K.-G. Fellerer e ciência da música no Brasil
ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA 165

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Munique. Foto A.A.Bispo 2016. Copyright

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Miunique. Fotos A.A.Bispo 2016©Arquivo A.B.E.

 


N° 165/13 (2017:1)


Karl-Gustav Fellerer (1902-1984)
e o anelo de institucionalização da ciência da música no Brasil
na esfera das Humanidades e da Filosofia

2017-1977: 40 anos de encontro sobre fontes, concepções, procedimentos e bases do trabalho internacional
relembrado em Munique


 
Foto: K.G.Fellerer e o editor em recepção ao embaixador do Brasil na Alemanha no dia 20 de agosto de 1981 para a discussão da institucionalização da musicologia no Brasil em cooperação com a Alemanha em preparação à fundação da Sociedade Brasileira de Musicologia e da série de simpósios internacionais de musicologia no Brasil e na Alemanha.


A visita às missões da Califórnia, em 2016, foi motivada pela atualidade de questões da história das missões nos seus efeitos para os povos indígenas pela canonização de Frei Junipero Serra O.F.M. (1713-1784). (Veja)

Museus, bibliotecas e acervos musicais dessas missões testemunham o significado da música nas atividades missionárias mas também revelam a importância do trabalho documental, da criação de arquivos e as dificuldades metodológicas que os acompanham.

Essas dificuldades derivam da interação interdisciplinar de aproximações e métodos historiográficos, da etnologia indígena, dos estudos culturais europeus, da teologia e da ciência comparativa das religiões no tratamento da história das missões e suas consequências. 

A discussão desses problemas de análise de processos desencadeados pelos missionários para a necessária situação e tratamento de questões do presente não é recente.

A sua história nas últimas décadas foi marcada pelas iniciativas de reforma litúrgica e sacro-musical decorrentes do Concílio Vaticano II. Esses processos passaram a exigir reflexões e procedimentos fundamentados.

Em 1977, fundou-se o Instituto de Estudos Hinológicos e Etnomusicológicos da organização pontifícia de música sacra, sendo o departamento de Etnomusicologia dessa instituição confiado ao editor.

Esse fato levou a que as reflexões teóricas e os procedimentos de organização da biblioteca e do arquivo fonográfico da instituição fossem marcados desde o início pela discussões que se tinham desenvolvido no Brasil no âmbito do Centro de Estudos em Musicologia da organização de processos culturais fundada em 1968 e da área de Etnomusicologia instituída em cursos superiores em São Paulo em 1972.

Uma das personalidades que mais influência exerceram nessa fase inicial do instituto e de lançamento de bases teóricas e arquivalísticas foi Karl Gustav Fellerer (1902-1984), então professor emérito do Instituto de Musicologia da Universidade de Colonia, ex-decano da Faculdade de Filosofia e ex-reitor da universidade (1967/1968), membro da Academia das Ciências Renano-Vestfálica e das Academias das Ciências de Bruxelas, Kopenhagen e Londres.

Até a sua morte em Munique, em 1984, ao retornar de um evento sacro-musical em Innsbrück, Karl Gustav Fellerer manteve estreitas relações com o editor e com as iniciativas voltadas ao Brasil, em particular naquelas relativas à institucionalização de uma ciência da música no seu sentido pleno e próprio no país.

Renome e recepção de obras de Karl Gustav Fellerer no Brasil

Obras de Fellerer já eram conhecidas e estudadas no Brasil há muito. Autor de grande número de livros, alguns deles fundamentais, foi também editor de partituras históricas, sendo várias delas executadas no Brasil.  As suas edições, sobretudo aquelas que publicava desde 1950 na série Das Musikwerk (desde 1950) foram executadas por grupos da Sociedade Bach de São Paulo sob a orientação de Martin e Renata Braunwieser, assim como pelo Collegium Musicum de São Paulo sob a direção de Roberto Schnorrenberg e pelo conjunto Paraphernalia de música antiga.

Os elos de Karl Gustav Fellerer com círculos de Martin e Renata Braunwieser explicavam-se sobretudo pelo significado e pelo renome do musicólogo bávaro na Áustria. Sendo Martin Braunwieser (1901-1991) discípulo e amigo de Bernhard Paumgartner (1887-1971), mantinha-se vinculado à vida musical de Salzburg e sua filha pretendia realizar estudos de musicologia em Viena. Karl Gustav Fellerer destacava-se na pesquisa musical austríaca, tendo recebido, em 1968, a Medalha Mozart. Foi, de 1971 a 1980, presidente do Instituto Central de Pesquisa de Mozart em Salzburg e condecorado com a cruz de honra de ciência e arte da República Austriaca. Karl Gustav Fellerer era, além o mais, diretor o Instituto Haydn, entidade sediada em Colonia e que se dedicava à edição da obra completa de J. Haydn.

Tendo K. G. Fellerer publicado várias obras e artigos sobre temas de música sacra, compreende-se ter gozado de renome sobretudo em círculos voltados ao Canto Gregoriano e à música sacra em geral no Brasil.

A sua história da música sacra (Geschichte der katholischen Kirchenmusik, 1939) foi obra de base em círculos de música sacra marcados pela ação de religiosos alemães, em particular de franciscanos e beneditinos. Como editor da revista Musica sacra (1932-1937) contribuíra à recepção de correntes do pensamento sacro-musical europeu no Brasil. A "História da Música Sacra Católica" e o seu Der Gregorianisache Choral (1936) foram considerados no âmbito do Coro Gregoraniano da Sociedade Nova Difusão e no Centro de Pequisas em Musicologia.

Karl Gustav Fellerer surgia como um dos mais renomados musicólogos de meios católicos na Alemanha. Não só tinha sido Fellerer docente e diretor do seminário de musicologia de Münster, cidade conhecida pela sua tradição católica, como também no de Freiburg in der Schweiz, onde dirigiu também uma academia gregoriana. Já o seu trabalho de agregação universitária em Münster tinha sido dedicado a temas sacro-musicais. A sua obra sobre a execução da música sacra catóilica no passado e no presente (Die Aufführung der katholischen Kirchenmusik in Vergangenheit und Gegenwart, 1933) contribuiu à sensibilização por problemas de prática de execução do repertório brasileiro do passado que caracterizou os trabalhos do Coro e Orquestra de Música Sacra Paulista fundado pelo editor na Faculdade de Música e Educação Artística do Instituto Musical de São Paulo em 1972.

O papel influente desempenhado por K.G.Fellerer no meio musical europeu manteve-se e até mesmo intensificou-se nas décadas de 1970 e 1980. Essa sua ação pôde ser acompanhada de perto, em particular naquela relacionada com instituições vaticanas ou com a universidade de Löwen, Bélgica. K.G.Fellerer foi condecorado com a Ordem de St. Gregorius e recebeu o título de doutor honorário de artes da universidade de Löwen.

No âmbito da história da música, K. G. Fellerer era conhecido no Brasil sobretudo pelos seus muitos trabalhos dedicados a personalidades como Giovanni Pierluigi Palestrina, Georg Friedrich Händel, Wolfgang Amadeus Mozart, Max Bruch, Giacomo Puccini e Edvard Grieg. Além do mais, era conhecido como especialista em história da música da Itália.

Roberto Schnorrenberg, que estudara várias de suas publicações, foi o maior incentivador de um contato a ser estabelecido com Fellerer pelo editor e da escolha de Colonia como centro de estudos no âmbito do programa euro-brasileiro a ser estabelecido em 1974.

A sua obra Der Palestrinastil und seine Bedeutung in der vokalen Kirchenmusik es 18. Jahrhunderts foi básica na discussão de tradições de motetos no Brasil levantados pelo editor e primeiramente por êle tratados dentro da problemática do stile antico.  Foi ponto de partida do primeiro concerto exclusivamente dedicado a motetos da tradição brasileira realizado em São Paulo, em 1973. Outro marco nessa área da pesquisa dar-se-ia com o concerto de encerramento com obras vocais a cappella de compositores brasileiros do Simpósio Internacional Música Sacra e Cultura Brasileira em 1981. (Veja)

Devido ao repertório sacro-musical brasileiro levantado em pesquisas realizadas na década de 1960 e início dos anos 70, e cujo estudo devia ser prosseguido na Europa, Fellerer surgia como principal orientador. Esse intento dirigiiu as atenções a Colonia, onde também atuava um outro musicólogo que muito influenciou o desenvolvimento das reflexões no Brasil, o musicólogo comparativo/etnomusicólogo Marius Schneider (1903-1982). (Veja)

Fellerer era desde 1939 foi vinculado à Universidade de Colonia. Após a Segunda Guerra, assumira novamente a direção do Instituto de Musicologia. Tendo-se porém afastado por idade da direção do Instituto de Musicologia em 1970, ali continuando a atuar como professor emérito, o intento de prosseguimento dos trabalhos brasileiros passou a ser feito sob a orientação do seu sucessor na direção do instituto, Heinrich Hüschen (1915-1993). Elos particularmente estreitos foram criados com a musicóloga portuguesa Maria Augusta Alves Barbosa (1913-2013), que havia realizado o seu trabalho de doutoramento sob a orientação de K.G. Fellerer. (Veja)

Em 1975, ano comemorativo da passagem dos 450 anos de Palestrina, realizou-se um simpósio etnomusicológico em Roma. Em sessão levada a efeito na cidade do compositor, Palestrina, proferindo Fellerer uma conferência que levou, por fim, a colocações sobre o papel da música sacra nas culturas marcadas por atuações missionárias. A missão teria hoje a tarefa de criar da cultura dos novos povos cristãos uma música sacra adequada. A expansão da Igreja no mundo exigia não que a arte de Palestrina fosse levada a outras culturais, mas que o seu ideal nascesse da experiência espiritual das diferentes culturas. (Musica Indigena: Einheimische Musik un ihre mögliche Verwendung in Liturgie und Verkündigung, Roma/Colonia: CIMS, 1976, 151)

Concepção ampla da musicologia - histórica, comparativa/etnomusicológica e sistemática

Sobretudo a visão ampla do escopo da Musicologia como ciência no âmbito universitário fazia com que Fellerer se tornasse vulto de especial importância para o prosseguimento do programa de estudos iniciado no Brasil e que era marcado por interdisciplinaridade.

Ainda que sobretudo representante da perspectiva histórica, Fellerer ampliou a esfera do Instituto de Musicologia com departamentos de Musicologia Comparada/Etnomusicologia e Sistemática ou Acústica. Fellerer também se dedicava ao estudo de relações da Musicologia com outras áreas de estudos, tais como Sociologia e Medicina. 

Essa perspectiva ampla de K.G.Fellerer vinha de encontro ao principal escopo do programa euro-brasileiro iniciado na Alemanha em 1974. Procurando superar categorizações do objeto e de esferas da cultura, a sua orientação a processos implicava na intensificação da interdisciplinaridade. Assim, o estreito relacionamento entre História da Música, Etnomusicologia, Percepção/Estruturação, Acústica e Estética já praticado em São Paulo passou a ser considerado na situação alemã, ainda marcada em grande parte por uma considerável autonomia de áreas musicológicas.

Focalização de contextos no tratamento de processos histórico-musicais

Uma outra característica da orientação científica de K. G. Fellerer que veio de encontro a tendências e preocupações brasileiras foi o do seu interesse por contextos e contextualizações. Esse interesse manifestava-se também no seu fomento de grupos de pesquisas de história da música de regiões, apoiando organizações, levantamento de arquivos, valorizações biográficas de músicos locais e regionais e projetos editoriais.

Ainda que bávaro, nascido em Freising e falecido em Munique, destacou-se como promotor da pesquisa regional da Renânia/Vestfália, fundando o arquivo de História da Música Renana (1951-1975). Na época, presidia o grupo de trabalho Arbeitsgemeinschaft für rheinische Musikgeschichte.

Esse interesse por contextos regionais foi aplicado nos encontros em comum com o editor e Maria Agusta Alves Barbosa em situações brasileiras e portuguesas. Procurou-se, no caso do Brasil, distinguir-se características e desenvolvimentos regionais, discutindo-se, entre outros casos, com base nas pesquisas realizadas no Brasil, a região do Vale do Paraíba e do Tietê nas suas relações com a capital de São Paulo.

Os seus cursos - preleções e seminários - distinguiam-se pelo fato de proferir aulas sem o apoio de anotações, baseando-se exclusivamente na sua memória e nos seus vastos conhecimentos, salientando assim compreensivelmente, em amplos panoramas, desenvolvimentos, correntes e elos entre as diferentes regiões da Europa e através das épocas. Pormenores não constituiam o principal foco de sua atenção no ensino e em conferências.

Essa sua atenção a desenvolvimentos transregionais e transepocais e à análise de suas implicações teóricas e estilísticas na linguagem musical vinham de encontro também à orientação do movimento iniciado no Brasil e que era voltado ao estudo e à análise de processos e processualidades.

Música do século XIX na musicologia da Europa e o Brasil

Devido às preocupações da época no Brasil quanto a uma reconsideração do passado musical brasileiro que havia sido desqualificado na historiografia nacionalista, foi justamente o renome que K. G. Fellerer gozava no estudo do século XIX que mais marcou as reflexões comuns e as cooperações a partir do início do programa euro-brasileiro na Alemanha, em 1974. Nessa época, Fellerer dirigia o grupo de trabalho de História da Música da Fundação Thyssen.

Uma de suas iniciativas que mais significado teve para os estudos relacionados com o Brasil foi o de Culturas Musicais da América Latina no século XIX, organizado pelo etnomusicólogo Robert Günther (1929-2015). (Veja) K. G. Fellerer preparava os seus estudos sobre a música do século XIX, que seria publicado após a sua morte, em 1984. (Studien zur Musik des 19. Jahrhunderts).

Institucionalização da musicologia no sentido amplo e próprio do termo no Brasil

A sua atuação na organização do instituto em Colonia foi intensa, sendo K. G. Fellerer o responsável por torná-lo um dos maiores da Alemanha. Através do seu empenho, o instituto foi dotado de uma das maiores bibliotecas especializadas da Europa.

Devido ao papel que desempenhou na institucionalização universitária da Musicologia na Alemanha e na organização do Instituto de Musicologia e sua biblioteca, as relações com K. G. Fellerer passaram a ser marcadas sobretudo por questões gerais sobre a área, de sua concepção e sua institucionalização em países de língua portuguesa, em particular em Portugal e no Brasil.

Ponto de partida das discussões foi o Centro de Pesquisas em Musicologia criado em São Paulo em 1968 e das reflexões e experiências no âmbito dos estudos superiores da Faculdade de Música do Instituto Musical de São Paulo entre 1972 e 1974. Havia, por parte desta última instituição, interesse numa institucionalização da Musicologia como área ou departamento nos estudos superiores de música, de composição e regência e de Licenciatura em Educação Musical.

Esse interesse correspondia àquele de músicos e regentes relativo à institucionalização da pesquisa juntamente com a música prática na Universidade no contexto de um Departamento de Comunicação e Artes. A esses intentos opunha-se fundamentalmente concepções que levaram à fundação do Centro de Pesquisas em Musicologia.

As concepções representadas por esse centro vinham de encontro àquelas que tinham orientado a atuação político-universitária de décadas de K.G. Fellerer, que era a da integração da ciência da música na Faculdade de Filosofia. Devido aos "fatos feitos" que se delineavam no Brasil em fins da década de 1970, decidiu-se criar uma Sociedade Brasileira de Musicologia na qual se discutisse o sentido e o escopo da presença universitária da área.

Embora estando nela representados pesquisadores com diversificadas formações e orientações, partia-se do princípio que essa organização contribuísse a uma institucionalização adequada da Musicologia na Universidade e que não seria aquela em escolas superiores de música ou departamentos de comunicações e artes.

Opunha-se assim, explicitamente, à inclusão da musicologia como área de graduação e pós-graduação - mestrados e doutorados - em conservatórios ou escolas de música de nível superior, como, entre outras, a da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fellerer acentuava a diferença entre um musicólogo como Dr. phil e um artista titulado como Dr.mus, o que em alemão tinha a conotação pejorativa de "Doutor marmelada" - doutores "marmelada" seriam aqueles que obtinham o seu doutorado em escolas superiores de música.

A fundação de uma sociedade de musicologia no Brasil dava-se numa situação que K.G.Fellerer conhecia da Alemanha do passado: inexistentes ou raros devidamente doutorados na matéria na sua amplitude (história, etnológica, sistemática), muitos pesquisadores formados em antigos conservatórios, que não poderiam ser desqualificados por não existir à época de sua formação institutos especializados, pesquisadores sem formação em conservatório mas destacados na prática musical, jornalistas e diletantes.

K.G.Fellerer sempre salientou a necessidade de se criar uma estrutura adequada a essa fase inicial de institucionalização da área como ciência, em justiça para com aqueles que não possuiam títulos mas que já se destacavam pelos seus trabalhos.

Chegou-se, assim, à proposta de uma organização de cunho parlamentar, na qual a orientação ficaria a cargo de um conselho de especialistas, colocando-se a presidência em mãos de personalidade da vida musical. Ao presidente caberia - como numa república parlamentar - a representação da entidade, não a sua orientação científica.

Foi com um estatuto organizado sob essa orientação é que se fundou a Sociedade Brasileira de Musicologia em 1981 em sessão na qual estiveram presentes as mais destacadas personalidades da vida musical e da pesquisa do Brasil.

Para essa sessão, K. G. Fellerer preparou um texto no qual referia-se à experiência sua na institucionalização da Musicologia na universidade alemã. Infelizmente, ações arbitrárias por parte de músicos e regentes levaram à modificação dessa estrutura, pervertendo as intenções iniciais e o escopo da entidade, oe que levaria, apesar de todos os esforços, ao enfraquecimento e, por fim, à falência de seus propósitos fundamentais.

Levantamento e catalogação de escritos de Karl Gustav Fellerer

Já tendo participado ativamente do acima mencionado Simpósio Etnomusicológico em Roma, em 1976, Karl Gustav Fellerer tomou parte decisiva na fundação do Instituto de Estudos Hinológicos e Etnomusicológicos da organização pontifícia de música sacra, em 1977. K. G. Fellerer dedicara-se há muito a questões relativas à música nas missões e à música sacra na imigração. Já em 1935 publicara o trabalho Das deutsche Kirchenlied im Ausland.

Para que o instituto tivesse uma biblioteca à altura, Karl Gustav Fellerer doou grande parte de sua biblioteca particular assim como objetos pessoais como diplomas e condecoracões ao novo instituto, cujo centro de estudos foi instalado nas proximidades da Abadia Beneditina de Maria Laach. A sua vasta biblioteca constituiu principal acervo bibliográfico para os estudos ali desenvolvidos.

A organização da biblioteca e da catalogação do instituto foram feitas em trabalho conjunto do editor e de K. G. Fellerer, discutindo-se os seus princípios em jornadas e encontros. Os critérios seguidos foram também aplicados no acervo brasileiro do Centro de Pesquisas em Musicologia, posteriormente do Instituto Brasileiro de Estudos Musicológicos (IBEM).

Após a morte de K.G. Fellerer, em 1984, iniciou-se um trabalho de inventário de suas obras, levado a efeito em colaboração de membros do ISMPS.

Esse inventário revelou pela primeira vez textos publicados em órgãos de difícil acesso dos anos de 1920, 1930 e 1940, conservados apenas nessa sua herança e desconhecidos de bibliotecas.

A polêmica relativa à atuação de K.G. Fellerer na época nacionalsocialista

Um dos aspectos sempre considerados desde 1977 foi o do papel que K. G. Fellerer desempenhara no período nacionalsocialista na Alemanha. Entre os seus objetos pessoais, encontravam-se documentos vários - inclusive aquele de sua inscrição no partido -, e entre os seus textos, artigos publicados em órgãos políticos e militares. A consideração dessa problemática decorreu sempre no contexto mais amplo das relações da Igreja e dos meios católicos para com o regime e que merecia ser examinada de forma diferenciada.

Os temas que Fellerer tratara em alguns textos vinham de encontro à linha temática em geral de órgãos políticos, neles, porém, não se constatava implicações mais comprometedoras de K.G. Fellerer no concernente à uma adesão ideológica ao Nacionalsocialismo. Assim, em publicação dedicada a assuntos militares, o musicólogo considerava cantos e música militar de séculos passados. Ganhava-se assim a impressão que K. G. Fellerer, personalidade sempre tão ligada ao Catolicismo e ao conservadorismo católico, atuara na situação política da época por razões pragmáticas de carreira ou para dar continuidade a seus trabalhos. A crítica a ser feita seria antes a de uma submissão às circunstâncias e ao poder instituído.

Em fins da década de 1990, esse inventário, realizado pelo editor e por membros do ISMPS em trabalho de muitos anos, foi por êle colocado à disposição de D. Gutknecht, diretor do Collegium Musicum da universidade de Colonia. Este o utilizou em publicações próprias, a êle servindo em polêmica que então se desencadeou a respeito do papel de K.G.Fellerer na política alemã da época nacionalsocialista.

De ciclos de estudos da A.B.E.
sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo


Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. (Ed.).  "Karl-Gustav Fellerer (1902-1984) e o anelo de institucionalização da ciência da música no Brasil na esfera das Humanidades e da Filosofia“. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 165/13 (2016:06).
http://revista.brasil-europa.eu/165/Karl_Gustav_Fellerer_e_Brasil.html


Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2017 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


Academia Brasil-Europa
Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)
reconhecido de utilidade pública na República Federal da Alemanha

Editor: Professor Dr. A.A. Bispo, Universität zu Köln
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