Doc. N° 2152
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
105 - 2007/1
Museu de Itabira, Minas Gerais Caminhos do minério nos estudos culturais
O estudo cultural das rotas e vias de comunicação tem-se concentrado, em geral, em determinados complexos temáticos: dos bandeirantes, das monções, das tropas de muares e alguns poucos outros. Entre eles, destaca-se o fascínio exercido pelas estradas que uniam o distrito dos diamantes e as regiões auríferas ao litoral, em particular ao Rio de Janeiro. Pouca atenção tem sido dada aos contextos relacionados com o minério de ferro. E é justamente a exploração desse metal - e o seu transporte - que mais exige a existência de estradas e vias férreas.
As característiscas particulares desse contexto e suas conseqüências sociais e culturais foram objeto de estudos da A.B.E. com relação à antiga Fabrica de Ferro de Ipanema, no Estado de São Paulo, como relatado em números anteriores deste órgão. No início do século XIX, com a participação do govêrno central, deu-se início à mineração de ferro em escala relevante nessa região próxima da cidade de Sorocaba. Trabalhadores especializados da Suécia foram ali empregados. A direção foi confiada a Friedrich Varnhagen. O empreendimento não teve uma história só de sucessos, e a causa dessas dificuldades ali e em tentativas realizadas em outras regiões do país foram vistas por estudiosos na ausência de carvão adequado e, sobretudo, na falta de meios econômicos de transporte. Com a expansão da malha ferroviária, porém, a situação modificou-se. O Brasil é um dos países mais ricos em minério de ferro, sobretudo no que diz respeito à sua qualidade. Em Ipanema contava-se com grande quantidade de Magnetito (Fe304), assim como nas proximidades de Sabará e em São Miguel de Guanhães. O Itabirito, constituindo-se sobretudo de Oligisto (Fe2=3), encontra-se em várias regiões (Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso), e o Pico Itabira do Mato Dentro era formado por uma massa de Oligisto.
A cidade de Itabira, remontante a uma povoação surgida ao redor de 1720, é conhecida sobretudo como centro de extração de minérios. Nos guias culturais ela não é mencionada, nos estudos dedicados à cultura de Minas Gerais, centralizados historicamente nas cidades do apogeu do ouro, ela praticamente não é considerada. Exceção é a menção ocasional da Igreja do Rosário, de 1775. Uma reorientação científico-cultural dos estudos, porém, possibilita o descobrimento do significado excepcional de Itabira para análises culturais. Para estudos da cultura de mineração, da industrialização do ferro e suas conseqüências para o meio ambiente, a importância de Itabira é evidente. Isso o demonstra o Museu do Ferro e a própria companhia de Mineração Vale do Rio Doce, que atualmente se empenha no apoio a projetos culturais na região. Centros culturais de particular relevância em Itabira são a Casa de Carlos Drummond de Andrade e o Museu, localizado no prédio da antiga Câmara Municipal. Aqui torna-se manifesto o esforço dos representantes locais da cultura pelo estudo da transformação urbana e pela conservação dos poucos edifícios que restaram do passado. Entretanto, é uma história das mentalidades e uma história de orientação social e ecológica que abre perspectivas para o desenvolvimento maior dos estudos relativos a Itabira. Também análises demopsicológicas e/ou simbólico-antropológicas prometem trazer novos conhecimentos. Haveria uma relação - como afirmada em mitos - entre a extração radical de riquezas da terra e o elevado número de casos de suicídios que ocorrem na cidade? Em todo o caso, Itabira oferece-se como um campo ideal de estudos culturais orientados segundo a problemática ambiental, tais como aqueles desenvolvidos no projeto "Cultura e Natureza" da A.B.E.
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).