Simbólica musical - portal de Saint-Dénis
ed. A.A.Bispo
Revista
BRASIL-EUROPA 166
Correspondência Euro-Brasileira©
Simbólica musical - portal de Saint-Dénis
ed. A.A.Bispo
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BRASIL-EUROPA 166
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Fotos A.A.Bispo 2017©Arquivo A.B.E.
N° 166/7 (2017:2)
Dimensões imagológicas de processos culturais
a simbólica musical de um sistema cultural sentido como em risco
em leituras do portal da catedral de Saint-Dénis
Não há na Europa cidade que evidencie de forma mais impressionante a problemática cultural e sócio-política da atualidade do que Saint-Denis ao norte de Paris, hoje parte de sua zona periférica.
Se hoje movimentos populares e políticos em várias nações européias alertam sobre os problemas resultantes da concentração de imigrantes em determinados centros e bairros, o que dificulta processos integrativos, assim como, sobretudo, da "islamização" do Ocidente, então Saint-Denis surge como localidade exemplar devido à grande porcentagem de imigrados, sobretudo de países islâmicos, do Maghreb e da África em geral, o que o torna um dos maiores centros do Islão na França.
Saint-Denis é conhecido pela intensidade de suas agitações populares, pela violência e pelos riscos que fazem com que o seu antigo centro seja evitado por visitantes à noite. Também sob o ponto de vista arquitetônico e urbanístico, Saint-Denis é marcado por projetos altamente questionáveis que descaracterizam as proximidades de seu núcleo histórico e pela concentração de prédios de habitações sociais pré-fabricados.
Talvez de forma mais intensa do que outras zonas periféricas da capital francesa, Saint-Denis demonstra na sua organização espacial e nas suas construções os resultados da industrialização que levaram à concentração de operários que fizeram da antiga cidade um centro do movimento trabalhista e comunista, um desenvolvimento imediatamente precedente àquele que a transformou em localidade marcada pela imigração extra-européia. Quem transite pelas ruas e praças centrais de Saint-Denis não tem a impressão de encontrar-se na França.
É justamente porém essa cidade que abriga um dos mais valiosos bens patrimoniais da França, a antiga igreja abacial de Saint-Denis ou S. Dionísio de Paris, local que, desde o ano de 564 tornou-se aquele de sepultura de quase todos os reis francos como Carlos Martel (686-741) e dos franceses de séculos posteriores.
A catedral de Saint-Denis no seu significado simbólico
A catedral de Saint-Denis não é apenas um dos maiores monumentos do gótico francês, de excepcional posição e valor no panorama das catedrais francesas, mas sim um edifício de extraordinário significado simbólico, um local que remete às origens da França cristã e que guarda a memória e os restos mortais de grande número de reis, rainhas e príncipes da França.
Ali se encontram, entre muitos outros, os mausoléus de Luís XVI e Maria Antonieta, mortos na Revolução Francesa, o movimento que levou à delapidação dos tesouros, à destruição de monumentos, à profanação de túmulos e à inumação dos sepultados. A tradição foi retomada após a Restauração, sendo ali sepultado o último rei Bourbon francês, Carlos X (1824-1830).
O grande número de monumentos funerários em parte recuperados e expostos nas naves laterais do transepto da catedral, assim como na sua cripta, fazem da antiga igreja abacial um repositório único da história francesa mais antiga e mesmo do Ocidente cristão, de significado simbólico mais profundo e de mais antigos fundamentos do que outros monumentos posteriores dedicados à memória de grandes vultos da história francesa, ao lado ou mesmo superando neste sentido o próprio Panthéon de Paris.
O fato dessa catedral e e abrigo sepulcral de reis franceses encontrar-se hoje no centro de núcleo urbano marcado tão intensamente pela imigração, pelo Islão e por uma configuração urbano-arquitetônica que contradiz em muitos sentidos o gótico faz com que a sua visita seja vivenciada sob o signo de confrontos culturais e de religiões, não de interações, mas sim de deslocamentos, diferenças e incompatibilidades.
Saint-Dénis oferece-se assim como campo particularmente favorável para reflexões e estudos culturais voltados ao presente e que é hoje tão marcado por movimentos que manifestam preocupações quanto a uma islamização do Ocidente.
Questões imagológicas no presente marcado por tensões e violência
Embora a problemática que se evidencia de modo impressionante em Saint-Dénis possa ser analisada sob diferentes aspectos, há um deles que se impõe: o da simbólica ou, em geral, o do sistema de imagens e seus sentidos.
Mais do que o contraste visual entre a catedral como obra monumental do gótico e as edificações deploráveis na brutalidade construtiva do meio envolvente, é o significado simbólico da antiga igreja abacial como centro histórico-religioso de remotas origens e local de sepultura de reis que clama por maior atenção.
As plásticas nos portais oferecem o principal ponto de partida para o estudo do programa simbólico da catedral. Nelas se destacam representações de vultos bíblicos e anjos com instrumentos musicais, o que faz com que Saint-Dénis surja como um dos principais monumentos de documentação organológico-simbólica da história da arquitetura e das artes em geral.
A música na linguagem simbólica nos estudos euro-brasileiros
Relações entre o ouvir e o ver, entre o audível e o visual, entre a linguagem dos sons e de imagens, nos seus múltiplos aspectos, constituem um importante objeto de preocupações e estudos nos estudos culturais que vem sendo desenvolvidos nas últimas décadas.
Essa atenção remonta à área de Comunicação Visual da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, em 1968. Em trabalhos conjuntos com o Centro de Pesquisas em Musicologia, fundado em São Paulo em 1968, desenvolveram-se então vários estudos que tiveram a sua repercussão em cursos de nível superior de música e licenciatura em Educação Musical e Artística. Com o início do programa euro-brasileiro na Alemanha, em 1974, o estudo dessas relações teve continuidade com professores e pesquisadores do Instituto de História da Arte da Universidade de Colonia.
O significado que essas preocupações quanto a relações entre a música e a linguagem visual assumiu nas décadas que se seguiram explica que se tenha escolhido o tema "música e visões" para o congresso internacional de abertura do triênio de eventos científico-culturais pelos 500 anos do Brasil, em 1999.
Esse congresso, que contou com a participação de várias universidades, teve como objetivo explorar o complexo temático nas suas múltiplas dimensões, trazendo à luz o amplo espectro de interesses e de aproximações dos diferentes estudiosos.
Para o término do triênio, levado a efeito em 2002 em congresso em universidades brasileiras do Rio Grande do Sul, de São Paulo e do Rio e Janeiro, decidiu-se realizar concomitantemente um seminário específico na universidade renana Friedrich Wilhelm de Bonn.
Retomando discussões: „Música e Simbólica“ em seminários
Sob o título "Música e Simbólica", o seminário focalizou mais especificamente determinadas aspectos da questão do visual nas suas relações com a música.
A vasta literatura específica sobre símbolos musicais e imagens na música em si - entre outros em técnicas de composição - foi tratada de forma abrangente, constituindo ponto de partida para o tratamento mais aprofundado das questões e para estudos analíticos em obras selecionadas.
Por outro lado, os estudantes deviam ser introduzidos na problemática da música no contexto de um sistema amplo e sinais no sentido linguístico e culturológico.
Procurou-se possibilitar aos participantes a assimilação de um repertório de imagens que fazem parte de um sistema de sinais de remota proveniência, que relaciona conteúdos mitológicos e bíblicos e que possuem como principal referência o símbolo da lira.
Com esse direcionamento da atenção, o seminário teve uma orientação interdisciplinar, servindo não só como introdução a uma arqueologia musical, mas também a uma pesquisa musical orientada científico-culturalmente em contextos globais.
Os conteúdos dos portadores de sentidos nas suas relações entre si dentro de um sistema global foram discutidos com referência a concepções musicais. Essas discussões, em nível mais alto de abstração, tiveram continuidade em seminário superior sobre atuais problemas de uma musicologia antropológica realizado concomitantemente.
O tratamento do tema justificou-se pelo fato de ali ter atuado um dos mais renomados pesquisadores da linguagem de imagens da Antiguidade, o musicólogo Martin Vogel. Em muitas publicações, em particular aquelas da série Orpheus para questões fundamentais da música, editada pela sociedade de fomento da musicologia sistemática, Martin Vogel expôs resultados de suas pesquisas que mereceram consideração atenta.
Apesar de toda a proximidade de interesses, o tratamento do tema processou-se porém sob outro signo, aquele dos desenvolvimentos remontantes ao Centro de Pesquisas em Musicologia criado em 1968. Já nessa época despertou o interesse pela pesquisa da linguagem de imagens em folguedos, danças, cortejos e instrumentos musicais transplantados da Europa para o hemisfério sul durante a colonização e a cristianização.
Os esforços para a compreensão do contexto geral dos sinais no seu desenrolar no tempo, a saber nas festas do ciclo do ano no seu deslocamento com o ano natural levou à constatação que no próprio sistema de sinas vigorava uma processualidade que emprestava ao todo uma capacidade sistêmica de adaptacão a diferentes situações de tempo e espaço, atualizando-se em diferentes épocas e contextos culturais.
O tratamento do tema nesse sentido abrangente, seguiu-se a consideração de sinais na música em si, a partir de exemplos selecionados.
Os participantes do simpósio foram confrontados com a Musica poetica de séculos passados, com imagens na retórica musical e com símbolos como o da cruz em técnicas composicionais, como motivo e cruzamento de vozes. Já aqui tematizou-se a relação entre música e o visual - a saber na notação.
A ponte entre essa aproximação analítico-musical no tratamento do tema e a tarefa mais abrangente de reconhecimento de um edifício global de sinais na imagem do mundo e do homem de antiga proveniência - como ela se mostra no céu estrelado - tornou-se possíbel através da simbólica dos números.
Partindo de estudos que se voltaram a elementos estruturais numérico-simbólicos em composições, em particular de J. S. Bach, a atenção dirigiu-se a questões mais fundamentais e de maior amplitude. O significado de números, das proporções e sua simbólica na filosofia e visão o mundo da Antiguidade foi considerado relativamente a relações numéricas quanto a ciclos do ano, divisão em meses e do Zodíaco, no número dos planetas e outros aspectos.
(...)
De ciclos de estudos sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo
Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "Dimensões imagológicas de processos culturais. A simbólica musical de um sistema cultural sentido como em riscoem leituras do portal da catedral de Saint-Dénis“. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 166/7 (2017:2). http://revista.brasil-europa.eu/166/Simbolica_e_musica.html
Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira
© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2017 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
Academia Brasil-Europa
Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)
reconhecido de utilidade pública na República Federal da Alemanha
Editor: Professor Dr. A.A. Bispo, Universität zu Köln
Direção gerencial: Dr. H. Hülskath, Akademisches Lehrkrankenhaus Bergisch-Gladbach
Corpo administrativo: V. Dreyer, P. Dreyer, M. Hafner, K. Jetz, Th. Nebois, L. Müller,
N. Carvalho, S. Hahne