Doc. N° 2123
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
103 - 2006/5
Estudos histórico-culturais e rêdes globais da história da Reformação e Contra-Reformação Castelo de Auel Circuito de estudos culturais da região de Oberberg/Vale do Agger
O Brasil vivencia na atualidade um crescimento extraordinário de grupos confissionais de diversas origens, sobretudo evangelicais. Essas igrejas se inserem, em geral, na história diversificada do movimento reformatório. Sendo um país até há pouco tempo fundamentalmente católico, cujas expressões culturais tradicionais expressavam a sua formação religiosa, essas mudanças confissionais da atualidade trazem conseqüências profundas para a sua cultura e colocam questões a serem estudadas pelos analistas da cultura.
Sob essas condições, os estudos culturais já não podem guiar-se exclusivamente segundo paradigmas desenvolvidos através de estudos de expressões tradicionais católicas, sob o perigo de perderem o contacto com a realidade das transformações sociais. A consideração desse processo de mudança e suas implicações culturais, porém, não pode ser efetuada exclusivamente em nível nacional, uma vez que se trata de um fenômeno também constatável em outros países da América Latina e na Europa. A história cultural e religiosa de outros países pode oferecer subsídios para o desenvolvimento de estudos relativos ao Brasil.
No âmbito do circuito euro-brasileiro de estudos culturais na região de Oberberg e Vale do Agger, algumas questões dessa problemática foram refletidas no exemplo da experiência histórica vinculada ao castelo de Auel. Procurou-se, aqui, no estudo de um caso de transformação religiosa em zona rural da Europa do passado, possíveis caminhos para a análise de processos similares da atualidade.
A história da mudança confissional da região remonta ao século XVII. Ao redor de 1645, a freguesia de Wahlscheid, à qual pertencia o castelo, passou à comunidade evangélica de confissão de Augsburg. Algumas famílias, porém, algumas nobres, permaneceram fiéis ao Catolicismo. Entre elas, destacaram-se a família von Ley (Casa Honsbach), proprietários do burgo Schönrath, e a casa Auel. Os católicos, dispersos na região, passaram a ser orientados pelo convento agostiniano de Rösrath (1689-1711) e, posteriormente, pelo convento dos Minoritas de Seligenthal. Como as igrejas existentes passaram a ser utilizadas pelos protestantes, os católicos reuniam-se na capela doméstica da Casa Honsbach e, mais tarde, na capela do castelo de Auel. O castelo teve função importante no processo missionário de recatolização da região. Com o crescimento da comunidade, e tornando-se necessária a construção de uma igreja, foi esta em grande parte financiada pelos grandes proprietários, entre eles os do castelo de Auel. A manutenção dessa paróquia (Neuhonrath) foi singularmente garantida pela instituição do Padroado, e até hoje a nomeação de um pároco para essa igreja pressupõe a consulta da respectiva família.
No contexto internacional da história das confissões, Auel ganhou relevância a partir de 1818, quando, através de laços matrimoniais, Philipp von la Valette St. George, então a serviço de Berg, uniu-se à sua história. O seu avô, Jean Paul de la Valette St. George, francês, havia-se transferido para Colonia e adquirido um burgo nas proximidades de Auel. A família exercera grande influência nas relações internacionais, sobretudo pela ação de Jean Parisot de la Valette (+1494), Grão-Mestre da Ordem dos Joanitas ou de Malta. A ilha de Malta, que foi atacada em 1565 pelos turcos, foi defendida de forma heróica por esse cavaleiro, tendo a sua nova capital, por isso, recebido o seu nome (La Valetta).
O processo de recatolização regional vinculou-se, nesse exemplo, a um contexto de conotações muito mais amplo de defesa da Cristandade perante o perigo dos infiéis. Nas reflexões, apontou-se ao problema de uma vinculação pouco diferenciada da simbólica do confronto entre o Cristianismo e o Islamismo - presente até hoje nas expressões culturais do Brasil - com a questão da missionação interna de populações cristãs no sentido de sua recatolização. Um renascimento do "espírito de cruzada", constatável no ideário de algumas organizações brasileiras, surge aqui como necessário objeto de considerações críticas de analistas culturais.
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).