Açores na história das comunicações aéreas
ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA 175

Correspondência Euro-Brasileira©

 
Foto A.A.Bispo 2018. Copyright

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Fotos A.A.Bispo 2018©Arquivo A.B.E.

 


N° 175/11 (2018:5)




Os Açores na história das comunicações intercontinentais aéreas
no seu significado para estudos culturais - textos e fotos
Leste/Oeste: A travessia transatlântica por hidroavião em 1919
Sul/Norte: o sobrevoar do Zeppelin em viagem de Recife a Nova York em 1930

Museu da Horta, Faial, Museu Militar dos Açores, Ponta Delgada, Centro Cultural de Velas, São Jorge

 
Os estudos euro-brasileiros desenvolvidos nos Açores, em 2018, decorreram em ano que em muitas nações se rememora o término da Primeira Guerra Mundial. Também a consideração do arquipélago sob a perspectiva de processos culturais não poderia deixar de considerar esse centenário. A mudança da constelação internacional com a derrota das potências centro-européias significou também uma mudança em referenciais culturais e deslocamento de pesos quanto a elos com outros continentes.

Pela sua posição geográfica os Açores tinham despertado a atenção de cientistas europeus desde a segunda metade do século XIX e esses estudos tinham tido significado ultrapassador de fronteiras: empreendimentos como os oceanográficos e metereológicos eram de interesse geral, em particular para os países europeus.

A posição geográfica do arquipélago levava a que navios ali aportassem para reabastecimento, favorecendo também que europeus visitassem os Açores. (Veja) O papel do arquipélago na comunicação internacional evidenciou-se no grande projeto de instalação do cabo telegráfico submarino, um audacioso empreendimento técnico pela passagem do século e que não pode deixar de ser considerado sob o aspecto de suas dimensões culturais. (Veja)

Em visita ao Museu Militar dos Açores em Ponta Delgada considerou-se não só alguns aspectos da história científico-cultural hoje por assim submersa do período anterior à Guerra, em particular quanto ao papel exercido pelos impérios das Áustria-Hungria e Alemanha, como também a situação resultante da Primeira Guerra e do seu desfecho. A exposição do museu documenta justamente o papel desempenhado pelos Açores na guerra devido à sua posição entre o continente americano e a Europa, oferecendo-se os seus portos à atracagem de naves norte-americanas. Os documentos e os objetos expostos no museu trazem à luz o desenvolvimento técnico e nas intercomunicações decorrentes dessa situação estratégica das ilhas.

Pela sua posição geográfica no Atlântico, pelas suas condições de arquipélago e seus portos, é compreensível que a atenção nos estudos de processos culturais tenha-se concentrado até hoje sobretudo na consideração de viagens de navegação e, consequentemente a contextos marítimos. Toma-se cada vez mais consciência, porém, que também a história dos transportes aéreos merece ser considerada com mais atenção, uma vez que abrem novas perspectivas e fontes escritas e mesmo fotográficas, oferecendo o seu estudos presssupostos para o enquadramento histórico-cultural  do meio de transporte hoje mais utilizado e, assim, das experiências e visões de viajantes.

A atravessia transatlântica entre a Europa e a América do Norte

Se anteriormente registra-se a presença dos Açores sobretudo em publicações em alemão, é significativo que já em 1919 a importante revista francesa L‘Illustration publicou uma matéria pormenorizada sobre os Açores, com mapa e fotografia. (L.Gain, L‘Archipel des Açores, L‘Illustration, 3977, 24 Mai 1919, 551).
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Velas. Foto A.A.Bispo 2018. Copyright

Velas, Faial. Foto A.A.Bispo 2018. Copyright

Esse artigo foi motivado pela travessia aérea do Atlântico que prometia ser alcançada em breve. Significativamente, o texto inicia-se lembrando que, antes da guerra, a travessia do Atlântico em avião ou dirigível parecia um empreendimento mais ou menos ilusório ou de longínqua concretização. Se ainda não tinha podido ser realizado à época da publicação, tudo indicava que estava prestes a acontecer com o desenvolvimento da aviação norte-americana.

Durante várias semanas, aviadores ingleses e americanos preparavam-se para realizar essa viagem e obter o prêmio oferecido pelo Daily Mail. Uma similar recompensa havia incentivado a primeira viagem aérea entre Londres e Liverpool. O novo prêmio, sob condições tornadas públicas já antes da eclosão da Guerra, em 1913, seria atribuído ao primeiro aviador que conseguisse voar diretamente da Terra Nova à Irlanda, ou vice-versa, em menos de 72 horas.

Os americanos não disputaram o prêmio, e a sua tentativa teve um caráter mais esportivo. O programa do vôo compreendia três escalas entre a costa americana e o litoral português: Halifax, Terra Nova e Açores. Situando-se Ponta Delgada no centro dos Açores, os pilotos planejaram ali aterrizar, em terra ou no mar. Prepararam-se três hidroaviões Curtiss, de quatro motores,  para essa travessia transatlântica. O trajeto seria acompanhado por destroyers que iluminavam os céus à noite e também prontos a socorrer pilotos que, em caso de acidente, caissem no oceano. Os aviadores ingleses, ao contrário, não solicitaram auxílio oficial à Marinha, realizando o travessia com meios próprios.

Favorecedor aos americanos era a condição dos ventos do Sudoeste, frequentes na estação, uma vez que os empurrava para o continente, enquanto que os ingleses com êle tendiam a ser arremessados em direção da Islãndia ou do Ártico. Comentando as notícias recebidas do desenrolar das travessias, registra-se que o N.C.4, pilotado pelo tenente americano Read, chegou a Horta no dia 17 de maio de 1919, partindo no dia seguinte para Ponta Delgada.

A fotografia publicada em L‘Illustration do porto de Horta, do próprio autor do artigo, adquire

Velas, Faial. Foto A.A.Bispo 2018. Copyright

A tentativa inglesa foi marcada por acontecimentos dramáticos. Tendo conhecimento da chegada dos americanos nos Açores, o pilôto Harry Hawker (1889-1921), australiano, alçou vôo, não havendo até então notícia do seu paradeiro, tudo fazendo supor um acidente.

Neste contexto é que se inscreve o texto dedicado aos Açores. Salienta-se que para os aviadores que, partindo da Terra Nova se dirigem à Europa, as ilhas mais próximas que se ofereciam era a de Flores e a sua vizinha Corvo. O texto salienta as qualidades naturais da ilha de Flores, registrando porém que ali não se encontrava nenhum terreno apto a aterrisagem, assim como nenhum porto bem instalado. Passando a considerar Faial e a ilha do Pico, registra-se que Horta possuia boas condições portuárias, sendo que ali é que o hidroavião americano deveria descer. 

Mais pormenorizada  é a descrição da ilha de São Miguel com a sua capital Ponta Delgada. Lembra-se que, como em outras ilhas, São Miguel não oferecia campos de aterrisagem, exceto uma praia de areia vulcânica próxima da cidade. Os hidroaviões, porém, podiam descer com segurança nas águas do porto.

Os Açores sobrevoados pelo Zeppelin na viagem da América do Sul à do Norte

Em diálogos levados a efeito no âmbito dos estudos euro-brasileiros em  Velas, ilha de São Jorge, considerou-se o interesse de antigas fotografias para a memória natural e cultural das ilhas.

Perante a formação geológica que mais marca a paisagem local, uma grande cratera fendida junto ao mar, lembrou-se de fotografia aérea publicada em 1930.

Um empreendimento que representa um marco na história aérea e das comunicações, a viagem do dirigível Graf Zeppelin em 1930, diz respeito ao trajeto da Europa à América do Sul e desta à América do Norte sobrevoando os Açores. O relato dessa viagem, de Joachum, Breihaupt (1883-1960), oferece muitos dados de interesse histórico-cultural para o Brasil. (J.Breithaupt, Mit Graf Zeppelin nach Süd-u.Nordamerika, Lahr,Baden: Moritz Schauenburg 1930).


A viagem, de Friedrichshafen no sul da Alemanha a Sevilha, de Sevilha ao Recife e de Recife ao Rio de Janeiro, retornou a Recife em direção a New York, Lakekurst e Sevilha.

O relato de viagem de Arthur Rehbein (1867-1952) de Zeppelin ao Brasil, em 1933, foi até hoje aquela que, também pelo seu valor fotográfico, maior atenção recebeu nos estudos relacionados com o Brasil.  (Veja) O trajeto da viagem, sobrevoando Tanger, faz com que esse relato adquira menor significado em considerações sobre os Açores.

A viagem de 1930, porém, embora a publicação não ofereça fotografias em qualidade comparável e não tenha incluído uma descida no arquipélago, documenta as impressões obtidas pelos passageiros da aeronave. Como registrado pelo autor, o Zeppelin tinha sido recebido de forma entusiástica no Brasil, uma recepção que demonstrava o interesse do país pelo transporte aéreo em época marcada por um espírito de confiante desenvolvimento decorrente das novas condições internacionais do pós-Guerra.

„A fabulosa recepção que o Graf Zeppelin obteve em Recife e no Rio graças ao apoio das instituições não resultou apenas de uma compreensível procura de sensação; foi antes uma expressão evidente de uma crescente participação dos países latinoamericanos no tráfego aéreo. O desenvolvimento econômico que em especial os estados ABC (Argentina, Brasil, Chile) experimentaram desde a Guerra Mundial fortaleceu a consciência própria e exige o aproveitamento de todas as modernas conquistas técnicas“. (op.cit. 70)


Joachim Breithaupt tinha participado na Primeira Guerra como oficial de dirigíveis da Marinha; quando uma de suas aeronaves foi derrubada, caíra prisioneiro de ingleses, passando, após a guerra, à aeronáutica civil. Entretanto, posteriormente, à época do „III Reich“, alccançou o grau de general-major.

Se os seus dados referentes ao Brasil já foram objeto de leituras mais atentas, o mesmo ainda não se deu relativamente às suas observações sobre os Açores. Nessa parte do seu relato, Breithaupt registra a impressão dos passageiros a avistarem pela manhã a primeira ilha do arquipélago após a longa viagem sobre o oceano. Os Açores apresentaram-se em luz favorável, uma vez que o Pico, quase sempre encoberto com nuvens, pôde ser visto sem neblina.Breithaupt já tinha percorrido os Açores, como se deduz do seu relato.


„Deixando Flores ao longe a back bord, dirigimo-nos pelo almoço à encantadora ilha Fayal, em cujas costas que descem abruptamente ao mar quebram-se as ondas com espumas brancas. Aqui situa-se a cidade portuária Horta com a mole protetora e a importante estação de cabos submarinos.  Pena que as hortênsias s ainda não floresciam que, como sabia de visitas antertiores, cobrem como veias de azul luminoso em cercas vivas as encostas ensolaradas.


Seguindo a costa a São Jorge à Terceira, a nave prosseguiu deixando a steuerbord a sua corrente de vulcões extintos. Ali, elevando-se de 4000 metros de profundidade, surge um rochedo apenas 100 metros sobre as águas, deixando-se perceber no seu cume arredondado o pico da antiga cratera. Com a força de antigas erupções é fendida ao meio, e quanto demorará até que uma nova explosão não irá fazer desaparecer no fundo do mar essa rocha que deve ter sido enorme em tempos remotos? Olhando esses vulcões extintos, toma-se a consciencia da temporariedade da existência. Os Açores levantam-se das profundidade de até 2300 metros sob o nível do mar. Já os cartagineses deviam conhecer essse grupo de ilhas, como se deduz de  moedas; em época mais recente, foi novamente descoberto por Cabral em 1432, quero encontrou despovoado. Os Açores possuem uma população de acima de 230000 habitantes, na sua maioria portugueses e mestiços.“ (op.cit. 96-97)



De ciclo de estudos sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo


Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. „Os Açores na história das comunicações intercontinentais aéreas no seu significado para estudos culturais - textos e fotos. Leste/Oeste: A travessia transatlântica por hidroavião em 1919
Sul/Norte: o sobrevoar do Zeppelin em viagem de Recife a Nova York em 1930“
. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 175/11 (2018:5).http://revista.brasil-europa.eu/175/Acores_na_historia_da_aviacao.html


Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2017 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


Academia Brasil-Europa
Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)
reconhecido de utilidade pública na República Federal da Alemanha

Editor: Professor Dr. A.A. Bispo, Universität zu Köln
Direção gerencial: Dr. H. Hülskath, Akademisches Lehrkrankenhaus Bergisch-Gladbach
Corpo administrativo: V. Dreyer, P. Dreyer, M. Hafner, K. Jetz, Th. Nebois, L. Müller,
N. Carvalho, S. Hahne









 

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