Fundamentos da Expressão e Comunicação
ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA 165

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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N° 165/10 (2017:1)


Fundamentos da Expressão e Comunicação Humanas no Brasil
e a retomada da discussão da Sémantique musicale
a partir da música da Índia após meio século


2017-1967: 50 anos de Sémantique musicale de Alain Daniélou (1907-1994)
e 10 anos de ciclos de estudos euro-brasileiros na Índia pelo seu centenário - Karauli

 

"Fundamentos" é um conceito que tem marcado os estudos culturais das últimas décadas, em particular também daqueles relacionados com o Brasil. Esse significado decorre primordialmente da necessidade há muito sentida de uma consideração mais aprofundada de expressões culturais para o avanço dos conhecimentos nos seus diferentes aspectos através da procura de bases.

Uma atenção voltada aos fundamentos de fatos e processos culturais manifesta em princípio intentos de superação de interpretações não adequadas, arbitrárias, extemporâneas ou ideológicas. O estudo de fundamentos culturais relaciona-se assim com questões de fundamentos no próprio proceder e do edifício teórico, e assim também com a epistemologia. A questão de "fundamentos" diz respeito portanto tanto aos estudos culturais nos seus diferentes aspectos como aos estudos da própria ciência (science studies).

Essa questão ganha no presente nova atualidade devido a desenvolvimentos político-culturais, populistas e identitários que, em particular na Europa e nos Estados Unidos, revitalizam conceitos e aproximações que já pareciam pertencer ao passado, entre êles o da interpretação de fatos e desenvolvimentos sob perspectivas nacionalistas, etnicistas, raciais e povísticas.

Volta-se, assim, sob novo signo, a uma discussão que marcou o início de um movimento renovador dos estudos culturais em meados dos anos de 1960, quando, no Brasil, tomou-se consciência dos problemas trazidos por perspectivas nacionalistas na historiografia músico-cultural e nos estudos do folclore.

Atualidade: fundamentalismo não é orientação segundo fundamentos e seu estudo

A situação atual relativa ao conceito é porém turvada pelo uso do termo fundamentalismo no sentido pejorativo de designação de movimentos e seitas religiosas marcadas por uma fixação às palavras, ao sentido literal de textos das Escrituras. Essas tendências fundamentalistas assim compreendidas podem ser constatadas em movimentos evangelicais que se expandem em vários países, inclusive também no Brasil.

O termo "fundamentalismo" apenas se justifica se compreendido no sentido de refletir uma concepção superficial e mesmo errônea de procura de fundamentos. Assim procedendo, aquele que se orienta segundo o sentido literal de textos contraria justamente o intento de procura de fundamentos no seu sentido mais próprio e profundo. Este pressupõe a consideração dos próprios textos nos respectivos contextos histórico-culturais, de espaço e tempo, assim como um aguçamento da sensibilidade para a leitura mais diferenciada e  profunda, para a revelação e a análise de fundamentos quanto a conceitos e imagens que se manifestam nos próprios textos.

O estudo de fundamentos, nesse sentido, exige estudos de sentidos velados, de linguagem de imagens e de metáforas, de edifícios culturais em que os textos se innserem, levando, assim, à problemática da hermenêutica e da semântica.

Uma retomada da discussão de problemas relativos ao conceito de fundamentos culturais e de procedimentos teóricos e metodológicos correspondentes evidenciou-se como particularmente necessária no presente durante o ciclo de estudos levados a efeito nos Estados Unidos, em 2016. (Veja)

Relembrar alguns momentos do desenvolvimento do pensamento das últimas décadas para o prosseguimento das reflexões surgiu como oportuna perante a exposição The Rama Epic no Asian Art Museum de San Francisco. (Veja)

A própria orientação desse museu, embora salientando a diversidade cultural da Ásia, que impede generalizações, traz à luz com a exposição não só diferenças, transformações e descontinuidades em diferentes contextos, como também continuidades, paralelos e permanências em expressões culturais. (Veja)

Esse fato favorece a retomada não só da questão de fundamentos culturais que poderiam esclarecer similaridades em expressões culturais, como também daquela de fundamentos de processos que explicam extensões e elos. Esse intento não pode, porém, deixar de considerar um desenvolvimento de décadas do pensamento e do debate de seus problemas e perspectivas.

Fundamentos da Expressão e Comunicação Humanas como área de estudos no Brasil

Fundamentos da Expressão e Comunicação Humanas foi uma das várias áreas disciplinares incluídas no currículo de Licenciatura em Educação Musical e Artística implantada em São Paulo no início dos anos de 1970.

Como em outras matérias então criadas, o seu objeto de estudos e suas finalidades levantaram questões, suscitaram reflexões e levaram a tentativas mais ou menos adequadas de cumprimento do objetivo temático sugerido pela denominação.

Diferentemente de outras áreas então inovativamente implantadas - como Etnomusicologia, Percepção e Estruturação - essa insegurança não levou a que a área "Fundamentos" fosse tratada em muitos casos como simples redenominação de matérias já existentes. A compreensão de novas disciplinas como redenominações de matérias já existentes em antigos currículos - Etnomusicologia/Folclore, Percepção/Solfejo, Estruturação/Teoria, seria um procedimento altamente questionável a serviço de uma justificação de exigências de revalidações de diplomas daqueles já anteriormente formados segundo outras normas curriculares e, assim, de aumento de número de estudantes.

O uso indevido da por muitos sentida como obscura área de "Fundamentos" - elevada até mesmo a Departamento - teve outras características, uma vez que não surgia em substituição a nenhuma matéria de cursos do passado.

O problema de sua efetivação prática resultou do fato de tornar-se em muitos casos, de forma ambígua, incoerente e inapropriada, designação abrangedora das mais diversificadas propostas temáticas, tratadas sob as mais diferentes perspectivas e metodologias.

Tornou-se, assim, uma das mais explícitas evidências de uma falta de solidez, profundidade e coerência na implantação institucional da formação de professores de música e de artes. Contrariando o seu próprio título, refletia uma falta de fundamentos na sua compreensão e tratamento.

Essa impressão de nebulosidade a serviço de intenções inovativas superficiais e supérfluas, não fazia jus a suas intenções, a seu significado e relevância.

O objetivo expresso na sua denominação, indicando êle próprio a natureza fundamental da área no conjunto do programa curricular da formação de professores em música e artes, apenas podia ser compreendido e efetivado interdisciplinarmente.

O tratamento dos "Fundamentos da Expressão e Comunicação Humanas" exigia interações com outras áreas, seja da Estética, da Percepção, da Estruturação e, sobretudo, com a Etnomusicologia, uma vez que nela também se consideravam correntes que haviam marcado o pensamento na Musicologia Comparada. A atenção dirigida a fundamentos tinha sido característica sobretudo de procedimentos músico-comparativos, em particular de pesquisadores alemães do passado, o que então passava a ser questionada à luz de tendências vistas como renovadoras da Etnomusicologia, em particular daquelas dos Estados Unidos.

Foram nos cursos assim realizados em São Paulo - apenas uma parte daqueles então subsumidos sob o título de "Fundamentos" - que o empenho de vir de encontro aos objetivos programáticos levou a reflexões e discussões filosóficas e científicas que tiveram consequências para o desenvolvimento do pensamento, também nas interações posteriores na Europa.

Decorridos 50 anos da publicação de Sèmantique musicale de Alain Danièlou (1907-1994), uma das obras que foram particularmente estudadas nos trabalhos interdisciplinares voltados aos "Fundamentos da Expressão e Comunicação Humanas", cumpre recordar alguns dos seus aspectos, uma vez que marcaram as discussões da época e das décadas que se seguiram.

Percepção e os estudos de Fundamentos: do fundamental significado do ouvido

As estreitas relações da área com a Etnomusicologia que então também se institucionalizava no ensino superior no Brasil decorreram sobretudo do fato de Danièlou tratar dos fundamentos a expressão e comunicação humanas a partir de seus estudos e sua vivência na Índia.

A antiga filosofia indiana marcou as reflexões voltadas a fundamentos em área que surgia ela própria como fundamental nos estudos da formação de música e artes. O significado condutor da música no tratamento dos fundamentos da expressão e comunicação humanas era considerado pelo indólogo a partir da antiga filosofia hindú, exigia porém também a consideração da tradição ocidental.

Danièlou salientava o papel primordial do ouvido no conjunto dos órgãos sensoriais do homem, da audição, do ouvir segundo o pensamento hindú. Essa importância da percepção auditiva no conjunto dos processos perceptivos - que não era nova mas que se acentuava com a sua argumentação - justificava a relevância da Percepção como primordialmente percepção auditiva no currículo não só da Educação Musical como também na Artística em geral.

As colocações de Danièlou acentuavam neste contexto aspectos cognitivos da percepção auditiva no sentido mais amplo e fundamental. Através dela o homem poderia perceber vibrações mais fundamentais e, assim penetrar em relações e estruturas, compreendidas por êle como cósmicas, como estruturas do mundo nas suas relações com o microcosmos. Nenhum outro sentido permite apreender as relações vibratórias com tanta claridade e abrir tantas possibilidades para análises mentais do percebido.

O ouvido, análises mentais e questões filosóficas de fundamentos

A percepção através do ouvido abre na argumentação de Danièlou possibilidades para análises mentais devido às bases numéricas de vibrações. Sendo essas bases numéricas comuns à matéria, à vida e ao pensamento, seriam ligadas à natureza e ao universo em que o homem vive, manifestando as suas possibilidades e seus limites.

Graça a observações de reações produzidas no homem por combinações numéricas elementares, poder-se-ia chegar segundo Danièlou ao discernimento de interpretações da sensação, da vida e do pensamento através de formas aritméticas. A associação de certos números com certas sensações ou emoções poderia dar elementos precisos sobre a natureza do muno cósmico, da vida, do pensamento, da sensação e explicar os fenômenos similares que se encontram em todas as ordens da existência.

As consequências filosóficas mais amplas da argumentação de Danièlou evidenciavam-se nas suas colocações relativas à matéria. As bases numéricas comuns à matéria, à vida e ao pensamento explicariam a existência de elos numa espécie de continuum entre a matéria, a vida e o pensamento.

A vida poderia ser assim vista como uma evolução da matéria, a sensação e o pensamento poderiam ser vistos como uma evolução da vida. Poder-se-ia assim entrever como a matéria e a vida poderiam surgir como resultados do pensamento. Seria para Danièlou apenas nesse plano de conjecturas que poderia ser encontrada uma explicação lógica e coerente da criação e da evolução. 

Essa argumentação estabelecia assim uma ponte entre a especulação filosófica, os conhecimentos teóricos e a teoria da evolução, levantando porém questões sob a perspectiva de acepções e concepções do pensamento ocidental, em particular daquelas teológicas.

Os limites da materialidade seriam determinados por aqueles das possibilidades de percepção. Os mecanismos do pensamento não poderiam diferir daqueles dos mecanismos da formação da matéria: os dados matéria-percepção-pensamento seriam interdependentes e não poderiam existir um sem o outro, seriam indissociaveis e coordenados entre si, representando os diversos aspectos de uma mesma força criadora.

Por essa razão, o estudo da Percepção - basicamente percepção musical - poderia ser útil para a compreensão de todos os fenômenos hunmanos, fisiológicos e psicológicos. Poderia também dar ao homem aproximações sobre a estrutura profunda do universo.

As fases do mecanismo do pensar na Sèmantique musicale

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Segundo Danièlou, a ordenação do pensamento não difere em si da ordenação universal, e isso explica as relações que existem entre fatos biológicos e formas sonoras analisadas pelo pensamento e reproduzidas pelos sons da linguagem musical.

Também na consideração dos mecanismos do pensar, Danièlou partia da antiga filosofia hindú. A formulação do pensamento seria feita em quatro fases que seram claramente definidas por gramáticos e semânticos sânscritos.

A primeira fase seria comparável a um espaço vazio onde cursam elementos indeterminados de pensamento. É o espaço onde se procura a idéia. Essa fase é chamada para além do pensamento (para).

A segunda fase é uma visão. Percebe-se a idéia que não tem ainda a forma verbal e pela qual se procura palavras. Essa fase é chamada a visão (pashyanti).

A terceira fase é aquela em que se acha mentalmente as palavras que exprimem a idéia; a frase é formulada interiormente. É chamada de intermediária (madhyama).

A quarta fase é a da exteriorização da frase através de sons perceptíveis. É chamada de manifestação do pensamento (vaikhari).

A fase intermediária é um compromisso, pois depende da visão, mas também dos limites de exteriorização, ou seja, das possibilidades do vocabulário da quarta fase.

Segundo essas bases, poder-se-ia compreender como certos grupos numéricos latentes formam os elementos que vão servir de palavras ao vocabulário sonoro, podendo ser agrupados e associados para formular uma idéia musical associada a imagens e sensações.

O princípio que guia a sua associação é de natureza semântica, pois é sempre a idéia, o conteúdo, que é o princípio organizador de toda a criação e que procura formas e sons para se exprimir.

Os mecanismos do pensamento poderiam ser reconduzidos a jogo de figuras-tipo elementares. As mais usuais para o homem seriam as palavras, vistas na linguagem de Danièlou como espécie de "jetons" que se combinam para formular e comunicar uma idéia.

As figuras-tipo da linguagem musical constituiriam uma das formas da linguagem, pois podem ser imediatamente reconduzidas a elementos numéricos que estariam à base de todas as figuras-tipo das diversas formas de percepção.

As conclusões assim tiradas aplicar-se-iam a todos os aspectos do comportamento humano. As fórmulas baseadoas sobre ciclos numéricos elementares governariam todos os aspectos da vida biológica, coletiva ou individual.

A linguagem musical, a falada e o gesto

A linguagem falada seria, segundo a Sèmantique musicale também construida sobre um ciclo sonoro de sons articulados que é limitada às possibilidades de articulação de órgãos vocais e às possibilidades correspondentes de percepções auditivas.

Analisando os fenômenos de articulação, obter-se-ia uma série de possibilidades que corresponderia mais ou menos como número das possibilidades da linguagem musical. Partindo dessas possibilidades formar-se-iam os monosílabos que constituem as raizes da linguagem. Cada raiz tem um conteúdo semântico dado e todas as palavras são construídas a partir de raizes. Assim, ter-se-ia por linguagem falada uma série limitada de sons com um conteúdo semântico definido que serve para a construção de toda a linguagem, servindo como instrumento de comunicação do pensamento.

Os gramáticos sânscritos procuravam uma base lógica do sentido das raízes segundo o local de articulação nos órgãos da palavra e a natureza de esforço de articulação. Um som pronunciado "empurrando" ao próximo exprime uma idéia de ação, de direção, um som articulado em direção ao anterior uma noção de retraimento e negação; um som anasaliado ou cerebralisado teria uma idéia de elevação, um gutural uma idéia de base ou suporte. Segundo os gramáticos sânscritos, haveria cinco locais de articulação assim como haveria cinco ciclos de intervalos e a caa local de articulação corresponderoa um som ou vogal e dois esforços, apoiado e prologado, que poderiam ser secos ou aspirados, aos quais se ajuntaria um nasal. Essas formas de articulação são colocadas em relações com os intervalos da escala.

A linguagem e a música são derivadas de uma formula linguística e simbólica chamada de Maheshvara Sutra. As notas musicais são aparentadas às vogais e aos tons da lingua sânscrita. A duração das vogais breves, longas ou prolongadas apresenta-se como sendo a base do ríutmo. Os tons da linguagem são assimilados às notas dos tetracordes.

O número de possibilidades de articulação que determina os limites das raízes verbais e assim das possibilidades de diferenciação de intervalos ou raizes musicais seria ligado à natureza dos mecanismos de classificação mental.

As possibilidades mecânicas e semânticas da linguagem falada e da linguagem musical seriam sensivelmente equivalentes e seria por facilidade que um dos aspectos da linguagem tomou a predominância sobre outros.

A linguagem de gestos simbólicos seria igualmente um instrumento de comunicação análoga nas suas possibilidades à linguagem falada ou à linguagem musical. A linguagem total compreende assim a linguagem articulada, a linguagem musical e o gesto. Não seriam independentes.

Referenciando-se segundo os gramáticos sânscritos, Danièlou lembrava que segundo estes, todas as linguas teriam sido originalmente monosilábicas e de tons. Essa característica fundamental restaria ainda perceptível. A diferença na significação de sílabas, no seu conteudo semântico segundo a sua altura relativa, poderia ser considerado como vestígio de um período onde a linguagem falada e a musical teriam sido estreitamente vinculadas entre si. Esse fato teria implicações importantes na psicologia da percepção de fenômenos sonoros. Uma reeducação do ouvido iria permitir uma ampliação do vocabuláio musical.

Aspectos do desenvolvimento das reflexões na Europa

A partir de 1974, questões relacionadas com o significado da percepção auditiva nas suas relações com estudos de fundamentos determinaram reflexões, trocas-de-idéias e mesmo polêmicas em diferentes contextos. Constatou-se que a convicção da primordialidade da audição era acentuada mesmo em estudiosos que não aparentavam elos com a tradição na qual se baseavam as colocações de Danièlou. Este era o caso da música sacra, onde o acento dado ao ouvir adquiria fundamentação teológica e servia a intuitos de salientar o significado extraordinário da música de culto - em particular do Canto Gregoriano e da polifonia - em época de reformas pós-conciliares que eram sentidas como pondo em risco o patrimônio sacro-musical de séculos.

A argumentação aqui não era naturalmente aquela que partia da tradição hindú, possuia porém com ela paralelos resultantes de sua inserção em antigas correntes do pensamento da Antiguidade e da Idade Média.

A discussão dessas similaridades resultantes por último da convicção da primordialidade do ouvir e do ouvido como órgão de sentidos e de suas diferenças foi conduzida com intensidade ao criar-se, em 1977, um departamento de Etnomusicologia em instituto da organização pontifícia de música sacra. Considerando-se A. Danièlou, chegou-se a supor uma predisposição cultural do pesquisador nos conhecimentos que ganhou na Índia, uma vez que proveio de família destacada no Catolicismo francês, sendo o seu irmão influente personalidade da Igreja.

Essa discussão foi dificuldade sobretudo pelo fato de etnomusicólogos especializados na música da Índia terem-se distanciado de questões por êle criticadas como músico-comparativas. A principal razão da polêmica que desde então se estabeleceu foi porém derivada de uma crítica de natureza fundamental já trazida do Brasil. Ponto alto desse debate deu-se por ocasião do Simpósio "Música e Religião" ( promovido pela Fundação Konrad Adenauer, em Schwäbisch-Gmünd, aberta por conferência do editor, onde tomou parte também renomado pesquisador de jazz que salientou, em publicações, o significado do ouvir de modo a sobrepô-lo àquele do olhar e ao de outros sentidos. (Veja)

Como discutida há anos no contexto das artes visuais - entre outros na área da Comunicação Visual da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, o reconhecimento da importância da audição não poderia levar a uma desvalorização da visão e de outros sentidos do homem. Além do mais, posições basedas numa prioridade da percepção auditiva trazia em si o risco já então constatado de tornarem-se ideológicas ao extenderem conhecimentos derivados de outros contextos - no caso de Danièlou da cultura modal da Índia - a análises mentais de expressões brasileiras, em particular daquelas de origem ou conotação africana.

De ciclos de estudos da A.B.E.
sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo


Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. (Ed.).  "Fundamentos da Expressão e Comunicação Humanas e a retomada da discussão da Sémantique musicale a partir da música da Índia após meio século“. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 165/10 (2016:06).
http://revista.brasil-europa.eu/165/Fundamentos_da_Expressao.html


Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2017 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


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