Doc. N° 2159
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
105 - 2007/1
França-Brasil
Caraça: Monumento de um projeto cultural transformador Caminhos da restauração católica no Brasil do século XIX
O extraordinário significado do Caraça para a história da cultura e das concepções culturais e religiosas do Brasil ainda não tem sido suficientemente reconhecido nos estudos histórico-culturais relacionados com o Brasil. Na época do incêndio de sua valiosa biblioteca, em 1968, veio à consciência de que se perdia parte de um monumento-símbolo de um tipo de educação e ensino caracterizado por erudição, espiritualidade e austeridade. Historiadores e críticos de arte, entretanto, viram freqüentemente com estranheza o estilo neo-gótico da igreja que substituiu a primitiva, destruída em 1854. Somente a gradativa reconsideração mais diferenciada do século XIX nas ciências da cultura poderá abrir caminhos para a apreciação justa dessa construção e do projeto cultural que nela se manifesta. Viajantes estrangeiros do século XIX oferecem em seus relatos alguns subsídios para esse estudo. Em geral, porém, são excessivamente genéricos, tal como Alcide d'Orbigny (1802-1857), que salientou ser a Serra do Caraça uma das mais pitorescas montanhas da província (Viagem pitoresca através do Brasil, trad. de David Jardim, São Paulo: Itatiaia/USP, 1976, pág. 148). A história anterior do Caraça, ainda manifesta nos edifícios que emolduram o templo, surge como significativa para a história arquitetônica e eclesiástica do Brasil. Fundado em 1774 como ermida no meio das montanhas da Serra do Caraça, abrigando o Hospício Nossa Senhora Mãe dos Homens, tornou-se posteriormente seminário dos Lazaristas. Sem a consideração do contexto histórico das origens e dos objetivos dessa Congregatio Missionis, com a sua denominação proveniente de St. Lazare, Paris, não é possível compreender o modêlo religioso-cultural corporificado pelo Caraça. Não se trata apenas de considerá-la no contexto das relações culturais entre a França e o Brasil. Essa comunidade, não constituindo uma ordem, mas sim pertencendo ao clero secular, dedica-se à formação do clero e à missão. Substituindo em vários países os jesuítas expulsos, teve, no Brasil, função importante no projeto de formação de um novo clero, preparando o país para a reforma/restauração católica que gradativamente se impôs e que influenciou por décadas várias esferas da cultura e das artes. Os estudos relativos ao Caraça deverão ter prosseguimento.
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).