Conhecimentos portugueses do ístmo
ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA 172

Correspondência Euro-Brasileira©

 


N° 172/8 (2018:2)



Os conhecimentos portugueses do mundo
e os primeiros intentos de transpassagem do ístmo centro-americano

António Galvão (ca. 1490-1557) e o seu Tratado dos Descobrimentos

nos estudos da história da globalização


Reflexões motivadas pela ampliação do Canal do Panamá. Área Arqueológica de Panamá Viejo. Centro de Investigaciones Patrimoniales (CIP)

 

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Panama Viejo. Foto A.A.Bispo 2017. Copyright

Os estudos euro-brasileiros desenvolvidos em países continentais da esfera do Caribe, em 2017, tiveram como escopo considerar condicionamentos culturais que determinam o pensar e a ação do homem, sobretudo sob a perspectiva de suas relações com o mundo natural. (Veja)


Neste intento, a perspectiva histórica é imprescindível para países de formação colonial. As reflexões são porém dificultadas pelas diferentes „culturas de saber“ de estudiosos das respectivas esferas de língua e cultura. A perspectiva na consideração de processos históricos é ainda por demais marcada por posicionamentos dos antigos colonizadores.


Em focalização brasileira, a consideração dessa esfera geo-cultural das Américas pode parecer distante e sem maior relevância para os estudos relacionados com o Brasil. Trata-se-ia, nesse enfoque de estudos a serem conduzidos apenas sob a perspectiva da Espanha e dos países por ela colonizados nas Américas.


A consideração dos países continentais do Caribe, situados entre o Atlântico e o Pacífico, e sobretudo a do Ístmo do Panamá com o canal oceânico, traz à consciência a necessidade de visões globais, tanto na consideração de processos no passado das Descobertas e colonização, como no pensamento do presente.


Essa necessidade tona-se particularmente atual com o novo interesse pela ligação interoceânica devido à ampliação do Canal do Panamá e que favorece considerações do seu vir-a-ser histórico. Para além do olhar voltado a vultos e desenvolvimentos que levaram à sua construção no século XIX e início do XX como resultado da ação de diferentes nações, constata-se a consciência de que a idéia da transpassagem do Ístmo pelos europeus remonta já às primeiras décadas do descobrimento, da exploração e da colonização da terra firme.


Panama Viejo. Foto A.A.Bispo 2017. Copyright
Um sinal dessa atenção é o fato de encontrar-se, na capital do Panamá, um monumento ao imperador Carlos V (1500-1588) (Carlos I da Espanha). Já a memória desse rei da Espanha e  imperador do Império Romano Germânico indica a visão abrangente que a sua época e suas concepções universalistas exigem. A razão do seu busto no Panamá explica-se porém mais especificamente pelo fato de, em 20 de fevereiro de 1534, ter dado ordens para que se estudasse, no local, as possibilidades de unir-se os dois oceanos.


Portugal na história de anelos de união de oceanos


Sob o ponto de vista de estudos euro-brasileiros, surge como particularmente relevante o fato de mencionar-se nessa memória de Carlos V, ainda que em geral de passagem, o papel desempenhado por um navegador português  António Galvão.


Com a menção de A. Galvão, Portugal da era dos Descobrimentos passa a estar presente de maneira relevante nos estudos dessa esfera do Novo Mundo marcada pela ação da Espanha. Essa influência deu-se no plano dos conhecimentos e das idéias deles decorrentes. Caberia assim a um português uma posição de primordial significado nos antecedentes de um projeto que teria a sua concretização muito posteriormente..


Os seus conhecimentos do mundo, ganhos em décadas de viagens e intensas atividades militares e administrativas no Oriente, assim como de informações obtidas e de estudos de antigas fontes, tiveram a sua expressão por fim no seu Tratado dos Descobrimentos, publicado apenas após a sua morte. (Tratado que compôs o nobre & notauel capitão Antonio Galuão, dos diuersos & desuayrados caminhos, por onde nos tempos passados a pimenta & especearia veyo da India ás nossas partes, & assi de todos os descobrimentos antigos & modernos, que são feitos até a era de mil & quinhentos & cincoenta.... - [Lisboa] : impressa em casa de Ioam da Barreira, impressor del rey nosso senhor, na Rua de sã Mamede, 15 Dezembro 1563)


Notável no Tratado de A. Galvão é a sua visão global do desenvolvimento das Descobertas, uma vez que considera aquelas da Espanha e de Portugal concomitantemente no seu desenrolar histórico. Esse seu procedimento adquire um cunho de exemplar atualidade nas atuais reflexões sobre a necessidade de visões gerais de processos. A. Galvão registrou não só conhecimentos ganhos de sua própria experiência e de outros portugueses, como também aqueles provenientes de informações de espanhóis, sem menosprezar os seus feitos, o que indica um notável procedimento de superação de delimitações nacionais no intento da procura de saber.


Os Descobrimentos na história mais ampla dos conhecimentos do mundo


A visão ampla de A. Galvão manifesta-se também e sobretudo na sua preocupação em inserir os descobrimentos e os conhecimebntos ganhos de sua época no contexto mais amplo da história das descobertas do mundo desde as mais remotas eras.


As suas menções e comentários revelam o afinco com que se dedicou ao estudo de fontes de difícil acesso e interpretação. Essa sua erudição parece explicar-se pela sua tradição familiar, uma vez que foi filho de Duarte Galvão (1446-1517), cronista de Afonso V (1432-1481).


Nesse estudo, confrontou-se naturalmente com concepções histórico-, geo- e etno-simbólicas de antiga proveniência, também aquelas transmitidas pela tradição cristã e que teve o cuidado de registrar. Êle próprio menciona expressamente na abertura de sua obra a dificuldade que teve em compreender os dados das diferentes fontes.


Trata-se assim de uma obra que adquire grande significado sob a perspectiva de estudos de concepções e imagens de um edifício cultural de visão do mundo de antiga proveniência na época crucial de suas transformações com os descobrimentos.


Da consideração de A. Galvão em Goa e em Malaca ao Panamá


Galvão foi considerado em estudos realizados em Goa (Veja) e em Malaca (Veja). Tendo partido para a Índia em 1522, tomou parte ativa em feitos militares, regresssando a Portugal em 1524. Voltando novamente à Índia em 1526, envolveu-se na contenda política entre o governador Lopo Vaz Sampaio (ca. 1480-1534) e Pedro de Mascarenhas (ca.1484-1555). Uma nova viagem à Índia, em 1533, levou-o novamente a tomar parte em operações militares e na administração. As suas atuações na Índia decorreram assim em época marcada por tensões com o Islão nas suas relações com outros grupos populacionais, uma situação que também teve que enfrentar no Estreito.


Em Malaca, Galvão esteve na viagem que o levava às Molucas, para as quais foi nomeado capitão-mor em 1536. Dispondo apenas de meios governamentais insuficientes para a sua viagem, realizou-a com recursos próprios e por êle levantados para o frete de uma nave e o pagamento de soldados para a fortaleza.


Encontrou nas ilhas da região problemas derivados de má-administração e dos conflitos de interesses entre portugueses, nativos e espanhóis. Nessa difícil situação, destacou-se pelas suas medidas voltadas ao estabelecimento da ordem civil, religiosa e da segurança através da fortaleza local. Por diferentes meios, também militares, procurou criar uma situação de convivência entre portugueses e nativos.


Uma especial atenção tem merecido o fato de ter levado mulheres para que, casando-se com portugueses nas Molucas, possibilitassem o desenvolvimento de uma sociedade colonial. Procurou assim garantir a presença cristã em contexto marcado pelos conflitos com muçulmanos.


O significado de Antonio Galvão para a história do urbanismo e da arquitetura não pode ser esquecido, uma vez que promoveu construções sólidas em substituição àquelas locais segundo técnicas e modêlos de Portugal.


O seu papel no processo de cristianização merece ser salientado pelo fato de representar por excelência um procedimento que partia „de cima para baixo“ através da conversão e do batismo de pessoas de liderança e autoridade dos diferentes grupos culturais. A ação de missionários foi por êle apoiada, assim como a fundação de seminários destinados à criação de um clero nativo. Pelo seu empenho na expansão do Cristianismo, entrou na história como „Apóstolo das Molucas“.


Retornou em 1540 em situação de penúria, terminou de escrever o seu tratado apenas em 1550, dedicando-o a D. João de Lencastre (1501-1571). Essa dedicação sugere um caminho para considerar a transmissão de conhecimentos portugueses a Carlos V e que teria tido a sua expressão na ordem de 1534. Os estreitos elos com a Espanha manifestam-se, entre outros fatos, em viagem de D. João de Lencastre em 1535 e por ter sido enviado, em 1537, para apresentar a Carlos V os pêsamas pelo falecimento de sua esposa, filha de D. Manuel I (1469-1521). Em 1552, com grande aparato, foi designado para receber na fronteira a filha de Carlos V.


Êle próprio, cuja vida terminou de forma trágica, desejava ser comparado com Timocles de Atenas, mais do que com Coriolano. Com essa menção, parece ter sugerido que, apesar de críticas que o injuriavam, era um homem leal, desinteressado, vitimado pela política.


A recepção do Tratado foi fomentada pelo cosmógrafo Richard Hakluyt (1553-1616), que a publicou em inglês, em 1601. Em 1625, Samuel Purchas (1575-1626) publicou-a em forma sintetizada. No século XIX, Charles R. Bethume (1802-1884) publicou-a com comentários pela Hakluyt Societ, sugerindo que Galvão deveria ser considerado como fundador da Geografia Histórica.


Continuidade de estudos em áreas histórico-arqueológicas - Panama Viejo


Os estudos culturais dos Descobrimentos desenvolvidos nas últimas décadas incluiram visitas a áreas arqueológicas de assentamentos portugueses. Neles, procurou-se reconhecer e estudar paralelos com ocorrências em cidades históricas brasileiras.


A necessidade desses trabalhos e da comparação de localidades em diversos contextos para o aprofundamento de conhecimentos e a sua diferenciação foi tratada e salientada em diálogos no Museu Histórico de São Vicente. (Veja)


Ela decorre das próprias dimensões globais das viagens de navegação e da história da expansão européia. A consideração da arquitetura, da disposição urbana, das fortalezas, igrejas e objetos indicadores de moos de vida nas diferentes partes do mundo contribuem mutuamente aos estudos contextualizados.


Nos estudos desenvolvidos na esfera do Caribe, da América Central e do norte da América do Sul em 2017, esse intento teve continuidade em Panamá Viejo ou Panamá la Vieja, uma área arqueológica  que guarda relitos da primeira cidade do Panamá, fundada em 1519. Ali permaneceu a cidade até a sua destruição por ataque de corsários e incêndio, sendo transferida, em 1671, à atual localização da capital panamenha.


Na área do Panamá Velho encontram-se ruínas que dão testemunho das dimensões e da importância da urbe. A sua disposição é em parte reconhecível, nela destacando-se os relitos de duas pontes, a do Rey e a do Matadero. A localidade era guardada pelo Fuerte de la Natividad.


Entre os monumentos encontram-se os restos de conventos e igrejas, como o de São Francisco, de la Merced e de San Juan de Dios, salientando-se o de Nossa Senhora da Conceição, um mosteiro feminino. Os restos da igreja da Companhia de Jesus indicam o significado da ação missionária dos Jesuítas junto a indígenas e, a seguir, a africanos.


Significado de Panamá Viejo para estudos americanos e de processos globais


Panamá Viejo adquire relevância não só para todo o continente americano como para os estudos de processos culturais nas suas dimensões globais. Esse significado manifesta-se não só pelo número e porte de suas ruínas como também como área de estudos interdisciplinares. Ali se encontram um museu e um Centro de Investigaciones Patrimoniales (CIP) no âmbito do Patronato de Panamá Viejo.


O seu significado global manifesta-se no fato de ter sido a área foi declarada como parte do Patrimônio Cultural o Mundo da UNESCO em 2003.


Em Panamá Viejo desenvolvem-se trabalhos em cooperações internacionais, salientando-se aqueles com a Universidade de Tübingen, Alemanha. Neles procura-se ganhar novos conhecimentos sobre a evolução urbana e à topografia social da antiga cidade. Já esse escopo indica não só o significado de Panamá Viejo para a história da arquitetura e do urbanismo nas Américas, como também, no seu sentido mais amplo, de orientação espacial no processo de ocupação do continente pelos espanhóis.


Primeira cidade em terra firme: Santa Maria la Antigua del Darién


O início do assentamento e da colonização da terra firme deu-se do lado atlântico do continente com o surgimento de Santa María la Antigua del Darién, a primeira cidade em terra firme, fundada em 1510 no golfo de Urabá por Martín Fernández de Enciso (1470-1528) e Vasco Núñez de Balboa., Essa cidade exerceu até 1520 as funções de sede de govêrno de Castilla de Oro, quando então passou à cidade de Panamá.


No seu Tratado, A. Galvão, relatando os descobrimentos espanhóis no Caribe (Descobrimentos das Amntilhas de Indias pollos Espanhoes feytas), menciona que, em 1502, Colombo já para ali viajou com a ordem de ir ao estreito que já se sabia de pouca largura e que ligava ao Pacífico:


„...Christovam Colom ha quarta vez a este descobrimento com quatro navios por mandado del Rey don Fernando a buscar ho estreiyto que diziam corta a terra a outra banda levava eñsigo dom Fernando seu filho (....) E dahi foy ter ao Rio dos Lagartos, que se agora chama Chegres, que tem seu nascimento ao do Sul, e sae ao do Norte. (....)“ (op.cit.29)


Sobretudo, A. Galvão registra o intento de Vasco Núñez de Balboa (1475-1519) em transpassar o estreito, em 1513:


„No anno de 513 tendo Vasco nunez de Valboa, nova do mar do sul, determinou passar a elle, iõ quanto lhe punha medo da gente da terra, por onde avia de fazer este caminho (...) & partio de Doriem dõde estava (...) (op.cit. 38) Entre os caminhos registrados, A. Galvão menciona o da Nicarágua: „No ano de 522 & mes de Ianeiro, fopram ao descobrimento de Nocaragua, & buscar o estreito que diz que passava da outra banda (...)“ (op.cit. 47)


A denominação da cidade de Santa Maria la Antigua reflete a intensidade dessa devoção referenciada segundo Sevilla à época dos Descobrimentos. (Veja)


Segundo a tradição, os espanhóis fizeram a promessa de assim denominá-la se saissem vencedores de uma batalha contra os indígenas locais, comandados pelo cacique Cémaco. A igreja, levantada sobre a moradia desse cacique após a vitória, é considerada como sendo a primeira igreja da terra firme.


A localidade tornou-se capital de Castilla de Oro e origem de várias outras cidades na década de 1510. A diocese de Santa Maria de la Antigua del Darién, sufragânea de Sevilha, criada por bula pontifícia de 1513, foi a primeira da terra firme do continente.


Como considerado em Santo Domingo e em Antigua, Colombo e outros descobridores dedicavam uma particular devoção  à imagem da Virgen de la Antigua da capela de mesmo nome da catedral de Sevilha, famosa pela pintura a fresco La Virgen. A lembrança dessa tradição abre perspectivas para aproximações quanto ao espírito que marcou a fundação e a vida da localidade.


Maria, segundo a tradição apareceu a Fernando II o Santo (1199/1201-1252) quando da conquista de Sevilha dos mouros em 1248. O rei, conduzido por um anjo, teria visto, no interior da grande mesquita, por detrás de uma parede, a imagem da Virgen de la Antigua com o seu filho sustentado com a mão esquerda e com uma rosa à direita e que ali se encontrava há séculos velada. Logo após, os muçulmanos se renderam e o rei libertou Sevilha. A transformação da mesquita em catedral, após a conquista, teria sido assim a de uma re-cristianização.


Também no Darién, assim, a veneração indica a continuidade de um estado de espírito marcado pela luta contra o Islão e com a reconquista cristã de Sevilha. Assim como a antiga mesquita foi transfiormada em igreja, também na cidade do ístmo construiu-se uma igreja sobre casa indígena, como A. Galvão registra ao tratar da construção da primeira fortaleza em terra firme:


„...em Caribana Solar dos Caribas, & foy a primeira vella q os castelhanos en terra firme fizerã, & assi em Nombre de Dios, cidade de nossa senhora del antiga (...)“ (op.cit.33).


Primeiro assentamento europeu na costa do Pacífico da terra firme


A transferência da presença espanhola à esfera do Pacífico correspondeu a uma mudança estratégica de grandes consequências, estreitamente relacionada com a conquista e exploração do Peru e possibilitando a expansão e ocupação da costa do Pacífico do continente.


A localidade de nome Nuestra Señora de la Asunción de Panamá foi fundada pelo governador espanhol Pedro Arias Dávila (1440-1531) no dia 15 de agosto de 1519. A designação da cidade - de Nossa Senhora da Assunção merece maior atenção.


A festa de Nossa Senhora da Assunção adquire aqui um sentido especial, uma vez que era uma das mais importantes do ano mariano, com festas de antiga proveniência e correspondendo a concepções teológicas fundamentais que seriam afirmadas e acentuadas no decorrer do movimento de reforma interna da Igreja intensificados no decorrer dos séculos XVI e XVII.


A denominação da localidade fundada não foi apenas expressão da devoção de seu descobridor, mas sim também uma manifestação e afirmação com o sentido de um sinal de propósitos e de desenvolvimentos.


A denominação oficial da cidade deu-se na data da festa dois anos após a sua fundação, a 15 de agosto de 1521. Já esse fato pode ser visto como um indício de que aquela do seu descobrimento não foi resultado das circunstâncias, mas escolhida conscientemente, ou seja, correspondeu a um intento de que a cidade fosse fundada sob o signo dessa importante festa.


Tendo sido ou não circunstancial, essa denominação pode trazer um aporte diferenciador aos estudos da personalidade e das ações de Arias Dávila, cognominado Pedrarias militar e político que entrou na história das Américas como governador e capitão geral de Castilla de Oro de 1514 a 1526.


Correspondendo a Castilla de Oro à esfera de Panamá, Costa Rica, norte da Colombia e Nicarágua, do qual foi governador de 1528 a 1531, a sua consideração impõe-se por ser marcada por ambivalências quanto à sua índole e atuação, negra pelos excessos de mal-trato a indígenas e subalternos.


Apogeu de Panamá Viejo e a transferencia da cidade


Com a conquista do Peru, a cidade tornou-se centro comercial de importância, o mais rico e florescente assentamento espanhol, passando a ser alvo da cobiça de corsários.


Pela sua localização geográfica, era porém de difícil defesa. Era implantada em área cercada de mangues e várzeas, o que obrigava a expandir-se ao longo de estreita barra. A defesa consistia sobretudo em fortaleza erigida em promontório de um de seus extremos. Também as naves não podiam ancorar facilmente devido ao mar ser raso na enseada de San Judas e, também para fins de segurança, aportavam entre ilhas próximas. de Perico, Flamenco e Naos.


Acontecimento decisivo foi o ataque do pirata Henry Morgan (1635-1688) no início da década de 1670. Desde 1665 esse corsário atacava e roubava navios espanhóis a partir de Jamaica, tornando-se homem de posses e influência. Em 1668, com centenas de corsários, atacou Portobelo, porto na costa atlântica do Panamá, próximo à atual Colón. (Veja) Ali roubaram ouro ,prata, pedras preciosas, madeiras de lei e outros objetos de valor que seriam transportados para a Europa. Exigiu sobretudo grande soma para não destruir a cidade. Em 1671, conseguiu conquistar Panama Viejo com grande número de navios e homens sob o seu comando. Atravessando o estreito por terra, ocuparam a cidade. No mesmo dia, um incêndio a destruiu.


Em 1671, Antonio Fernández de Córdoba y Mendoza, governador e capitão geral do reino da Terra Firme analisou a situação criada pela destruição da cidade e tomou a decisão de mudá-la para uma península próxima, mais fácil de ser defendida, fortificada e por possuir terreno mais sêco e água potável, ainda que as suas fontes estivessem distantes.


Também ali as condições portuárias, ainda que melhores do que as anteriores não eram ideais, continuando assim os navios de maior calado a utilizarem-se a área das ilhas. Uma das áreas recomendadas encontrava-se na desembocadura do rio Grande, outra na costa da própria península. No dia 21 de janeiro de 1673, a nova cidade - Panamá la Nueva - foi instalada.


O seu planejamento seguiu funções militares, sendo a sua parte principal, com reticulado de ruas, plaza mayor, edifícios governamentais, igrejas e conventos e residências de habitantes de maiores posses, foi cercada por uma muralha com baluartes sólidos, um fosso e uma grande porte. Num dos extremos, local rochoso, projetou-se a instalação das Casas Reales.


De ciclos de estudos sob a direção de

Antonio Alexandre Bispo


Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. „ Os conhecimentos portugueses do mundo e os primeiros intentos de transpassagem do ístmo centro-americano. António Galvão (ca. 1490-1557) e o seu Tratado dos Descobrimentos nos estudos da história da globalização“
. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 172/8 (2018:2).http://revista.brasil-europa.eu/172/Portugal_e_o_istmo_centroamericano.html


Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2017 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


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Panama Viejo. Foto A.A.Bispo 2017. Copyright












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