Nauplia. Fotos A.A.Bispo 2017©Arquivo A.B.E.

Os 150 anos de falecimento de Otto I da Grécia, um príncipe da Baviera - Otto von Wittelsbach -, deu ensejo, em 2017, a rememorações de sua pessoa e a comemorações das estreitas relações históricas entre a Grécia e a Alemanha, em particular com a Baviera.

Nesse estado-livre da Alemanha há uma cidade na circunscrição de Munique que traz o seu nome - Ottobrunn - assim designada em 1913 devido à proximidade de uma coluna em memória do rei Otto da Grécia. O seu nome encontra-se em várias outras denominações, estando sempre presente nessa parte da Alemanha.

Em Ottobrunn existe desde 1989 um museu a êle dedicado (Otto König von Griechenland-Museum). O seu fundador, o médico e político local Jan Murken, é autor de uma biografia (König-Otto-von Griechenland-Museum der Gemeinde Ottobrunn, 1994), republicada em 2016 em edição de bolso.

Em 2015, Reinhold Friedrich, com palavras introdutórias de Jan Murken, publicou uma biografia do rei Otto I pelos 200 anos de seu nascimento. (König Otto von Griechenland, München: Allitera, 2015). Nesta obra, salienta o papel do Filohelenismo na Europa, em particular na Baviera e suas relações com a política de sua época.

No museu e nessas obras, a cidade de Naplion recebe compreensivelmente particular atenção, uma vez que foi a primeira capital do reino da Grécia. Significativamente, desde 1976 mantém a cidade de Ottobrunn uma parceria com essa cidade, a primeira nas relações entre a Grécia e a Alemanha. As estreitas relações entre a Grécia e a Baviera são celebradas anualmente no verão no dia grego-bávaro de cultura na praça Odeon do centro de Munique.

Em visita de estudos de convidados brasileiros da A.B.E. a cidades da Baviera, no corrente ano, entre elas a Bamberg, cidade onde Otto I faleceu, considerou-se, apesar de todas as diferentes de contextos, os paralelos epocais de processos de independência nacional entre a Grécia e do Brasil, uma vez que também na Grécia uma assembléia nacional proclamou, em Epidauros, a independência em 1822.

Nas lutas que marcaram essa fase da história grega, participaram filohelenos de países europeus o que levou, em 1827, ao alcance da independência do Império Osmânico na Batalha de Navarino.

Tendo-se feito independente do Império Osmânico no âmbito da revolução grega iniciada em 1821, a jovem nação teve como regente Ioannis Kapodistrias (1776-1831) e, após o seu assassínio, o príncipe Otto, nomeao a rei grego por uma assembléia nacional.

A opção pela forma monárquica de govêrno favorecia o reconhecimento da nação pelas potências européias, tendo-se pensado em oferecer a coroa, em primeiro lugar, ao Príncipe Leopold de Sachsen-Coburg-Saalfeld (Gotha) (1790-1865) que, porém, a recusou; tornou-se posteriormente Rei dos Belgas.

O intento de considerar com mais atenção desenvolvimentos históricos nos dois países de forma relacionada e de elos entre a Europa Central de língua alemã, a Grécia e o Brasil no século XIX levou a uma viagem de estudos a Naplion com o sentido de desenvolver reflexões sob impulsos do próprio ambiente histórico.

Essa cidade adquire significado para os estudos brasileiros sobretudo também pelo fato de localizar-se nas proximidades de Micenas, entre outros sítios arqueológicos, antigas ruínas visitadas por Dom Pedro II (1825-1891). (Veja)

„Napoli di Romania“: significado para estudos culturais de arquitetura

Foi em Nafplio, no Golfo da Argólia no Peloponeso, que chegou o rei Otto I em 1833, então com apenas 17 anos, assumindo uma Regência os negócios governamentais. A cidade foi capital do reino apenas por um ano, quando então foi transferida para Atenas. Até a sua deposição, em 1862, Otto Ifomentou intensamente os estudos da cultura helênica da Antiguidade pré-cristã.

A cidade de Nafplio ou Nauplion impressiona pelo caleidoscópio arquitetônico que apresenta e que documenta uma história conturbada de sua integração em diferentes contextos. Conquistada por Veneza no século XIII, manteve - apesar de uma fase de ocupação turca no século XVI - esse vínculo, tornando-se, entre 1686 e 1715, capital a província Morea.

Esse passado da cognominada „Napoli di Romania“ ainda pode ser percebido na sua arquitetura.

Com nova ocupação turca e com a falta de escolas, jovens gregos passaram a realizar estudos na Baviera, chegando a surgir em Munique uma colonia grega.

A própria cidade de Munique, devido à fascinação de Luís I (1786-1868) pela antiga Grécia, assumiu com os seus edifícios classicistas um aspecto que lhe valeu a designação de „Atenas às margens do Isar“, nome do rio que a corta.

Devido ao estado deplorável dos monumentos de Atenas, Luís I enviou para a capital grega arquitetos de renome, conseguindo-se impedir a demolição definitiva do Parthenon. Como comemoração desse feito, levantou-se em Munique uma cópia do portal principal da Acrópole.

Dom Pedro II em Nafplio/Nauplia em 1876

Quando da sua ida a Micenas, em 1876, Dom Pedro II também esteve em Nafplio/Nauplia. Essa visita não se deu antes, mas sim após a sua estada nas escavações de H. Schliemann da antiga cidade.

Para Micenas o imperador brasileiro dirigiu-se diretamente de Corinto, onde tinha chegado de navio. Joseph-Arthur de Gobineau, que o acompanhou, registrou que o jantar a êle oferecido não se deu em Nauplia - a maior cidade da região - mas sim no próprio local das escavações. (Danae Coulmas, Schliemann und Sophia: Eine Liebeschichte, Munique: Piper 2001, 154).

Como Schliemann na sua obra Mycenae registra, foi após ter examinado as escavações e jantado na „casa do tesouro“ de Atreus que Dom Pedro II dirigiiu-se a Nafplio, ou passou a noite. (Veja)

Relatos da viagem de estudos da A.B.E. à Grécia em 2017
sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo

Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. „ Grécia e Brasil: países que proclamaram a sua independência na mesma data (1822) nas suas relações com a Áustria e a Baviera. Interações mediterrâneas: a cidade de passado veneziano como primeira capital da Grécia. Dom Pedro II (1825-1891) em Nafplio/Nauplia -  a „Napoli di Romania“ e“. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 170/2(2017:6).http://revista.brasil-europa.eu/170/Nauplia-Brasil.html