O Oratório nos estudos de processos culturais
ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA 172

Correspondência Euro-Brasileira©

 
Cidade do Panama. Foto A.A.Bispo 2017. Copyright

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Fotos A.A.Bispo 2018©Arquivo A.B.E.

 


N° 172/11 (2018:2)




Coração e lira
o Oratório na história eclesiástica, na musicologia
e nos estudos de processos culturais em contextos globais
O presépio em tradição privada no Oratório da Cidade do Panamá



Oratorio San Felipe Neri, Ciudad de Panamá


 

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Conduzir análises de condicionamentos culturais como exigência de posicionamentos, visões e ações esclarecidas e refletidas no presente foi um dos principais objetivos dos estudos realizados nos países continentais da esfera do Caribe em 2017.

Essas análises são de significado para os estudos brasileiros, também pelo fato de, à distância, possibilitar panoramas mais amplos e o reconhecimento de inserções de desenvolvimentos comuns em contextos globais.

Na consideração de condicionamentos culturais, que procedem muitas vezes de forma não-refletida, a linguagem visual adquire particular importãncia. Sinais, signos, símbolos e emblemas indicam conteúdos ou sentidos que, mesmo não captados conscientemente, atuam em processos mentais e psíquicos.

A leitura de sinais desempenha necessariamente importante papel no intento de análise de condicionamentos culturais. Essa leitura revela-se sobretudo como uma exigência no estudo cultural de países de formação católica das América Latina, onde já a profusão e veneração de imagens manifesta o significado da linguagem visual na transmissão e permanência de conteúdos. Todavia, não só figuras humanas conhecidas sobretudo de imagens do culto de santos devem ser porém consideradas e não só elas indicam concepções subjacentes de natureza antropológico-cultural.

Duas imagens deram ensejo a reflexões que, no Panamá, deram prosseguimento a estudos anteriormente desenvolvidos nesse país: a dio coração e da lira.

Coração e lira na igreja de San Felipe de Neri, Panamá

A particular atenção às imagens do coração e da lira foi motivada pelo fato de estarem representadas na igreja de San Felipe de Neri no núcleo histórico da capital do Panamá.

Trata-se de um edifício que pouco se salienta na fisionomia urbana do centro da cidade, próximo à catedral, apenas reconhecível exteriormente através de modesta entrada lateral.

Também o seu interior, embora surpreendendo pelas suas dimensões, qualidades estéticas e luminosidade, não revela, numa primeira aproximação, a relevância que cabe a essa igreja no estudo de processos culturais.

O espaço é por demais marcado estilisticamente pelos trabalhos de remodelação efetuados em 1913, como registrado no portal de entrada. Na ornamentação e no mobiliário, o seu interior evidencia tendências estéticas da passagem do século e da primeira metade do século XX. Essa configuração dificulta numa primeira aproximação a percepção da história secular desse templo, uma das mais antigas igrejas coloniais da Cidade do Panamá.

A data da sua remodelação indica que esta se deu em época de esforços de restauração católica, de empenhos de renovação religiosa conservadora de décadas, de culminação de movimento intensificados nas últimas décadas do século XIX, o século da História e do Historismo.

Restauração, reforma, renovação - diferanças segundo posicionamentos

Esse movimento de renovação eclesial de cunho restaurativo que se manifesta na igreja reformada no início do século XX inseria-se em corrente muito mais antiga, remontante à época da Reforma interna da Igreja e Contra-Reforma protestante e que teve, através dos séculos, o seu marco no Concílio de Trento (1545-1563).

Já os traços neo-barrocos da ornamentação remodelada do interior da igreja evocam o barroco da época de S. Felipe Neri (1515-1595), um dos grandes vultos da Reforma católica/Contra-Reforma.

Estabelece-se, assim, uma ponte entre a arquitetura remodelada na época restaurativa, compreendida esta como reforma renovadora da passagem do século com aquela do passado da Reforma Católica.

Trata-se de uma continuidade no decorrer dos séculos, apesar das suas diferenças segundo as épocas. Ela traz à consciência que essa problemática historiográfica já pode ser reconhecida e analisadas nos primórdios do movimento reformador na era moderna, entendido este como de re-novação.

A igreja de San Felipe de Neri favorece assim reflexões sobre questões de natureza fundamental sobre processos restauradores na história cultural nas suas extensões na América Latina.

Ela traz mais uma vez à consciência a atenção que deve ser dada à diferenciação de significados de termos como reforma e mesmo renovação de acordo com o posicionamento daquele que os interpreta.

O que surge à distância como expressão de anelos retroativos, restaurativos de natureza conservadora e mesmo reacionária, é visto por seus agentes como estando a serviço de uma renovação a partir de fundamentos e que reforma situações decadentes. No intento de análise de condicionamentos culturais resultantes dessa ação, torna-se necessário um posicionamento distanciado que permite visões abrangentes que ultrapassam sentidos intendidos, mas, como presssuposto, o entendimento desses sentidos, ou seja, da visão interna determinadora.

Do ponto de vista eclesiástico, esse intento considerado como re-novador significou fundamentalmente uma restauração do sagrado, uma recuperação de conteúdos e expresssões através do afastamento do profano. Esse intento representou um afastamento relativamente à situação que pretende ser reformada.

A imagem do coração nos estudos de processos culturais

O fato de achar-se representado no portal da igreja a imagem do coração ardente ladeado de estrelas sobre o nome de Felipe Neri e a data da construção indica o significado dessa figura simbólica como ponto de partida das considerações.

O coração surge como centro do complexo de concepções e imagens relacionado com a memória e a veneração de Felipe Neri, expressando visualmente nas chamas e nas estrelas tratar-se de uma irradiação de calor e luz na escuridão. Se essa imagem e seus sentidos devem ser considerados a partir de suas remotas origens, a sua atualização à época de Neri merece particular atenção, uma vez também que foi a dos Descobrimentos e da expansão missionária.

Ela traz à consciência um aspecto pouco considerado nos estudos da história de processos culturais de dimensões globais dessse século marcado por anseios de reforma e que não pode restringirem-se a datas e decorrências, mas sim também considerar fatores internos que impulsionaram desenvolvimentos. A imagem favorece também o reconhecimento de sentidos inerentes nos elos de continuidade com processos restauradores do século XIX, tão marcado que foi pela imagem na intensa e difundida veneração do Sagrado Coração de Jesus e no de Maria.

O coração e a narratriva hagiográfica: dimensões do coração em Felipe Neri

O coração representado no alto da porta de entrada acima do nome de Felipe Neri não deve ser considerado nas suas contextualizações do século XIX e início do XX, mas sim naquelas do século XVI.

A imagem se refere mais especificamente ao coração daquele que surge como modêlo de exemplaridade.

Ela se refere à atividade de Felipe Neri junto a pobres, doentes e necessitados em geral, também dos peregrinos que vinham a Roma.

Neste sentido, ela assume características singulares que manifestam interações entre os seus sentidos e a corporalidade.

Segundo a narrativa, Felipe Neri foi não apenas um homem conduzido pelo coração, mas teve êle próprio um coração extraordináriamente ampliado na sua realidade física e que consta ter sido comprovado. Independentemente de sua veracidade dessa interação de sentidos com o físico faz com que o próprio santo adquira características de sinal.

A sua imagem indica um sentido inerente, para além de sua aparencia. É nesse sentido que a veneração da imagem de Felipe Neri, como venerada na igreja em questão, deve ser analisada: como sinal ao coração ampliado daquele que  surge como modêlo de exemplaridade.

A lira: significados músico-antropológicos


Os remodeladores da igreja de Felipe Neri, no início do século, tiveram também o cuidado de salientar a imagem da lira no interior da igreja, tanto no coro de madeira sobre o portal de entrada como em lateral do próprio coro do altar.

Estabeleceram, assim, um vínculo simbólico entre a música do coro alto à entrada e aquela do altar, entre aquelas dos cantores e do órgão e o canto dos sacerdotes, entre a Polifonia e o Canto Gregoriano.

A concepção que aqui se evidencia indica o significado da música sacra no âmbito do movimento de renovação litúrgica restaurativa da época da remodelação da igreja e cujo marco foi o Motu Proprio de Pio X, de 1903.

Também aqui, porém, estabelece-se uma ponte com o passado mais remoto, uma vez qua atualiza o papel relevante exercido pela música na tradição da vida e da ação de Felipe Neri.

O Oratório nos estudos e iniciativas das últimas décadas

A razão da particular atenção dada às concepções e práticas relacionadas com a vida e a obra de Felipe Neri na década de 1970 residiu nas questões que então se levantavam com as reformas pós-conciliares referentes à música sacra e, em geral, à música nas atividades pastorais e missionárias.

Se o Oratório sob o ponto de vista musical era há muito estudado e considerado em publicações, cursos e seminários universitários, a consideração mais aprofundada do contexto e dos processos históricos em que se inseriu surgia como uma exigência da atualidade.

Com a fundação em 1977 da seção de Etnomusicologia do Instituto de estudos hinológicos e etnomusicológicos em iniciativa da organização pontifícia de música sacra (CIMS) em Colonia/Maria Laach, esses estudos passaram a ser desenvolvidos sob a diração do editor segundo orientação musicológica mais específicamente cultural e dirigida a processos em relações internacionais.

A situação em que se desenvolveram os trabalhos era marcada por preocupações e tendências conflitantes, por um lado conservadoras, por outro voltadas ao futuro e inovativas. Por um lado, temia-se a destruição do patrimônio sacro-musical - do „tesouro da música sacra“ - com as reformas litúrgicas e sobretudo com o abandono do latim, e assim de todo o repertório polifônico latino. Por outro lado, procurava-se fomentar a criação musical adequada e de qualidade artística em vernáculo para a liturgia e para a pastoral, sobretudo em países extra-europeus.

Esses anelos contraditórios traziam à consciência a necessidade de procura de coerência quanto a concepções e práticas, assim como de um caminho mediador que permitisse tanto a conservação do patrimônio artístico de séculos da música sacra em latim para o culto como o desenvolvimento de um novo repertório em vernáculo segundo os anelos pós-conciliares.

Igreja Sta. Maria in Vallicella, 1978 - „Índia em Roma“

Percebeu-se, neste contexto, paralelos com uma situação que marcou a história do movimento do Oratório na sua concomitância com o culto latino no movimento de reforma interna da Igreja no século XVI. Para a discussão desses paralelos - e diferenças- realizou-se já em 1978, um encontro na igreja Santa Maria in Vallicella - Chiesa Nuova - em Roma, local onde se encontra a sepultura de Felipe Neri.

A seu lado encontra-se o Oratório de S. Filipe Neri. Nessa ocasião, lembrou-se que essa igreja foi edificada no local de uma mais antiga que foi entregue pelo Papa Gregorio XIII à Congregação do Oratório sob ação do próprio Filipe Neri, de modo que a sua configuração artístico-arquitetônica - um dos mais magnificentes exemplos do barroco em Roma - deve ser considerada sob o pano de fundo de suas concepções e de seus anelos.

Como sacerdote da Irmandade de S. Girolamo della Carità passou a reunir-se com os irmãos para leituras, meditações, orações e o canto religioso, em particular de hinos,o que passou a ter lugar em espaço anexo designado como oratório.

A expansão extraordinária da comunidade o que levou à obtenção a igreja de Santa Maria in Vallicella e ao início da construção de uma igreja de maiores dimensões com uma casa para reuniões de orações anexa - um oratório.

Sob o ponto de vista musical, considerou-se com especial atenção as relações entre o canto mais simples de tradição popular - ao qual tendia Felipe Neri - e à polifonia vocal, tendo sido êle confessor de Giovanni Pierluigi da Palestrina (ca.1525-1594), dando origem a interações que são vistas como base da forma musical que tomou o nome de Oratório. Essas relações foram particularmente consideradas nos estudos desenvolvidos a partir da década de 1970 em colóquios com Karl Gustav Fellerer (1902-1984).

Particular atenção foi emprestada aos pressupostos culturais e religiosos que permitem compreender a vida e a orientação de Felipe Neri. Considerou-se a influência nele exercida pelos Dominicanos, pelos Agostinianos e Beneditinos. Salientou-se, porém, o ímpeto missionário que determinou os seus anelos e atividades. Em época marcada por intentos cristianizadores nas regiões descobertas, assim como dos sucessos da ação dos Jesuítas, sobretudo no Oriente, foi Neri imbuído do desejo de atuar como missionário na Índia. A situação sentida como crítica da vida religiosa e eclesiástica de Roma de sua época levou a que fosse incentivado de ali permanecer, tornando-se „Roma a sua Índia“.

Essa compreensão de Roma como ìndia é de significado sob a perspectiva de estudos globais, uma vez que indica uma projeção da idéia de esfera a ser missionada do extra-europeu ao europeu, da missão externa à interna. Com a irradiação do movimento nascido de Felipe Neri às Índias do continente americano, extendeu-se assim uma complexa relação de Roma como Índia e a sociedade colonial como objeto de missão interna.

O Oratório no Simpósio Internacional „Música Sacra e Cultura Brasileira“, 1981

No Simpósio Internacional „Música Sacra e Cultura Brasileira“, levado a efeito em S. Paulo, em 1981, deu-se continuidade a considerações sobre a tradição musical de oratórios nas suas extensões na América Latina e nas suas transformações através dos tempos.

O oratório na obra sacro-musical de compositores brasileiros foi tratada a partir de composição escrita para a inauguração da catedral de Campina de Elias Álvares Lobo.. Essa obra exemplificou o papel desempenhado por essa forma musical nos anelos de revitalização religiosa de cunho de missão interna no século XIX.(Veja)

A principal atenção, porém, foi dada às relações entre o movimento de Felipe Neri e a formação sacerdotal. Embora marcado pela influência de ordens religiosas, a ação de Felipe Neri disse respeito sobretudo à formação e interiorização de sacerdotes.

A Congregação, fundada em 1575, abrangia sacerdotes diocesanos e leigos, sem obrigação a votos. Compreende-se, assim, o significado da memória de seu nome e do movimento dele decorrente em épocas e situações marcadas por falta de sacerdotes ou por clero considerado como insuficientemente formado.

Seminário de Musicologia de Bonn em Roma, 2003

Em 2003 realizou-se, com a participação de estudantes de musicologia da Universidade de Bonn, excursão a Roma para o aprofundamento in loco de estudos voltados ao Oratorio.

Um dos aspectos considerados foi o da relação entre arquitetura e música que se manifesta na própria designação de oratório, ao mesmo tempo espaço de oração e forma musical.

Já a mudança dos planos da igreja nas suas relações com outros templos - primeiramente a igreja Il Gesù dos Jesuítas, a seguir o modêlo daquela de San Giovanni dei Fiorentini, indica o significado do templo para uma história cultural da arquitetura.

As imagens emblemáticas do coração e da lira adquirem à luz da história do movimento oratoriano o sentido mais profundo de relações e interações entre o o amor - Caritas - e a música.

A música assume aqui um sentido simbólico-antropológico do homem como instrumento, do homem como caixa de ressonância onde vibram as cordas de seu interior segundo antiga linguagem de imagens.

O Oratorio no Panamá - razões e sentidos de sua criação

A consideração da igreja de S. Felipe Neri no Panamá realizou-se sob o pano de fundo e em  continuidade a esse desenvolvimento de estudos e reflexões,

A presença do movimento oratoriano à época da transferência da cidade para o local atual indica uma necessidade então sentida de formação sacerdotal e de leigos através da leitura de textos bíblicos, hagiográficos, de cantos de hinos em vernáculo e da música sacra polifônica.

A criação do Oratório deveu-se ao bispo Lucas Fernández de Piedrahita (1624-1688) que, em 1682, requereu ao rei da Espanha que se fundasse uma casa de oração segundo San Felipe Neri na nova cidade juntamente com um hospital para sacerdotes. Essa fundação foi aprovada por Carlos II (1661-1700) em 1684. Já no ano seguinte criou-se a congregração dos padres oratorianos. Em 1694, o hospital foi inaugurado. 

Piedrahita foi um dos grandes vultos da história eclesiástica e mesmo cultural da Colombia como autor do Compendio historial de la conquista del Nuevo Reino de Granada. No Panama, onde tornou-se também governador, fomentou a ação missionária, em particular junto aos indígenas do Darién.

É altamente significativo que a igreja de San Felipe Neri, de 1688, remonte à época da transferência da cidade após a tomada, o incêndio e o saqueio da cidade velha - Panamá Viejo ou Panamá la Vieja - pelos corsários de Jamaica, em 1671.

A presença dos oratorianos nesses anos de mudança, reinício e reconstrução da cidade não foi acidental. Êle correspondeu às necessidades da sociedade desse momento difícil de transição. A ação daqueles que seguiam o exemplo de Felipe Neri era voltada à missão interna de uma sociedade marcada  pela procura de enriquecimento e bens, pela falta de escrúpulos de dirigentes e potentados em contraste com a miséria de grande parte da população.

Este tinha sido a situação de Roma à época de Felipe Neri - e que por isso ganhara o cognome de „apóstolo de Roma“ - e esta era a situação do Panamá, entreposto portuário que tinha sido marcado pela riqueza e que, com a destruição da cidade, vivenciava uma intensificação da miséria que sempre ali existira.

Das antigas instalações, pouco restou, devido às várias reconstruções e reformas. O antigo Oratorio foi destruído pelo fogo em 1737 e, a seguir, em 1756. Reedificada, foi usada como sacristia da catedral e paróquia.

Continuidades na descontinuidades: Irmãs de Caridade de S. Vicente de Paula

Se o coração como imagem do amor, amor ao próximo e caridade, já desempenhou papel fundamental no movimento oratoriano, esse significado manteve-se no século XIX com a vinda, em 1875, das Irmãs de Caridade de S. Vicente de Paula para a possa da antiga igreja da cidade do Panamá, então em estado decadente.

As religiosas ali abriram uma escola, que logo tornou-se uma das mais concorridas da cidade. Esse aumento de alunos levou à necessidade de aumento das instalações, construindo-se, em 1904, um novo edifício no antigo átrio; os trabalhos terminaram em 1913. Novas edificações anexas ao convento realizaram-se em 1923.

Com a transferência do colégio, as antigas instalações foram ocupadas para um seminário. Manteve-se, assim, até 1941, a tradição do uso do espaço segundo Felipe Neri, no caso o da formação sacerdotal. Nas décadas que se seguiram, a igreja e os espaços contíguos foram usados por sacerdotes das religiosas, assim como pel Ação Católica e, a seguir, pelas Misioneras Catequistas de la Medalia Milagrosa e pelas missionárias da Madre Laura.

De particular significado foi a continuidade da tradição de ensino através do uso do espaço para o Centro Juvenil San Felipe a partir de 1974 e como casa de universitários. A função caritativa manteve-se com a ocupação de uma de suas partes por uma casa de anciãos.

A história mais recente do convento e da igreja iniciou-se com os trabalhos de restauração entre 1996 e 2003. Ali se instalou a Fundación San Felipe Neri.

O presépio permanente no Oratorio sob a perspectiva dos estudos culturais

Um dos principais motivos do interesse que desperta a igreja de S. Felipe Neri na atualidade reside no presépio permanente instalado em espaços a ela adjacentes. Trata-se de uma representação em grandes dimensões na qual são apresentados episódios do Natal, criada e desenvolvida em âmbito familiar desde 1948 e para ali transferida.

Passando de geração em geração, o presépio foi aumentando em proporções com a aquisição de figuras espahnholas e italianas. Embora de iniciativa particular, a presença desse presépio no Oratorio coaduna-se na sua linguagem visual com a época da expansão do movimento oratoriano e que foi também a da revitalização e intensificação da tradição do presépio.

Esse florescimento denota o significado dessas representações no contexto do movimento de reforma eclesiástica e da expansão missionária, externa e interna. Ainda que antes estudada no seu significado na ação dos Franciscanos e Jesuitas, o grande presépio do Oratorio de S. Felipe Neri motiva reflexões sob o signo do coração e da lira.

De ciclos de estudos sob a direção de

Antonio Alexandre Bispo


Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. „ Coração e lira. O Oratório na história eclesiástica, na musicologia
e nos estudos de processos culturais em contextos globais. O presépio em tradição privada no Oratório da Cidade do Panamá“
. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 172/11 (2018:2).http://revista.brasil-europa.eu/172/Oratorio_nas_Americas.html


Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2017 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


Academia Brasil-Europa
Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)
reconhecido de utilidade pública na República Federal da Alemanha

Editor: Professor Dr. A.A. Bispo, Universität zu Köln
Direção gerencial: Dr. H. Hülskath, Akademisches Lehrkrankenhaus Bergisch-Gladbach
Corpo administrativo: V. Dreyer, P. Dreyer, M. Hafner, K. Jetz, Th. Nebois, L. Müller,
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