Saint-Dénis: mausoléu de reis e centro islâmico
ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA 166

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Saint Denis. Foto A.A.Bispo 2017. Copyright

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Fotos A.A.Bispo 2017©Arquivo A.B.E.


 


N° 166/6 (2017:2)


„Souvenir du futur“

Saint Dénis: mausoléu de reis franceses e centro islâmico
O „mundo saiu dos eixos“ na percepção identitária de um Ocidente sentido como em risco
- Lembrando a Restauração do século XIX nos seus elos com o Brasil -

 
Saint Denis. Foto A.A.Bispo 2017. Copyright

A catedral basílica de Saint-Dénis, antiga igreja abacial, é um dos principais monumentos do patrimônio histórico-artístico da França, de grande signicado para a arquitetura como uma das maiores expressões do gótico e para a história da França como local de sepultamento de seus reis através dos séculos.

Apesar desse extraordinário significado de Saint-Dénis, a catedral não é hoje sempre procurada por aqueles que visitam Paris e até mesmo pouco conhecida.

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Embora situando-se em imediata proximidade à capital francesa, localiza-se em zona periférica, industrial e de operariado, conhecida pelos seus problemas e tensões sociais, com grande parcela populacional de imigrantes, sobretudo do Maghreb e da África subsaariana, o que faz de Saint-Dénis um dos principais centros do Islão na França.
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O contraste entre a catedral gótica e local de sepultura de reis franceses e o meio arquitetônico, social e cultural envolvente faz com que Saint-Dénis se torne cidade que favorece de modo especial reflexões sobre processos culturais que se desenvolvem na atualidade. (Veja)

Essa problemática evidencia-se na campanha pelo término reconstrutivo da catedral através da ereção de sua torre, um empreendimento que surge quase que como surrealista no meio social e cultural em que hoje se situa o monumento-mausoléu.

De título „Souvenir du futur“, esse projeto traz à consciência os problemas que se levantam também para os estudos culturais devido às diferenças de perspectivas, aproximações e anelos histórico-patrimoniais e aqueles dirigidos a processos sociais do presente, marcados pela imigração em periferia de operariado no sentido dos Cultural Studies britânicos.

A sensação de que o „mundo saiu dos eixos“ e anelos restaurativos

Em Saint-Dénis, o observador externo dificilmente pode fugir da sensação de que „o mundo saiu dos eixos". Esta é uma expressão que frequentemente é ouvida no presente e que manifesta o impacto, a insegurança e os temores causados por desenvolvimentos que evidenciam ou são sentidos como abalos da ordem político e cultural consuetudinária.

A islamização do Ocidente temida e combatida por movimentos políticos do presente em nome de patriotismo europeu e de defesa do Ocidente cristão parece encontrar em Saint-Dénis a sua mais evidente demonstração.

Como pode o local de sepultamento de reis, uma catedral em cuja fachada se encontra a série de reis que, segundo concepções do passado tiveram a sua autoridade por graça divina em localidade que poderia ser uma cidade moura do Norte da África?

Essa sensação de risco, perda ou destruição de um universo cultural é acompanhada compreensivelmente por intentos e desejos de defesa ou de recuperação ou restauração do perdido.

Poder-se-ia, assim, constatar em movimentos políticos e político-culturais da atualidade um componente restaurativo e dificilmente encontrar-se-ia local mais favorável para reflexões sobre movimentos restaurativos na história do que Saint-Dénis.

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Possibilidades e problemas de paralelos históricos: a Restauração

Os estudos de processos culturais que se desenvolvem sob o impacto dos desenvolvimentos atuais (Veja) veem procurando analisar tendências do pensamento e expressões do presente a partir de paralelos históricos.

Este procedimento decorre sobretudo do recrudescimento de concepções e argumentações nacionalistas e que exige, para a sua análise diferenciada, a consideração de momentos e desenvolvimentos do passado. Tem-se assim considerado com especial atenção marcos cruciais da história que possibilitam referenciais para comparações, procedimento favorecido pela passagem dos 100 anos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

Há uma grande cesura na história européia que também merece ser considerada nos cotejos com a situação atual: aquela do fim da época napoleônica e da Restauração de 1814/1816, cujo marco foi o Congresso de Viena.

Essa cesura representou a vitória de forças que, com a derrota de Napoleão, procuraram restaurar a ordem política do antigo regime derrubado pela Revolução Francesa. É um marco referencial de extraordinário significado para Portugal e para o Brasil, uma vez que marca uma cesura fundamental na história do país.

A transferência da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro foi o mais extraordinário empreendimento internacional que garantiu a sobrevivência da antiga ordem européia em época napoleônica, um evento inédito que levou à manutenção longe da Europa de uma configuração política e político-cultural do passado europeu e que com a vitória sobre as forças bonapartistas na Europa, voltava a ser restaurada.

Como sede do Reino Unido, o Brasil ultrapassou a situação de Colonia através de sua inserção em contexto geo-político e cultural que, sobretudo sob a égide da Áustria, foi o motor do conservadorismo e principal poder da época da Restauração, cujo marco foi o Congresso de Viena.

O fato da Arquiduquesa Leopoldina (1797-1826) ter-se transferido para a Corte portuguesa no Rio como esposa de D. Pedro I (1798-1834), e o fato de ter-se tornando a primeira imperatriz do país, surge como de extraordinária relevância para o estudo de relações entre a Europa e o Brasil nessa fase crucial do século XIX.

Devido à importância que as ciências e a cultura assumiram com a sua ida, também sob o aspecto dos estudos de processos culturais a inserção do

Como todos os cotejos históricos, também o da Restauração européia em referência às tendências restaurativas da atualidade exige particular cuidado diferenciador.

Os intuitos não foram como hoje o de procurar restaurar a soberania de estados nacionais vista em risco devido a organizações e rêdes supra-nacionais como aquelas da União Européia, mas sim de restauração de configurações de estado do Ancien Régime baseados no princípio dinástico e em concepções legitimidade e de equilíbrio de poder. A ordem que se seguiu, cujo principal vulto foi a de Klemens W. L. von Metternich (1773-1859), diplomata a serviço da Áustria, entrou na história como de oposição a movimentos nacionais na Alemanha e na Ítália.

Esse cotejo, se não surge como justificável em intuitos da procura de paralelos históricos relativamente às tendências nacionais do presente, ganha em significado por tematizar o conceito de restauração, significativo perante ímpetos de recuperação de situações do passado, vistas como em risco.


Diferenciações na apreciação da Restauração - pontes com o Iluminismo

O cotejo da situação atual com aquela das primeiras décadas do século XIX traz à luz a necessidade de considerações diferenciadas de anelos de uma volta a ordenações passadas vistas como abaladas. Esse paralelo traz à consciência a dificuldade de considerações valorativas de tendências de retorno a situações passadas nos dois casos.

Numa primeira aproximação, e também segundo interpretações mais generalizadas, a restauração é conotada como reacionária, de imobilização quanto a transformações políticas e socias, de tendências absolutistas e de combate a oposições, de supremacia da segurança interna, como um sistema de lei e ordem e uma política social conservadora e anti-liberal.

Esquece-se, porém, que personalidades condutoras do movimento restaurador - como o próprio Klemens W. L. von Metternich (1773-1859) foram formadas no espírito do Iluminismo e do Racionalismo do século XVIII, destacando-se no fomento das ciências, da cultura, das arte e da música.

O próprio Metternich foi um dos principais motores da missão científico-cultural enviada ao Brasil e que determinou sob muitos aspectos desenvolvimentos em várias áreas das ciências, da cultura e das artes no século XIX brasileiro.

Há assim relações complexas e ambivalentes entre uma restauração nas suas conotações negativas como expressão de mentalidades estreitas e  aquelas positivas de fomento do saber, dos conhecimentos científicos, das ciências, das artes, da música, de um pensamento marcado por ideais universalistas. Haveria aqui também uma possibilidade de paralelo com desenvolvimentos atuais?

Não se registram hojes vozes que, não desejando ser confundidas com movimentos reacionários e nacionalistas acentuam o risco que corre uma cultura marcada pelo Esclarecimento do Ocidente, por direitos, liberdades e conhecimentos alcançados em difícil processo histórico, de desenvolvimentos secularizadores com a expansão de religiões que dele não participaram ou que o revogam?

Talleyrand (1754-1838) nos estudos relacionados com o Brasil

Há um vulto da história diplomático-cultural da época da Restauração e de especial significado também para estudos relacionados com o Brasil que merece ser lembrado, o do Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord.

Em Talleyrand tem-se uma personalidade, uma vida e um exemplo de ação política-diplomática que dá margens a perplexidades e que favorece interpretações de conotações negativas pelo fato de ter conseguido manter-se em cargos de influência nas mais diversas configurações políticas, pela ambivalência de suas posições e mesmo por caminhos que surgem como oportunistas, hipócritas ou falsos de suas atuações.

Foi homem do Ancien Régime da época iluminista, com o qual permaneceu ligado emocionalmente, sacerdote formado no Seminário de S. Sulpice e, assim, na escola francesa de espiritualidade que procurava uma dignificação do clero, agente geral do clero francês, bispo, excomunicado por ter prestado juramento à constituição em 1791, atuando na desapropriação de bens eclesiásticos.

Similar e ainda maior perplexidade causa a sua participação influente na vida política dessa fase conturbada da história da França: embora de origem aristocrata, foi figura influente na Revolução, no período napoleônico e por fim no Congresso de Viena, onde, embora representando a nação vencida, responsável pelo processo revolucionário e pela ordenação napoleônica transformadora da Europa, alcançou para a França condições menos desfavoráveis do que seriam de esperar.

Foi, por fim, personalidade influente na restauração dos Bourbons no trono francês, tendo sido ministro do Exterior de Luís XVIII, destacando-se, posteriormente, na monarquia de Julho (1830-1848) de Louis Philippe, o último rei francês (1773-1850).

Apesar da perplexidade que causa a diplomacia de Talleyrand, que permitiu essa manutenção de influência e poder sob as mais diferentes condições, pode perceber-se por detrás de suas em parte questionáveis estrategias uma linha de continuidade que necessitaria ser estudada sob perspectivas mais propriamente culturais, psicológicas e mentais.

Sigismund von Neukomm (1778-1858), secretário de Ch.-M. de Talleyrand

Uma personalidade que se salienta na consideração da diplomacia de Talleyrand e do seu papel no processo restaurativo é a do compositor austríaco Sigismund Neukomm. (Veja)

Nascido em Salzburg, considerado como tendo sido o aluno predileto em Viena de Joseph Haydn (1732-1809), Neukomm foi personalidade de sólida formação humanística e que, com a sua intensa atuação internacional, em particular também na Rússia, desempenhou importante papel na diplomacia cultural. É altamente significativo para os estudos da história diplomática européia o fato de ter sido secretário de Ch.-M. de Talleyrand.

O fato de ser austríaco, estreitamente relacionado com meios influentes de Viena, e ao memo tempo ocupar um cargo de confiança junto a Ch.-M. de Talleyrand foi reconhecido há muito como não apenas um aspecto singular na sua personalidade de músico, mas como indício de um papel relevante que teria desempenhado de forma discreta nos bastidores da diplomacia e da política européia.

Uma evidencia da posição de influência exercida por Neukomm no processo restaurativo foi o fato de ter composto o músico por excelência do Congresso de Viena.

Essa atuação não poderia ter sido alcançada sem o apoio dos círculos influentes de Viena e, em primeiro lugar, de Metternich. Essa posição privilegiada explica-se não apenas pela origem e formação austríaca de Neukomm, mas sim pelo seus elos com círculos próximos ao imperador Francisco I, o patrono do Congresso, e esses vínculos explicam-se sobretudo através de sua atuação no Brasil e de seus contatos com a Arquiduquesa Leopoldina, filha de Francisco I.

Essa problemática, que surge hoje como atual, tem sido considerada sob diversos aspectos há décadas nos estudos euro-brasileiros.

Neukomm nos estudos de processos culturais em relações Brasil-Europa

No início do programa euro-brasileiro na Alemanha, em 1974, uma das primeiras visitas foi feita a Salzburg, cidade natal de Neukomm.

Procurou-se considerar no início das atividades na Europa o local de origem da academia formada no Mozarteum em 1919 e que hoje se mantém na Academia Brasil-Europa. O seu mentor, Martin Braunwieser (1901-1991), um dos principais alunos do Mozarteum, foi um dos grandes admiradores de Sigismund von Neukomm.

Em pesquisas em Viena, encontrou-se o manuscrito da Missa Solene de S. Francisco escrita por Neukomm no Rio de Janeiro e dedicada ao Imperador Francisco I. Essa obra tornou-se emblemática dos estudos voltados a Neukomm sob a perspectiva da pesquisa musicológica de orientação científico-cultural desde então efetuados.

Em 1978, por ocasião dos 200 anos do compositor, realizou-se um ato de homenagem perante a placa na casa do compositor em Salzburg. Os estudos então realizados foram voltados à análise do contexto e dos processos político-culturais em que se inseriu Neukomm nas suas interações com a política eclesiásticas e movimentos reformadores/restauradores. Essa atenção foi despertada pela menção da atividade de Neukomm junto a Talleyrand no Congresso de Viena tratada - ainda que de forma romanceada - em publicação de Jean Orieux.

„Desde os dias de sua chegada, Talleyrand preocupou em alto grau a polícia austríaca. Não porque fizesse intrigas, mas pelo fato de não fazê-las. (...)Todos aqueles que faziam parte da sua missão e serviçais da sua casa eram incorruptos. A polícia não conseguiu introduzir nem um agente no Palais Kaunitz. Tinha-se a convicção de que por detrás das altas janelas que permaneciam iluminadas durante toda a noite se forjavam perigosos planos. (...) Um vulto do seu grupo dava uma impressão tão misteriosa, que a polícia austríaca perdia o seu sono. Sabia-se que essa pessoa existia, mas ninguém a tinha visto. Todas as listas, que procuravam esclarecer o caso, falhavam. Em todo o caso, os relatos registravam um ponto: o homem tomava as suas refeições numa pequena mesa no dormitório de Talleyrand. À noite, os espiões passavam silenciosamente pelo lado de fora do prédio, mas o que escutavam eram os sons de um piano que soava até horas matinais. Disso concluiu-se que a música não tinha outra finalidade do que a de enconbrir a voz dos conspiradores. Duas semanas e a participação irônica de Talleyrand foram necessárias para que Metternich tomasse conhecimento que a pessoa em questão tinha o nome de Neukomm, e que era austríaco, de 36 anos, um pianista, que se encontrava já há seis anos a serviço de Talleyrand e que morava na sua casa. Talleyrand tinha-o incumbido de compor um Te Deum para o retorno de Luís XVIII. Tinha-o levado a Viena como parte de sua vida luxuosa, como uma espécie de mestre-de-capela de um príncipe que se encontrava em viagem.

Apesar dessa explicação plausível, os participantes do congresso continuaram convencidos de que o pianista de Talleyrand era um espião. Na realidade, era um músico honesto e inofensivo. A sua má fama era devida à capacidade do seu senhor de tirar a tranquilidade de todo mundo. Talleyrand sempre foi acompanhado por seres amáveis e leais. (...)Durante o congresso, passava as noites isolado, ganhando novas energias. Livros, sobretudo a música o ajudavam para isso. Necessitava de alimento para a sua sensibilidade mantida recôndita, e a música dava-lhe força e paciência. (....) La Tour du Pin colocou no seu gabinete de trabalho sentado uma grande poltrona. Com prazer ali se sentava e permanecia imóvel e silencioso durante horas, absorto em pensamentos. Neukomm entrava sorrateiro como uma sombra e tocava com surdina. O silêncio maravilhoso era apenas vivificado com Haydn e Mozart.

A sua escrivaninha era ordenada por Dalberg, que nela colocava os documentos que o príncipe devia ler. Ele os lia com vagar, enquando Neukomme corria os dedos sobre o teclado: „O rapto do Serail“ transmitia-lhe espírito leve e um encanto que tornavam leves as reflexões. (...) Nesse interem, a polícia de Metternich debatia-se em preocupações quanto ao espião de Talleyrand. (...) (Jean Orieux, Talleyrand ou le Sphinx incompris, Flammarion, Paris 1970, trad.al. Talleyrand: Die unverstandene Sphinx, Darmstadt: Frankfurter Societäts-Druckerei, 1977, 536-537)

A história da recepção musical no Brasil nas suas inserções políticas

Correspondendo aos interesses do debate em meados da década de 1970, esses estudos foram conduzidos sobretudo a partir da atenção a processos receptivos. Essa foi também a orientação que marcou a consideração de Neukomm no âmbito do Simpósio Internacional "Música Sacra e Cultura Brasileira" levado a efeito em São Paulo, em 1981. (Veja)

As reflexões relativas ao compositor e à necessidade de aprofundamento das pesquisas sob novas perspectivas e premissas tiveram desenvolvimento em estreito trabalho conjunto com Luís Heitor Correa de Azevedo, o estudioso que até então mais tinha considerado o compositor austríaco.

A missa de Neukomm dedicada ao imperador da Áustria foi executada por ocasião do forum dedicado a relações entre a Áustria e a Alemanha, em 1984, e, a seguir, em missa solene em Colonia para a Church Music Association of America celebrada pelo presidente do Istituto Pontificio di Musica Sacra. O compositor, a obra e os estudos que a acompanharam marcaram assim a fundação do Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS) em 1985.

A vida de Neukomm, que posteriormente decorreu sobretudo no Reino Unido, adquire particular significado como demonstração de intensos elos interno-europeus e extra-europeus nas suas dimensões político-culturais e artísticas. Não se pode esquecer, neste contexto, que também Tayllerand viveu em atuou na Grã-Bretanha à época da monarquia de julho.

Como mediador cultural, responsável pela transmissão de obras, estilos e tendências estéticas européias ao Brasil e, vice-versa, como divulgador do Pe. José Maurício Nunes Garcia (1767-1830) na Áustria, Neukomm for considerado em encontros com a principal pesquisadora deste compositor, Cleofe Person de Mattos nas suas estadias na Alemanha.

Nesse seu significado como mediador cultural e mesmo diplomata cultural, Neukomm voltou a ser considerado nas discussões do projeto Music in the life of man/A History of music do Conselho Internacional de Música/UNESCO em encontro regional levado a efeito em São Paulo, em 1987, quando foi descutida a conceituação de "transplantes culturais".

Seminário sobre Neukomm como personalidade européia

A mais pormenorizada consideração de Neukomm no âmbito de uma musicologia orientada científico-culturalmente deu-se em ciclo de cursos voltados à música em "cultural encounters" levado a efeito na Universidade de Colonia em 1998/1999.

O encerramento do triênio pelos 500 anos do Brasil em sessão no Museu de História Diplomática do Itamaraty, em 2002, salientando-se o significado da diplomacia cultural, deu ensejo à realização de um primeiro seminário dedicado exclusivamente ao compositor como personalidade de dimensões européias e mesmo globais.

Também aqui a atenção foi dirigida à necessária abertura de uma musicologia histórica orientada científico-culturalmente ao mundo extra-europeu, onde o interesse é dirigido sobretudo a processos em contextos globais. Neukomm surge não só como objeto de estudos musicológicos de orientação cultural, mas sim também, vice-versa de estudos culturais que atentem de forma especial ao papel desempenhado pela música em processos históricos.

A realização do evento na Universidade Renana Friedrich Wilhelms decorreu paralelamente a outros cursos voltados à história da música assim orientada segundo processos globais.

O seminário deu prosseguimento àquele voltado à história da música em contextos globais da era moderna até a Revolução Francesa e preparou a série de preleções dedicada ao Clássico e ao Romântico realizadas na universidade da cidade que até há poucos anos atrás tinha sido a capital da Alemanha ocidental.

O seminário foi acompanhado com viagens de estudos à Grã-Bretagna, assim como por execuções de suas obras em concertos do ISMPS. Trabalho sobre êle preparado por Cornelia Napp, participante do seminário, passou a ser divulgado pelo site da Academia Brasil-Europa. (Veja)

(...)

De ciclos de estudos sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo


Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A.  "Saint Dénis: mausoléu de reis franceses e centro islâmico. O „mundo saiu dos eixos“ na percepção identitária de um Ocidente sentido como em risco. Lembrando a Restauração do século XIX nos seus elos com o Brasil“
. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 166/6 (2017:2). http://revista.brasil-europa.eu/166/Saint_Denis.html


Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2017 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


Academia Brasil-Europa
Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)
reconhecido de utilidade pública na República Federal da Alemanha

Editor: Professor Dr. A.A. Bispo, Universität zu Köln
Direção gerencial: Dr. H. Hülskath, Akademisches Lehrkrankenhaus Bergisch-Gladbach
Corpo administrativo: V. Dreyer, P. Dreyer, M. Hafner, K. Jetz, Th. Nebois, L. Müller,
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