Doc. N° 2105
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102 - 2006/4
Hibridismo - Instabilidades identificatórias e mecanismos de compensação
8 sessões de debates, junho/julho
O tema foi motivado pelo interesse pela cultura brasileira e pela realização de eventos culturais brasileiros na Europa no contexto da Copa Mundial. A iniciativa procurou retomar e atualizar discussões a respeito do Hibridismo nos estudos culturais de contextos euro-latinoamericanos levadas a efeito de forma cada vez mais intensiva desde os anos 80. Em 1987, o conceito foi considerado criticamente no âmbito de um estudo sobre transplantações culturais realizado para o projeto "A Música na Vida do Homem" (Conselho Internacional de Música/UNESCO) e apresentado no Encontro Regional para a América Latina, levado a efeito no Ano das Comemorações de Heitor Villa-Lobos, em São Paulo. Desde então, o conceito vem sido discutido sob diversas perspectivas. Nos Estudos Culturais e no Postcolonialismo tornou-se muitas vezes em motivo condutor das reflexões. Entretanto, o seu emprêgo abusivo também tem sido criticado nos últimos anos. De início, salientou-se que o termo, no caso, não deve ser entendido simplesmente no sentido de mistura de elementos díspares numa obra, no estilo e técnica ou de formação cultural mixta, sincrética, esdrúxula e/ou incoerente de autor. Ele deve ser considerado diferenciadamente de outros conceitos, tais como ecleticismo e sincretismo. Na discussão relativa a questões culturais no âmbito do Colonialismo e nos estudos de fenômenos e processos da História Cultural de países de formação colonial, o Hibridismo deveria antes ser considerado no contexto das reflexões relativas a processos de formação de identidades e se vincula com questões de instabilidade, labilidade e compensações no comportamento e nas expressões. O relacionamento do Hibridismo com a questão da identidade foi considerado de forma suscinta na primeira fase dos trabalhos. Já fora discutido em várias ocasiões, entre elas no âmbito do Congresso de Estudos Euro-Brasileiros (Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro 2003) e das sessões que se seguiram ao Colóquio Internacional de Estudos Interculturais pelos 450 anos de São Paulo (2004). A partir de estudos de caso do Caribe e do Brasil, procurou-se aguçar a sensibilidade para o processo de transformação de identidades desencadeado sobretudo pela conversão de indígenas e africanos ao Cristianismo nos primeiros momentos da história colonial e das diferentes fases de reação e contra-reação experimentadas pelas gerações seguintes, primordialmente naquelas culturas determinadas por grupos populacionais provenientes de miscigenações. Entretanto, como se discutiu, o Hibridismo não diz respeito apenas à mestiçagem do ponto de vista étnico ou racial, e não pode ser limitado a mestiços, mulatos, crioulos ou a outros grupos definidos segundo categorias etnicistas ou até mesmo racistas, o que seria superficial, incorreto e altamente discriminatório. Como conceito de análise cultural útil, o termo necessitaria e deveria ser entendido como aplicável também a grupos populacionais etnicamente não descendentes de miscigenações, nos casos em que o processo performativo da sociedade dominante e dos grupos sociais privilegiados tivesse sido marcado por situações decorrentes de instabilidade de identidades e/ou definido pelas suas expressões. Para a análise, foram considerados aportes teóricos de estudos de situações recentes de processos de transformação cultural, de assimilação e integração e/ou desintegração social e cultural. Embora os estudos da dinâmica do processo transformatório ainda não tenham levado à determinação de critérios totalmente satisfatórios para a sua sistematização segundo gerações ou fases, tudo indica a vigência de evoluções de natureza auto-poética, na qual o sistema reproduz-se a partir de seus próprios elementos, tal como discutido no Simpósio "À procura de uma terra sem males", realizado em São Paulo, em 2003. Em todo o caso, o participante desse processo, apesar das diferentes contingências temporais e espaciais, situa-se numa posição de labilidade, caracterizada ao mesmo tempo pela necessidade de estabilizar e reforçar a identidade determinada pela sua integração no sistema cultural dominante e pela dificuldade ou impossibilidade vivenciada em superar a sua situação subalterna. No sistema de exclusão, os privilegiados entre os excluídos parecem procurar defender uma posição especial, embora precária. De um lado eram ou são privilegiados devido a sua proximidade com a cultura dominante, por outro lado, justamente essa proximidade teria causado ou causa reações de exclusão, desprezo e antipatia. O espírito de emulação resultaria de um ímpeto próprio do processo identificatório e da situação de fragilidade, assim também os esforços em demonstrar igualdade de conhecimentos e aptidões com a cultura diretriz, fazendo com que o Homem híbrido nesse sentido se tornasse ao mesmo tempo agente interno da opressão e vítima de desprezo por suas atitudes e expressões vistas como exageradas, pernósticas e petulantes. Os conversos se tornariam mais "papistas" do que o Papa, os privilegiados no sistema mais eurocêntricos do que os europeus, sendo que os grupos realmente oprimidos, ainda não totalmente imersos no processo do Hibridismo, apenas de fora poderiam esperar empatia e apoio. Aqui se teria um grave problema de natureza ética derivado do hibridismo próprio de processos coloniais.
Foram discutidos, a seguir, obras e procedimentos que manifestam características de hibridismo na produção intelectual latinoamericana. Os trabalhos terão prosseguimento.
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