Obra integral para piano de Osvaldo Lacerda
ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA 170

Correspondência Euro-Brasileira©

 


N° 170/15 (2017:6)



Comentário de produção fonográfica

Obra integral para piano de
Osvaldo Lacerda  1927-2011

 
Entre as mais significativas produções musicais brasileiras de 2017 distingue-se o álbum de 6 CDs com a obra integral para piano de Osvaldo Lacerda, editado pela Comunicação Musical Editora Paulinas (Paulinas/COMEP), onde foram gravados e masterizados (12648-9) (Instituto Alberione, Rua Botucatu, 171 - Vila Clementino, São Paulo, CEP 04023-060; www.paulinas.org.br./comep - comep@paulinas.com.br).

Coordenada pela Ir. Eliane de Pá FSP, a produção executiva do álbum esteve a cargo de Eudóxia de Barros e Ir. Maria Luiza Ricciardi FSP, ficando a gravação, mixagem e masterização  sob a responsabilidade de Alexandre Soares, com assistência de estúdio de Vanderlei Pena.

A produção artística da obra coube a Eudóxia de Barros, pianista de renome nacional e internacional, reconhecida pelas suas altas qualidades interpretativas, pela intensidade e amplitude de suas atuações, assim como pela escolha criteriosa de repertório documentada em grande número de gravações.

Co-fundadora e Presidente do Centro de Música Brasileira, autora de livro sobre técnica pianística (Técnica Pianística - Apontamentos sugeridos pela prática do Magistério e Concertos, Ricordi/Musicália), tem a sua biografia registrada em livro (Rosângela Paciello Pupo, „Valeu a pena? - conversando com Eudóxia de Barros, Ed. MusiMed).

Pela sua experiência, pelos seus conhecimentos e tendo acompanhado de perto Osvaldo Lacerda na sua vida, ninguém poderia ter maior competência do que Eudóxia de Barros para a realização e orientação desse grande projeto.

Nesse empreendimento, teve como consultores Fernando Cupertino de Barros, Rosângela Paciello Pupo e Antonio Ribeiro.

Para a consecução do álbum, Eudóxia de Barros contou com a co-participação dos pianistas Valdilice de Carvalho, Maria José Carrasqueira, Paulo Gori, Renato Figueiredo, Sylvia Maltese e Paola Tarditi. Muitos deles mantiveram durante anos contatos humanos, de formação e profissionais com Osvaldo Lacerda, assim como já tinham interpretado obras suas em concertos e as adotado no ensino do piano.

Valdilice de Carvalho, que após estudos realizados em São Paulo aperfeiçoou-se em cursos que visitou em vários países europeus - Espanha, Suíça, Áustria e Países Baixos -, possui renome como pianista, professora e membro de comissões julgadoras de concursos de piano em países latino-americanos, destacando-se pelo seu empenho na divulgação de obras de mulheres compositoras brasileiras.

Maria José Carrasqueira, de família tradicional de músicos de São Paulo, com intensa e diversificada carreira artística, de magistério e como conferencista, conhecida no Exterior sobretudo pelas suas atuações nos Estados Unidos, tendo-se também apresentado na Europa, em outros países da América Latina, na Armênia e na Nova Zelândia, incluiu já em fins da década de 1960 obras de Osvaldo Lacerda no seu repertório.

Paulo Gori, que em 1966 apresentou em primeira audição a „Brasiliana N° 1“„ do compositor em Santos, alcançou projeção no cenário musical internacional como premiado no Concurso Internacional de Piano de Santander „Paloma O‘Shea“, em 1976, e no Concurso Internacional de Piano „Rainha Elisabeth“ em Bruxelas, em 1978. Tendo vivido, estudado e atuado em Londres, entre 1974 e 1990, retornou ao Brasil, desenvolvendo desde então intensas e extensas atividades como intérprete de diversificado repertório.

Renato Figueiredo, que recebeu formação de Elisa Capocchi e Gilberto Tinetti em São Paulo, realizou estudos na Universidade de São Paulo, onde alcançou o título de mestre com trabalho sobre a obra pianística de Leopoldo Miguez. Nos Estados Unidos, aperfeiçoou-se com Robert Brownlee e Germán Diez. Pianista e pesquisador, tem realizado recitais com programas que abrangem vasto espectro da criação musical em países europeus - Áustria, Grécia, Itália e Portugal - assim como no Brasil, atuando hoje tambem como pianista do Coral Paulistano no Teatro Municipal de São Paulo.

Sylvia Maltese, pianista e professora, distingue-se também como pesquisadora dos mais altos méritos pela revelação e cultivo de obras de compositores brasileiros que em grande parte tinham caído no esquecimento, uma obra de vida documentada em grande número de CDs de grande interesse musicológico.

Desde 2001, Sylvia Maltese atua em duo com a pianista italiana Paola Tarditi na realização de concertos na Itália e no Brasil, contribuindo de forma relevante para a divulgação da música de compositores brasileiros. Paola Tarditi recebeu formação de Lucia Romanini, Bruno Bettinelli, Lily Allorto e Dario De Rosa.

A relevância que deve ser reconhecida nesse álbum justifica-se por diversas razões. Em primeiro lugar, pela excelência técnica e interpretativa das composições executadas e gravadas. Em segundo lugar, pela excelência da sua apresentação, da sua configuração visual e da sua alta qualidade técnica em todos os sentidos, não só das gravações como também da impressão.

O extraordinário cuidado dispensado à consecução dessa obra musical e editorial revela-se na sua concepção, estruturação e realização tanto sonora como visual, esta segundo um projeto gráfico de Juliene Barros.

Nessa precisão quanto à atenção aguçada a detalhes e qualidade técniica, o álbum faz jus à precisão e à atenção que se revelam no cuidado construtivo e artesanal da linguagem musical e nas pormenorizadas indicações quanto a execução e expressão das composições de Osvaldo Lacerda.

Essa precisão faz jus também, no seu sentido mais amplo, a uma personalidade que foi exemplo de correção, de equilibrio e impecabilidade de educação, no cultivo e civilização que se expressava nas suas atitudes comedidas, na sua presença e na sua nobilidade de trato.

Essa atenção e precisão manifestam-se também na linguagem do texto que acompanha e enriquece o álbum. Com esse trabalho, Antonio Ribeiro, compositor e professor, também um aluno de Osvaldo Lacerda, oferece não só uma abrangente apresentação do projeto, de seus participantes e das obras, como também considerações sobre Osvaldo Lacerda como homem e como compositor que faz com que o seu texto se torne relevante para estudos voltados à música no Brasil.

O autor salienta, nesse texto, o papel decisivo desempenhado por Camargo Guarnieri na formação de Osvaldo Lacerda como compositor. Citando referência de Osvaldo Lacerda a Mário de Andrade, conclui que „sua obra demonstra um engajamento ideológico firme e radical pró nacionalista, recusando as influências musicais mais modernas (como por exemplo, a música eletroacústica, o serialismo etc) e permanecendo sintonizado com as pregacões andradianas e, por conseguinte, às de seu mestre“.

Independentemente da avaliação estética, histórico-cultural e político-cultural de Osvaldo Lacerda e da corrente ou tradição da história de pensamento em que se inseriu,-  necessário objeto de debates sob os mais diversos aspectos, exigindo diferenciações, relativações e mesmo revisões -, a publicação da sua obra integral para piano representa um subsídio de grande significado para os estudos de processos culturais que focalizam a música com especial atenção.

Nesse sentido, não só o compositor e a sua obra cridora, mas a própria iniciativa da realização desse album adquire relevância, uma vez que, como expressão de admiração e preito em ano no qual teria completado 90 anos, e assim como testemunho também do legado humano que deixou, manifesta processos culturais em andamento e neles nobilita aqueles que guardam a sua memória.

Antonio Alexandre Bispo



Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. „Comentário de produção fonográfica: Obra integral para piano de Osvaldo Lacerda  1927-2011“
. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 170/15 (2017:6).http://revista.brasil-europa.eu/170/Osvaldo_Lacerda.html


Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2017 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


Academia Brasil-Europa
Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)
reconhecido de utilidade pública na República Federal da Alemanha

Editor: Professor Dr. A.A. Bispo, Universität zu Köln
Direção gerencial: Dr. H. Hülskath, Akademisches Lehrkrankenhaus Bergisch-Gladbach
Corpo administrativo: V. Dreyer, P. Dreyer, M. Hafner, K. Jetz, Th. Nebois, L. Müller,
N. Carvalho, S. Hahne




 

_________________________________________________________________________________________________________________________________


Índice da edição     Índice geral     Portal Brasil-Europa     Academia     Contato     Convite     Impressum     Editor     Estatística     Atualidades

_________________________________________________________________________________________________________________________________