Centre Pompidou - 40 anos
ed. A.A.Bispo
Revista
BRASIL-EUROPA 166
Correspondência Euro-Brasileira©
Centre Pompidou - 40 anos
ed. A.A.Bispo
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BRASIL-EUROPA 166
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Fotos A.A.Bispo 2017©Arquivo A.B.E.
N° 166/11 (2017:2)
A arte que desafia contextos e que fornece impulsos criadores
Reflexões pelos 40 anos do Centre national d’art et de culture Georges-Pompidou
lembrando a exposição Jean Cocteau (1889-1963)
no seu significado para eventos euro-brasileiros
A crise que atinge várias nações da Europa e do continente americano na atualidade exige particular atenção dos estudos voltados a processos culturais.
O abalo de convicções, o questionamento de perspectivas e a retomada de concepções e anelos que pareciam estar já há muito superados impõem revisões de caminhos, tomadas de posições e cotejos com situações e desenvolvimentos passados.
A França é um dos países mais assolados por desenvolvimentos sociais e políticos críticos no presente. Essa situação francesa merece ser focalizada com especial atenção nos estudos euro-brasileiros, uma vez que Paris é ainda hoje a metrópole cultural por excelência para o Brasil, cidade-modêlo irradiador à qual todos os olhares se dirigem e da qual partem as principais tendências da criação artística, intelectuais e de modos de vida.
Na atmosfera política e social marcada por inseguranças, desorientações e procura de alternativas do presente francês também os eventos culturais surgem sob o signo do abalo generalizado de certezas, levando a relativações e questionamentos de propostas e programas.
Este é o caso de um dos grandes empreendimentos culturais da França do corrente ano, o da celebração dos 40 anos do Centro Georges Pompidou ou Beaubourg, o Centro Nacional de Arte e Cultura de Paris.
Em mais de 40 cidades, a data serve à demonstração da vitalidade das instituições culturais do país, da intensidade de intercâmbios pessoais e institucionais e dos muitos projetos em comum que teem como referência real ou virtual o Centro Pompidou.
Essa dimensão nacional atinge o ultramar francês, realizando-se uma exposição de alto significado com obras do Musée National d'Art moderne em Martinique sobre a pintura abstrata não-geométrica na França das duas décadas que se seguiram à Segunda Guerra.
Esse enfoque do centro como foco irradiador de dinâmica criadora evita a retomada da polêmica sobre a arquitetura desse edifício, de Renzo Piano e Richard Rogers, inaugurado em 1977, espaço histórico da capital francesa e que, hoje, com o envelhecimento, surge como particularmente questionável e insensível do ponto de vista urbano.
Dirige-se o olhar justamente aos impulsos criadores que teriam sido desencadeados pelo ato quase que violento e transgressor de quebra de continuidades, de adaptação e harmonização ao meio envolvente.
O centro é celebrado como ponto de partida e referencial de processos inovativos, de expansão e internacionalização, tendo levado a sedes sucursais em Metz, criada em 2010, e a de Málaga, na Espanha, em 2015.
Os 40 anos do Centro Pompidou, transcorrendo em época de crise política e cultural, dirige a atenção crítica a um processo que teria sido desencadeado nos anos de sua construção, a uma situação cultural e intelectual da década de 1970.
O impacto do Centro Pompidou nos estudos euro-brasileiros
Recapitular o estado de espírito, as inquietações dessa década, as tendências à compreensão da arte do século XX como transgressora no debate teórico-cultural francês e o impacto do projeto do Centro Nacional de Arte e Cultura de París sob o ponto de vista arquitetônico high tech surge como de relevância para os estudos relacionados com o Brasil, uma vez que a sua inauguração, a 31 de janeiro de 1977, foi motivo de estudos na capital francesa no âmbito do programa de estudos euro-brasileiros iniciado na Alemanha, em 1974.
O escopo de renovação teórica dos estudos culturais e sobretudo o interesse por interações entre música, arquitetura e artes visuais que caracterizou a organização de análises de processos culturais criada em São Paulo, em 1968, levou a repetidas visitas ao Centro Pompidou nas décadas que se seguiram.
O fato de ali encontrar-se o IRCAM, centro de investigação musical e acústica, foi uma das razões que tornaram sempre indispensável a visita ao centro no âmbito dos estudos músico-arquitetônico-culturais.
Um ponto alto nesse desenvolvimento deu-se por ocasião da abertura do centro de estudos Brasil-Europa da A.B.E. em Colonia, em 1997, uma instituição que, pela sua orientação culturológica, sempre exigiu particular atenção a autores e a tendências do pensamento teórico francês.
Após ter sido revitalizado entre 1997 e 1999, o Centro Pompidou foi reaberto em 2000, tornando-se uma das primeiras instituições francesas a serem visitadas no âmbito do triênio aberto pelo Congresso Internacional Brasil-Europa: Música e Visões pelos 500 anos do Descobrimento do Brasil
A passagem do século XX ao XXI deu ensejo a várias iniciativas voltadas a retrospectivas e balanços do século e do milênio que se findavam a serviço de uma tomada de consciência da situação atual e de perspectivas para o novo século e milênio.
O Brasil desempenhou significativo papel em eventos realizados pela passagem do século tanto no país como na Alemanha. A razão desse significado do Brasil decorreu do fato de concomitantemente comemorar-se a passagem dos 500 anos do Brasil, o que veio de encontro à necessidade sentida de retrospectivas e prospectivas, situando-as em contexto global de processos culturais desencadeados à época dos Descobrimentos.
O Congresso "Música e Visões", dirigiu a atenção nesse quadro histórico amplo às correntes do pensamento e da criação musical do século XX na Europa nas suas interações com desenvolvimentos culturais em países extra-europeus e suas consequências e vigências na atualidade.
Interações França-Brasil no período posterior à Primeira Guerra
A Primeira Guerra Mundial representou a cesura e o marco histórico do fim de uma época, a da velha ordem européia do século XIX, e o início de uma outra, de excepcional significado para os países aliados dos vencedores, como o Brasil.
Criou-se uma situação favorável para a intensificação da presença de nações do continente americano na Europa, levando a intercâmbios, a reciprocidades quanto a influências e a correntes na música, nas artes, na literatura, na arquitetura e mesmo no pensamento e nas ciências que determinaram a história cultural de nações das Américas e da Europa.
No término do século XX, impôs-se uma reconsideração desses desenvolvimentos marcados pela nova situação criada pela Guerra de 1914-1918, as suas pré-condições, as suas transformações e mesmo descaminhos posteriores sob situações políticas dos anos 30 e da Segunda Guerra Mundial.
Apesar de todas as mudanças, impulsos e mesmo visões da época da euforia vencedora e aqueles que a seguiram, em particular os anos de 1920, continuaram a vigorar sob diferentes aspectos, o que exigia reflexões nos intentos de visões retrospectivas e de balanços pela passagem do século.
A tomada de consciência dessa necessidade veio de encontro a intentos de estabelecimento no meio universitário da Alemanha de uma musicologia de orientação científico-cultural e de uma história da música em contextos globais em superação de delimitações à Europa geográfica e que tinha sido tema de uma série de cursos proferidos pelo editor na Universidade de Colonia entre 1997 e 2000.
Surgiu assim o desideratum da consideração mais pormenorizada de fatos e desenvolvimentos do século XX de maior relevância para as relações entre o Brasil e a Europa no contexto de um seminário universitário a ser realizado na cidade que até 1999 tinha sido a capital da Alemanha.
A êle devia seguir-se um simpósio internacional a realizar-se no Rio de Janeiro em 2004 pelos 30 anos da morte de Darius Milhaud (1892-1974). Estudantes e docentes deviam ser preparados no seminário realizado na Universidade de Bonn para nele participarem.
A personalidade e a obra de Darius Milhaud deviam merecer particular atenção nesses intentos de retrospectiva e balanço de processos músico-culturais pelo significado por êle desempenhado através de obras com referências musicais ao Brasil, pela influência que exerceu em músicos brasileiros e pela sua importância também no espaço de língua alemã através da academia fundada em 1919 em Salzburg.
Em sessão conjunta com a Academia Brasileira de Música (ABM), na Casa Fundação Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, em 2004, devia lembrar-se que desenvolvimentos da vida e da criação musical em Paris dos anos vinte foram de fundamental significado não só para compositores como Heitor Villa-Lobos (1887-1959), o fundador da ABM, como para Martin Braunwieser (1901-1991), o mentor da ABE. As "Saudades do Brasil" de Darius Milhaud foi na época obra emblemática da academia fundada na Áustria e que procurava uma renovação da cultura musical em superação das barreiras entre as nações criadas pela guerra.
Ainda que Darius Milhaud e a sua posição no Grupo dos Seis devia receber particular atenção no Seminário pela razão de seu significado devido a seus elos com o Brasil, o fato de a êle estar programado um simpósio internacional especial a ser realizado no Brasil permitiu que os trabalhos se desenvolvessem sobretudo à luz dos 40 anos da morte de Jean Cocteau (1892-1974), o que acentuou a natureza ampla de um evento interdisciplinar que surgia antes como de Ciência da Cultura com especial consideração da música.
A exposição "Jean Cocteau, sur le fil du siècle" e seminário
Realizou-se, no semestre de inverno europeu de 2003/2004, um seminário dedicado ao Groupe des Six como introdução à música do século XX na Universidade Renana Friedrich Wilhelms de Bonn. Por diversos motivos surge como oportuno relembrar as razões que levaram à realização desse seminário e o contexto internacional de simpósios de musicologia de orientação cultural levados a efeito na Alemanha e no Brasil nas últimas décadas.
O Seminário incluiu visitas à exposição "Jean Cocteau, sur le fil du siècle", o maior evento até então dedicado a Cocteau e realizado de 25 de setembro de 2003 a 5 de janeiro de 2004 no Centre Pompidou em Paris.
Essa exposição permitia um contato direto com grande documentação referente a Cocteau e sua época, a publicações raras e periódicos originas como Le Coq, a documentos sonoros (La Voix humaine) e a visões possibilitadas por 32 instalações audio-visuais.
Dessas fontes, uma particular atenção mereceram materiais sobre Le Boeuf sur le toit, o que permitiu a compreensão mais ampla do título da obra D. Milhaud que também reflete as suas impressões da estadia no Brasil.
O livro de Claud Arnaud (Jean Cocteau, Gallimard, Paris 2003) foi um dos títulos estudados e comentados durante o seminário.
Na discussão da repercussão de obras do Grupo dos Seis no Brasil, lembrou-se sobretudo da execução de obras de Erik Satie (1866-1925) à época da criação do Centro de Pesquisas em Musicologia em São Paulo, em 1968, e a consideração interdisciplinar de suas composições no curso de História da Arte e Estética da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.
Retomando essas iniciativas de forma atualizada, um dos participantes do Seminário realizou um ensaio de cotejo de dois fenômenos musicais do século XX: o da Musique d'ameublement e o Ambient music do presente.
Algumas sessões foram dedicadas a reflexões estéticas da "Parade", a seus antecedentes, à sua recepção e ao período que a ela se seguiu.
(...)
De ciclos de estudos sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo
Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "A arte que desafia contextos e que fornece impulsos criadores. Reflexões pelos 40 anos do Centre national d’art et de culture Georges-Pompidou - lembrando a exposição Jean Cocteau (1889-1963)
no seu significado para eventos euro-brasileiros“. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 166/11 (2017:2). http://revista.brasil-europa.eu/166/Centro_Pompidou.html
Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira
© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2017 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
Academia Brasil-Europa
Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)
reconhecido de utilidade pública na República Federal da Alemanha
Editor: Professor Dr. A.A. Bispo, Universität zu Köln
Direção gerencial: Dr. H. Hülskath, Akademisches Lehrkrankenhaus Bergisch-Gladbach
Corpo administrativo: V. Dreyer, P. Dreyer, M. Hafner, K. Jetz, Th. Nebois, L. Müller,
N. Carvalho, S. Hahne