Arquitetura e mecenato - Grécia-Áustria-Brasil
ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA 170

Correspondência Euro-Brasileira©

 
Atenas.Foto A.A.Bispo 2017. Copyright

Atenas.Foto A.A.Bispo 2017. Copyright

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Atenas.Foto A.A.Bispo 2017. Copyright

Academia de Atenas. No Texto: Parlamento e Hotel Grande Bretagne, Atenas. Fotos A.A.Bispo 2017©Arquivo A.B.E.

 


N° 170/9 (2017:6)



Arquitetura na Grécia em relações recíprocas com a Baviera e a Áustria
e o papel do mecenato nos seus fundamentos éticos em tradição humanística
Dom Pedro II (1825-1891) em Atenas no ano da morte de Simon Georg von Sina (1810-1876)


Visita da A.B.E. à Academia de Atenas

 
Atenas.Foto A.A.Bispo 2017. Copyright

Os estudos promovidos pela Academia Brasil-Europa em 2017 sobre o significado para o Brasil da consideração mais atenta dos elos históricos entre a Grécia e a Europa de língua alemã foram motivados pela passagem dos 150 anos de falecimento de Otto I da Grécia (1815-1867). Em particular pelo fato de ser príncipe bávaro, é lembrado na Baviera, sobretudo na cidade que traz o seu nome, Ottobrunn. (Veja)

Essa data levou a que se desse atenção de início primordialmente aos elos entre o reino da Baviera e o reino instituído na jovem nação grega que proclamara a sua independência alguns anos antes, no mesmo ano daquela do Brasil: 1822. Nesse sentido, considerou-se a ida de personalidades da Baviera para a organização, administração e desenvolvimento da nação que passava a ter um soberano de apenas 17 anos.

Esse intento levou a uma viagem de estudos promovida pela A.B.E. a Nauplia, cidade que em 1876 seria visitada por Dom Pedro II no contexto de sua ida a Micenas. (Veja) O fato da capital do reino da Grécia ser logo transferida dessa cidade para Atenas, levou a que a atenção passasse também a ser dirigida aos elos entre o Império Austro-Húngaro e a Grécia.

Patrimônio arquitetônico da Grécia do século XIX - papel de alemães e austríacos

Os monumentais edifícios de instituições do govêrno, da cultura e das ciências nas referências à Antiguidade na linguagem estilística da capital grega são em grande parte devidas a arquitetos alemães e austríacos.

Entre os primeiros, destacaram-se Leon von Klenze (1784-1864) , arquiteto que marcou a fisionomia de Munique com edifícios como a Glyptothek, a Ruhmeshalle, a Alte Pynakothek e a Residenz -  e Friedrich von Gärtner (1791-1847) , um dos mais significativos arquitetos da era do filohelênico rei bávaro Ludwig I (1786-1868), autor, entre muitos outros, do projeto da Bayerische Staatsbibliothek (1827) e o do Parlamento na praça Syntagma em Atenas (1836-1842).

Atenas.Foto A.A.Bispo 2017. Copyright

Entre aqueles que mais representam os elos entre Atenas e Viena na arquitetura salientam-se o dinamarquês-austríaco Theophil Edvard Hansen (1813 - 1891), posteriormente nobilitado, e o seu irmão Hans Christian Hansen (1803-1883), o arquiteto da Corte do rei Otto e autor do edifício central da Universidade de Atenas (1839-1864). (Veja)

Entre os projetos de Theophil Hansen em Atenas encontram-se o da catedral da Anunciação de Maria (1842) assim como o Observatório (1843-1846), instituição elevada no monte das ninfas de frente à Acrópolis e que foi em 1876 visitada por Dom Pedro II.

Academia de Atenas e Musikverein em Viena - humanismo, arquitetura e música

Atenas.Foto A.A.Bispo 2017. Copyright
Uma de suas obras mais relevantes é o a Academia de Atenas, construída a partir de 1856. Também marcante do centro da capital grega é o Hotel Grande Bretagne (1862).

Em Viena, destacam-se o museu de armas da Corte no Arsenal (1852-1856), vários palácios, como o Palais Epstein (1868-1872), o Palais Ephrussi (1872-1873), o Palais Hansen (1869-1873, hoje hotel Kempinski, a Academia de Artes Plásticas  (Akademie der Bildenden Künste, 1869-1874), igrejas e, sobretudo, o Reichsratsgebäude, o edifício do Parlamento (1871-1883).

Uma menção especial merece ser dada ao fato de Theophil Hansen ter projetado o edifício do Musikverein (1864-1870), o que faz com que o seu nome ganhe relevância em estudos que relacionam a arquitetura e a música. Neste contexto, cumpre lembrar que Hansen provinha de uma família musical, tendo sido o seu pai - Rasmus Hansen Braathen (1774–1824) - violinista. Esses elos com a música de Hansen manifestam-se no fato de ter projetado o túmulo de F. Schubert - o músico da alemanidade austríaca por excelência -, e segundo o qual foi configurado o seu próprio túmulo no cemitério central de Viena.

Alguns desses edifícios foram visitados pela família imperial brasileira em Viena nas suas viagens de 1871 e 1876, como se infere de exemplar obra de Dom Carlos Tasso de Saxe-Coburgo e Bragança (Dom Pedro II em Viena, 1871 e 1877: Je veux voir tout et tout étudier, Florianópolis: IHGSC, 2010). Dom Pedro II, quando de sua visita ao Observatório de Atenas construído por Th. Hansen, em 1876, esteve na capital grega quando esta já se encontrava marcada por obras de arquitetos alemãe e austríacos e se encontrava em fase de grandes atividades construtivas.

Esses edifícios que marcam até hoje a fisionomia de Atenas, Munique e Viena - entre outras cidades - trazem à consciência o significado do estudo das relações internacionais greco-austríaco-alemãs para a história da arquitetura e a irradiação do (neo-)clássico e do (neo-)renascentista no século XIX. O estudo dessas relações não pode ser efetuado sem que se considere as suas inserções em processos políticos e político-culturais em relações internacionais.

O mecenato na construção de obras monumentais e no desenvolvimento das ciências

Essa consideração levanta a questão dos meios financeiros que possibilitaram a edificação de obras tão monumentais e de tal qualidade técnica e material em reino tão jovem como o da Grécia e mesmo na capital do Império Austro-Húngaro, uma vez que este sempre lutou com problemas econômicos, em particular à época da guerra dinamarquesa-alemã em Schleswig-Holstein (1864) e da guerra alemã-alemã ou prussiana-austríaca (1866).

A pergunta quanto à origem dos capitais necessários à construção de obras representativas de tão alta qualidade e com o uso de materiais tão valiosos leva ao reconhecimento do papel fundamental desempenhado por mecenas que possibilitaram tais empreendimentos. No contexto grego-austríaco, destacou-se neste sentido membros da família Sina.

De origem na Bósnia, enriquecida com o plantio e comércio de algodão, Georg Simon Sina von Hodos und Kisdua (1783-1856), filho de Simon Georg Sina (O Velho) (1753-1822) tornou-se um dos maiores banqueiros e empreendedores da Áustria, vindo a falecer em Viena. Investiu grandes capitais em projetos de infra-estrutura, na navegação fluvial, em estradas de ferro e na construção de pontes sobre o Danúbio e na aquisição de grandes extensões de terra, tornando-se o maior proprietário da Hungria.

Com a sua riqueza, esteve em condições de dar créditos à monarquia áustro-húngara e doar os capitais necessários para a formação do tesouro de Estado do novo reino da Grécia. O seu apoio à Grécia manifestou-se no fato de ter financiado um mausoléu projetado por T. Hansen para Alexander Ypsilantis (1792-1828) em Rappoltenkirchen, um vulto das guerras revolucionárias que levaram à independência.

Simon Georg Freiherr von Sina (1810-1876): Astronomia, Filosofia, História e Economia

O seu filho mais velho, Simon Georg Freiherr von Sina, voltou-se a estudos, à Astronomia e à Filosofia. Estudou entre 1826 e1828 Filosofia, História e Economia nacional na Universidade de Viena e realizou viagens pela Itália, França e Inglaterra. Em 1835 assumiu a firma Simon Georg Sina de seu pai, mas passou a dedicar-se a suas propriedades rurais. Entre 1856 e 1858, desempenhou o papel de Consul Geral grego em Viena e, entre 1858 e 1864, de enviado grego em Viena, Munique e Berlin. Apoiou financeiramente artistas e cientistas, pobres e pessoas das regiões em que tinha propriedades. Financiou em 1864 o transporte de retorno de tropas austríacas após a guerra teuto-dinamarquesa.

Entre as suas principais doações encontra-se aquela que possibilitou o edifício da Academia de Atenas, construida por Hansen, assim como a reforma do Observatório de Atenas construído por seu pai e a restauração, por T. Hansen da igreja greco-ortodoxa da Santissima Trindade em Viena.  Apoiou a Academia de Comércio, a Sociedade os Amigos da Música, a Cooperativa de artistas construtores de Viena, o Teatro em Viena assim como possibilitou a construção de monumentos. Na Hungria, apoiou com os seus recursos a Academia das Ciencias, o Museu Nacional, o Teatro Nacional e outras instituições. Na Grécia, ajudou com os seus capitais a Igreja Metropolita, a Universidade e hospitais. Pelo seu significado, o Léxico Biográfico do Império da Áustria, a êle dedicou já em 1877 uma extensa biografia (Biographisches Lexikon des Kaiserthums Oesterreich, 34. Viena: Kaiserlich-königliche Hof-und Staatsdruckerei, 1877, 351-354). O seu segundo filho, Johann Simon von Sina (1804-1869), foi também banqueiro, adquirindo cabedais como proprietário de fábrica de açúcar.

Bases humanísticas: a fortuna obriga em consciência 

Quando da visita em 1876 de Dom Pedro II ao Observatório de Atenas, onde tomou conhecimento dos resultados das observações astronômicas de Johann Friedrich Julius Schmidt (1825-1884) (Veja), tomou também certamente conhecimento do papel desempenhado pelos membros da família Sina na sua fundação em 1842 e na sua ampliação.

A consideração do fundamental papel das atividades de mecenato e de filantropia da família Sina na possibilitação de projetos, levantamento de edifícios e, assim, no desenvolvimento científico e cultural da Grécia nas suas relações com a Áustria, manifestam uma consciência da responsabilidade que se coloca àqueles que, pelas mais diferentes circunstâncias, oportunidades, origens, atino empreendedor e comercial, alcançaram grandes fortunas e poder.

Essa consciência parece manifestar-se também em outras personalidades com as quais Dom Pedro II entrou em contato. Esse seria o caso de Heinrich Schliemann (1822-1890), que também adquiriu grande riqueza com suas atividades comerciais, mas que passou dedicar-se de forma particularmente intensa à procura de conhecimentos através de suas escavações arqueológicas. Ainda que não dispondo de fortuna material comparável, Dom Pedro II gozava a fortuna de suas origens e de sua posição. Também o apoio que concedeu a artistas, músicos e o auxílio a cientistas e instituições - com a discreção e o recato com que o fêz - exprimem essa consciência da responsabilidade do homem perante a fortuna que possui.

Essas reflexões encetadas na visita à Academia de Atenas vieram complementar aquelas levadas a efeito na tumba ou na „casa do tesouro“ de Atreus em Micenas. Ali, onde Dom Pedro foi recebido por Schliemann com um jantar, considerou-se essa imagem da ceia na narrativa da maldição da estirpe tantálica e a moral nela contida de que o homem deve ser grato pela fortuna que tem, não utilizando-a em intentos de auto-engrandecimento e vaidade, o que leva a atos condenáveis e a desenvolvimentos negativos. (Veja)

Relatos da viagem de estudos da A.B.E. à Grécia em 2017
sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo



Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. „Arquitetura na Grécia em relações recíprocas com a Baviera e a Áustria e o papel do mecenato nos seus fundamentos éticos em tradição humanística.Dom Pedro II (1825-1891) em Atenas no ano da morte de Simon Georg von Sina (1810-1876)“
. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 170/9(2017:6).http://revista.brasil-europa.eu/170/Simon_Georg_von_Sina.html


Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2017 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


Academia Brasil-Europa
Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
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Editor: Professor Dr. A.A. Bispo, Universität zu Köln
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