Cores, transpassagens e gentrificação
ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA 173

Correspondência Euro-Brasileira©

 
Bo Kaap. Foto A.A.Bispo 2018. Copyright

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Fotos A.A.Bispo 2018©Arquivo A.B.E.

 


N° 173/4 (2018:3)

Bo Kaap. Foto A.A.Bispo 2018. Copyright




Cores, transpassagens e gentrificação
bairros de minorias étnicas e religiosas de raízes migratórias
no exemplo do bairro malaio da Cidade do Cabo


Iziko Bo-Kaap Museum
Estudos euro-brasileiros na África do Sul pelos 50 anos de fundação da Sociedade Nova Difusão Musical

 

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Bo Kaap. Foto A.A.Bispo 2018. Copyright

Brasil e África do Sul são países que apresentam numa primeira aproximação similaridades quanto à sua configuração demográfica e aos problemas dela decorrentes, o que justifica considerações mais atentas de paralelos nos desenvolvimentos históricos e no presente.

Ambos os países são marcados pela diversidade étnica e cultural resultante de processos desencadeados pelos descobrimentos no início da era moderna, pela vinda de europeus que se confrontaram com povos nativos, pela vinda de escravos de diferentes regiões para o trabalho agrícola, de colonos de vários países europeus premidos por dificuldades nos seus países e vários outros grupos humanos que levaram a uma situação de complexa configuração populacional. Essa situação foi e é marcada por difíceis interações, problemas, tensões, mas também por anelos de integração em unidade.

É significativo que a África do Sul se apresente hoje como „país arco-iris“, manifestando com essa imagem a meta de unidade na diversidade.

Várias tendências da vida intelectual e cultural da África do Sul encontram paralelos com aquelas do Brasil, entre elas aquelas de movimentos anti-discriminatórios ou de auto-consciência e identidade de minorias. É essa diversidade e a sua celebração que marcam expressões culturais do presente, em particular na dança e na música, o que se manifesta na vitalidade da vida cultural de seus grandes centros.

Esses paralelos, porém, não podem encobrir as diferenças quanto à configuração demográfica e aos problemas dela decorrentes.

Os nativos, os indígenas da África do Sul eram africanos, enquanto que os africanos foram trazidos de fora, do outro lado do Atlântico para o Brasil. A presença holandesa que marcou séculos decisivos da história colonial da África do Sul - e que foi apenas episódica no Brasil - levou a que viessem para a colonia do Cabo não só campõneos ou lavradores dos Países Baixos - os „bures“ (al. Bauern), como também de africanos de outras regiões da África - sobretudo as portuguesas - como mão de obra escrava para a lavoura.

Com os holandeses vieram também judeus, uma vez que Amsterdam, sobretudo devido às perseguições e expulsões na Península Ibérica, tornara-se um centro da presença e da cultura judaica na Europa, em particular também de judeus portugueses. A vinda de protestantes franceses que procuraram refúgio nos Países Baixos e foram dirigidos ao Cabo contribuiu à diversidade na própria esfera dos colonizadores. (Veja)

A consideração das relações entre europeus e africanos deve ser assim diferenciada, pois nem todos eram em princípio escravos, uma vez que os holandeses basearam o seu assentamento em contrato com os nativos. A crescente marginalização desses últimos com os problemas sociais, humanos e culturais decorrentes deve ser analisada sob outros critérios do que aqueles dos africanos vindos como escravos da costa ocidental da África ou de Moçambique.

Holandeses e Ingleses no Oriente e a translocação de malaios e indianos

Os holandeses trouxeram para a colonia do Cabo asiáticos provindos de seus assentamentos no Oriente, em particular do arquipélago malaio no Sudeste Asiático.

Também estes constituiam uma complexa diversidade étnica e cultural e inscritos em processos já desencadeados nas suas regiões de origem pelo contato com os europeus.

Com o domínio britânico, a vinda de malaios foi substituída por aquelas de indianos provindos de regiões sob a administração inglesa na Índia. Como em outras regiões do Índico, também na colonia do Cabo a forte presença indiana no hemisfério sul foi resultado da necessidade de mão de obra após a emancipação dos escravos.

Como se conhece de outras regiões do Índico, esse indianos que procediam em grande parte de castas inferiores, eram livres, contratados como trabalhadores, ainda que as condições reais de vida se assemelhassem àquelas do trabalho escravo. (Veja)Também aqui exige-se um cuidado diferenciador nas análises dos desenvolvimentos desencadeados.

Se no passado holandês os migrantes do Oriente mais distantes tinham sido sobretudo aqueles do arquipélago malaio, à época do domínio britânico foram, além dos indianos, os chineses que vieram em grande número para o sul da África. Também presentes no Sudeste Asiático em complexas relações com malaios e com europeus,(Veja) os problemas resultantes de séculos de contatos e interações no Extremo Oriente não poderiam ter deixado de ter as suas extensões na cidade do Cabo.

Esses diversos aportes humanos à pluralidade na configuração populacional foram marcados por diferenças confessionais, principais fatores de tensões. Os holandeses eram protestantes, asim como os huguenotes franceses, os malaios na sua grande maioria muçulmanos, os indianos hindús e os chineses sobretudo marcados pela tradição confuciana. Em todos os casos havia diferenças internas, confessionais, de contextos e de tradições. A complexidade étnica correspondeu assim a uma diversidade cultural, sobretudo por razões religiosas.

Distinção entre „brancos, negros e os de cor“ não corresponde à diversidade

Constata-se, na África do Sul, que o pensamento, as preocupações e as iniciativas político-culturais do presente são marcados pela distinção entre brancos, negros e „os de cor“.

É necessário considerar que o emprêgo do termo „de cor“ para designar todos aqueles que, com as mais diversas matizes de cor de pele não são nem negros nem brancos, não corresponde ao uso do conceito „de cor“ no Brasil, empregado também em sentido eufemístico para evitar-se o conceito de negro ou preto nas suas conotações negativas.

Essa distinção que chama a atenção no discurso sul-africano da atualidade mascara as grandes diferenças existentes entre os grupos assim caracterizados segundo a cor de pele e coloca obstáculos para análises mais acuradas de processos culturais.

Ela traz à luz uma fixação da atenção ao que é percebido mais superficialmente das diferenças - a da cor da pele - também no sentido extenso de pele de complexos mais abrangentes e fundamentais. Poder-se-ia comparar essa percepção com a leitura de um texto do qual se considera apenas o senso literal, não os seus sentidos mais profundos, a sua estrutura e desenvolvimentos internos.

Essa redução da complexa realidade em termos da cor de pele pode ser entendida a partir do sistema do Apartheid que marcou oficialmente décadas da África do Sul após a Segunda Guerra e que, abolido, ainda hoje tem consequências e implicações, colocando anelos de superação de segregações segundo critérios raciais e discriminações no centro das preocupações.

É nesse passado da política do Apartheid e suas consequências no presente que se revela a maior diferença entre a África do Sul e o Brasil. As similaridades que numa primeira aproximação se registram quanto a correntes de pensamento, movimentos, iniciativas e expressões culturais marcadas pela luta anti-discriminatória, pelo empenho de valorização de identidades de grupos minoritários ou subalternos e de inclusividade nos dois países - e que é internacional como de Direitos Humanos - não podem nivelar diferenças na análise de processos históricos em ambos os contextos.

A problemática da cor, as diferenças culturais e os espaços urbanos

Um dos aspectos que manifestam mais evidentemente a necessidade dessas análises mais acuradas diz respeito aos estudos urbanológicos.

A política segregacionista de grupos populacionais segundo critérios do Apartheid teve a sua expressão maior na esfera do planejamento e reordenação de bairros e cidades segundo os seus moradores.

Os Townships assim surgidos apresentam à primeira similaridades com situações urbanas problemáticas do Brasil, tanto entre slums com favelas, como com bairros periféricos de urbanização deficitária e de expansão descontrolada. Torna-se porém necessário considerar as diferenças com situações brasileiras, uma vez que a história do pensamento e das iniciativas que levaram às Townships é marcada pela atenção a „nativos“ e a reservas. (Veja)

A análise de desenvolvimentos urbanos nas suas relações com separações de grupos populacionais não pode se restringir a essas „locations“, mas necessita também incluir os antecedentes históricos de concentrações humanas desprivilegiadas em áreas afastadas ou suburbanas e, também em quarteirões e bairros de cidades como a do Cabo.

Também aqui constata-se similaridades com o Brasil, uma vez que se conhece em várias cidades bairros marcados pela moradia, pelo comércio e pela vida de determinados grupos de migrantes, tais como bairros italianos, chineses ou de maior concentração de judeus, sírios, libaneses e vários outros.

Cotejos com esses bairros da metrópoles sul-africanas, sobretuco com a Cidade do Cabo surgem como produtivos, situando desenvolvimentos brasileiros em contextos mais amplos de processos que não se limitam ao país.

Ruas e bairros de migrantes - Bo-Kaap, o bairro malaio do Cabo e o seu museu

Bo Kaap. Foto A.A.Bispo 2018. Copyright

Assim como se conhece no Brasil bairros de imigrantes que se transformaram hoje em centros de vida social, cultural e de turismo , também a Cidade do Cabo tem, no seu „quarteirão malaio“, um de seus principais atrativos. Essa atratividade é devida sobretudo à pintura multicolor de suas casas, e que vem ao encontro dos intuitos sul-africanos de apresentar a cidade sob a imagem do arco-iris.

Esse bairro  localiza-se entre o centro da cidade e as encostas do morro Signal Hill, um local onde se concentraram os malaios trazidos pelos holandeses de suas possessões no Sudeste Asiático no século XVIII - o Schotschekloof.

A própria denominação indica a sua situação elevada - Bo-Kaap, „sobre o Cabo“. Nessa zona, então afastada da cidade, passaram a morar em casas, as mais antigas com traços do assim chamado estilo „cabo-holandês“. A mais antiga construção desse bairro, levantada ao redor de 1760, abriga hoje o museu de Bo-Kaap.

A maior parte das casas, porém, é constituída por construções geminadas de conjuntos de moradias de fins do século XIX e início do XX que poderiam ser também encontradas em bairros brasileiros, com poucos traços ornamentais que evidenciam recepções estético-culturais de diferentes épocas. Algumas construções das primeiras décadas do século XX denotam seguir tendências e recepções tardias da arquitetura inglesa da época de Eduardo VII (1841-1910).

Slamsebuurt - o quarteirão muçulmano e a islamisação de africanos


A maior atenção a ser dada ao quarteirão malaio da Cidade do Cabo diz respeito ao papel do Islão entre os malaios e a sua irradiação entre os africanos. Se os portugueses tantos esforços fizeram em realizar as suas viagens de contorno da África para superar a esfera Islâmica e combater a sua expansão no Índico e no Sudeste Asiático, os holandeses implantaram o Islão na sua contextualização malaia no sul da África.

Essa diferença de procedimentos traz à mente os diferentes fatores que marcaram a ação de portugueses e holandeses na história de relações entre povos uma vez que exprime uma maior ou menor predominância de motivos ideais ou ideológicos de fundamentação religioso-cultural e aqueles comerciais.

O museu do quarteirão Bo-Kaap encontra-se instalado em casa que desempenhou papel irradiador do islamismo entre escravos africanos e também entre libertos. Um dos nomes ali lembrados dos promotores dessa expansão muçulmana  é o do imam indonésio Abdullah Kadi Abdus Salaam (1712-1807), conhecido por Tuan Guru, o grande instrutor, de quem se afirma saber todo o Alcorão de cór.

Essa expansão levou, já sob os ingleses, à construção de cemitério próprio e de várias mesquitas, entre elas, a primeira, a Auwal Mosque (Dorpel Street), de 1794. No século XIX, várias outras foram levantadas, também fora da circunscrição do bairro, a Palm Tree Mosque, em 1811 (Long Street), e a Nural Islam Mosque, em 1844. Hoje, a circunscrição possui 10 mesquitas.

Revalorização do bairro malaio - cores, afirmatividade e gentrificação

A atratividade do bairro malaio é resultado de medidas de remodelação do quarteirão e de sua valorização do período posterior ao Apartheid, quando então se aboliu a legislação do Group Areas Act.

A pintura com cores brilhantes e contrastantes como principal fator de valorização do quarteirão, em si sem maiores bens arquitetônicos, foi um caminho fácil, econômico e eficiente encontrado.

Segundo a transmissão oral, essa pintura de casas teria sido um fenômeno espontâneo, um processo desencadeado pelos moradores a partir de um exemplo inicial. Um médico que ali residia, para salientar-se do conjunto branco das casas, teria pintado a sua casa de cor-de-rosa. Os vizinhos, partindo dessa iniciativa, passaram a pintar as suas casas com cores vistosas.

Tudo indica, porém, que, com a sua ação exemplar, o médico revitalizou um costume antigo, possivelmente remontante ao amor ao colorido do Sudeste Asiático.

Há também uma outra tentativa de explicação para o significado das cores na valorizaçnao do bairro malaio. O uso de cores brilhantes tem uma relação com a liberdade e com a auto-consciencia de libertos. Lembra-se, neste contexto, que escravos apenas tinham podido usar roupas de cores reservadas, em cinza ou marrom; alcançada a liberdade, passaram a manifestar essa nova condição em cores que expressam afirmativamente a nova condição.

Essa explicação registrada no Bo-Kaap abre perspectivas - que necessitam ser mais atentamente verificadas - para a compreensão da tendência a cores vivas e contrastantes entre africanos e seus descendentes também em outras regiões, como aquelas do Caribe.

Por sua vez, sendo essas relações com a liberdade manifestada na pintura colorida das casas do bairro malaio, este surge como sinal edificado de liberdade.

Ao mesmo tempo, essa explosão de cores gritantes contrasta com a distinção quanto a cores que caracterizaram círculos sociais mais elevados, em particular daquele da elite britânica da era vitoriana.

Cores, liberdade, ambivalências e paradoxias: o Coon Carnaval  e a tradição dos Minstrels

Um dos principais eventos do quarteirão malaio que envolve toda a cidade é o Coon Carnaval no dia 2 de janeiro, o segundo dia do Ano Novo e data que lembra o dia de liberdade dos escravos no passado (Tweede Nuwe Jaar). Todo o colorido que marca esse quarteirão tem a sua correspondência no colorido das fantasias dos carnavalistas que o festejam em cortejo no centro da cidade.

A consideração desse evento coloca dificuldades às tentativas de análise cultural, uma vez que revela ambivalências e paradoxias. Embora surgindo sob o signo do conceito da liberdade e referindo-se àquela de escravos africanos, esse evento não pode ser considerado como uma celebração de cunho memorial e comemorativo, mas sim, como o seu nome indica, como um festejo carnavalesco.

O conceito de carnaval pode ser registrado na Cidade do Cabo também em outros eventos, em datas que não correspondem àquelas do calendário festivo da tradição cristã, entre elas no „Carnaval da Cidade“ ao redor da festa de S. Patrício (17 de março).

Esse uso do conceito de forma independente do ciclo do ano pode ser registrado também em outros contextos e países - por exemplo o „Carnaval das Culturas“ erm Berlim -, merecendo estudos mais atentos dos processos que a êle levaram. Entre os fatores que levaram a essa separação entre o Carnaval e o sistema cultural de concepções e imagens de remota proveniência nas suas relações com o ciclo do ano merecem ser considerados aquele que remonta à supressão de expressões lúdicas do calendário religioso no decorrer da Reformação européia e o da secularização.

Essa desintegração quanto a relações com o ciclo do ano não significa, porém, que os sentidos do Carnaval não se tenham mantido. Na consideração desses sentidos, torna-se necessário lembrar que o Carnaval relaciona-se intrinsecamente com concepções do Homem e estas com a alegria daquele homem novo que se encontra em estado de rir perante o grotesco do homem terreno ou carnal.

Lembrando assim desses sentidos, o Coon Carnaval surge com conotações perturbantes. Nele manifestam-se elementos da tradição dos Minstrels - os Kaapse Klopse, um tipo de representação que foi difundido no século XIX, em particular na esfera cultural inglesa.

Como as referências na literatura de viagens e em jornais de diferentes países extra-europeus registram, Minstrels viajantes apresentaram-se e alcançaram sucesso em cidades de colonias britânicas de vários continentes.

Essas apresentações, porém, caracterizaram-se pela representação grotesca e hilariante de africanos por artistas que pintavam o seu rosto de negro e representavam caricaturisticamente as suas tentativas de integrar-se na sociedade européia através e.o. da prática músico-popular tradicional das ilhas britânicas, também essas vistas em atitude desprestigiadora por círculos sociais mais elevados. No festejo ao redor do Ano Novo do Cabo, os Minstrels do Cabo apresentam-se, entre outros atributos, com banjos. Considera-se que algumas das melodias remontam à primeira metade do século XIX.

Malaios, Indianos e Chineses na África do Sul na literatura etnográfica

As reflexões no Bo-Kaap evidenciam a necessidade de estudos mais detalhados de fontes históricas para a análise de processos que levaram e explicam a situações do presente. Esses estudos mostram-se particularmente relevantes, uma vez que relatos de viajantes forneceram dados que foram utilizados na literatura etnográfica no século XIX.

Um exemplo de obra de divulgação de conhecimentos sobre povos da história da Etnografia é a Illustrierte Vöklkerkunde de Georg Buschan (1763-1942), onde a África foi tratada pelo austríaco Felix von Luschan (1854-1924). (Felix von Luschan, „Africa“, in Georg Buschan ed., Illustrierte Völkerkunde, Stuttgart, Strecker & Schröder 1910, 382/383)

Para além das suas considerações sobre malaios e indianos, o texto de von Luschan merece ser lembrado pelo fato de trazer à tona a problemática relativa aos chineses no Cabo e as dimensões internacionais da sua discussão pela passagem do século. Von Luschan salienta em cruas expressões que, entre os estrangeiros da sociedade sul-africana, os chineses representariam o pior grupo.

A sua vinda para o sul da África tinha sido possibilitada por magnatas de minas e por pessoas de altas posses financeiras da área da mineração. Tratar-se-ia de um processo similar àquele que, há quatro séculos, tinha levado à introdução de escravos africanos na América tropical - ou seja, a da procura de mão-de-obra barata. Em 1905, trabalhavam nas minas 43.000 chineses ao lado de 90.000 cafres. Enquanto porém mineiros nativos vinham em geral da classe média da população, com poucas exceções, os chineses provinham das esferas sociais mais inferiores das grandes cidades da China. Contava-se que até mesmo tinha-se entregue aos agentes de contratação grande número de prisioneiros de uma penitenciária.

Para von Luschan, os chineses diferenciavam-se dos mineiros nativos seriam em geral pessoas boas, modestas, amáveis e alegres. Com o tempo, a sua influência maléfica far-se-ia sentir nos mineiros nativos. Como procuravam escapar ao trabalho, representavam também um perigo para a população européia das cidades.

Von Luschan apresenta uma crítica à imprensa sul-africana, sugerindo estar a serviço dos „barões“ de minas por apresentar os chineses como trabalhadores nas melhores cores, „apenas faltando asas para surgirem como anjos.“ O contrário seria porém o verdadeiro e era digno de elogios que o novo govêrno liberal da Inglaterra tenha-se empenhado em coibir a vinda de chineses. Tinha-se proibido introduzir chineses e os contratos existentes não podiam ser mais prolongados. Para von Luschan, seria assim de se esperar que em poucos anos a presença chinesa teria desaparecido do país. Entrar mais pormenorizadamente na problemática chinesa pelo fato de também ter-se pensado na introdução de trabalhadores da China em territórios protegidos alemães, o que já ter-se-ia iniciado em Samoa.


De ciclo de estudos sob a direção de

Antonio Alexandre Bispo


Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. „ Cores, transpassagens e gentrificação-- bairros de minorias étnicas e religiosas de raízes migratórias no exemplo do bairro malaio da cidade do Cabo“
. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 172/4(2018:3).http://revista.brasil-europa.eu/173/Bo-Kaap.html


Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2017 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


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