Malaca/Brasil - Opulência e pobreza
ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA 167

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Malaca. Foto A.A.Bispo 2017. Copyright

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Malaca.Fotos A.A.Bispo 2017©Arquivo A.B.E.

 


N° 167/1 (2017:3)



Malaca/Brasil
Opulência e pobreza, portentosos e humildes
na história de processos culturais à luz de problemas do presente

Pelos 90 anos do Papa emérito Bento XVI
em agradecimento pelo apoio como J. Cardeal Ratzinger, Prefeito da Congregatio pro doctrina fidei,
aos estudos euro-brasileiros
do Padroado Português do Oriente

 
A.A.Bispo
Neste terceiro número da Revista Brasil-Europa de 2017, oferecem-se relatos de ciclos de estudos realizados no arquipélago malaio em março do corrente ano.
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Essa viagem de estudos e contatos inseriu-se numa longa série de trabalhos voltados a países e contextos do Oriente no âmbito dos estudos euro-brasileiros de processos culturais em relações internacionais.

Já há décadas procura-se considerar o Brasil em contextos de amplas dimensões globais, um procedimento que hoje particularmente se impõe perante a intensificada mundialização que abrange todas as áreas de conhecimento e esferas da vida.

Lembrar que esses elos globais não são recentes e que rêdes e dinâmicas de relações surgidos no decorrer dos séculos não são reversíveis, mas transformáveis, surge como particularmente oportuno na atualidade marcada por movimentos político-culturais que reativam concepções de teor identitário e isolacionista, assim como de extraordinárias demonstrações de prepotência por parte de líderes políticos de diferentes países.

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Opulência e pobreza, portentosos e humildes em duas latitudes

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Considerar o Brasil nas suas inserções em processos culturais desencadeados pelos portugueses com o Descobrimento e colonização significa necessariamente dirigir a atenção ao Oriente.

Foi ao Oriente que a ação navigatória, religiosa, comercial e militar portuguesa se direcionou e no âmbito dessa orientação é que os desenvolvimentos no Brasil dos primeiros séculos podem ser compreendidos analisados. (Veja)

A divisão do globo em esferas de influência e ação de Portugal e da Espanha em 1493 pela bula Inter caetera do Papa Alexandre VI e, a seguir, pelo Tratado de Tordesillas, em 1494, não deve ser apenas considerada como curiosidade da história política e diplomática, mas sim nas suas múltiplas implicações e consequências. Considerar o Brasil dentro de uma esfera de ação do país no extremo Ocidente em processos que dizem respeito à África e na Ásia significa também considerá-los a partir de referenciações segundo o Brasil.

Ao Brasil, na sua costa em situação liminar na separação do mundo em esferas de influência entre Portugal e a Espanha, na sua expansão territorial em direção a Oeste transgredor dessa linha demarcatória, na sua cada vez mais necessária e atual aproximação aos países latino-americanos da costa do Pacífico, cabe um papel primordial no tratamento das relações Ocidente/Oriente nos seus múltiplos aspectos e, entre elas, a de processo secular de ocidentalização que tanto marca a história dos últimos séculos e o presente dos países asiáticos.

A.A.Bispo, J. Cardeal Ratzinger. Roma 1991

A focalização da lusofonia no estudo de processos culturais

O direcionamento da atenção a processos no seu desenvolvimento temporal e à análise de suas estruturas, mecanismos e sentidos e que levou à fundação, em 1968, da organização de renovação teórico-cultural que determinou os trabalhos das últimas décadas, teve que enfrentar desde o início dois principais obstáculos, um de natureza linguística, outro cultural.

No primeiro caso, constatou-se desde cedo problemas derivados da acepção da língua portuguesa como critério primordial de considerações e análises.

O português, na complexidade de suas extensões e transformações, embora indubitavelmente importante objeto de estudos, é, antes de ser fator determinante da cultura, êle próprio resultado de desenvolvimentos culturais. Bastaria lembrar que a sua adoção por populações de outros contextos culturais e de língua deu-se através de contatos e de ensino, sendo as suas transformações resultados de diferentes contextualizações.

A celebração da lusofonia, porém, suscita deslocamentos quanto a prioridades nas aproximações.

Sobretudo esforços e iniciativas voltadas ao estreitamento de laços entre países de língua portuguesa, compreensíveis sob aspectos políticos, diplomáticos e pragmáticos, tende a focalizar países que ainda hoje possuem o português como língua oficial, obscurecendo o significado de países, regiões e comunidades que já não mantém ou dominam o português, mas que foram profundamente marcadas na sua história e formação cultural pelos portugueses, passando por transformações que também necessitam ser consideradas.

Desde o início, portanto, a orientação dos estudos de processos culturais referenciados segundo o Brasil foi de natureza científico-cultural ou culturológica, diferenciando-se neste sentido daquela de instituições voltadas a uma comunidade de países de língua portuguesa ou lusófonos.

É compreensível, portanto, qu processos culturais em grupos populacionais onde já não se fala o português ou onde o domínio da língua se enfraquece tenham sido considerados com especial atenção em encontros, seminários e ciclos de estudos em diferentes regiões do mundo.

A Malásia é um dos países que não pode ser incluida no rol daqueles lusófonos e da comunidade de países de língua portuguesa. Seria porém inadmissível não considerar Malaca nos estudos de processos culturais desencadeados pelos portugueses.

Essa orientação não significa, porém, uma desvalorização do idioma. Pelo contrário, este deve ser valorizado como língua do tratamento científico dos problemas que se colocam: não estudos da lusofonia publicados em inglês, mas sim de processos culturais tratados e discutidos em português. Essa orientação passou a constituir um escopo acadêmico que teve a sua expressão na oficialização do instituto internacional do espaço de língua portuguesa para questões músico-culturais em 1985 (ISMPS). (Veja)

A problemática do folclore no estudo de processos

No segundo caso, um obstáculo para o estudo científico de processos culturais marcados pela ação de portugueses foi êle próprio paradoxalmente de natureza cultural: o do folclore de portugueses da imigração mais recente no Brasil.

Danças regionais e outras expressões, ranchos, trajes e música - sem falar no fado -, considerados como característicos de uma cultura portuguesa, surgiam como expressões estrangeiras, distintos de expressões tradicionais de antigas origens cultivadas no Brasil e que indubitavelmente remontavam aos primeiros séculos de sua formação sob colonização portuguesa.

Se a tendência era, em geral, considerar antes as transformações ocorridas no Brasil na formação de expressões culturais diferenciadas, logo se constatou que o folclore português apresentado era resultado de circunstâncias históricas e político-culturas mais recentes, de ações dirigidas, de ensino e de recriações. Poderia ser comparado antes a resultados de criações de tradicionalistas e folcloristas voltados à aplicação de conhecimentos da pesquisa no Brasil.

Compreende-se, assim, que a história do pensamento e das iniciativas que levaram desde meados do século XIX a folclorizações que se tornaram fatores de identidade nacional constituiu repetidamente objeto de reflexões e discussões em meios da imigração portuguesa na Europa.

Esse debate foi desenvolvido em estreito relacionamento com a Missão Católica Portuguesa de Colonia, uma vez que o seu diretor durante anos foi o Dr. Armindo Borges, vice-presidente do ISMPS. (Veja)

Pontos altos dessa cooperação deu-se por ocasião de festival de folclore da imigração realizado em extraordinárias dimensões em 1987, e o do simpósio internacional realizado com a participação de pesquisadores brasileiros também em Colonia, em 1989.

Essa discussão surgia como necessária para o fomento de uma atitude refletida perante a prática lúdica de danças, costumes e música no processo integrativo por parte de imigrantes, contribuindo a ilucidações quanto a sua inserção em correntes de pensamento e minimizando, assim, riscos de tradicionalismo pouco esclarecido, obtuso e reacionário.

A consideração do significado do folclore em missões católicas da imigração européia levou à consideração de práticas em missões em países não-europeus, revelando-se, neste contexto, o do caso singular do Portuguese Settlement de Malaca. (Veja)

Não se tratando de comunidade de imigrantes, mas de malaio-portugueses de remotas origens portuguesas, a singular prática do folclore português reflete ali o papel primordial que cabe à ação de missionários do século XX no ensino e no fomento de expressões tradicionais/tradicionalistas e que solidificam uma singular convicção de identidade e sentimentos ufanistas em relação a uma pátria distante ou mesmo virtual.

A própria consciência histórica é turvada, uma vez que se projetam formas de expressão e características atribuídas aos portuguesas ao longínquo passado, supondo-se elos de continuidade. (Veja)

Os estudos impulsionados pela constatação as diferenças entre um folclore português atual e tradições de remotas origens ainda vivas no Brasil exigiram levantamento de fontes em documentos históricos e sua consideração contextualizada e de forma adequada na sua sucessão temporal.

Referências a danças, cortejos, folguedos, práticas religiosas e de culto em documentos da era dos Descobrimentos necessitavam ser consideradas nas suas relações com o calendário do ciclo de festas do ano, abrindo assim caminhos à

Problemática teórica do Folclore e Etnologia em organizações pontifícias

Tratou-se, desde a fundação de departamento de Etnomusicologia de instituto de estudos da organização pontifícia de música sacra, em 1977, de melhor compreensão de expressões tradicionais que já não são hoje, nem mesmo bem entendidas e interpretadas por teólogos.

Para a análise de origens e da linguagem visual dessas expressões, tornou-se necessário um estudo de fundamentos, tanto históricos, como a partir de resultados da pesquisa empírica assim como sistemáticos. Esses estudos levaram à Antiguidade tardia e a processos de cristianização dos primeiros séculos. Em encontros, seminários e simpósios realizados em diversas ocasiões, em particular também em Roma, fontes históricas foram levantadas e os fundamentos considerados interdisciplinarmente.

Necessária reconsideração do Padroado Português do Oriente

O estudo contextualizado de fontes da época dos Descobrimentos trouxe também à luz o significado da consideração de processos culturais desencadeados pelos portugueses no âmbito do Padroado Português do Oriente, também e sobretudo nas suas relações com Roma, com os Jesuítas e por fim com Propaganda Fide, fundada em 1622.

É esse desenvolvimento de relações marcadas por diferenças jurisdicionais, de rêdes e de procedimentos que permite análises mais aprofundadas de expressões culturais transmitidas pelos portugueses a regiões extra-européias e a processos religioso-culturais derivados da ação de Jesuítas tanto no Brasil como no Oriente.

Os estudos e reflexões levados a efeito em arquivos, bibliotecas e instituições pontifícias não teriam sido possíveis sem o apoio de S.E. Josef Cardeal Ratzinger, então Prefeito da Congregação remontante á antiga Propaganda Fide e posterior Papa Bento XVI. Nunca antes a instituição do Padroado Português, a sua ação religioso-cultural e as suas consequências tinham podido antes ser estudadas e valorizadas no próprio centro de uma instituição que em muitas situações com êle esteve em tensões.

Pelos 90 anos do Papa emérito, e em agradecimento por esse apoio, dedicam-se nesse número estudos que procuram elucidar alguns aspectos da ação portuguesa de fundamentação religiosa no âmbito do Padroado, estabelecendo-se pontes entre Malaca e o Brasil.

Lembrando as muitas ocasiões em que foram tratadas questões relativas a concepções marianas na música, nas artes e na arquitetura, encetam-se, neste número, reflexões sobre a arquitetura „chã“ nas suas relações com o cantochão ou Gregoriano em Portugal, em Malaca e no Brasil. Recordam-se, assim, concomitantemente, os primeiros encontros com músicos e professores do Seminário de Olinda à época da constituição da sociedade de estudos de processos culturais em 1977. (Veja)

É a partir da focalização a questões musicais que a ação de S. Francisco Xavier SJ em Malaca e dos Jesuítas que o seguiram pode ser mais adequadamente considerada. Aspectos pouco estudados e mesmo novas perspectivas foram objeto de estudos e discussões nas últimas décadas, hoje, porém, impõe-se a procura de novas „sonoridades“ na própria consideração desse passado para uma renovação de visões, estas até hoje por demais marcadas pela literatura missionária e por focalizações históricas portuguesas. (Veja)

O ciclo de estudos agora promovido em Malaca realiza-se após 20 anos de encontros e estudos levados a efeito em Macau e Hong-Kong, em 1996/1997 por motivo da passagem desses territórios à China.

No Instituto Inter-Universitário da Diocese de Macau - hoje Universidade de S. José - foram considerados tendências do pensamento, posições e desenvolvimentos na região a partir trabalhos que tinham sido até então realizados em arquivos europeus e do Vaticano. Esses encontros forneceram as bases para simpósio internacional realizado em Portugal, assim como a outros eventos na Europa, no Brasil e a outros ciclos de estudos no Oriente.

Entre estes, destacaram-se aqueles levados a efeito em Goa e Cochim, na Índia (Veja), assim como em Singapura e na Malásia. (Veja) Se os trabalhos então realizados neste último país concentraram-se em Kuala Lumpur e Penang, agora a atenção se dirigiu exclusivamente a Malaca.

Retomando reflexões a partir da situação presente: Islão e Coréia

Os trabalhos que agora se realizaram partiram de processos que se constatam no presente e que evidenciam problemas e desenvolvimentos críticos de dimensões transcontinentais.

Essa situação presente, em particular os movimentos identitários, nacionalistas e patrióticos, etnopluralistas e povísticos, revitalizam conceitos e anelos que pareciam já estar há muito superados e que exigem a consideração atenta no âmbito dos estudos culturais.

Os números anteriores desta revista oferecem relatos dos vários aspectos até hoje considerados em diferentes contextos nos estudos euro-brasileiros mais recentes. (Veja)

O principal motivo desses desenvolvimentos do presente é a preocupação pela islamização do Ocidente devido à imigração de grupos populacionais de países islâmicos à Europa. Pareceu ser assim oportuno trazer à consciência e analisar à luz dessas preocupações as ações portuguesas contra o poder e a expansão do Islão no arquipélago malaio, região na qual se concentrava após os sucessos portugueses na Índia. (Veja)

Outra situação conflitante que é motivo de preocupações na atualidade diz respeito às tensões entre a Coréia do Norte e a do Sul e do papel nele desempenhado pela China e Japão. Parece ser assim oportuno considerar o significado do porto de Malaca na história das relações de Portugal com a China e o Japão no século XVI. Essa consideração torna-se oportuna também pelo centenario de falecimento do escritor e origem açoriana António de Campos Júnior (1850-1917) que, nos se„Retalhos d‘uma Odyssêa“ salientou tensões seculares entre a China e o Japão, assim como a gratidão dos portugueses à China pela ajuda que teria sido concedida perante a ameaça dos potentados islâmicos em Malaca. (Veja)

O primeiro malaio que passou pelo Brasil: Henrique - o „Magalhães malaio“

Se as visões históricas de António de Campos Júnior traz à consciência o papel das imagens a serviço de auto-valorização patriótica em Portugal do início do século XX, torna-se necessário considerar também o papel de imagens do passado em anelos nacionais malaios.

É significativa neste contexto a importância assumida por um escravo malaio resgatado por Fernão de Magalhães (1480-1521) em Malaca e que participou na circum-navegação do mundo (1519-1522) e, no seu decorrer, também passou pelo Brasil.

Como personagem do romance histórico de Harun Aminurrashid (Harun bin Mohd Amin) (1907-1986), o „Henrique de Malaca“ passou a servir à auto-valorização malaia em diferentes países da região em mistura de fatos e ficção como se conhece no Brasil em outros contextos. (Veja)

Significativamente, esse malaio e o seu emprêgo literário nacionalista é importante objeto de consideração na exposição no bojo da nave „Flor do Mar“, uma réplica da legendária nau portuguesa do Museu Marítimo de Malaca (Veja).

Malaios e indígenas na Antropologia e Etnologia - papel do Brasil

O bicentenário de nascimendo de Fedor Jagor em 2016 (1816-1900), viajante que, com seus relatos marcou imagens sobre o Sudeste Asiático no século XIX, época da institucionalização da Antropologia e Etnologia na Alemanha, trouxe à lembrança as comparações que então fêz entre malaios e indígenas sul-americanos.

Mencionando explicitamente os Botocudos do Brasil, os dados por êle transmitidos foram empregados em livros de divulgação e de ensino de Geografia e de conhecimentos de povos. Nesse contexto, merecem ser salientados seus elos com a Berliner Gesellschaft für Anthropologie, Ethnologie und Urgeschichte, à qual pertencia, como membro de honra, Dom Pedro II. (Veja)

A menção dessa época dos estudos antropológicos e etnológicos traz novamente à luz as estreitas relações recíprocas entre a pesquisa cultural e aos estudos da própria ciência, uma orientação que é característica dos estudos euro-brasileiros como vem sendo desenvolvidos no âmbito da A.B.E..

Antonio Alexandre Bispo


Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. „Malaca/Brasil. Opulência e pobreza, portentosos e humildes na história de processos culturais à luz de problemas do presente“
. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 1671/(2017:3).http://revista.brasil-europa.eu/167/Malaca-Brasil.html


Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2017 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


Academia Brasil-Europa
Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)
reconhecido de utilidade pública na República Federal da Alemanha

Editor: Professor Dr. A.A. Bispo, Universität zu Köln
Direção gerencial: Dr. H. Hülskath, Akademisches Lehrkrankenhaus Bergisch-Gladbach
Corpo administrativo: V. Dreyer, P. Dreyer, M. Hafner, K. Jetz, Th. Nebois, L. Müller,
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