Astronomia e Música - Jantar Mantar
ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA 165

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Jantar Mantar.Foto A.A.Bispo 2007. Copyright

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Jantar Mantar. Foto A.A.Bispo 2007©Arquivo A.B.E.

 


N° 165/7 (2017:1)

Jantar Mantar.Foto A.A.Bispo 2007. Copyright

Astronomia e Música nos Estudos de Processos Culturais
A área de cálculos dos observatórios astronômicos de Jantar Mantar:
monumento dos estudos cosmológicos

Visita ao Observatório Griffth de Los Angelos 2016
10 anos de estudos euro-brasileiros em Jantar Mantar
pelo centenário de Alain Daniélou (1907-1994)

 

Na visita promovida pela ABE ao Griffith Observatorium no Mount Hollywood em Los Angeles, em 2016, lembrou-se das visões, das concepções e das iniciativas de seu fundador Griffith Jenkins Griffith (1850-1919), segundo o qual o senso de valores necessitaria ser revisto: se os homens olhassem para os céus, o mundo se transformaria. (Veja)

Essa convicção nascida da tomada de consciência da pequenez humana por aquele que contempla a amplidão do universo surge como atual perante as manifestações de extrapolações de ego, de ausência de modéstia,de ambições e auto-afirmações sem escrúpulos em desenvolvimentos atuais, não só na política como como também na cultura e no convívio acadêmico.

O cunho educativo da visão de Griffth tem a sua expressão não só artística nas pinturas murais que apresentam o avanço das ciências desde os tempos mais remotos até o presente, como também explicitamente em quadros informativos que acompanham a exposição de objetos da história da observação celeste nas diferentes épocas e povos.

Tanto as representações pictórico-artísticas como os quadros informativos partem do tempo, da necessidade de sua contagem e medição para a vida na terra e para as observações dos céus. Um desses quadros traz à memória essa importância na história do calendário, das estações na determinação dos ciclos do ano agrícola e para a vida diária.

O tempo e o calendário na Antiguidade clássica

Jantar Mantar.Foto A.A.Bispo 2007. Copyright
Para demonstrar o papel fundamental desempenhado pela contagem do tempo para os cidadãos da Antiguidade, apresenta-se um sundial.

Esse instrumento de medição do tem mostrava as mudanças da posição do sol e das sombras durante o dia w servia para tudo regular, do comércio e do govêrno à vida pessoal. Os cidadãos da antiga Pompeia dispunham de um sundial público instalado no templo de Apolo, ou seja, a divindade associada ao sol.

Essa menção a Apolo adquire excepcional significado cultural, em particular relativamente à música. Apolo, aquele que recebeu a lira inventada por Hermes, o musageta condutor das musas, desempenhou através dos séculos um papel fundamental nas concepções do homem, da música, das artes em geral e das ciências.

Na consideração do sundial, lembrou-se que concepções e imagens do calendário agrícola de antiga proveniência transplantado também para o hemisfério sul no Brasil com a colonização, a antiga imagem de Apolo, na sua reinterpretação cristã no culto de santos, manteve no hemisfério sul a correspondência com uma determinada fase do ano no hemisfério norte, ou seja, aquela dos dias mais longos que precedem o solstício de verão (em junho).

Essa relação tem implicações múltiplas, explicando associações com os elementos da matéria e outras que muito esclarecem questões da linguagem visual deslocada na sua referência com o mundo natural transmitida em tradições.

O tempo e o calendário na Antiguidade americana: o horizonte

A exposição informativa do Griffith Observatorium não considera apenas a observação dos céus na Antiguidade clássica, mas também na Antiguidade americana, dedicando vitrines às culturas indígenas do Novo Mundo, partindo também aqui do tempo e do calendário.

Uma delas lembra o calendário indígena da Califórnia, apresentado como baseado no horizonte, que poderia ser considerado como o mais fundamental instrumento astronômico.

A partir do horizonte pode-se reconhecer o deslocamento do ponto do surgir e do cair do sol no decorrer do ano.

Migrando em direção ao norte, alcança o seu limite no solstício de verão (em junho) e, em direção sul, no solstício de inverno em dezembro, ou seja, as mesmas situações daquelas da Antiguidade greco-romana. Observando essas posições, os indígenas determinavam as estações, as práticas de caça ou outras relacionadas com o mundo natural; as cerimônias de solstício demonstravam o significado do sol na vida e nas suas expressões culturais indígenas.

Em outro quadro da exposição do Griffith Observatorium menciona-se também a situação de grupos indígenas do sul.

No caso dos Quechua dos Andes, tematiza-se o significado da constelação das Pleiades, conjunto de estrelas bem observável que que teria servido como sinal de mudança de estação.

Os indígenas das cordilheiras ter-se-iam orientado pelas Pleiades após o solstício de junho para previsões de tempo e, consequentemente, de sucesso agrícola e de abundância alimentar.

Cosmologia no projeto euro-brasileiro referente às culturas musicais indígenas

Perante essas colocações, lembrou-se dos vários momentos do desenvolvimento dos estudos culturais euro-brasileiros nos quais se considerou, em diversos países e regiões, concepções relacionadas com o calendário e com a observação dos céus.

No projeto voltado às culturas musicais indígenas, iniciado no Rio de Janeiro em 1992 a partir de pressupostos e desenvolvimentos de anos anteriores, um dos principais objetivos foi o de considerar até que ponto os indígenas de regiões subequatoriais teriam concepções, práticas e expressões baseadas na observação do céu a partir de um posicionamento do hemisfério sul, na percepção o mundo natural e daa natureza percebida pelos sentidos.

Referenciações segundo o hemisfério norte indicariam a transposição - com possíveis adaptações - de edifício cultural determinado por um posicionamento no hemisfério norte que seria explicável por migrações em tempos imemoriais.

Esses estudos do projeto apenas puderam ser iniciados a partir de trabalhos de décadas que tinham levado a esclarecimentos do edifício de concepções e imagens referenciados segundo o hemisfério norte.

Por sua vez, os conhecimentos obtidos nos estudos de culturas indígenas poderiam contribuir ao desenvolvimento de estudos em regiões acima do equador. Como estudos  de culturas indígenas, se voltados a seus fundamentos, não podem restringir-se a delimitações nacionais estabelecidas no decorrer de desenvolvimentos históricos da expansão colonial, realizaram-se encontros em centros de estudos em outros países da América e de outros continentes.

A problemática indígena nas suas múltiplas contextualizações - entre elas a hiperbória (Veja) e a aborígene (Veja) - relacionou-se estreitamente com a questão do posicionamento na observação dos céus relativamente à linha o equador e ao mundo natural percebido pelos sentidos nas diferentes situações.

Trabalhos euro-brasileiros na Índia pelo no centenário de Alain Daniélou em 2007


Um dos principais momentos dos estudos que se desenvolveram já sob o pano de fundo de conhecimentos obtidos no âmbito do projeto voltado aos indígenas deu-se com a visita promovida pela A.B.E. à área observacional astronômica Jantar Mantar de Jaipur em 2007.

Essa visita inseriu-se no contexto dos ciclos de estudos realizados na Índia por motivo do centenário de Alain Daniélou, indólogo, pesquisador cultural, filósofo e musicólogo que marcou de forma significativa o desenvolvimento do pensamento em São Paulo desde meados dos anos de 1960 e dos estudos  referenciados segundo o Brasil a partir de 1974 na Europa.
Correspondendo à orientação de Daniélou, o seu centenário favoreceu uma retomada da atenção às antigas culturas do Oriente, nas quais ter-se-iam mantido, em diferentes contextualizações, 
concepções de remotas origens de natureza cosmológica baseada não só na observação dos céus como também e sobretudo na experimentação de natureza acústica de vibrações e nas conclusões relativas a relações numéricas dela resultantes.

Embora tal concepção não fosse nova, Daniélou abriu caminhos para novas e fundamentais aproximações a partir de sua vivência da prática musical da Índia. Dela passou a considerar processos físico-psiquicos e mentais no interior do homem. Essa aproximação, que poderia ser designada como músico-antropológica, possibilitou a compreensão e o esclarecimento de importantes aspectos a linguagem visual em tradição hindú, em particular daquelas centradas em Shiva. (Veja)

Esse cunho músico-antropológico - no sentido micro-e macrocósmico - dos estudos de Daniélou determinaram mudanças de perspectivas - e de paradigmas - que não tinham sido consideradas suficientemente nas suas dimensões e inplicações.

Sofreram até mesmo sob a incompreensão e deficiência teórica e metodológica de etnomusicólogos voltados à música da Índia que justificaram tal insuficiência e incompetência através de uma sempre alegada superação da Musicologia Comparada.

Relembrando visita ao Jantar Mantar de Jaipur

O Jantar Mantar de Jaipur, a capital do Rajasthan, é a mais bem conservada das cinco áreas observacionais criadas na Índia pelo marajá hinduista Jai Singh II (1688-1743) entre 1724 e 1734 (Jaipur, Delhi, IUjjain, Varanasi e o desaparecido de Mathura) e que foi soberano de Jaipur de 1699 a 1743. Assim como as demais, servia para fins de observações relacionadas com a ordenação do tempo para o calendário hindú, necessário para fins pragmáticos da
agricultura, dos trabalhos e da vida, mas também para celebrações e festas.

A área de observações Jantar Mantar de Jaipur é a maior evidência do significado das observações astronômicas nos estudos cosmológicos na antiga tradição da Índia.

Testemunha, também, o significado desses estudos no processo de re-hinduização da Índia após o longo período de dominação dos moguls.

Se a astronomia tinha sido praticada pelos eruditos islâmicos, a extraordinária área de observações demonstra o seu muito maior significado no contexto cultural do Hinduismo.

A visão dirigida a processos - como é do escopo da A.B.E. - adquire sob essa perspectiva não só um significado histórico, mas sim também músico-antropológico graças às perspectivas abertas por Daniélou.

Uma área de cálculo: Astronomia, Música e o número

A área observatorial de Jantar Mantar merece nesse sentido ser considerada de forma mais aprofundada a partir das implicações entre relações numéricas constatadas em experiências em cordas vibrantes e relações entre corpos celestiais e aquelas físico-psiquicas e mentais no interior do homem.

Significativamente, é o número ou concepções numéricas que determinam em princípio a área observacional, cujo nome - Jantar Mantar - indica a concepção de um instrumento de cálculo. A própria área em sí, com os seus muitos instrumentos construídos, surge como um meio, um instrumento de grandes dimensões de cálculo.

Possui, assim, através de seus vínculos com relações intervalares um sentido musicológico, um fato que não tem sido suficientemente considerado. Relacionando-se estas com conteúdos de modos como tratado na Sémantique musicale de Daniélou, no qual o instrumentista deve inserir-se, relaciona-se com a movimentação de emoções e sentimentos e com o controle de impulsos físicos e do intelecto do homem a caminho do seu aperfeiçoamento interior. (Veja)



Significativamente, a maior das construções da área é um relógio de sol de 27 metros de altura e que marca o tempo com grande precisão (Samrat Jantar/Yantra), um dos monumentos nacionais da Índia. Esse aparelho permite a fixação da hora local, a istância do zênite assim como a declinação e a altura das esferas celestes.


Outro aparelho solar permite a fixação da hora local antes e depois do meio-dia (Nari Valaya Yantra)


Uma grande construção observatorial é destinada às relações entre sistemas de coordenadas locais e equatoriais (Jai Prakash Yantra). Dois aparelhos permitem o cálculo do azimute e da altura dos corpos celestes (Ram Yantra); um compasso de grandes dimensões é destinao ao cálculo do azimute do sol e outros corpos celestes (Digansha Yantra). De particular significado é o Yantra Raj, um astrolábio de grandes dimensões que apresenta uma projeção da esfera celeste.

O Chakra Yantra é um instrumento de aro instalado de forma a facilitar a medição de coordenadas da esfera celeste.

A área serviu porém não apenas para observações astronômicos no seu sentido atual, mas também fins astrológicos na tradição védica, ou seja, aqueles relacionados com o homem em si, sua estrutura interna e características de ser, possivelmente também prognósticas. Sawaii Jai Sing possuia não só formação em Astronomia como também em Astrologia adquirida com Pandit Jagannath Samrat e através de estudos de tratados islâmicos em árabe e persa, complementados e aprofundados com os conhecimentos de antigos textos em sânscrito da tradição hindú.

O seu empenho teria sido inicialmente o de corrigir defeitos em instrumentos de cálculo de tempo e de observação astronômica, de relógios solares, de astrolábios e sextantes. Contribuiria a complementar tábuas astronônicas. Foi o primeiro erudito, depois de longo período de tempo, que passou a dedicar-se a esses problemas. A função astrológica dos aparelhos evidencia-se em construção menor o que o Samrat Jantar com doze aparelhos correspondentes aos doze signos o Zodíaco (Rashi Valaya Yantra).


A área observacional de Jantar Mantar adquire também significado sob o aspecto arquitetônico e de sua simbologia, uma vez que ocupa uma grande área configurada com as construções fixas de aparelhos.

São as próprias construções que adquirem um significado voltado à contemplação dos céus, com todas as suas implicações. Como verdadeira cidade de construções-instrumentos evidenciava não só a erudição como também as próprias características do poder real - o da soberania no controle do tempo e de sua potência na observação de leis, de desenvolvimentos e de prognoses.


As construções, projetadas para cumprir as suas funções observacionais, surgem como soluções de organização de espaços de grande potencialidade inovativa. Essas qualidades arquitetônicas surpreendentes não são assim porém arbitrárias, nascidas do capricho de fantasia de arquiteto-artista, mas sim resultados de intenções originadas de um edifício de concepções e imagens estreitamente relacionado com processos físico-psíquicos e mentais do homem. Uma das mais complexas dessas construções instrumentais é o Jay Prakash com os seus dois hemisférios com marcas nas suas superfícies côncavas.


De fora da esfera, torna-se possível para o observador registrar a posição de um corpo celestial. Esse aparelho construído remontaria nos seus fundamentos à Antiguidade helênica, uma vez que se tem notícia de que um astrônomo helênico-babilônico de nome Berosus teria construido um aparelho solar hemisférico. Essa construção monumental de Jantar Mantar insere-se em tradição representada por outros aparelhos hemisféricos do gênero, seja na China como no Ocidente, aqui em igrejas da Idade Média.



De ciclos de estudos da A.B.E.
sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo


Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. (Ed.).  "Astronomia e Música nos Estudos de Processos Culturais. A área de cálculos dos observatórios astronômicos de Jantar Mantar: monumento dos estudos cosmológicos“. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 165/7 (2016:06). http://revista.brasil-europa.eu/165/Jantar_Mantar.html



Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2017 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


Academia Brasil-Europa
Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)
reconhecido de utilidade pública na República Federal da Alemanha

Editor: Professor Dr. A.A. Bispo, Universität zu Köln
Direção gerencial: Dr. H. Hülskath, Akademisches Lehrkrankenhaus Bergisch-Gladbach
Corpo administrativo: V. Dreyer, P. Dreyer, M. Hafner, K. Jetz, Th. Nebois, L. Müller,
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