A. R. Rangabé e Dom Pedro II
ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA 170

Correspondência Euro-Brasileira©

 
Atenas.Foto A.A.Bispo 2017. Copyright

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Biblioteca Nacional de Atenas.Fotos A.A.Bispo 2017©Arquivo A.B.E.

 


N° 170/7 (2017:6)



Alexandros Rizos Rangavis (Rangabé)  (1809-1892):
Arqueologia, Literatura e Teatro na Diplomacia Cultural
em processos de construção e solidificação nacional na Grécia e no Brasil

Visita à Biblioteca Nacional de Atenas no âmbito do ciclo de estudos Grécia-Alemanha-Brasil
Pelos 125 anos da morte de A.R. Rangabé

 
Atenas.Foto A.A.Bispo 2017. Copyright

Entre as personalidades da história político-cultural grega que foram consideradas nos estudos euro-brasileiros desenvolvidos na Grécia em 2017 deu-se particular atenção a Alexandros Rizos Rangavis (Αλέξανδρος Ρίζος Ραγκαβής), conhecido em português antes como Alexandre Rizos Rangabé.

A lembrança desse erudito, escritor e diplomata da Grécia do século XIX explica-se pelo fato de haver menções que indicam relações suas com o Brasil a partir da Alemanha, quando atuava em Berlim como representante do seu país. Essas notícias documentais datam da época em que Dom Pedro II tinha estado na Grécia e visitado áreas de escavações arqueológicas dirigidas por Heinrich Schliemann (1822 - 1890), assim como instituições em Atenas.

Rangabé, pertencendo ao círculo mais estreito das relações de Schliemann, tomara conhecimento do extraordinário interesse do imperador brasileiro pela Grécia e ofereceu a êle obras suas através da representação brasileira na Alemanha.

Procurar considerar mais de perto o contexto que explica esses elos surge como de significado sob diferentes aspectos. Contribui para trazer à consciência a relevância da viagem de Dom Pedro II não só sob o aspecto de mais um testemunho de sua erudição e exemplar empenho pelo progresso das ciências, como também para a história cultural da Arqueologia nas suas inserções em processos político-culturais em relações internacionais. Contribui sobretudo para trazer à consciência o significado da História, da Literatura, do Teatro e das Artes em geral na diplomacia cultural de países como a Grécia e o Brasil no século de sua independência.

O significado da consideração de Rangabé revela-se também sob a perspectiva dos estudos dos estudos clássicos nas suas relações com processos político-culturais. Na história da literatura novo-grega, foi o mais representativo da assim-chamada „Primeira Escola de Atenas“ e cujo escopo era o de restaurar o tanto quanto possível a língua clássica antiga.

Pelas estreitas relações de Rangabé com a Alemanha, em particular com a Baviera, onde estudou e atuou, a lembrança do seu nome surge como de atualidade em ano no qual se rememora os 150 anos do falecimento do primeiro rei da Grécia independente, Otto I (1815-1867), um príncipe bávaro.

A.R. Rangabé no contexto da história das relações entre a Grécia e a Alemanha

A vida de A. R. Rangabé apresenta paralelos com aquele de Konstantinos Paparrigopoulos (1815-1891), outro erudito grego que surge em relações com Dom Pedro II (Veja), o que revela contextos histórico-políticos e geográfico-culturais que hoje já estão em parte esquecidos.

Como Paparrigopoulos, Rangabé nasceu em Constantinopla de uma familia fanariota, recebeu formação em Odessa, foi marcado pela cultura francesa e manteve estreitos elos de vida com Alemanha, explicáveis pelo papel da Baviera no jovem reino grego.

Em Munique, Rangabé frequentou a escola militar, servindo como oficial de artilharia no exército da Baviera. Retornando à Grécia, ocupou posições influentes no ensino e na administração.

Entre as suas obras arqueológicas desses anos, contam-se Antiguidades Helenicas, publicado entre 1842 e 1855, e Archaeologia (1865-1866).

Ao lado do seu interesse e seus estudos da Antiguidade, Rangabé criou no decorrer de sua vida obras literárias e peças teatrais, muitas delas de conteúdo histórico e com referências à mitologia antiga.

Entre as suas peças para teatro, foi autor da comédia o „Casamento de Koutroulis“,  da tragédia „Dukas, Os 30 tiranos“, (referência à revolução grega). Entre as suas obras literárias, foi autor dos romances „O Principe de Morea“ - obra largamente difundida na sua tradução francesa (Le Prince de Morée, Paris: Didier, 1873) - , „Leila“ e „O Notário de Argostoli“, da balada „A viagem de Dionísio“, difundida na Alemanha (Die Fahrt von Dionysos, Berlim: S. Calvari & Cie, 1878).

Como tradutor, transcreveu trechos de Dante, Schiller, Lessing, Goethe e Shakespeare. Rangabé publicou também relatos de suas viagens (La Cravache d‘or. Suivi de plusieurs nouvelles et de souvenirs de voyage, Paris, Calmann-Lévy: Bibliothèque contemporaine, 1884)

A sua vida foi marcada pelas funções diplomáticas que desempenhou e que dele faz um exemplo significativo da importância da diplomacia cultural no século XIX.

Em 1867, foi nomeado a embaixador em Washington D.C.. Já no ano seguinte foi transferido para Paris, onde desenvolveu intensas atividades. Em 1872, sob o pseudônimo Alexandre de Riz, publicou Le Laurium: Mémoire consacré à la "Question du Laurium", affaire économico-politique qui causa une crise diplomatique entre les gouvernements de la Grèce, d'une part, de la France et de l'Italie, d'autre part, autour de l'exploitation des mines d'argent de l'Attique (septembre 1872).

De 1874 a 1886, atuou como representante da Grécia em Berlim, época que merece maior atenção nos estudos relacionados com o Brasil. Esse período foi objeto de estudo relativamente recente, baseado na sua correspondência („Alexandros Rhizos Rangabé: Berliner Briefe“, Kreuzberger Chronik 8, outubro de 1999, 14).

A. R. Rangabé e a família Schliemann

Alguns aspectos das relações de amizade entre Rangabé e Schliemann foram considerados por Danae Coulmas na sua obra Schliemann und Sophia: Eine Liebesgeschichte (Munique: Piper, 2001)  A autora relata que, já estando em Berlim, o diplomata dirigiu-se a Atenas para encontrar-se com o Schliemann.

„Mal chegado em Atenas, apressei-me a procurá-lo com admiração entusiástica. Encontrei-o em meio a mil cacos e vasos e outros objetos antigos, que na minha opinião pertencem sem dúvida aos primeiros relitos da era homérica, para cuja restauração êle tinha reunido toda uma oficina; a dirigia com diligência incansável e com segurança, até que dela formou um verdadeiro museu“. (op.cit. pág. 114, trad. AAB).

A amizade entre Rangabé e Schliemann e o conhecimento da sua obra manifestaram-se no fato de ter sido Rangabé aquele que traduziu para o francês as Trojanische Alterthümer de Schliemann. Além o mais, foi tradutor do texto que acompanha o atlas com fotografias originais dos objetos descobertos por Schliemann e atribuídos à antiga Troia.

A. R. Rangabé e Dom Pedro II

Em 1875, A. R. Rangabé enviou, de Berlim, trabalhos seus a Dom Pedro II. Os dados conhecidos de documentos do Arquivo Nacional levantam porém questões relativamente às obras oferecidas devido a repetições no registro de ofícios. (Dom Pedro II e a Cultura, org. Maria Walda de Aragão Araújo, Rio de Janeiro: Ministério da Justiça, Arquivo Nacional, 1977).

Em carta enviada nesse ano ao Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário do Brasil na Alemanha, Barão de Jaurú, Conselheiro César Sauvan Viana e Lima (1824-1897) Dom Pedro II acusava o recebimento de obras de A. R. Rangabé, então Ministro da Grécia em Berlim. Essas obras seriam os primeiros volumes de seus trabalhos literários (op.cit. Nr. 415, pág 81).

Em outro documento com o mesmo teor, toma-se conhecimento da data do recebimento do ofício de César Sauvan Viana e Lima - 29 de abril - assim como de uma carta que Rangabé enviara juntamente com as suas obras (op.cit. Nr. 449, pág. 87).

Outro ocumento acusa o recebimento de um ofício de 2 de setembro do Barão de Jaurú, rementendo dois volumes de obras literárias de Rangabé, oferecidos ao imperador, que mandava agradecer (op.cit. Nr. 471, pág. 92).

Um documento, de 1877 (!), acusa o recebimento por Dom Pedro II de dois volumes oferecidos por Rangabé, mandando agradecer dizendo „que lerá seus trabalhos logo que o possa fazer com mais vagar“. (op.cit. Nr. 546, pág. 104).

Nesses anos, Rangabé trabalhava na sua grande obra histórico-literária e que fundamentou a posição de Rangabé na história cultural grega, a História da Moderna Literatura Grega. Como primeira do gênero, a obra dá testemunho do papel desempenhado pela literatura na criação da consciência nacional do país e, na sua versão alemã, do interesse internacional pela literatura grega. (Geschichte der neugriechischen Litteratur von ihren Anfängen bis auf die neueste Zeit. Leipzig, Wilhelm Friedrich).

O significado dessas relações às vésperas do Congresso de Berlim

O significado desses oferecimentos de Rangabé a Dom Pedro II pode ser melhor avaliado considerando-se os processos políticos da época relativos à Grécia e na qual Berlim desempenhou papel decisivo.

Em 1878, Rangabé foi um dos plenipotenciários gregos na conferência que entrou na história das relações européias como Congresso de Berlim. Esse congresso, que reuniu representantes do Império Alemão, Áustria-Hungria, França, Grä-Bretanha, Itália, Rússia e do Império Osmaníco, encerrou a crise balcânica e procurou estabelecer a paz no Sudeste europeu.

Projeção de Rangabé na Europa nos últimos anos do Império brasileiro

Rangabé, na década de 1880, exerceu um papel significativo relativamente à família Schliemann e aos fundos encontrados e trazidos para Berlim.

Nas suas memórias, relata como, em 1881, Schliemann contou a êle a recusa grega de sua proposta relativa aos tesouros descobertos. Os gregos teriam reagido com sentimentos em si dignos, mas tão exagerados que se tornaram injustos. O rei não queria nada receber de Schiliemann, um homem que teria enganado o govêrno osmânico com o qual tinha um contrato. O oferecimento do tesouro à Alemanha tinha sido assim acompanhado por fatos que amarguraram Schliemann. (Danae Coulmas, op.cit. pág. 215)

Das grandes obras de Rangabé desse último período, pode-se salientar o seu Léxico Arqueológico (1888-1891).

Relatos da viagem de estudos da A.B.E. à Grécia em 2017
sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo



Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. „Alexandros Rizos Rangavis (Rangabé)  (1809-1892): Arqueologia, Literatura e Teatro na Diplomacia Cultural em processos de construção e solidificação nacional na Grécia e no Brasil“
. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 170/7(2017:6).http://revista.brasil-europa.eu/170/Rizos_Rangavis.html


Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2017 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


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Editor: Professor Dr. A.A. Bispo, Universität zu Köln
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