O nativo sul-africano na representação cultural
ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA 173

Correspondência Euro-Brasileira©

 
Cidade do Cabo. Foto A. A. Bispo 2018.  Copyright

Cidade do Cabo. Foto A. A. Bispo 2018.  Copyright

Cidade do Cabo. Foto A. A. Bispo 2018.  Copyright

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Cidade do Cabo. Foto A. A. Bispo 2018.  Copyright

Cidade do Cabo. Foto A. A. Bispo 2018.  Copyright

Fotos A.A.Bispo 2018©Arquivo A.B.E.

 


N° 173/5 (2018:3)




Música e instrumentos musicais em interações culturais - África do Sul e Brasil I:

Atributos caracterizadores do „nativo“ sul-africano em músicos ambulantes
e na produção criativa de grupos musicais na representação cultural no presente
violão e xilofone


Victoria & Alfred Waterfront

 

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Cidade do Cabo. Foto A. A. Bispo 2018.  Copyright
O papel da música, da dança e encenações com trajes tradicionais na representação cultural de países e regiões tem sido uma preocupação constante dos estudos de processos culturais relacionados com o Brasil.

Música e questões de imagem e representação nos estudos euro-brasileiros

As relações entre a música e a imagem do Brasil - assim como a sua auto-imagem - foram tematizados já em primeiro forum e semana de música Brasil-Alemanha realizado em Leichlingen/Colonia em 1981.

O escopo principal foi o de salientar a diversidade cultural do Brasil tanto no espaço como no tempo e que deveria ter a sua correspondência na apresentação do país no Exterior  e no auto-retrato da nação. Como seria novamente formulado pelo representante da Embaixada do Brasil na Alemanha quando da fundação do centro de estudos da Academia Brasil-Europa em Colonia, em 1987, a redução da imagem do Brasil apenas como país de „samba, carnaval e futebol“ poderia encobrir a riqueza de suas múltiplas expressões. Não se trata de desvalorizar expressões culturais que mais caracterizam o país no presente, mas sim o de superar estereotipos que delimitam o amplo espectro cultural do país e fixam a auto-imagem com consequências para visões históricas e desenvolvimentos futuros.

No forum de 1981, a atenção foi voltada sobretudo à dinâmica de processos culturais e portanto à transformabilidade tanto de expressões culturais nas quais se fundamentam as representações como naquela da própria imagem assim transmitidas.

A imagem oferecida e recebida no Exterior do Brasil modificou-se através dos tempos, assim como também a auto-imagem do país dos próprios brasileiros.

Os estudos de processos culturais devem assim considerar não só a diversidade cultural do Brasil nas várias regiões de seu imenso território como também as transformações dessas representações no tempo e no espaço, superando perspectivas baseadas em concepções que partem de uma imutabilidade quanto a características identificatórias de natureza essencializadora e categorizadora de uma cultura adjetivada como brasileira.

Essa atenção à diversidade, não só no espaço, mas também na história, não foi e não pode ser separada daquela voltada à unidade. Vários dos estereotipos atuais que marcam a imagem de uma cultura brasileira são resultados de concepções e visões de épocas marcadas por correntes nacionalistas de décadas passadas e se inserem, também sob este aspecto, em processos históricos e, assim, mutáveis no tempo.

A questão de uma concepção dinâmica das relações entre diversidade e unidade determinou simpósios levados a efeito no Brasil e trabalhos desenvolvidos na Europa a partir de 1981. O primeiro simpósio internacional da série „Música Sacra e Cultura Brasileira“ levado a efeito em São Paulo, teve como escopo tratar do complexo „Diversidade na Unidade e Unidade na Diversidade“ sob diferentes aspectos, assim como de suas implicações para as próprias concepções teóricas e metodológicas dos estudos culturais.

Retomou-se, em dimensões internacionais, uma problemática que já há muito preocupava pesquisadores brasileiros: o da divisão entre as áreas de Folclore e da Etnologia, uma vez que representavam não só resquícios de décadas passadas da história do pensamento nacionalista como também posicionamentos dos próprios pesquisadores quanto a identificações culturais. Uma distinção entre o que é o próprio e o que representa o outro, o que é „folclore nacional“ e o que é alienígino e apenas merece ser considerado sob o aspecto da „aculturação“ implicava na distinção de áreas e esferas culturais, numa categorização do objeto de estudos. Essa concepção do „folclore nacional“ evidenciava-se como particularmente questionável em posições relativamente à cultura indígena, por muitos vista não como área de estudos de folcloristas, mas sim de etnólogos, ou seja, não eram da área daqueles que se dedicavam à pesquisa da própria cultura. Diferentemente, expressões que revelavam ou sugeriam origens ou traços africanos não eram questionadas como parte da área dos estudos folclóricos. Essa distinção tinha a sua correspondência em retratos do Brasil: capoeira ou candomblé eram e deviam ser parte integrante de representação do país, mas não o índio - pelo contrário, a atenção ao índio seria resquício de um indigenismo romântico, superado, reflexos de um exotismo do século XIX. O reconhecimento dos problemas resultantes desse modo de pensar, da sua contextualização político-cultural e, assim, de sua historicidade e relatividade, foi um dos principais fatores que levou ao movimento de renovação teórica em meados da década de 1960 e à fundação da sociedade voltada a estudos de processos culturais há 50 anos em São Paulo (Nova Difusão Musical). Inspirando-se na osmose da Química, o termo „difusão“ procurava dirigir a atenção metaforicamente à permeabilidade de membranas entre compartimentos tidos como estanques, e, assim, a processos e seus mecanismos. Ao mesmo tempo, a menção à música pretendeu tematizar o relevante papel da música nas interações e, assim, nesses processos de transpassagens de membranas.

Esses intentos de análises de estruturas e mecanismos de processos levaram nas décadas seguintes estudos de seus fundamentos em edifício cultural de características sistêmicas. O significado dessas preocupações da pesquisa e das reflexões evidenciou-se no fato de ter-se escolhido o complexo temático constituído por questões da dinâmica de imagens e da música como veículo de transpassagens de esferas como escopo do congresso internacional „Brasil-Europa: Música e Visões“ para a abertura dos eventos científicos pelos 500 anos do Brasil, em 1999.

Observações e estudos em diferentes contextos e países

Tratando-se nessa atenção a processos históricos e mecanismo sistêmicos de um complexo de concepções e imagens de dimensões abrangentes, que ultrapassa fronteiras, as observações e as reflexões das últimas décadas, ainda que referenciadas segundo o Brasil, vem sendo realizadas em diferentes contextos e em países de vários continentes.

Por último, em 2017, retomaram-se reflexões no contexto do Caribe. (Veja) Um dos aspectos considerados nos diálogos disse respeito à interpretação quanto a origens e sentidos de expressões culturais tradicionais consideradas como auto-identificadoras e promovidas na representação político-cultural de países. Registrou-se, sob muitos aspectos, um empenho extraordinariamente intenso por parte de pesquisadores em defender origens africanas de danças e outras expressões culturais que, em muitos casos, de forma evidente e inquestionável remontam a tradições européias. Tanto essas tradições como o fenômeno desse empenho interpretativo exigem análises de processos desencadeados pelo colonialismo no passado e suas vigências - ainda que sob outro signo - no presente, representando elas próprias fenômenos coloniais ou pós-coloniais.

Concomitantemente, registrou-se a intensidade de iniciativas voltadas a um resgate histórico e cultural africano e afro-americano, e cuja maior expressão é o monumental museu e centro cultural de Guadelupe. (Veja)

Como ali discutido, justamente os povos que mais sofreram com a conquista e colonização do continente, os indígenas que foram em muitos casos massacrados e expoliados, não recebem uma atenção intelectual e emocional comparável. Também aqui, portanto, ter-se-ia uma inscrição de tendências culturais do presente em processos ainda vigentes da história colonial, ainda que sob nova luz.

Nesse acentuado enfoque a elos com a África observado em tendências e iniciativas culturais no Caribe, estabelecem-se relações com desenvolvimentos no continente africano no presente. Entretanto, já em trabalhos euro-brasileiros desenvolvidos em países do Índico e do Pacífico, registrou-se uma significativa diferença relativamente a referências a grupos populacionais e caracterizações étnicas em expressões culturais a serviço da auto-representação. Com exceções de contextos mais marcados pela história da escravidão africana, como nas ilhas Maurício, (Veja), a atenção é dirigida ao nativo, tanto em apresentações não-dirigidas de músicos pedintes, como de aborígenes na Austrália (Veja), como naquelas fomentadas para fins turístico-culturais, como na Nova Caledõnia (Veja), de shows do Taiti ( Veja) ou mesmo científico-museológicos como em Vanuatu (Veja).

Sob esse pano de fundo, aguça-se a percepção para o reconhecimento de significativa diferença entre sentidos e funções entre representações de africanos na própria África e aqueles no continente americano. É nesse sentido que as observações na África do Sul, em 2018, podem contribuir às análises de processos culturais em contextos globais. Ainda que a história colonial sul-africana tenha sido marcada também pelo trabalho escravo, esteve este a cargo de africanos trazidos de outras regiões, de Moçambique ou da África Ocidental. Os sul-africanos nativos, como no caso dos Khoikhoi („hotentotes“), não foram em princípio objeto de escravizações, ainda que expoliados e marginalizados no decorrer dos tempos.

Tem-se assim, no emprego de atributos caracterizadores do sul-africano em auto-representações uma situação distinta daquela de referências ao africano em apresentações no continente americano. Trata-se, no caso sul-africano, de referências ao nativo, o que corrresponderia, nas Américas, ao indígena. O estabelecimento de paralelos exige a consideração dessas diferenças - a valorização do africano nas condições sul-africanas, e mesmo o processo de de-europeização e africanização corresponderia, no contexto americano, a uma indigenização, não a uma africanização.

Sendo a música um dos principais meios em processos de transpassagens de barreiras, esferas culturais e intercomunicabilidade, merece ser considerada com especial atenção em auto-representações sul-africanas sob o ponto de vista desta sensível diferença relativamente a apresentações do africano em expressões culturais do continente americano.

Música internacional em auto-representações do nativo africano no centro do Cabo

Cidade do Cabo. Foto A. A. Bispo 2018.  Copyright
No foco das atenções na Cidade do Cabo esteve um aspecto do complexo de questionamentos relativos à música em representações e imagens: aquele de apresentações de músicos no espaço público, em ruas e praças.

Se em outros contextos considerou-se sobretudo apresentações de grupos fomentados por órgãos governamentais e instituições culturais a serviço da propaganda, de shows produzidos para turistas, o interesse concentrou-se agora na apresentação não promovida oficialmente ou por instituições de músicos que, no espaço público, mostram-se com trajes, instrumentos e outros atributos caracterizadores.

Já nos trabalhos antecedentes no Caribe considerou-se a atividade de músicos ambulantes que, com instrumentos tradicionais, faziam música de forma espontânea em público com caixas para ofertas ou percorrendo a seguir as mesas de restaurantes para receber gratificações.

No centro da Cidade do Cabo, esse tipo de apresentação pôde ser constatado em vias e parques visitados por turistas.

O intento de chamamento de atenção leva a um acento ao exótico nos trajes, adereços e pintura corporal, mas, concomitantemente, o escopo aliciante de falar mais proximamente aos sentimentos para a conquista dos passantes. É essa intenção que parece explicar uma situação aparentemente paradoxal: visualmente, esses músicos pedintes apresentam adereços e pinturas corporais que os caracterizam como „nativos“, musicalmente, cantam e acompanham-se ao violão ou com gravações. Estas, em geral, fornecem sobretudo a base rítmica através de gravações de instrumentos de percussão, podem, porém, também reproduzir acompanhamentos instrumentais, mesmo orquestrais.

A música assim praticada é a do repertório músico-popular internacional, podendo-se constatar também exemplos brasileiros. A música revela-se, nessas apresentações, como meio para captar a simpatia dos transeuntes, fazendo-os vibrar em simpatia e ganhá-los emocionalmente. O músico fala, por assim dizer, linguagem compreendida e  vinculada a afetos daquele que ouve. O que é representado é o nativo que conhece e domina a cultura do visitante estrangeiro, aquele que se mostra aberto e receptivo, amigo, apesar das diferenças denotadas na sua cor de pele, nos seus trajes e adereços. Em certos sentidos, o observador poderia lembrar-se da presença de não-europeus em óperas do passado, entre outros exemplos de índios cantando em italiano e em linguagem estético-musical italiana do Il Guarany. (Veja)

Música „nativa“ em elaborações criativas - apresentações no Victoria & Alfred Waterfront

No caso nas quais o intento das apresentações é o comercial de venda de CDs produzidos por grupos, as apresentações possuem outras conotações. O nível qualitativo das produções musicais é mais alto, uma vez que são executados em geral como exemplo peças gravadas e que foram alvo de elaborações mais cuidadosas e de ensaios.

Esse tipo de apresentações, que assumem por vezes o aspecto de shows públicos, pôde ser observado no Victoria & Alfred Waterfront da Cidade do Cabo, a área revitalizada do porto que constitui hoje um dos principais focos turísticos da cidade.


A área portuária assim remodelada e transformada em centro de comércio, cultura e lazer por iniciativa de um consórcio árabe-inglês corresponde às muitas iniciativas de uso refuncionalizado de antigas instalações portuárias e industriais decadentes ou abandonadas em vários países e regiões do mundo.

Esse fenômeno de dimensões globais adquiriu na Cidade do Cabo também o sentido de permitir aos visitantes uma área segura, uma vez que o centro da cidade tornou-se cada vez mais riscante pelo aumento de assaltos e da criminalidade em geral.

Tem-se, nesse caso, uma situação que difere daquela considerada em shows promovidos por instâncias governamentais ou particulares para a representação do país.

Aqui criou-se um espaço seguro, com vias e praças, uma cidade artificial que é palco de apresentações que fazem referências à cultura tradicional. Há muitos estrangeiros que já nem visitam o centro histórico da Cidade do Cabo, os seus monumentos e edifícios históricos, delimitanto a sua estadia a visitas ao Waterfront. As apresentações musicais ali vivenciadas marcam a imagem que ganham do país esses visitantes que se restringem ao espaço protegido assim criado.

Chama a atenção que, na linguagem musical, nos instrumentos e nos trajes, os músicos não refletem a diversidade étnica e cultural resultante do processo histórico-colonial sul-africano, em particular da região do Cabo. Não se constatam referências à cultura musical de colonizadores, nem de bures de origens holandesas, nem de ingleses, nem de malaios, indianos, de africanos de outras partes da África ou de outros grupos populacionais.

Tanto grupos que se apresentam como autênticos ou originais na música, nas pinturas corporais, nos trajes e nos movimentos, assim como aqueles que, sem encenações visuais mais acentuadas oferecem exemplos de seu trabalho criativo referem-se à cultura de uma população nativa africana. Em ambos os casos é o xilofone o instrumento que se encontra em foco e que é empregado em conjuntos, em geral de três ou quatro instrumentos.















No caso de grupos que renunciam ao uso de pinturas corporais, de trajes e adereços, a atenção é dirigida compreensivelmente à criatividade das elaborações e ao nível técnico das execuções. Os casos considerados revelaram não só a aptidão técnico-instrumental dos músicos, como também uma formação musical sistemáticamente desenvolvida, ainda que não necessariamente obtida em escola de música.

Registra-se, por exemplo, o uso da técnica do ostinato e, assim, de um tipo de estruturação musical estreitamente relacionado com o modo de transmissão de aptidões e de improvisação. Um músico de liderança, mais experimentado e de maior formação, oferece um motivo rítmico e melódico que, repetido por aquele que o recebe, torna-se base de desenvolvimentos. Estes oferecem exemplos de elaborações refinadas do ponto de vista técnico e estético, por vezes de uma complexidade rítmica, melódica e harmônica que revela a recepção de avançadas tendências musicais contemporâneas.

A constatação dessa técnica no seu significado para a estruturação musical permitiu que se desse continuidade, na África do Sul, aos estudos levados a efeito no Caribe, ali porém no contexto das steel bands em Antigua e Barbudas. (Veja) Nos diálogos sul-africanos, procurou-se considerar não só esses paralelos, mas também as diferenças, uma vez que no Cabo trata-se de uma referência ao „nativo“ no sentido do indígena.

Há grupos musicais, porém, que salientam a espetacularidade visual na pintura corporal e nos adereços, apresentando-se com o dorso nú e com penas e plumas na cabeça. As apresentações chegam a adquirir uma característica de shows, impressionando os espectadores sobretudo pela movimentação e energia vital dos músicos. Também sob o aspecto musical há menos comedição e concentração ao desenvolvimento estrutural e à precisão técnica, ganhando na execução dos xilofones o aspecto percussivo maior significado do que o melódico e harmônico.

A observação dessas apresentações de africanos na Cidade do Cabo traz à mente de forma particularmente evidente diferenças relativamente a expressões culturais brasileiras que apresentam características ou conotações africanas. O procedimento que se constata na Cidade do Cabo corresponderia, no caso do Brasil, de trazer ao espaço público expressões culturais indígenas com o uso de seus instrumentos, ou seja, não de folclore, de música popular urbana, de choros, e nem de capoeira.



De ciclo de estudos sob a direção de

Antonio Alexandre Bispo


Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. „ Música e instrumentos musicais em interações culturais - África do Sul e Brasil I: Atributos caracterizadores do „nativo“ sul-africano em músicos ambulantes e na produção criativa de grupos musicais na representação cultural no presente - violão e xilofone“
. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 172/5(2018:3).http://revista.brasil-europa.eu/173/Musica_Africa_do_Sul_e_Brasil.html


Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2017 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


Academia Brasil-Europa
Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)
reconhecido de utilidade pública na República Federal da Alemanha

Editor: Professor Dr. A.A. Bispo, Universität zu Köln
Direção gerencial: Dr. H. Hülskath, Akademisches Lehrkrankenhaus Bergisch-Gladbach
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