Astronomia nas relações científicas multilaterais
ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA 170

Correspondência Euro-Brasileira©

 
Atenas. Foto A.A.Bispo 2017. Copyright

Atenas. Foto A.A.Bispo 2017. Copyright

Atenas. Foto A.A.Bispo 2017. Copyright

Atenas. Foto A.A.Bispo 2017. Copyright

Olimpo e Universidade de Atenas. Fotos A.A.Bispo 2017©Arquivo A.B.E.

 


N° 170/8 (2017:6)


Céus da Grécia, da Alemanha e o Brasil

Johann Friedrich Julius Schmidt (1825-1884) e Dom Pedro II (1825-1891)
Desenvolvimento da Astronomia e Geologia nas relações científicas multilaterais
entre a Grécia e a Alemanha no seu significado para o Brasil


Visita ao Olimpo no âmbito dos estudos euro-brasileiros realizados na Grécia, em 2017

 
Olimpo. Foto A.A.Bispo 2017. Copyright

Johann Friedrich Julius Schmidt foi uma das personalidades da história científica alemã e grega consideradas nos estudos euro-brasileiros desenvolvidos na Grécia em 2017. Estes estudos foram realizados sob o signo das estreitas relações históricas entre a Alemanha, em particular entre a Baviera e a Grécia no século XIX.

O Filohelenismo decorrente da formação humanística de personalidades influentes da política, da cultura e das artes explica o fascínio pela antiga Grécia e o apoio dado ao movimento de independência grego pelos europeus em geral e, em particular pelos bávaros.

O fato de que o primeiro rei da jovem nação que se fêz independente do domínio otomano ter sido um prícipe bávaro - Otto I (1815-1867) -  evidencia o papel desempenhado pela Baviera e pela Europa de língua alemã em geral no desenvolvimento do país.

A cultura e as ciências foram de fundamental importância na criação da consciência nacional e na consolidação do reino da Grécia. Estudantes gregos estudaram em universidades alemãs e especialistas alemães de diferentes áreas atuaram na Grécia. Essas relações recíprocas não se restringiram aos estudos da Antiguidade e à Arqueologia, mas se estenderam a outras áreas do conhecimento, da literatura, das artes plásticas e da arquitetura.

Também o desenvolvimento dos estudos universitários e das instituições científicas revelam esses estreitos elos entre o jovem reino da Grécia e os países europeus de língua alemã.

O Brasil, proclamado independente à mesma época da Grécia, também experimentou um desenvolvimento de décadas no qual personalidades da literatura, da cultura e das artes contribuiram intensamente para a construção de uma identidade nacional e para a criação de uma imagem no Exterior favorável ao seu reconhecimento político e à sua respeitabilidade como nação.

Como no caso da Grécia, também brasileiros estudaram em universidades européias e europeus contribuiram para o desenvolvimento de instituições, das artes e da música no Brasil.

Dom Pedro II foi o principal vulto que personificou um Brasil voltado ao progresso dos conhecimentos nas mais diversas áreas. Tanto no caso grego como no brasileiro, a diplomacia cultural desempenhou importante papel nas relações internacionais.

História das ciências nas suas inserções em processos político-culturais

Se as relações recíprocas entre o Brasil e a Europa na literatura, nas artes e na música já foram objeto de estudos sob diferentes aspectos, os elos nas áreas científico-naturais clamam por maior atenção. O mesmo parece poder ser afirmado relativamente à Grécia. A consideração interrelacionada mais atenta dos elos entre cientistas e instituições surge como um desideratum também sob a perspectiva dos estudos de processos culturais.

Nesse contexto, compreende-se a lembrança do nome de J. F. J. Schmidt (ou Schmit), um astrônomo, geólogo e geógrafo nascido na cidade alemã de Eutin e que passou grande parte da sua vida em Atenas, onde desenvolveu importantes trabalhos e onde faleceu.


Johann Friedrich Julius Schmidt e a Universidade de Bonn

Um primeiro contato com o nome e a obra de Johann Frierich Julius Schmidt no âmbito dos estudos euro-brasileiros deu-se no âmbito da atuação do editor desta revista na Universidade Friedrich-Wilhelms de Bonn.

J. F. Julius Schmidt, que  trabalhou no Observatório de Bonn com Frierich Wilhelm August Argelander (1799-1875) é lembrado como membro da Burschenschaft Friedericia Bonn - uma „bucha“ acadêmica - assim como um dos fundadores da Burschenschaft Frankonia em 1845. Nomeado em 1868 a Doutor honorário, a sua memória é mantida viva na universidade como um de seus mais destacados vultos.

Antes de transferir-se para Bonn, trabalhara nos observatórios de Hamburg am Millerntor com Karl Rümker (1788-1862), um astrônomo que veio a falecer em Lisboa. Embora tenha-se interessado desde cedo pela Astronomia, em particular pela observação da lua, na sua formação escolar em Eutin e ginasial em Hamburgo, onde visitava o observatório de Altona, foi com Karl Rümker que J. Schmidt foi introduzido sistematicamente na Astronomia. Com a descoberta que fêz de um novo cometa, passou a ser conhecido no meio científico. Publicou, nessa época, observações sobre Saturno e seu anel („Beobachtungen über Saturn und dessen Ring im Jahre 1848“, Astronomische Nachrichten, Altona 1848).

Transferindo-se para Düsseldorf, trabalhou como assistente do cientista físico Johann Friedrich Benzenberg (1777-1846) no seu observatório particular de Bilk. O falecimento deste último foi motivo de sua transferência para Bonn, em 1846.

A sua trajetória profissional levou-o ao Leste. Já em 1851 publicou observações feitas da eclipse solar total numa cidade a Prússia (Beobachtung der totalen Sonnenfinsternis vom 28. Juli 1851 zu Rastenburg in Ostpreußen), e, no ano seguinte, resultados de dez anos de observação de estrelas cadentes em Berlim (Resultate aus zehnjährigen Beobachtungen über Sternschnuppen. Berlin 1852).

Em meios austríacos ligados à Grécia e transferência a Atenas

Em 1853, passou à cidade hoje tcheca de Olmütz, onde obteve a direção do observatório de Eduard von Unkrechtsberg (1790-1870), erudito austríaco de estreitos elos com a Igreja. Nessa época publocou uma obra sobre a erupcão do Vesúvio em maio de 1855 (Die Eruption des Vesuv im Mai 1855, Viena, Olmütz 1856). No mesmo ano, publicou uma obra sobre a lua (Der Mond, Leipzig, 1856)

Em 1858, foi nomeado a diretor do Observatório de Atenas, instituição financiada por Simon von Sina (1810-1876), banqueiro grego estabelecido na Áustria-Hungria de grandes posses e astrônomo e que apoiou vários empreendimentos culturais e científicos, entre êles o Observatório e a Academia de Atenas. (Veja)

O seu principal interesse continuou a ser sobretudo a observação da lua, tendo já desde a sua juventude estudado publicações e mapas. Uma das suas muitas publicações nesse sentido foi sobre estrias na lua (Über Rillen auf dem Mond, Leipzig 1866).

Uma das suas observações que causaram surprêsa no meio científico e levou a questionamentos foi a sua suposta constatação, em 1866, de que a cratera Linné tinha desaparecido. Essa constatação sugeria que havia mudanças geológicas na lua, o que incentivou a realização de novas observações e intensificou o interesse internacional por trabalhos selenológicos.

Paralelamente a seus trabalhos astronômicos, continuou a desenvolver estudos geológicos, em particular sobre vulcões e terremotos (Vulkanstudien, Leipzig 1874; Studien über Erdbeben, Leipzig 1875).

O renome que obteve na Alemanha com os seus trabalhos em Atenas levou não apenas à obtenção do doutorado h.c. da Universidade de Bonn, como também à sua nomeação como membro correspondente da Academia das Ciências de Göttingen.

Em 1877, publicou um mapa da lua iniciado por Wilhelm Gotthelf Lohrmann (1796-1840) (Mondcharte in 25 Sectionen, Berlin 1877), em 1878, um mapa com mais de dois metros de comprimento (Charte der Gebirge des Mondes nach eigenen Beobachtungen in den Jahren 1840-1874. Berlin: Ministeriumnder Geistlichen, Unterrichts-und Medizinal-Angelegenheiten, Dietrich Reimer, 1878). Tudo indica que foi essa grande publicação a que foi oferecida a Dom Pedro II em Atenas e enviada ao Rio de Janeiro em 1878.

Visita de Dom Pedro II ao Observatório de Atenas em 1876

Como diretor do Observatório Astronômico de Atenas, foi procurado por Dom Pedro II em outubro de 1876.

Com essa visita ao Observatório, o imperador brasileiro demonstrou mais uma vez que não se interessava apenas pelas Ciências Humanas, como também pelas naturais ou exatas. Se a sua viagem à Grécia foi sobretudo motivada pelo seu interesse pelas revelações arqueológicas que se faziam na época, a sua visita ao Observatório de Atenas evidencia a amplidão da sua procura de conhecimentos. Estes, direta ou indiretamente foram postos a serviço do Brasil.

Nessa sua visita, Dom Pedro II teve a oportunidade de conhecer o trabalho astronômico de décadas de J.F.J.Schmidt, trabalho este marcado por uma atenção especial à selenotopografia. Á época da sua visita, esse astrônomo comunicou a sua intenção de oferecer-lhe uma obra dessa sua especialização. Esta, porém, ainda não terminada e pelas suas dimensões foi apenas posteriormente enviada.

Em ofício dirigido em 1878 ao Enviado Extraorinário e Ministro Plenipotenciário o Brasil na Alemanha, Barão de Jauru, Conselheiro César Sauvan Viana de Lima (1824-1897), Dom Pedro II pedia agradecer ao „Júlio Schmit, Diretor o Observatório Astronômico de Atenas“, a obra selenotopográfica a êle oferecida e então enviada. Dom Pedro estimava muito que o trabalho de 30 anos do astrônomo tivesse sido publicado, „aproveitando assim a todos os homens que prezam a ciência“ . (Dom Pedro II e a Cultura, org. Maria Walda de Aragão Araújo, Rio de Janeiro: Ministério da Justiça, Arquivo Nacional, 1977, N° 724,  pág. 134)

Relatos da viagem de estudos da A.B.E. à Grécia em 2017
sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo



Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. „Johann Friedrich Julius Schmidt (1825-1884) e Dom Pedro II (1825-1891). Desenvolvimento da Astronomia e Geologia nas relações científicas multilaterais entre a Grécia e a Alemanha no seu significado para o Brasil“
. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 170/8(2017:6).http://revista.brasil-europa.eu/170/Johann_Julius_Schmidt.html


Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2017 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


Academia Brasil-Europa
Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)
reconhecido de utilidade pública na República Federal da Alemanha

Editor: Professor Dr. A.A. Bispo, Universität zu Köln
Direção gerencial: Dr. H. Hülskath, Akademisches Lehrkrankenhaus Bergisch-Gladbach
Corpo administrativo: V. Dreyer, P. Dreyer, M. Hafner, K. Jetz, Th. Nebois, L. Müller,
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