Malaca e Olinda - igrejas: outeiro e Graças
ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA 167

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Malaca.Fotos A.A.Bispo 2017. Olinda 1980©Arquivo A.B.E.

 


N° 167/2 (2017:3)


Malaca e Olinda - igrejas de Nossa Senhora do Outeiro e das Graças
fundações de Duarte Coelho Pereira (ca. 1485-1554)
capitão-donatário de Nova Lusitania (Pernambuco, 1534-)
- um ponto de partida para o estudo de relações Malaca/Brasil -

Reflexões nas ruínas da St.Paul‘s Church, Malaca
pelos 50 anos de encontro sobre música e arquitetura sacra com estudiosos do Seminário de Olinda

 

A igreja em ruínas que se eleva num outeiro em imediata proximidade do centro histórico de Malaca, em posição elevada da qual se avista o rio e o porto, é um dos principais bens e centro de atração dessa antiga cidade da Malásia que foi, no passado, importante fortaleza portuguesa.

Placa informativa no local informa que as pedras utilizadas na igreja, assim como na Porta de Santiago e no Forte de S. João são laterites encontrados nas áreas costeiras e nas ilhas das vizinhanças de Malaca. Foram obtidas de Pulau Upeh (ilha de Upeh) e de outras ilhas como Pulau Jawa e Pulau Panjang. As pedras eram cortadas manualmente.

Conquistada em 1511, até então potente sultanato islâmico do comércio e da navegação no Estreito Malaio entre o Índico e o Pacífico, centro de relações com a China, Malaca tornou-se posto avançado da presença militar e religiosa ocidental no Oriente. O patrimônio histórico e arqueológico que resta desse passado justifica que Malaca tenha passado a ser considerada, em 2008, parte do Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO.

Esse núcleo histórico de Malaca deixa perceber sentidos e mesmo uma mensagem; êle evidencia determinada compreensão de processos históricos e visões prognósticas, manifesta uma coerência e uma lógica que faz supor procedimentos e planos de natureza político-cultural ou de um sistema cultural agente no homem ainda que de forma não consciente. Malaca surge assim como sendo altamente significativa para estudos de processos culturais em relações globais do presente e do passado.

Partindo de primeiras impressões da igreja do outeiro de Malaca

A arruinada igreja é procurada por grande número de visitantes de todo mundo e diferentes religiões. É alcançada por rampas e escadas que conduzem através de modesto jardim ao alto dominado por uma torre caiada de branco e que se encontra defronte à fachada da igreja.

Malaca. Foto A.A.Bispo 2017. Copyright

Malaca. Foto A.A.Bispo 2017. Copyright
Já numa primeira aproximação percebe-se que a torre não se coaduna estilisticamente com a igreja, que em parte a encobre, surge como um corpo estranho no conjunto, prejudica a percepção da igreja na sua nobre simplicidade, revelando ter sido construida posteriormente.

Essa torre se eleva à frente da nave, vazia, sem cobertura, da qual apenas restam paredes escurecidas pela ação do tempo e pelo clima. No estado deteriorado do revestimento, reconhecem-se as grandes pedras com que foram construídas.

No seu interior, na nave única, no amplo coro em que se encontrava o altar, assim como em espaços a êle contíguos, os visitantes se deparam com grandes lápides de pedra de antigos túmulos, artisticamente lavradas, com armas, ornamentos, dizeres e nomes em latim, português e neerlandês. Evidenciam terem sido ali colocadas em décadas relativamente recentes, o que de de fato aconteceu: encontradas em escavações, foram dispostas pelas paredes das ruínas como placas memoriais em 1935.

A igreja arruinada surge como espaço museal ou mausoléu e a predominância de lápides holandesas acentua justamente a época da sua decadência e na qual serviu como cemitério.

Malaca. Foto A.A.Bispo 2017. Copyright
Com a tomada neerlandesa de Malaca e subsequente protestantização, a igreja de Malaca, agora reformada, foi substituída por outra, na baixada, junto à área portuária e comercial, a Christ Church, terminada em 1753.

Ainda hoje é essa a igreja que, bem conservada, é encontrada por aqueles que atravessam a ponte da cidade, dominando o seu centro mercantil.

Sem as funções que exercia, a igreja do monte passou a servir de local de enterramento, entrando em crescente abandono.

A denominação atual a igreja, St. Paul‘s Church, é compreensível sob o pano de fundo desse passado. Ela passou a ser designada segundo o antigo colégio dos jesuítas que existira a ela adjunto, ou seja, São Paulo, o „Apóstolo dos gentios“ - como o de Macau ou de São Paulo. Foi esse o nome que atravessou os séculos, não significa, porém, que tenha sido esta a sua primitiva dedicação. 

A denominação em inglês explica-se pelo domínio britânico no século XIX. Já nem mesmo como cemitério passou a mesma a servir. Foi pragmaticamente usada como depósito, ali depositando-se pólvora como munição à época dos combates contra Java em 1810/11, levantando-se mastro de bandeira e ali instalando-se farol. Aproveitando a altura do outeiro, de onde se descortina as terras planas e as águas, tornou-se essa local de sinalização e luz, agora já não mais no sentido metafórico ou religioso do termo. Na parte baixa da cidade, a Christ Church foi reformada e transformada em igreja anglicana.

No decorrer das décadas, perdendo as suas funções práticas, a antiga igreja do outeiro arruinou-se.

Se a predominância de lápides holandesas acentua o passado da igreja como templo reformado, cemitério e uso pragmático de séculos posteriores, a sua história mais antiga é lembrada pela tumba de metal que se encontra no espaço do antigo coro e pela estátua de S. Francisco Xavier SJ (1506-1552) levantada em frente à torre. (Veja)

Ambos lembram que esse „apóstolo do Oriente“ viveu e atuou em Malaca, tendo esta desempenhado importante papel no caminho que o levou ao Japão e à China. Trazem também à memória que S. Francisco Xavier após a sua morte em Sansian, nas circunvizinhanças de Cantão, o seu corpo foi ali conservado por meses antes de ser trasladado a Goa. (Veja)

Essa tumba é até hoje local com características numinosas, usado supersticiosamente por visitantes das mais diferentes religiões que atiram moedas a seu fundo na expectativa de sorte.

Assim aguçada a atenção, aquele que visita a igreja passa a perceber as lápides com inscrições em português de antigos religiosos que se encontram nos muros do coro e dos seus espaços laterais.

As dimensões da construção passam a ser percebidas como evidência do significado que os jesuítas deram a essa igreja que servia ao colégio na segunda metade do século XVI.

Malaca. Foto A.A.Bispo 2017. Copyright

Nessa grandeza e na solidez de sua construção traz à memória uma fase da história da Companhia de Jesus na sua atuação nos diversos continentes e que já não era a inicial.

Como em outros locais, a expansão das atividades dos missionários, os seus sucessos quanto a número de catecúmenos e alunos, mas também um novo espírito do tempo e novas tendências eclesiásticas e político-culturais na Europa levaram a construções maiores e mais adequadas a concepções de dignidade do culto, substituindo aquelas mais modestas das primeiras décadas.

É significativo que tenha sido um jesuíta napolitano - Alessandro Valignano SJ (1539-1606) - cujo nome entrou na história da arquitetura sobretudo devido à igreja e ao colégio de São Paulo em Macau, fundado em 1594 e cuja fachada é ainda hoje monumento emblemático do antigo território português na China - aquele que iniciara a grande igreja no outeiro em substituição a uma outra, então demolida, e que remontava aos anos de 1566/67. O campanário dessa igreja de Malaca foi levantado em 1590.

Já o nome de Valignano indica um excepcional significado que cabe à igreja do outeiro na história da arquitetura em relações Ocidente/Oriente, uma importância hoje apenas intuida no estado arruinado em que se encontra.Tanto em Malaca como em Macau o Jesuíta criou ao lado da igreja da Madre de Deus um colégio de São Paulo.

Descendo pela encosta por detrás da igreja, aquele que visita o outeiro passa por cemitério com antigos túmulos, sem cruzes, indicando não serem jazigos católicos. Ao pé do monte, surpreendentemente pequena e encravada em reduzido espaço, encontra-se um outro e mais conhecido bem histórico de Malaca, a deteriorada Porta de Santiago, relito da antiga fortaleza „A Fermosa“, conhecida como „Famosa“. Em área fronteiriça, fundamentos de muros e baluartes escavados por arqueólogos revelam as dimensões das antigas fortificações. (Veja)

Nas proximidades, encontra-se em área fechada o reconstruído palácio dos antigos soberanos locais. A via que contorna o outeiro é marcada por vários museus, de etnografia, de história local, de transportes e, sobretudo do grande e representativo museu do Islão no mundo. Assim emoldurado, o outeiro surge não só como área museal, mas como símbolo de um complexo passado submerso e subjugado, de ruínas da presença cristã-ocidental nas suas diversas fases e diferenças confessionais em nação na qual impera o Islão.

O igreja do outeiro em olhar brasileiro - retomando reflexões de 50 anos

O brasileiro que visite o outeiro não pode deixar de perceber um ambiente que muito lembra o Brasil. As ruínas da igreja, na sua arquitetura e inserção na natureza, poderiam encontrar-se em alguma elevação da costa brasileira. A memória da ação de jesuítas no passado acentuam essa percepção de elos comuns.

Com os seus túmulos holandeses, a igreja de Malaca traz à consciência que também o Nordeste do Brasil teve o seu período holandês no século XVII, contribui assim ao aguçamento da sensibilidade e da atenção a processos que se desenrolaram em dimensões globais e nos quais o Brasil se inseriu.

A igreja do outeiro de Malaca adquire assim um significado inesperado para estudos relacionados com o Brasil.

A igreja traz à lembrança sobretudo a igreja de Nossa Senhora das Graças do Seminário de Olinda e o significado de religiosos, seminaristas e músicos desse Seminário no desenvolvimento das reflexões que, há meio século, levaram ao movimento e à sociedade de estudos de processos culturais.

No convívio e em diálogos primeiramente em Curitiba, em 1967, e a seguir em Pernambuco, considerou-se diferentes aspectos musicais e histórico-arquitetônicos da história eclesiástica, missionária e cultural do Nordeste, expressões tradicionais e, sob o seu signo, questões que então se colocavam em época de renovação pós-conciliar. Principal personalidade desses estudos do Nordeste nas suas inserções em processos religioso-culturais globais foi a do pesquisador Pe. Jaime Alves Diniz. (Veja)


Origens: capela edificada por Duarte Coelho Pereira (ca. 1485-1554)

A história revela que os elos com o Brasil percebidos no outeiro de Malaca não são arbitrários, nascidos de impressões e considerações subjetivas.

A igreja hoje arruinada remonta a capela construída, segundo o testemunho de João de Barros (1496-1570), em 1520/21 por Duarte Coelho Pereira , ou seja, aquele que entrou na história do Brasil como primeiro capitão-donatário da Capitania de Pernambuco e fundador de Olinda.

Apenas posteriormente, em 1548, a igreja passou à Companhia de Jesus por ordem do Arcebispo de Goa. O documento de posse foi assinado, em nome da Companhia, por S. Francisco Xavier.

A atenção deve ser assim, dirigida a essas décadas que precederam a chegada dos jesuítas e que deu início a uma nova era da ação religiosa nas suas relações com desenvolvimentos na Europa.

Sabe-se que Duarte Coelho Pereira viajou primeiramente ao Brasil em 1503, quando acompanhou expedição comandada pelo seu pai, Gonçalo Coelho (1451-1512). Foi após essa experiência brasileira que ocorreu a sua viagem à Índia em 1506.

Na sua carreira político-diplomática percorreu e atuou em diferentes países, ganhando experiência como embaixador do Sião, em 1516, e conhecimentos em visita à China, em 1521, ocasião em que vivenciou a tempestade que o teria salvo de inimigos e que o levou à construção da capela de Malaca.

Após estadia em Portugal, de 1527 a 1531, retornou à Índia. Se esteve no Brasil antes de dirigir-se ao Oriente, agora foram as experiências ali obtidas que devem ser levadas em conta na consideração de suas ações no Brasil.

Em 1532, comandou esquadra que devia manter os franceses distantes da costa do Brasil e, pelos seus serviços, recebeu, em 1534, a capitania de Pernambuco ou Nova Lusitânia, região que atualmente compreende os estados de Pernambuco e Alagoas.

Duarte Coelho Pereira e igrejas em Pernambuco: Igaraçú e Olinda

Chegando a Pernambuco em 1535, trouxe consigo parentes e famílias do Norte de Portugal. A sua cultura religiosa, marcada pelas tradições marítimas, teve a sua expressão nas suas atividades de fundação de cidades e, em particular da construção da igreja de Cosme e Damião de Igaraçu, santos invocados por homens do mar, também em momentos de atribulações, uma capela considerada como a mais antiga o Brasil.

Em 1537, elevou a vila o povoado de Olinda, que se desenvolvera no local da aldeia indígena de Marim dos Caetés. A igreja de Nossa Senhora do Outeiro, da Graça ou da Anunciada de Malaca pode ser considerada em paralelos igreja de Nossa Senhora da Graça em Olinda, construida sob Duarte Coelho Pereira em 1551.

Como em Malaca, foi ela primitivamente uma pequena capela de taipa ou oratório construída no alto de um morro. Também como em Malaca foi ali que os jesuitas iniciaram as suas atividades missionárias. Assim como em Malaca, a primitiva capela deu lugar a uma maior, em 1567, pelo Pe. Antonio Pires SJ (+1572), desde 1550 no Brasil, e, a seguir, aumentada entre 1584 e 1592.

Após o incêndio de Olinda, em 1631, foi reconstruida, juntamente com o colégio, em 1661/2. No século XVIII, a sua aparência foi transformada, em particular com a abertura de janelas no piso superior, ganhando uma configuração que muito se assemelha àquela de Malaca. Em ambos os casos o visitante defronta-se com uma arquitetura marcada por simplicidade e despojamento, à qual tem-se empregado o conceito de „arquitetura chã“, mas que vem significativamente de encontro à imagem de Maria na Anunciação.


Nsa. Sra. do Outeiro/Monte, das Graças, da Anunciação, Madre de Deus

Diferentemente do que hoje é sugerido nas ruínas da igreja de Malaca, a sua consideração não deve partir da presença dos jesuítas, mas sim da anterior capela, a que revela o já antigo significado numinoso do monte que se eleva dos baixos de Malaca junto às águas.

A construção da primitiva igreja não foi devida a uma ordem oficial real ou da administração portuguesa local, mas sim a iniciativa particular, o que aumenta o seu interesse para estudos culturais por refletir concepções e imagens da religiosidade popular. A pequena capela era tão venerada pelos moradores que, quando os jesuítas, entre 1561 e 1564 a quiseram reformar, acrescentando-lhe um segundo andar, teriam encontrado resistência por parte da população.

Duarte Coelho Pereira a teria levantado em agradecimento pelo fato de ter sido salvo do ataque de uma frota inimiga no mar do sul da China por uma tempestade. O fato de ter-se salvado surgiu como milagre devido à proteção ou talvez intervenção de Maria e a sua mediação no recebimento de graça divina, o que sugere que a teria invocado em hora de atribulação e perigo de morte no mar.

Significativamente, dedicou a capela, possivelmente cumprindo voto, a Nossa Senhora da Graça. As várias designações marianas - do outeiro ou do monte, das Graças ou a Nossa Senhora da Anunciada -, referem-se ao mesmo complexo de sentidos baseado na descrição dos Evangelhos: ao da Anunciação, celebrada no calendário católico no dia 25 de março.

O culto mariano em Portugal, no Brasil e no Oriente - encostas e outeiros

A construção de uma capela no outeiro em ato de agradecimento ou cumprimento de voto por Duarte Coelho Pereira dá testemunho do significado do culto mariano na cultura portuguesa nas suas expressões e efeitos tanto no Brasil como no Oriente.

O fato de ter sido Duarte Coelho Pereira, natural do Porto, criado pela prioresa do Mosteiro de Vila Nova de Gaia pode abrir caminhos para o estudo de sua cultura religiosa. Esta teria correspondido a tradições e práticas do norte de Portugal.

Os elos com o mar e com o monte que se manifestam na capela do outeiro de Malaca revelam imagens e concepções de antiga proveniência em complexas interações da antiga cultura e da tradição bíblica.

Numerosas são as igrejas dedicadas a Maria em altos de montes e colinas na Europa, e muitas delas podem ser registradas em Portugal, na Madeira, nos Açores, e nos locais marcados pela presença portuguesa no Brasil, na África e no Oriente. Talvez seja a igreja de Nossa Senhora do Monte na Madeira a mais conhecida de todas. Não se pode sobretudo esquecer o papel da devoção mariana na Índia, sendo um de seus mais significativos monumentos da época da conquista a Igreja do Rosário de Goa. (Veja

A. de Albuquerque (1453-1515), a igreja da Graça em Lisboa e Malaca

A dedicação da capela construída por Duarte Coelho Pereira no alto do outeiro de Malaca a Maria - das Graças ou da Anunciada - evidencia o significado da Anunciação como fundamento da veneração mariana em Malaca.

Correspondendo à atenção dada ao anúncio do anjo a Maria na Europa da época - do que dá testemunha a arte de fins da Idade Média e da Renascença - a Anunciação foi de importância na vida religioso-cultural de Malaca já à época da sua conquista. A capela de Duarte Coelho Pereira em 1520/21 veio de encontro a esse significado do qual já se tem testemunho de 1512.

No dia 1 de abril desse ano, ou seja, alguns meses após a conquista e logo após a festa de 25 de março, Afonso de Albuquerque, possivelmente ainda sob a impressão de alguma pregação, escreveu ao rei de Portugal salientando a necessidade de haver um retábulo da Anunciação na igreja de Malaca. Malaca necessitava de uma representação da cena em obra de valor. Devido à riqueza da cidade, também a igreja precisava estar à altura quanto à configuração e expressões do culto. O rei deveria dar ordens ao feitor que aqui não economizasse.

„(...) a igreja de Malaca ha mester hum retavollo da Anunciaçam de Nossa Senhora e seja rico, porque ha hy mais ouro e azull em Malaca que nos paços de Simtra. E hum pomtyficall ben o merece Malaca. Damascos, sedas e brocados mamde Vossalteza ao voso feitor que gaste bem deles, que em Malaca se acharam em abastança. Dos dous panos ricos que aqui tinha esta igreja de Cochim, lhe mandey gum.“ (Albuquerque escreve a El-Rei sobre varios assuntos 1 de Abril de 1512. 61, Documentação para a História das Missões do Padroado Português do Oriente:India, coligida e anotada por A. da Silva Rego, I, Lisboa 1991, págs 145 ss., 149-150)

A menção à Anunciada na carta de A. de Albuquerque não pode deixar de trazer à lembrança a igreja da Graça em Lisboa, também em situação elevada, da qual se avista a cidade e o mar.

Como considerado em encontros ali realizados, a história dessa igreja relaciona-se estreitamente com a Ordem dos Agostinianos Eremitas.

A sua configuração atual, porém, determinada pela sua reconstrução após o terremoto de Lisboa, obscurece a sua longa história e a o significado que desempenhou na Idade Média e à época dos Descobrimentos.

De antigas origens, fundado no local onde D. Afonso Henriques e suas tropas se estabeleceram durante o cerco de Lisboa em 1147, o simbolismo religioso da localidade relaciona-se estreitamente com a história de Portugal e ao processo de combate aos mouros.

A partir de 1291, tornou-se sede da Ordem de Santo Agostinho em Portugal, sendo consagrado a Nossa Senhora da Graça em 1305 segundo promessa de um de seus frades feita em Roma. Das tradições relacionadas com a devoção, pode-se salientar aquela que afirma que a venerada imagem teria anunciado que os exércitos de D. João I (1357-1433) venceriam na batalha de Aljubarrota, um fato anualmente renovado em tradicional procissão e que salienta o significado da Anunciação para Portugal.

Antes de partir para a Índia, A. de Albuquerque, às vésperas da festa da Anunciação, a 24 de março de 1506, instituiu por testamento uma capela na igreja da Graça. Nela, em 1566, os seus restos mortais foram sepultados na capela-mor da igreja.

É significativo que, na sua carta, o conquistador de Malaca se lembre da música. O fato de mencionar que a existência de órgãos seria de importância na cidade e que ali não haveria falta de quem os pudesse executar, já alvo de atenção nos estudos da prática sacro-musical nas ações portuguesas nas diferentes regiões. Deve-se sobretudo lembrar as dimensões musicais da Anunciação, sempre lembrada na Ave Maria.

E asy orgãaos pera estas igrejas da Imdia pareçeram qaa muy bem, porque nunca qaa falece quem os saiba tamjer. E porque me nam esqueça, digo, Senhor, que estas igrejas am mester livros missaees meãaos, porque nam ha hy senam podres e esferrapados e destes muy poucos. (ibidem)

Veja em continuidade

De ciclo de estudos da A.B.E. sob
a direção de

Antonio Alexandre Bispo


Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. „ Malaca e Olinda - igrejas de Nossa Senhora do Outeiro e das Graças - fundações de Duarte Coelho Pereira (ca. 1485-1554), capitão-donatário de Nova Lusitania (Pernambuco, 1534-). Um ponto de partida para o estudo de relações Malaca/Brasil“
. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 167/2(2017:3). http://revista.brasil-europa.eu/167/Malaca_e_Olinda.html


Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2017 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


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Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)
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Editor: Professor Dr. A.A. Bispo, Universität zu Köln
Direção gerencial: Dr. H. Hülskath, Akademisches Lehrkrankenhaus Bergisch-Gladbach
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Fotos A.A.Bispo.
Malaca 2017, Igarassu e Olinda 1981, Lisboa 1987 ©Arquivo A.B.E.