Doc. N° 2081
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
100 - 2006/2
Conservatório de Música e Escola de Artes da Madeira Encontro em Funchal
Realizou-se, em março de 2006, uma visita de representantes da A.B.E. ao Conservatório de Música e Escola de Artes da Madeira, em Funchal. O objetivo dessa visita foi o de revitalizar contactos efetuados em encontro na instituição, em 1988, e que levaram a vários projetos e realizações de intercâmbio intelectual Madeira-Brasil- Europa Central. Em recepção cordial por parte da direção administrativa e de professores da instituição, foram trocadas informações e forjados planos de cooperação futura. As primeiras impressões foram marcadas pelos melhoramentos realizados nas instalações do conservatório, que valorizam o edifício e sua magnífica situação em meio a jardins e de privilegiado panorama. Tendo o conservatório comemorado há pouco 50 anos de sua fundação, cartazes e outros materiais chamaram a atenção para a sua já longa história e o significado que adquiriu no decorrer dos anos para a vida musical do arquipélago. Como instituição de ensino médio, o conservatório desempenha hoje um papel de extraordinária relevância na formação musical dos madeirenses. Para uma instituição dessa natureza, nas quais se constata geralmente uma supremacia do ensino do piano, registra-se um singular peso dos instrumentos de orquestra. De relêvo internacional é o concurso de violino, que ali se realiza. A visita foi precedida por estudos destinados a elucidar a influência das contingências internacionais no florescimento da vida cultural na Madeira nos anos trinta e quarenta do século XX. No centro europeu de estudos da A.B.E. procedeu-se ao estudo de documentos até hoje desconhecidos a respeito dos elos políticos e político-culturais entre a Alemanha e Portugal no período totalitário de ambos os países. Esses documentos e estudos, que serão oportunamente publicados, demonstrou um estreito relacionamento entre universidades, centros de estudos e personalidades da vida científica e cultural, e sobretudo na história das instituições dedicadas a estudos lusitanistas e luso-brasileiros. No âmbito desses estudos, tornou-se evidente o singular papel desempenhado pela Madeira nos empreendimentos do nacionalsocialismo alemão. Como principal alvo da organização "Kraft durch Freude" para trabalhadores alemães vinculados ao sistema, a Madeira foi objeto de propaganda na Europa Central. Essa instituição, mais tarde também conhecida no mundo de língua portuguesa sob "Alegria dos Trabalhadores", teve como conseqüência criar ou fortalecer uma imagem altamente positiva de Portugal, em especial da Madeira. Tal fato parece ter contribuído indiretamente para a ida de intelectuais e artistas para fins de apresentações ou de veraneio à ilha, causando um florescimento de cunho internacional na sua vida cultural. Por outro lado, a tradição madeirense de relações com a Inglaterra e a influência inglêsa na vida cultural da ilha impede que se forme uma visão histórica unilateral das relações internacionais e políticas atuantes no meio intelectual da Madeira. O principal objetivo das reflexões encetadas in loco foi o de aguçar a sensibilidade para uma maior diferenciação nas análises histórico-culturais impedindo conclusões apressadas, injustas ou errôneas. Foi justamente nos anos conturbados da Segunda Grande Guerra que artistas de renome internacional visitaram a Madeira, transformando-a num centro cultural de particular relevância, entre eles Wilhelm Kempf, Benno Moisenwitsch, Henry Szeryng, Pierre Fournier e Gaspar Cassadó. A organização local foi possibilitada sobretudo pela Sociedade de Concertos da Madeira, a partir de 1943, constituída por personalidades influentes no arquipélago, entre elas o Eng. Luiz Peter Clode e o Dr. William Edward Clode (a respeito veja o primeiro número dessa revista, publicado em 1989). Logo após o fim da Guerra, em outubro de 1945, criou-se a Academia de Música da Madeira, instituição particular destinada ao ensino e à promoção de concertos e conferências. O seu corpo docente foi escolhido sob a orientação de Lourenço Varela Cid. A autorização definitiva para o seu funcionamento segundo os moldes do Conservatório Nacional, deu-se em 1947. Posteriormente, os objetivos da Academia foram ampliados com a inclusão de setores destinados às Belas Artes e ao estudo de línguas. Em 1977, a Academia foi extinta e substituída pelo Conservatório de Música da Madeira, sendo as comissões instaladoras nomeadas no ano seguinte. Componentes dessas comissões foram Maria Augusta Perestrello, João Luís Gomes Abreu, José Agostinho Bettencourt (música), Jorge Marques da Silva e Isabel Santa Clara Gomes (Belas Artes). Como Escola Secundária de Ensino Artístico, o Conservatório foi regionalizado em 1986, sendo integrado na Secretaria Regional da Educação. Em 1987, a presidência da comissão instaladora passou à Dra. Inês Clode de Freitas, descendente dos fundadores da antiga Academia, tendo João Nunes Atanásio e João Vítor Costa (a partir de 1988 Dra. Maria Teresa Tomé) como vogais. Foi com a Dra. Inês Clode de Freitas que a A.B.E. estabeleceu primeiramente contactos em 1988 e foi através de sua colaboração que se tornou possível a realização de concertos com música de compositores da Madeira pelo I.S.M.P.S. Um das atenções de sua administração foi a internacionalização das atividades da instituição, inclusive com a contratação de docentes provindos de diferentes países, o que faz que o conservatório apresente, hoje, uma fisionomia cosmopolita. Com a aposentadoria da Dra. Inês Clode em 1994, tornava-se necessário agora uma renovação dos contactos. Uma primeira comissão, constituída por João Victor Costa, João Nunes Atanásio e José Agostinho Bettencourt dimitiu-se já em 1995. A nova comissão diretiva foi nomeada pela Secretaria Regional da Educação (Dr. Miguel Rodrigues, D. Duarte Tranquada Gomes, Dra. Teresa Brígida Oliveira). Em 2001, a direção passou a estar a cargo da Eng. Inês Costa Neves; os departamentos de recursos humanos e assuntos financeiros e jurídicos estão sob a responsabilidade do Dr. Fernando Guimarães e das Dras. Susana Costa e Catarina Abreu. Desenvolve-se agora, com a nova direção da entidade, novos projetos de intercâmbio e de estudos.
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Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).