Doc. N° 2189
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
106 - 2007/2
Da correspondência Preservação das culturas indígenas e do meio ambiente
Valber Dias Kontxóa
Temática
A A.B.E. vem desenvolvendo, desde 1992, a partir de trabalhos preparatórios iniciados em 1987, projetos dedicados ao complexo de temas que relacionam os estudos culturais com estudos ambientais. Em 1992, esses estudos foram motivados pela conferência internacional do meio ambiente, realizada no Rio de Janeiro. Conferências e sessões dedicadas ao respectivo complexo de problemas foram realizadas por várias ocasiões, sobretudo no âmbito do triênio de eventos científicos internacionais pelos 500 anos do Brasil. No simpósio dedicado ao tema Rural/Tribal e no colóquio internacional Poética da Urbanidade, por ocasião dos 450 anos de São Paulo, considerou-se sobretudo os aspectos do tema relacionados com o processo urbanizador.
Um dos principais especialistas que participaram em vários desses eventos é o Pe. Valber Dias Kontxóa, idealista de profunda vivência da cultura indígena, sobretudo Krahô. Para a sessão de encerramento do colóquio da A.B.E. de 2004 realizada no Museu Imperial de Petrópolis, Valber Dias preparou uma conferência dedicada à questão da poética indígena e de suas relações com o meio ambiente. Continuando a participar intensamente dos debates, procura criar estruturas adequadas para a consecução de seus objetivos, tendo idealizado a criação de uma sociedade denominada Angaba.
Aqui se divulgam partes da correspondência de abril/maio de 2007, pelo seu teor de manifesto:
"Cultura é vida, vida de um grupo. de uma comunidade, de um povo. A Cultura é inserida num determinado ambiente, que é parte integrante da mesma. Há uma interação profundamente enraizada, com influências mútuas. Como tal, não se pode separar a Cultura do seu meio ambiente. Os 'filhos da terra' são também filhos das águas que bebem e onde se lavam e se purificam. São filhos daquele cerrado, daquelas matas, daquele clima... Por isso é essencial à preservação de uma Cultura também a preservação do seu ambiente específico. Assim: no dia em que transformarem a chapada arenosa de cajueiros, pequizeiros e bacurizeiros em uma grande plantação de cana pra fabricar álcool para os carros não haverá mais Cultura Krahô, não haverá mais povo Krahô, mas somente uma reminiscência, com alguns penduricalhos sem grande valor.
Por isso, considero uma farsa ou uma enganação da nação essa história de (...) ficar fabricando povos indígenas da cidade. Isso é mais uma forma de tratar com leviandade a grandeza e riqueza da originalidade cultural dos bravos índios dos sertões, pela descaracterização do que é verdadeiramente cultura indígena milenar. é como promover um indisfarçável convite às comunidades indígenas tradicionais à urbanização, proclamando que índio pode fazer tudo que branco faz, viver como branco e pensar como branco, sem deixar de ser índio! Isso é uma grande aberração, é um sofisticado, mas verdadeiro e puro etnocídio, exterminação de Culturas valiosíssimas para a humanidade Culturas que, na linguagem de um escritor italiano meu amigo, são vivas 'relíquias de humanidade'.
(...)
Ao ser envolvido emocionalmente por uma cultura indígena e tocar com minha própria vida o seu frágil e misterioso tecido, comecei a entender com mais profundidade toda a importância dessas Culturas 'puras', não só para os seus ingênuos realizadores, mas também, como tal, para um reencontro do homem consigo mesmo. Porém, ao mesmo tempo, comecei a temer muito pelo que poderia significar a aniquilação total das últimas Culturas 'primitivas' para o empobrecimento da Terra e da Humanidade.
Estudos antropológico-sociais sérios e continuados poderão tornar mais conhecidas as milenares experiências de vida comunitária, todas baseadas no respeito à natureza e na harmonia ambiental de preservação da vida a não ser que tenham sido já contaminadas irremediavelmente pelos 'germes' nocivos desta nossa sociedade com complexo arraigado de dona do universo e detentora da supremacia absoluta sobre as Culturas das minorias étnicas. Felizmente, ainda existe muita coisa para ser salva e preservada da natureza dos povos originários deste nosso continente, especialmente das Culturas nativas sul-americanas.
(...)"
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).