (1836-1896)


Um preito de reconhecimento a Marcello Conati
Reflexões euro-brasileiras em Sirmione/Lago di Garda 2016

 

Repetidamente discutiu-se em conferências e encontros no âmbito do projeto "Culturas Musicais da América Latina no século XIX" levado a efeito na Universidade de Colonia (Veja), que um dos problemas dos estudos histórico-musicais referentes ao Brasil reside numa síndrome de descobrimentos e pioneirismos, o que leva a constantes descobertas do já descoberto.


Foi sobretudo Francisco Curt Lange (1903-1997) que sempre lamentou a frequência de tais procedimentos na América Latina, em particular também no Brasil. Foi êle que trouxe às reflexões sobre o desenvolvimento da musicologia em contextos interamericanos a problemática de uma situação  marcada por repetições, por apropriações e pretensões e que, se não fossem as suas consequências, poderiam ser vistas apenas como exemplos de fraqueza humana e vaidades.


O descobrir o que outros já descobriram, o que já faz parte de arquivos e acervos com materiais por outros coletados e organizados, não só cometem injustiças como confunde a história da pesquisa, obscurecendo os contextos nos quais esta se desenvolveu, exigindo constantes e sempre desagradáveis correções.


Esse problema pode ser constatado também no caso de compositores que já foram objeto de muitos estudos, podem-se aqui mencionar como exemplo Antonio Carlos Gomes (1836-1896).


Somente o desconhecimento da literatura e das muitas iniciativas voltadas ao compositor é que podem explicar a afirmação ingênua divulgada nos últimos anos em site sobre o maestro Carlos Gomes na Internet de que fizera-se, em Milão, um "emocionante" descobrimento de composições de Carlos Gomes que constituiram os seus primeiros grandes sucessos na Itália, em particular de Nella Luna, Rivista del 1868.


Esse descobrimento, porém, cabe antes a de outros pesquisadores que já há muito levantaram e consideraram essa obra. Já em 1986, no âmbito das comemorações do sesquicentenário de Carlos Gomes, a composição foi apresentada e comentada em exposição. (Veja) Nela, apresentou-se não só partes da composição, como também fotografia do autor do seu texto, Eugenio Torelli Viollier (1842-1900), lembrando-se do seu significado como iniciador e primeiro diretor do Corriere della Sera, o principal quotidiano milanês.


Esses materiais deram testemunho do trabalho de levantamento de fontes e seu estudo por pesquisadores italianos já na década de 70, podendo-se lembrar em particular de Gaspare Nello Vetro, autor de Antonio Carlos Gomes - carteggi italiani, Milão: Nuove Edizioni, 1977, obra traduzida para o português (Antônio Carlos Gomes - Correspondências italianas, com um estudo crítico de Marcello Conati e contribuições de Giacomo De Santis e Giampiero Tintori, Rio de Janeiro: Cátedra, INL, 1982).


No artigo de Marcello Conati incluído dessa obra, indica-se explicitamente, em nota, que, na biblioteca do Conservatório de Parma se conservam três peças da revista Nella Luna, editadas em Milão por Fancesco Lucca: La Moda, Canzonetta, num. ed. 17835; Coro di bambini lattanti, num.ed. 17836; Recitativo e Valtz finale, num.ed. 177949. ("Formação e afirmação de Gomes no panorama da ópera italiana: Notas e considerações", op.cit. 41 ss, 55).


Os méritos do descobrimento e da consideração desses trechos de Nella Luna cabem assim a personalidades do círculo do Conservatório de Parma e se inscrevem, com Marcello Conati, no desenvolvimento dos estudos verdianos. Este especialista, de Milão, após atuar na Ópera de Zurique entre 1961 e 1971, exerceu o magistério de arte cênica no Conservatório de Parma e ocupou o cargo de arquivista no Instituto de Estudos de Verdi entre 1971 e 1979. Foi diretor da revistas musicológicas e autor de numerosas publicações, distinguindo-se como estudioso da obra de Giuseppe Verdi (1813-1901) e sua época.


Estudos precedentes relativos a Enrico Bernardi (1838- de Vicente Salles


A pesquisa e a consideração do contexto mais amplo no qual essa composição de Carlos Gomes se inscreve remetem, porém, a estudos ainda mais antigos do pesquisador Vicente Salles, o especialista dos estudos da música no Pará. Já em artigo publicado em 1961 ("A música em Belém no século XIX", Revista do Livro 23-24, Ano VI - julho-dezembro 1961,121-141) salientou o nome do maestro italiano Enrico Bernardi, a quem Carlos Gomes dedicou uma das partes de sua Nella Luna.


Vicente Salles tratou já nesse estudo dos primórdios da vinda de Enrico Bernardi a Belém, cidade onde desempenharia posteriormente importante papel. O maestro italiano viera à época da inauguração do Teatro da Paz em 1881 e da criação da Associação Lírica Paraense por mediação de José Cândido da Gama Malcher (1853-1921, que terminara seus estudos na Itália, com a Companhia Lírica Italiana. Anos depois, Carlos Gomes, para desfazer problemas surgidos em Belém, organizou uma companhia lírica sob a sua orientação e direção musical de Enrico Bernardi, reaparecendo em Belém na temporada de 1883, o que dá testemunho dos estreitos elos existentes entre esse maestro e o compositor. (op.cit. 132-133)


Vicente Salles voltou em outras publicações a tratar de Enrique Bernardes e do papel que desempenhou em Belém e nas relações de Carlos Gomes com o Pará, destacando-se aqui todo um capítulo a êle dedicado na sua grande obra A Música e o Tempo no Grão Pará, em 1980 (Belém: Conselho Estadual de Cultura, Coleção Cultura Paraense/Série Theodoro Braga, 1980, 369 ss.).


Neste estudo, Vicente Salles lembra que muitos músicos italianos adotaram a Amazônia como segunda pátria no último quartel do século XIX e que um dos mais ilustres foi Enrico Bernardi, o sucessor de Carlos Gomes na direção do Conservatório de Música do Pará. Bernardi já era conhecido internacionalmente quando, em 1881, veio pela primeira vez na Belém. Com alguns intervalos, viveu na capital do Pará cerca de 15 anos.


Pela reconstrução da biografia de Bernardi de Vicente Salles, sabe-se que esse músico nasceu em Milão, em 1838. Em 1850, iniciou a carreira artística como primeiro trombone do Teatro alla Scalla.Como compositor, estreou em 1854 com o bailado Le Illusioni d'un pittore, destacando-se com outras peças do gênero que alcançaram sucesso entre 1860 e 1872. Das suas óperas, a primeira, Faustina, foi representada em 1868, sendo posteriormente apresentada em Milão sob o título I Romani nelle Gallie, em 1869.


Bernardi atuava também profissionalmente como diretor da copisteria da casa Ricordi e como regente da Banda Garibaldi, por êle fundada, em 1859. Essa banda era considerada uma das melhores da Itália, comparada com a Banda do Corpo di Musica Municipale. Vicente Salles lembra que Bernardi viajou como diretor de orquestra, apresentando-se em diversos teatros italianos e da América do Sul.


Nella Luna nos estudos da história da música popular e pesquisa musical e política


Foram os trabalhos de Conati e de Vicente Salles que motivaram outras reflexões e um maior aprofundamento dos estudos em cursos e seminários em universidades européias, em particular na série dedicada à música em encontros de culturas na Universidade de Colonia (1997-2002), na História da Música Popular da América Latina na Universidade de Bonn (2003 e Música e Política sob a perspectiva da pesquisa musical na América Latina, também em Colonia (2008)).


No primeiro caso, a atenção concentrou-se nas interações franco-italianas na vida intelectual e musical na Europa do século XIX, em particular na Itália e na participação que nela teve Carlos Gomes quando estudante em Milão.


No segundo caso, o interesse foi dirigido ao significado de Carlos Gomes na história da música popular, em particular na de teatros de revista, campo no qual obteve os seus primeiros sucessos e ganhou uma popularidade sem a qual não teria sido possível o Il Guarany.


Sob a perspectiva desse sucesso como compositor popular essa sua ópera adquire novas conotações. Considerar a sua produção anterior de forma desvalorizadora como ocorre na literatura ou mesmo sob a perspectiva posterior de Carlos Gomes nos seus esforços auto-aperfeiçoadores de erudição, significa obscurecer uma das fases mais significativas da sua carreira sob a perpectiva de processos culturais em que se inscreveu na Itália.


Desvalorizar essa produção como sendo "musiquinha de realejo" significa não reconhecer a posição que cabe a Carlos Gomes na história da música popular, de teatro musicado, de vaudevilles e operetas. O reconhecimento do significado de Carlos Gomes para a história da música popular nas suas dimensões internacionais abre novos horizontes para estudos dedicados à história da música popular no Brasil que foram de importância no início do movimento de renovação dos estudos culturais através de um direcionamento a processos já em fins da década de 1960. A "revista de 1868" abre  também novos horizontes para o estudo mais específico da produção musical para teatros de revista, como aquela de Flora Süssekind (As Revistas de Ano e a Invenção do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Nova Fronteira/Casa de Rui Barbosa 1986).


No terceiro caso, a consideração das revistas Sa sa minga e Nella Luna, de Carlos Gomes surge como de particular interesse para estudos voltados a processos político-culturais, pois ambas inseriram-se em contextos políticos de sua época. Representam, assim, significativos documentos da recepção popular de ocorrências e desenvolvimentos políticos, assim como de crítica social e de costumes.


O autor de Nella Luna:  Eugenio Torelli Viollier (1842-1900)


Sirmione. Foto A. A. Bispo 2016. Copyright
Como já percorrido por Marcello Conati, o caminho para estudos mais aprofundados da revista Nella Luna é aquele que parte do seu autor,


As suas origens, o seu nome e a sua vida chamam a atenção a relações franco-italianas e trazem à consciências as profundas transformações que ocorreram na península itálica na sua época e das quais participou. Nascido em Nápoles, filho de pai napolitano e mãe francesa, vivenciou as últimas décadas da época dos Bourbons do Reino das Duas Sicílias, e do qual o seu pai foi leal servidor. Quando jovem, recusando seguir carreira em instituições oficiais, passou para os revolucionários de Giuseppe Garibaldi (1807-1882), saindo de Nápoles.


Embora formado no ambiente cultural napolitano, marcado pela canção popular, a sua trajetória, movida pela atitude crítica relativa à sociedade borbônica determinada por convenções, levou-o a centros progressistas da Itália unificada, em particular a Milão.


De importância na sua vida foi a sua presença na França, tendo frequentado a vida cultural e teatral francesa em época de apogeu dos vaudevilles, tendo obtido o passaporte francês e passando a usar o sobrenome da mãe.


Através do poeta Luigi Gualdo (1844-1898), Eugenio Torelli Viollier foi apresentado a Edoardo Sonzogno (1836-1920), influente editor de Milão e que com frequência ia a Paris. Em Milão, a partir de 1866, foi redator-chefe de periódicos ilustrados editados por Sonzogno e que foram de curta duração, L'illustrazione universale e L'Emporio pittoresco.


Essa atividade testemunha a proximidade de Eugenio Torelli Viollier a esse tipo de literatura de divulgação, de magazines ilustrados para famílias e jovens que foi de tanto significado para círculos sociais em ascensão nos centros europeus - e brasileiros - do século XIX. Tratava-se de uma literatura que procurava difundir conhecimentos e exercer uma influência edificadora e mesmo esclarecedora de modo agradável e ameno. Com o encerramento desses periódicos, o jornalista passou para o jornal Secolo, também editado por Sonzogno, colaborando com crônicas e de revista teatral.


A sua atividade jornalistica foi marcada pela sua atitude moderada, conservadora porém aberta a inovações e ao progresso, mantendo distância relativamente a órgãos de esquerda. Foi redator-chefe do Corriere di Milano, fundado em 1869 e eitado por Emilio Treves, de tendências moderadas e constitucionais, assim, como redator do magazine Illustrazione Italiana.


Também atuou como diretor de La Lombardia, editada por Riccardo Pavesi, tomando porém consciência, juntamente com outros colegas, da necessidade de um novo jornal que, diferenciando-se em estilo e orientação dos demais, não fosse marcado por textos sensacionalistas, criadores de escândalos, polêmicos, de agitação e polarizadores mas sim por moderação e espírito de mediação, aberto ao diálogo objetivo e sereno.


Com o seu projeto colaboraram a sua esposa Maria Antonietta Torriani e os seus amigos Ettore Teodori Buini, de Livorno, que assumiu a chefia da redação, o autor veneziano Raffaello Barbiera, Vincenzo Labanca e o político milanês Giacomo Raimondi, de tendências socialistas e que passou a agir como correspondente em Roma. O grupo passou a ser assistido pelos advogados Riccardo Bonetti e Pio Morbio.


O Corriere della Sera, que seria fundado em 1876, nasceu assim na esfera política do moderadorismo. Empenhava-se pelos valores de direita, mas compreendia-se como mediador, sendo aberto ao diálogo e ao confronto construtivo com a esquerda. Com essa posição, o jornal conseguiu atingir os círculos mais avançados da sociedade, sendo visto favoravelmente no ambiente político e mal visto no meio jornalístico, em particular pelo seu concorrente, Ragione. O jornal passou posteriormente à propriedade do industrial algodoeiro Cristoforo Benigno Crespi, família de importância para os estudos das relações comerciais com o Brasil.


A vida de Viollier foi amargurada pelos problemas conjugais devido ao caráter problemático e autoritário da sua mulher e que levou à separação. Carlos Gomes tomou já nessa época contato com uma difícil situação matrimonial que êle próprio vivenciaria. Como Vollier, também Carlos Gomes, após amargas experiências, não quis mais ter companheira. (Veja)


A aproximação de Carlos Gomes a esse círculo indica que era bem visto pelos círculos do conservadorismo moderado de Milão de tendências seculares e de convicções de liberdade religiosa. Estes queriam conservar a dinastia e o Statuto, pois tinham dado independência, unidade, liberdade e ordem à Itália. Graças a eles é que Roma tinha-se emancipado do poder pontifício. Graças a eles é que havia agora uma igreja protestante junto a San Giovanni Laterano e um rei no palácio Quirinale. Como moderados, pertenciam ao partido que teve como organizador o conde Camillo B. Cavour (1810-1861). Como obra do partido moderado viam-se a restauração das finanças após completada a unificação da Itália, o abatimento do poder temporal dos Papas, a reorganização do  exército, o saneamento progressivo das finanças. 


O meio em que Carlos Gomes se inscreveu através do contato com Eugenio Viollier almejava a liberade econômica e uma liberdade política dese que compatível com a ordem pública. Não se empenhava em exigir o ensino obrigatório se não havia escolas e professores suficientes, não se defendia a abolição do ensino religioso nas escolas para que estas não se despovoassem, não se defendia o sufrágio universal se este contrariava as massas fanáticas dos campos e das cidades.


Nella Luna: lua e volubilidade de novidades sob o prisma do conservadorismo moderado


A revista escrita por Eugenio Torelli Viollier em 1868 caiu assim em anos que antecederam a fundação do jornal que determinou a sua vida e ao qual se dedicou até à morte. Foi produto de uma época na qual se dedicava sobretudo à redação de revistas de ilustração e de costumes, de assuntos pitorescos e de leitura amável, adequada para famílias e, sobretudo, para leitores femininos.


O tema "Nella Luna" correspondia a uma longa tradição de imagens do viver na lua e do estar em lua, do lunático, de loucuras, maluquices e do ridículo, um assunto que há muito tinha sido considerado no teatro, não só na Itália. Já em 1754 tinha-se publicado, em Dresden, o Il mondo della Luna ou Die Welt in dem Mond, como "dramma giocoso per musica da rappresentarsi" (Koenigl. Hof-Buchdr. Stößelin). Em 1790, alcançara sucesso a obra de Louis Abel Beffroy de Reigny (1757-1811) Nicodème dans la lune, ou la Révolution pacifique, uma "folie en prose et en 3 actes, mêlée d'ariettes et de vaudevilles". 


A capa da edição da partitura, apresentando uma lua com traços fisionômicos sorridentes, reproduz aquela da revista satírica La Lune, publicada por François Polo (1838-1874) de 1865 a 1868 em Paris.


Essa revista, comentando com caricaturas ocorrências da época - como a batalha de Sadowa tratada anteriormente por Carlos Gomes em Sa sa minga -, vinha de encontro ao interesse da época por caricaturas em círculos sociais liberais mas comedidos e do qual o próprio Carlos Gomes foi alvo. A revista "Nella Luna" situa-se assim no contexto de revistas de ilustração popular e de crítica social de jornalismo caracaturista.


A atualidade da imagem da lua e da vida na lua à época da composição da revista dera-se com a publicação, em 1865, do livro De la Terre à la Lune de Jules Verne (1828-1905), então em fase de crescente popularidade.


A revista de 1868 de Eugenio Torelli Viollier caiu assim entre essa obra de J. Verne e o seu livro Autour de la Lune, de 1869. A revista de Viollier e Carlos Gomes antecedeu  de vários anos a opereta Le voyage dans la Lune de Jacques Offenbach, (1819-1880) uma opéra-féerie em quatro atos e 23 cenas, cuja estréia deu-se apenas em 1875 no Théâtre de la Gaité em Paris e que se baseara na obra de J. Verne De la Terre à la Lune. Supõe-se que Offenbach já tinha acalentado esse projeto há anos atrás, e no qual teria sido incentivado por Albert Vizentini (1841-1906), jornalista e músico italiano diretor do Théâtre de la Gaité.


A Canzonetta La Madamina de Carlos Gomes


Entre as peças da revista que merecem uma particular consideração deve-se salientar a canzonetta La Madamina. O termo, proveniente do francês madame, em italiano mia dama, era usado em italiano mais antigo para a designação de jovem mulher de um nobre, ou seja, de uma senhora jovem de status social elevado.


O termo já surge como designação de personagem do mencionado Dramma Giocoso per musica "Il mondo della Luna" de 1754. Nela, fala-se do catálogo de belas mulheres amadas por Don Giovanni. 


Carlos Gomes trata da Canzonetta de Torelli Viollier com uma peça em 6/8 e um acompanhamento que imita, com staccatti em oitavas arpejadas, um instrumento de corda dedilhada. A melodia, de desenho nitidamente de inspiração popular com os saltos ascendentes em fins de frases e semi frases, é acompanhada de forma agitada e ritmada com o acento em tempo fraco. Nessa elaboração musical, Carlos Gomes revela a sua observação e o seu estudo da melódica popular italiana.


A Canzonetta La Moda Nella Luna de Carlos Gomes


Uma outra canzonetta que merece particular atenção da revista de 1868 é a peça escrita por Carlos Gomes para o texto La Moda. Também aqui o compositor brasileiro demonstra o seu conhecimento e domínio da melodia popular italiana em 6/8 e o seu talento e sua arte de criação de uma peça musical plena de humor e graça, de efeito e de fácil memorização. O texto refere-se de forma gracejadora ao domínio da moda, que governava o mundo e que era personificada na revista. A moda corporificava a contínua mutabilidade de formas e de inovações.




O Recitativo e Valsa final de Nella Luna


A capacidade de Carlos Gomes de tratar com efeito e verve a ação teatral evidencia-se no Rec.tivo e Valtz Finale da revista de 1868. Iniciando-se com oitavas rebatidas em FF e com a aclamação do coro masculino do texto Il buon senso!, o compositor passa em contraste a uma delicada valsa em staccato que, alternando canto e acompanhamento, convida o personagem transviado a retornar: "Deh! vieni, povero traviato, Ritorna meco al globo tuo dorato."




De ciclo de estudos sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo



Atenção: este texto deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Veja o índice da edição

Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A.(Ed.).“O teatro de revista em processos político-culturais italianos. O conservadorismo moderado, a crítica ao volúvel e o apelo ao bom senso - Nella Luna - rivista del 1868 - de E. Torelli Viollier (1842-1900) e A. Carlos Gomes (1836-1896)“
.Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 162/6 (2016:04). http://revista.brasil-europa.eu/162/Nella_Luna_de_Carlos_Gomes.html


Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2016 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


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Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)
reconhecido de utilidade pública na República Federal da Alemanha

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Direção gerencial: Dr. H. Hülskath, Akademisches Lehrkrankenhaus Bergisch-Gladbach
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Sermione 2016. Fotos A.A.Bispo ©Arquivo A.B.E.

 

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